Comportamento ingestivo, concentração de nitrogênio
uréico no plasma e no leite,
balanço de compostos nitrogenados e produção de proteína
microbiana
Objetivou-se avaliar o efeito da substituição do milho pela casca de café ou pela casca de soja em dietas à base de cana-de-açúcar, com 60% de concentrado, sobre o comportamento ingestivo, o pH e a concentração de amônia no líquido ruminal, a excreção de uréia na urina (EU), a concentração de N-uréia no plasma (NUP) e no leite (NUL), o balanço de compostos nitrogenados e a síntese de proteína microbiana em vacas leiteiras, em comparação a uma dieta com silagem de milho. Foram utilizadas 12 vacas holandesas, puras e mestiças, distribuídas em três quadrados latinos 4 x 4. A dieta controle foi composta de silagem de milho e 40% de concentrado (SiMi), com base na MS. Foram utilizadas três dietas contendo cana-de-açúcar e 60% de concentrado, de modo que os percentuais de substituição do milho foram 0% (CMi), 25% com casca de café (CCC) ou 50% com casca de soja (CCS), com base na MS total da dieta.
O tempo total de mastigação foi menor para a dieta SiMi e não foi afetado pela inclusão de casca de café ou casca de soja. O pH ruminal não diferiu nos tempos 0 e 3 horas após a alimentação matinal. A dieta CCC resultou, três horas após alimentação, em menor concentração de amônia ruminal em relação às demais, com exceção da dieta CMi. Não foram observadas diferenças na EU e NUL, sendo registrados valores médios de 179,31 mg/kg de PV e 12,59 mg/dL, respectivamente. A substituição do milho pela casca de café ou de soja não promove melhora no ambiente ruminal. A síntese de compostos nitrogenados microbianos e a eficiência microbiana ruminal não são influenciadas pelas dietas e apresentam valores médios de 273 g/dia e 130,08 gPBmic/kg de NDT, respectivamente.
Palavras-chave: eficiência do nitrogênio, funcionamento ruminal, subprodutos
A utilização de cana-de-açúcar para vacas de maior potencial de produção tem como conseqüência a necessidade de inclusão de quantidades mais elevadas de concentrado na dieta (Costa et al., 2005), o que pode reduzir o pH ruminal e comprometer o funcionamento normal do rúmen. A substituição de grãos ricos em carboidratos rapidamente fermentáveis por fontes de carboidratos estruturais de alta digestibilidade, como a casca de soja, pode prevenir distúrbios no funcionamento ruminal (Ipharraguerre & Clark, 2003).
Além disso, o fornecimento de altos níveis de concentrado pode prejudicar a sustentabilidade econômica do sistema de produção, gerando a necessidade de utilização de subprodutos da agroindústria, como casca de café ou de soja. A elevada disponibilidade e os preços competitivos da casca de café estimularam o desenvolvimento de pesquisas com 10 a 15% de sua inclusão, com base na MS, em substituição parcial ao milho em dietas para vacas em lactação (Barcelos et al., 1995; Souza et al., 2005; Rocha et al., 2004).
No entanto, o valor energético desse subproduto está aquém ao do milho. Além disso, esse alimento contém alta proporção de compostos nitrogenados ligados à FDA e alto conteúdo de polifenóis totais (Barcelos et al., 2001; Valadares Filho et al., 2002) e, portanto, sua utilização pode afetar o crescimento dos microrganismos ruminais.
Os ruminantes dependem dos microrganismos ruminais para atender suas exigências de proteína e energia (Coelho da Silva & Leão, 1979; Valadares Filho & Valadares, 2001). Assim, a busca pela eficácia e eficiência nos sistemas de alimentação requer a otimização do crescimento microbiano com minimização de perdas potenciais de nutrientes.
Os microrganismos ruminais necessitam de condições específicas que permitam a normalidade do metabolismo e do crescimento. O pH ruminal afeta o crescimento microbiano e deve se manter na faixa de 6,7±0,5 para a adequada atividade microbiana (Van Soest, 1994). O tamponamento ruminal é mantido em condições normais principalmente por meio da saliva e remoção dos ácidos graxos voláteis por absorção.
A salivação é altamente relacionada à atividade mastigatória (mastigação e ruminação). Desse modo, a avaliação do comportamento alimentar, constituído pelos tempos de alimentação, ruminação e ócio e pelas eficiências de alimentação e ruminação, pode auxiliar nas avaliações de dietas e possibilitar o ajuste do manejo alimentar para melhora do desempenho produtivo (Dado & Allen, 1995).
O crescimento microbiano é afetado pela disponibilidade de nutrientes exigidos pelos microrganismos ruminais, como carboidratos, amônia, peptídeos, aminoácidos, enxofre e ácidos graxos de cadeia ramificada (Van Soest, 1994).
A concentração de amônia ruminal tem sido utilizada como indicador da degradação protéica e da eficiência de utilização do nitrogênio da dieta e de crescimento microbiano. Alguns pesquisadores sugeriram limites inferiores de concentração de amônia ruminal para maximizar o crescimento microbiano (Satter & Slyter, 1974; Leng & Nolan, 1984). No entanto, a exigência de amônia ruminal para síntese microbiana não é homogênea entre os microrganismos e depende do substrato utilizado (Russell et al., 1992). Desse modo, torna-se necessário determinar ou estimar a produção de proteína microbiana, pois a concentração de amônia ruminal representa uma medida de excesso e não necessariamente reflete a eficiência de crescimento de todos os microrganismos ruminais (Morrison & Mackie, 1996).
Entre os diferentes métodos para estimar a síntese de proteína microbiana, o uso de derivados de purina (DP) tem sido preferido pela simplicidade e por não utilizar animais fistulados (Valadares Filho & Valadares, 2001; Rennó et al., 2000).
A uréia constitui a principal forma de excreção de compostos nitrogenados em mamíferos. Quando a taxa de síntese da amônia excede a taxa de utilização pelos microrganismos, observa-se elevação da concentração de amônia no rúmen, que é absorvida pela corrente sangüínea através da parede ruminal, sendo transportada até o fígado para ser detoxicada pela conversão a uréia (Frosi & Mullbach, 1999). Como a uréia é uma pequena molécula solúvel em água e altamente permeável, está presente em todos os fluidos corporais, inclusive o sangue e o leite. Assim, a concentração de nitrogênio uréico no plasma (NUP) e/ou no leite (NUL) pode ser utilizada para monitorar a utilização do nitrogênio da dieta no sentido de evitar perdas econômicas, produtivas, reprodutivas e ambientais (Broderick & Clayton, 1997).
Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o efeito da substituição do milho pela casca de café ou de soja em dietas à base de cana-de-açúcar, com 60% de concentrado, sobre o comportamento ingestivo, o pH e a concentração de amônia no rúmen, a excreção de uréia na urina, a concentração de uréia no plasma e no leite, o balanço de compostos nitrogenados e a síntese de proteína microbiana.
Página seguinte |
|
|