A coragem(1) essencial: formação pessoal em Psicopedagogia

Enviado por João Beauclair


  1. Resumo
  2. Coragem e essência no re-significar de caminhos em Educação
  3. Formação Pessoal em Psicopedagogia: dilemas, tensões, desafios
  4. Notas
  5. Bibliografia básica

Resumo:

Este artigo pretende abordar algumas questões essenciais no que concerne à formação pessoal em Psicopedagogia no nosso tempo presente. Compreende ser necessário ter coragem para re-significar os caminhos da Educação contemporânea e procura traçar os principais dilemas, desafios e tensões presentes na formação pessoal do/a psicopedagogo/a. A partir de uma sucinta discussão sobre os processos de autoria de pensamento como alternativa a tal questão, reforça que a pesquisa e práxis permanente, no agir e no pensar cotidiano, podem colaborar para que novas e significativas aprendências e ensinagens surjam no cenário da formação em Psicopedagogia no Brasil.

Palavras-chaves: Psicopedagogia, formação pessoal, oficinas psicopedagógicas, processos de autoria de pensamento.

I - Coragem e essência no re-significar de caminhos em Educação.

"O esforço necessário para ver as coisas sem distorção
requer algo muito próximo à coragem;
e está coragem é essencial.".
Henri Matisse
"O que é a nossa inocência,
qual é a nossa culpa? Todos estão
nus, ninguém está seguro. E onde está
a coragem...
Marianne Moore

Coragem é o que me impulsiona sempre para a busca. É no encorajamento que vou adiante, superando as dificuldades, encontrando brechas para transpor obstáculos, refazendo percursos já elaborados, revendo posturas e estratégias: é a partir da vivência com o seu sentido mais pleno que motivo o meu agir/fazer/estar no mundo, para o caminhar, compreendendo sempre que, enquanto aprendentensinante, sou como o caminhante de Antonio Machado, poeta espanhol que nos diz que "caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar".

Mas para ter coragem, é preciso que haja algum tipo de cor-respondência, vocábulo que pode nos trazer algumas idéias: cor = coração (latim); co= prefixo latino, que pode significar partilha, companhia; e cor = colorido, algo vivo, repleto de luz e emergente de sentido. Coragem é sentimento do sujeito, mas é vivência coletiva, partilha de sentidos para a vida, para a trajetória humana evolutiva de todos nós.

Percebo que os nossos movimentos de formação humana no campo da Psicopedagogia deve ser uma preocupação constante, de cada um de nós que leva a sério o seu fazer e compreende todas as questões éticas que envolvem esta discussão.
Desde a década de 80 do século passado é possível perceber que a Educação Brasileira, como um todo e a Psicopedagogia em particular, estão se tornando cada vez mais sensíveis às questões da alteridade, da identidade, da diversidade cultural e dos saberes que estão presentes nos mecanismos internos das escolas. Diante deste trajeto, são inúmeras as práticas e produções teóricas advindas desde então. E em minha concepção enquanto formador de psicopedagogas/os em diferentes realidades e contextos que tenho vivenciado é muito complexo fazer um levantamento sobre este movimento.(3)

Minha contribuição para este debate tem sido a de sistematizar, a cada nova vivência enquanto ensinante neste processo, elaborando um caminhar e construindo e reconstruindo uma metodologia de ação de formação em educação que denomino Oficinas Psicopedagógicas. (4)  
Nesta metodologia, trato de estabelecer relações entre os diferentes processos que caracterizam nossa trajetória de formação – entendida por mim como evolução enquanto seres complexos que somos -, levando cada novo grupo a se conscientizar que, enquanto personas também complexas, vivenciam em suas cotidianidades múltiplos processos inter-relacionais que amadurece e estimula nossos movimentos atitudinais, comportamentais e processuais.

Só podemos aprender e apreender com os outros, pois a aprendência (5) só pode ocorrer de forma efetiva e realmente significativa dentro deste pressuposto: sem interação, há a negação do sentido humano do ato de educar. E aqui residem alguns dos dilemas e desafios, algumas das tensões que trato na próxima seção deste texto.        

II - Formação Pessoal em Psicopedagogia: dilemas, tensões, desafios.

"Não haverá existência humana sem a
abertura de nosso ser ao mundo,
sem a transitividade de nossa consciência"
Paulo Freire

Nos processos de Formação Pessoal em Psicopedagogia o principal desafio que se coloca é o da própria formação em si: precisamos perceber com criticidade a efetiva e concreta relevância dos processos de ensinagem em nosso século, tempo e cultura. O ensino, a aprendizagem, a escola, enfim, todo o contexto educacional necessita voltar-se para os dilemas, as tensões e os desafios de nosso tempo presente. Para tal é essencial fazer a aliança entre a teoria e a prática, buscando nos pensadores complexos o aprofundamento de conhecimentos sistematizados, indo além dos modelos tradicionais do falar ditar do mestre.(6)  

Neste sentido, busco sempre suporte nas teorias construtivistas e sócio-interacionistas para referendar minhas análises, pesquisas e buscas de processos de sistematização, tecendo e mesclando os diversos fios que, com suas diferentes espessuras e matizes, trás a minha trajetória a prática permanente da construção teórica, com a intenção clara de compartilhar e contribuir a circularidade dos saberes nos campos da Educação e da Psicopedagogia.(7)

Neste sentido, percebo que neste movimento de ser e estar em Psicopedagogia é essencial compreender o que nos falta: encontrar modelos mais abertos, onde seja possível observarmos as possibilidades de superarmos entraves que impedem que nossas interações com o mundo sejam mais plenas, abertas e tecidas numa práxis mais dinâmica e plena.

E para que isso de fato ocorra, ou seja, para que tenhamos de fato a percepção concreta daquilo que nos falta, é preciso tecer/re-tecer, fazer/re-fazer cada fio desta rede que nos envolve e que nos dá suporte às nossas vivências em Psicopedagogia. Sabemos que práxis é o processo reflexivo oriundo das interfaces entre práticas e teorias que presentificam-se nas diferentes maneiras que temos de atuar, de ser e estar neste complexo mundo relacional que vivenciamos.

Cada um desses fios, que faz com que a nossa rede seja tecida, é fruto de nossos próprios processos de formação, iniciados com o nosso nascimento e em permanente tessitura, à medida que desenvolvemos nossas autorias de pensamento ao longo de nossas vidas e, ao assim fazermos, ganhamos autonomia e estabelecemos pontos de partida e metas a serem alcançadas.
Aqui a práxis é conduta e ação presentes como necessidade de construção permanente; práxis é a concreta possibilidade de enquanto seres aprendentes, re-significarmos caminhos, revermos trajetos e percursos do vivido, resgatarmos valores que percebemos estar sendo, a cada dia, perdidos ou esquecidos pelo corre-corre de nossa cotidianidade.(8)


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.