Avaliação da contagem de células somáticas na primeira lactação de vacas holandesas
no dia do controle mensal
Avaliaram-se a contagem (CCS) e o escore (ECS) de células somáticas de vacas holandesas primíparas no dia do controle e a influência de causas não-genéticas sobre a presença de células somáticas no leite. Foram obtidas 172.304 amostras de leite de vacas holandesas primíparas no dia do controle, coletadas no período de jan/93 a dez/98 pelo Programa de Análises de Rebanhos Leiteiros do Paraná (PARLPR). As variáveis fixas consideradas foram região (bacia leiteira), número de ordenhas (2x ou 3x/Nordenha), dias em lactação (5 a 450/Dialac), idade da vaca, em meses (20 a 40/Idames), mês de controle (jan. a dez./Mescon) e idade da amostra, em dias (0 a 15/Diaana). Os efeitos aleatórios foram rebanho (região), vaca e resíduo. Os dados foram analisados por REML, sob modelo misto, por meio da estrutura estatística Spatial Power [sp(pow)]. As médias não ajustadas, para CCS (x1000 cel/mL) e ECS, segundo o ano de parto, variaram de 400,245±468,558 e 3,55±0,82 (1993) a 241,360±514,969 e 2,41±1,35 (1998), respectivamente. As variáveis DIALAC, IDADE, MESCON e DIALEI foram importantes fontes de variação e devem ser consideradas na avaliação da CCS e do ECS. As altas correlações fenotípicas estimadas entre dias consecutivos da produção de leite (0,9591 a 0,9653, para CCS, e 0,9632 e 0,9813, para ECS) permitem o estabelecimento de práticas de rotina que podem contribuir para a redução da incidência de mastite clínicas e/ou subclínica.
Palavras-chave: CCS, ECS, leite, mastite, spatial-power
A mastite causa sérias perdas aos produtores de leite no mundo inteiro. Entretanto, de forma mais simplificada, é definida como uma infecção intramamária causada por agentes patógenos oriundos do ambiente e do próprio animal, tornando-se a causa final do sistema e determinando as perdas do produtor, tanto pela redução na produção de leite das vacas quanto pelos gastos com medicamentos, principalmente, antibióticos, na tentativa de controle da doença (Larry Smith et al., 1985; Larry Smith & Hogan, 1998). Nos EUA, Bramley et al. (1996) estimaram prejuízo anual de 2 bilhões de dólares. No Brasil, essas informações são muito inconsistentes, entretanto, Costa et al. (1999), trabalhando com rebanhos leiteiros dos estados de São Paulo e Minas Gerais, estimaram perdas pela doença de US$ 317,93/vaca/ano e prejuízos de US$ 20.611,32/propriedade/ano.
Visando reduzir as perdas provocadas pela mastite, alguns estudos têm sido desenvolvidos para adoção de novos modelos de manejo nos rebanhos. A contagem de células somáticas (CCS), que apresenta correlação positiva com a presença de mastite (Coffey et al., 1986; Emanuelson et al., 1988; Heuven et al., 1988; Pösö & Mantysaari, 1996; Rupp & Boichard, 1999; Rupp & Boichard, 2000), passou a ser um dos principais métodos utilizados no controle da infecção. Portanto, a CCS passou a ser um método clássico para interpretar a saúde da glândula mamária, principalmente quanto à presença de mastite subclínica, e tem sido amplamente utilizada pelos produtores de leite de diversos países. A CCS é mais facilmente mensurada e tem estimativa de herdabilidade mais alta que a incidência de mastite; conseqüentemente, pode servir como característica substituta em programas de melhoramento genético.
O fato de a correlação genética entre CCS e mastite clínica ser menor que 1 tem definido a estratégia de utilização da CCS nos diferentes países em seus programas de melhoramento de bovinos leiteiros. Por sua alta correlação (± 70%), a CCS é suficiente para ser incluída em programas de avaliação de reprodutores. Nesse caso, os autores admitem que as características CCS e mastite são as mesmas e, portanto, a seleção direta pela redução da CCS pode reduzir, indiretamente, a incidência de mastite nos rebanhos. Entretanto, alguns estudos têm demonstrado que a utilização simultânea de ambas as características tem proporcionado melhores respostas, em comparação à seleção isolada de cada característica (Philipsson et al., 1995; Heringstad et al., 2000). O grande problema, nesse caso, é como implementar um eficiente e seguro programa de saúde que contemple a avaliação da mastite clínica.
Nos países economicamente desenvolvidos, a CCS é praticada rotineiramente e adotada na avaliação como índice no melhoramento dos rebanhos leiteiros. Apesar da importância da CCS nos programas de melhoramento e de sua larga utilização, ainda persistem questionamentos quanto à sua real aplicação, tendo em vista os valores dos parâmetros utilizados que determinam pequenos ganhos, embora permanentes.
No Brasil, os primeiros ensaios envolvendo a CCS foram realizados no Paraná. Atualmente, mais cinco estados (RS, SP, MG, GO e PE) integram a Rede Brasileira de Qualidade do Leite (RBQL) e possuem seus laboratórios de análise de leite centralizados, tornando disponível a CCS como prática de rotina no monitoramento da glândula mamária, no manejo e no melhoramento genético dos rebanhos leiteiros brasileiros.
Com base nesses princípios, este trabalho foi realizado com os seguintes objetivos: avaliar a contagem de células somáticas (CCS) e o escore de células somáticas (ECS), no dia do controle leiteiro mensal, no leite de vacas holandesas primíparas; estudar os efeitos de causas não-genéticas que possam estar influenciando a presença de células somáticas no leite dessas vacas; e estimar componentes de covariância, para efeitos aleatórios, entre dias consecutivos da produção de leite de uma mesma vaca.
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