Consumo e digestibilidades total e parcial
Avaliou-se o efeito da deficiência de PB na dieta sobre o consumo e as digestibilidades total, ruminal e intestinal dos nutrientes em novilhos mestiços. Os tratamentos consistiram de dietas compostas de feno de tifton 85 (FN) suplementadas com uréia (FNUR), farelo de soja (FNFS) e farelo de glúten de milho-60 (FNGL). Foram utilizados oito novilhos canulados no rúmen e no duodeno, distribuídos em dois quadrados latinos 4 x 4. As digestibilidades ruminal e intestinal dos nutrientes, a produção fecal e o fluxo duodenal de MS foram estimados utilizando-se a fibra em detergente ácido indigestível (FDAi) como indicador, enquanto a digestibilidade total foi determinada pelo método de coleta total de fezes. Os consumos de nutrientes (MS, MO, PB, CT, FDN, FDA e EB) não foram afetados pelos teores de PB das dietas. A digestibilidade aparente total da FDA foi superior para a dieta FNGL (55,48%) em relação à FNFS (41,29%). As digestibilidades ruminais dos nutrientes, à exceção da PB, não diferiram significativamente entre as dietas, mas a digestibilidade intestinal da PB nas dietas FNFS (66,70%) e FNGL (80,25%) foi superior à observada na dieta FNUR (57,61%). O teor de PB das dietas não alterou o consumo (exceto de PB e CNF) e as digestibilidades parciais dos nutrientes (exceto de PB).
Palavras-chave: farelo de glúten de milho - 60, farelo de soja, fibra em detergente ácido indigestível, fluxo duodenal, uréia
A digestibilidade de um alimento é estimada, basicamente, pela taxa de utilização de seus nutrientes pelo animal. Essa capacidade de utilização é expressa pelo coeficiente de digestibilidade do nutriente, uma característica do alimento e não do animal (Coelho da Silva & Leão, 1979). Logo, a digestão consiste em um processo de conversão de macromoléculas do alimento em compostos simples absorvíveis pelo trato gastrintestinal (Van Soest, 1994).
De acordo com Souza et al. (2002), a digestão da fibra é afetada pelo teor de proteína das dietas, principalmente aquelas compostas de forragem de baixa qualidade. A deficiência de proteína na dieta limitaria a atividade ruminal afetando a ingestão e a digestibilidade dos nutrientes, visto que as exigências de proteínas pelos ruminantes são atendidas pelos aminoácidos provenientes da proteína microbiana e da proteína dietética não degradada no rúmen. A exigência mínima de nitrogênio (N) para a digestão máxima não é constante, mas muda com a disponibilidade de energia e pode variar com a qualidade do volumoso utilizado.
O fornecimento de fonte de proteína de alta degradabilidade ruminal é fundamental para o crescimento dos microrganismos, pois, juntamente com a energia fermentável no rúmen, define a eficiência de síntese microbiana. A utilização de fontes de baixa degradabilidade ruminal visa ao atendimento das exigências de proteína metabolizável (Branco et al., 2004). No entanto, a utilização de fontes protéicas de rápida degradação ruminal em dietas à base de alimentos com elevado teor da fração B2, ou seja, carboidratos fibrosos potencialmente digestíveis, mas de lenta taxa de degradação ruminal, pode promover elevada fermentação dos aminoácidos e peptídeos resultantes e acúmulo de amônia, que será excretada pela urina. Portanto, a utilização de fontes protéicas de lenta degradação no rúmen pode trazer benefícios e aumentar a eficiência de utilização de nitrogênio pelo animal (Cabral et al., 2004), o que contraria outros resultados na literatura, nos quais verifica-se que a deficiência de proteína degradável no rúmen (PDR) nem sempre afeta a digestibilidade e o consumo dos nutrientes.
O tipo de proteína, de alta ou de baixa degradabilidade ruminal, pode ou não afetar o consumo voluntário. Branco et al. (2004), em estudo com ovinos, utilizaram dietas com diferentes fontes de PDR - farelo de soja (71,18% PDR), farinha de penas (66,37% PDR) - e farelo de glúten de milho (66,23% PDR) e não encontraram diferença na ingestão de MS, MO, PB e FDN. Christensen et al. (1993), trabalhando com fontes de proteína de diferentes degradabilidades no rúmen, também não encontraram efeito da fonte de proteína nos consumos de MS, MO e FDN. Dutra et al. (1997) não encontraram efeito do tipo de proteína no consumo de MS, MO, PB e FDN, fato observado também por Cecava et al. (1990; 1991). Cordes et al. (1988) verificaram que a suplementação com farelo de glúten de milho-60 não afetou a digestibilidade do feno; não obstante, a suplementação com milho + uréia reduziu em 12% a digestibilidade do feno. Cameron et al. (1991) notaram que a digestibilidade aparente da PB aumentou com o teor de N da ração.
Este estudo foi realizado para avaliar o efeito da deficiência de PDR e/ou PB na dieta sobre o consumo e as digestibilidades total, ruminal e intestinal dos nutrientes em novilhos mestiços.
O experimento foi conduzido no Setor de Avaliação de Alimentos e de Digestibilidade, do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, da UNESP, Campus de Jaboticabal - SP, no período de janeiro a junho de 2001.
Foram utilizados oito novilhos cruzados (Holandês x Zebu) com peso médio de 240 kg, canulados no rúmen e no duodeno, alojados em baias com cochos individuais e bebedouros comuns a duas baias. Todos os animais foram identificados com brincos numerados e foram tratados contra endo e ectoparasitas no início do experimento. Os animais foram pesados no início e ao final de cada período experimental. Os tratamentos consistiram de dietas à base de feno de tifton 85 (FN) suplementadas com uréia (FNUR), farelo de soja (FNFS) e farelo de glúten de milho-60 (FNGL). As dietas, isoprotéicas, foram formuladas com base no teor de PB dos alimentos e nos requisitos de proteína para mantença, de acordo com o AFRC (1993), com base no N endógeno basal, que inclui perdas urinárias endógenas, parte do N metabólico fecal e as perdas por descamação de tecidos e pêlos, admitindo-se eficiência de utilização igual a 1. Na dieta com uréia, houve adição de sulfato de amônio na proporção de 9:1 e, para suprir o déficit de energia desse tratamento, utilizou-se o amido de milho. A água foi fornecida à vontade e todos os animais receberam aproximadamente 50 g de sal mineral juntamente com as rações.
O capim-tifton 85 foi colhido aos 90 dias de rebrota e conservado na forma de feno. O feno foi triturado em fragmentos de aproximadamente 10 cm de comprimento e fornecido uma vez ao dia (às 7h), em quantidade para ocorrer 10% de sobras por animal. Após o período de adaptação à dieta, os animais foram distribuídos em dois quadrados latinos, com quatro tratamentos cada um (FN, FNUR, FNFS, FNGL).
Os carboidratos totais (CT) foram obtidos por meio da equação: 100 - (%PB+ %EE + % cinzas) e os não-fibrosos (CNF) pela diferença entre CT e FDN (Sniffen et al., 1992).
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