Senso comum, ciência e filosofia - elo dos saberes necessários à promoção da saúde



  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Construção compartilhada do conhecimento como instrumento para a promoção da saúde
  4. Influência do paradigma cartesiano sobre a medicina moderna e os sistemas de saúde
  5. Considerações finais
  6. Referências

RESUMO

No processo de evolução, a humanidade acumulou saberes que foram sistematizados como conhecimentos. A Filosofia nos auxilia nas funções teóricas e práticas a chegar a uma concepção do universo por meio da auto-reflexão.O senso comum contribui para que a ciência progrida. A partir de problemas do cotidiano das pessoas, surge a necessidade de pesquisar, de aprofundar interpretações dos achados e propor soluções para superar as dificuldades enfrentadas pela população. A ciência existe para esclarecer aspectos problemáticos do senso comum, fornecer respaldo aos questionamentos e fundamentar cada conhecimento produzido em resposta às demandas. Assim, os conhecimentos envolvidos nesta reflexão pretendem beneficiar uma articulação entre as formas básicas de conhecimento e desenvolver uma compreensão satisfatória da promoção da saúde, numa visão compartilhada e conscientizadora da mudança de paradigmas no sistema de saúde. Compreendemos que a promoção da saúde constitui um componente indispensável neste processo, tendo como foco central de suas intervenções o indivíduo pertencente a uma comunidade nas suas múltiplas relações, especialmente entre o contexto comunitário e a dimensão subjetiva, propiciando-lhe um resgate da cidadania.

Palavras-chave: Senso comum, Ciência, Filosofia, Promoção da saúde, Educação em saúde

Common sense, science and philosophy -
the links of knowledge necessary for promoting health care

ABSTRACT

In its evolution, humanity has accumulated data which were systematized as knowledge. Philosophy through self examination helps us in its practical and theoretical functions to reach a concept of the universe. Common sense helps science evolve. People's daily difficulties stir up the need for research, for deepening data interpretation and to propose solutions to overcome the population's problems. Science exists to explain difficult aspects of common sense, to support questions, as well as to substantiate knowledge produced as a response to demands. Thus, knowledge involved in this reflection sets out to foster an articulation between basic forms of knowledge and to develop a satisfactory understanding of the health care process, through a shared and critically consciousness view of the changes in the health system's paradigm. We understand that health education is an essential component within this process, provided that it is focused primarily on an individual belonging to a community with its multiple relationships, especially between the community context and the subjective dimension, which can provide citizenship empowerment redemption.

Key words: Common sense, Science, Philosophy, Health promotion, Health education

Introdução

A história da Humanidade, entendida como a espécie Homo sapiens, remonta há pelo menos seis milênios, quando aceitamos o critério historiográfico clássico que demarca o seu início a partir dos primeiros registros escritos. Durante essa trajetória, a Humanidade acumulou uma considerável gama de saberes que foram sistematizados como conhecimentos.

Reconhecemos que a filosofia nasceu por volta do século VII a.C. entre os gregos e estes produziram uma cultura de vários mitos explicativos da realidade. A expansão marítima grega permitiu um confronto entre seus mitos e os de outros povos, levando-os a superar estes através de uma atitude reflexiva diante da realidade, num esforço de compreendê-la racionalmente.

Em síntese, a filosofia surge da necessidade dos gregos adquirirem episteme, um conhecimento fundamentado (racional), para superar a doxa, a opinião. Esse conhecimento pretende ser o mais profundo (radical) possível sobre a realidade analisada. Quanto mais refletirmos sobre esta realidade, mais podemos compreendê-la, levantar questionamentos e sugerir soluções para os problemas relacionados a ela. Para tanto, a filosofia nos auxilia e, no entender de Hessen1, constitui-se numa tentativa do espírito humano, através de suas funções teóricas e práticas, de chegar a uma concepção do universo por meio da auto-reflexão.

A modernidade caracteriza-se pela racionalização que emerge na Europa, processo iniciado com o renascimento italiano, mas substanciado com a revolução científica no século XVII. O legado deste período traduz-se no que denominamos ciência moderna ou, simplesmente, ciência.

Este artefato teórico permite-nos adquirir conhecimento fundamentado através de pesquisas, estudos e comprovações até chegarmos ao reconhecimento da comunidade científica de que o conhecimento produzido revela a verdade sobre os fenômenos. Acatamos que essa verdade pode ser redimensionada por um novo conhecimento, algo que provavelmente nos leve a questioná-la, mesmo que tenha se tornado prevalente, o que possibilita reconstrução e renovação contínuas da ciência.

No contexto atual, o pensamento dos profissionais de saúde está voltado para considerar conhecimento como aquilo cientificamente comprovado, aquilo que a literatura afirma como verdade, muitas vezes se opondo ou desprezando o senso comum, passando a negar ou tratar como erro o modo como as pessoas comuns, do saber popular, entendem e explicam o mundo, a criar abismos epistemológicos questionáveis.

O senso comum contribui para que a ciência progrida a partir de dificuldades que emergem no dia-a-dia das pessoas. Poderíamos elencar várias situações problemas vividas em contextos sociais que exigem da comunidade científica a necessidade de pesquisar, de aprofundar interpretações dos achados e propor soluções ou indicar caminhos para as dificuldades enfrentadas pela população. Muito antes de a farmacologia moderna desvendar cientificamente a ação da cafeína sobre o sistema nervoso central (SNC), especialmente seu efeito estimulante, as comunidades indígenas da Amazônia se beneficiavam das propriedades desta substância no alívio da fadiga, através do emprego do guaraná, sem necessariamente compreender sua composição química ou outras possibilidades terapêuticas2. Contextos socioculturais diferentes permitem comunidades diversas experimentarem vivências únicas, formularem suas visões de mundo e, a partir destas, desenvolverem maneiras de viver.

Reconhecemos a utilidade da ciência para esclarecer aspectos problemáticos suscitados pelo senso comum, ou seja, para responder sob os cânones científicos aos seus questionamentos, bem como garantir a cientificidade das respostas produzidas para aqueles problemas. Faz-se necessário que os profissionais da saúde compreendam o elo entre a ciência e o senso comum, sob um prisma filosófico, para que, a partir dos dois conhecimentos existentes, possamos construir novos conhecimentos, levando a ciência para a realidade de cada comunidade sem menosprezar o seu saber, seu "senso comum".

A filosofia pressupõe o conhecimento da realidade a partir de seus fundamentos numa perspectiva racional, posicionando-se epistemologicamente como um saber de segunda ordem porquanto a reflexão é um voltar-se sobre a dimensão teórica do senso comum e da ciência. Assim, os conhecimentos envolvidos nesta reflexão pretendem beneficiar a nossa proposta, demonstrando que, a partir de uma articulação entre essas três formas básicas de conhecimento, pode-se desenvolver uma compreensão satisfatória do processo de promoção da saúde mediado pela educação em saúde.


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