A ascensão de Berlusconi na Itália, de J. Haiden na Áustria e de seu cínico Partido da Liberdade, a tentativa de encontro dos simpatizantes de Hítler no Chile cuja história foi manchada pelo fascismo de Pinochet; a tentativa de "limpeza étnica" e as atrocidades dos sérvios contra os kosovares, a atitude de Israel frente aos povo palestino, a recente medida imposta pelo Taleban que controla o Afeganistão obrigando a minoria não islâmica a usarem uma marca de 'não cristão' na roupa. Adiciona-se ainda, a intolerância contra imigrantes pobres na Europa e nos EUA, a escravidão e o genocídio de povos da África, ontem e hoje, também a atitude repressiva da China contra o povo do Tibet, o sistema de castas que ainda vigora na Índia, os afro-descendentes que são ínfima minoria nas nossas universidades, polêmica acontecida na Conferência da ONU contra o racismo, em Durban, África do Sul, são alguns sintomas da movimentação política e ideológica de nossa época que preocupa qualquer pessoa minimamente informada sobre o que é e o que foi a experiência do ódio racista, nazi-fascista na Europa, no final da década de 30, atravessando toda 2a. Guerra Mundial. Atualmente, o retorno do ódio terrorista, inaugura uma nova modalidade de holocausto de inocentes, certamente um fascismo de fundo messiânico que não quer tomar o poder mas destruir quem ocupa qualquer posição de poder e, por isso mantêm-se inimigo invisível.
No entanto, observa-se que em nossa época muitos chamam indistintamente qualquer atitude autoritária de nazista ou de fascista. Na comemoração dos 500 anos de Brasil, o letrado presidente FHC qualificou de fascista a atitude do MST de tentar atrapalhar a festa. Nos anos 70, era freqüente a direita pretender "queimar" alguém de projeção espalhando que ela era comunista, ou fascista, ou gay, e, hoje, no meio intelectual, chamar alguém de fascista por uma ou outra atitude que nem sempre merece tal marcação, causa constrangimento entre outras conseqüências.
Inicialmente, é necessário esclarecer que uma coisa é o nazismo e outra é o fascismo. Pela complementação histórica e ideológica de ambos, as vezes usa-se "nazi-fascismo" ou, ainda, fala-se de organização do estado nazi-fascista. Embora, muitos pensam o fascismo somente como um regime de Estado, hoje, ele está pulverizado nas relações humanas do cotidiano. Numa mesa-redonda em 1980, no Rio de Janeiro, o psicanalista Narciso Mello Teixeira sinalizou que o fascismo não é perigoso apenas quando se torna fascismo de Estado, mas também quando é praticado nas violências invisíveis e sem sangue que acontecem no dia a dia. É fato que, ninguém se responsabiliza pelo seu ato fascista. Ninguém gosta de assumir seu lado fascista - que inconscientemente qualquer um pode estar reproduzindo - porque há mecanismos psíquicos que vem em socorro, quer para renegar suas idéias, ou sentimentos ocultos, quer para sustentar um auto-engano sobre um ato escapado em relação ao outro diferente.
Houve um tempo em que o fascismo fazia a apologia da guerra, do homicídio. Tudo era-lhe válido, inclusive o derramamento do sangue, para se chegar ao poder. (Diferente do terrorismo que é sangrento e não tem projeto político de chegar ao poder). O protofascismo de nosso tempo pós-moderno mudou de tática. Em vez de visar o rápido efeito violento, o protofascismo é calculado em termos de microviolências cujos efeitos danosos acontecerão à médio e longo prazos; também está presente através do marketing (comercial ou da fé religiosa) onde manipula o desejo das pessoas, (o espaço religioso fundamentalista é o solo fértil do protofascismo atual) mas também ele goza em pulverizar o mal-estar entre pessoas, semear a confusão de idéias, fazer da contradição e do paroxismo um empreendimento de efeitos hipnóticos. Ou seja, há uma única maneira de ser nazista, mas há várias maneiras de ser fascista.
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