"El reverso del destino es la conciencia de libertad"
Octavio Paz
A construção de relações de gênero nos territórios de luta pela terra (assentamentos e acampamentos), dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil, só pode ser compreendida a partir da processualidade social que os define. As funções sociais das trabalhadoras acampadas mudam uma vez que se transformam em assentadas, o que repercute diretamente na redução do seu espaço político e social. A preocupação que permeia esta interlocução radica na necessidade de desvendar processos estruturais e locais da divisão social e sexual do trabalho, que criam e reproduzem a ideologia hegemônica que por sua vez, direcionam as relações de gênero, com o objetivo de manter o status quo do controle social.
Palavras-Chave: Trabalhadora Rural, Relação de Gênero, Território, Luta pela Terra
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Os apontamentos que aqui apresentamos são resultados parciais da pesquisa sobre relações de classe e gênero na territorialização da luta pela terra que estamos desenvolvendo na região do Pontal de Paranapanema, no Estado de São Paulo, Brasil. O objetivo deste artigo é apresentar funções e papeis de gênero identificados em assentamentos e acampamentos que têm origem na luta pela terra do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). Pretendemos com isto, caracterizar os papeis sociais jogados pelos trabalhadores e as trabalhadoras rurais em diferentes momentos/espaços do processo/movimento da Luta pela Terra: os acampamentos e assentamentos rurais.
Esta análise é ponto de partida para iniciarmos uma maior compreensão das mudanças protagonizadas pelas mulheres trabalhadoras no contexto rural brasileiro. O incremento da mobilização destas através de grupos de trabalhadoras organizadas, autonomamente ou bem no interior de movimentos sociais, nos assentamentos e acampamentos rurais brasileiros, representam sinais dessa mudança.
Os depoimentos das trabalhadoras e trabalhadores do assentamento Madre Cristina e do acampamento Padre Jósimo, ambos no município de Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema, São Paulo, Brasil, constituem a base das nossas reflexões. Em ambos territórios o modus vivendi é fruto de processos de organização coletiva, o que os converte em espaços privilegiados para a organização e cooperação entre seus membros. A organização espacial, a historia de luta, e a proximidade das relações e reivindicações comuns, funcionam como elementos de empoderamento de homens e mulheres, socialmente excluídos, no avanço do esforço para superar a miséria.
Nesse sentido, entendemos ser prioritário contextualizar na metamorfose contemporânea do mundo do trabalho, o contingente humano que forma o que, hoje no Brasil e no mundo, se conhece como os trabalhadores e trabalhadores Sem Terra. Particularmente, as mulheres e homens que ingressam nas fileiras de um dos seus mais representativos movimentos, além do mais distorcido e manipulado pela mídia, o MST. Um movimento social rural de classe que luta contra a exclusão e pela dignidade humana. Para tal fim, optamos pelas categorias de classe e gênero como portas de entrada da nossa leitura.
Em primeiro lugar, tratamos de identificar a estrutura da divisão sexual do trabalho que se estabelece nestes territórios. A identificação das atividades produtivas e reprodutivas e de trabalho comunitário nos assentamentos e acampamentos constata-se fundamental para evidenciar a participação de homens e mulheres em todos os níveis e âmbitos, para colocar prioridades e contribuições.
Em seguida, apontamos singularidades e reproduções de ideologias e pràticas de subordinação da mulher presentes no universo destas trabalhadoras. Indagar sobre estas questões responde ao objetivo de desvendar os limites que são colocados nestes novos espaços para a quebra do destino de gênero, luta inerente ao discurso do MST e implícito nas organizações das trabalhadoras assentadas. Intentamos explicitar a produção e reprodução das clivagens de gênero que, nos assentamentos e acampamentos rurais, se apresentam para a militância feminina no movimento social dos Sem Terra e as organizações de mulheres trabalhadoras rurais.
Por último, colocamos as duas estratégias diferenciadas de desenvolvimento e luta que mobilizam as mulheres trabalhadoras do assentamento Madre Cristina e o acampamento Padre Jósimo: o Setor de Gênero do MST e a Comissão de Mulheres Trabalhadoras Rurais.
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