O objetivo deste texto é discutir os desdobramentos centrais da gestão da relação capital-trabalho na agroindústria sucro-alcooleira, a partir de suas evidências territoriais, cuja conformação explicita os desafios postos para o trabalho, mas em especial, para o movimento sindical.(1)
Se para uns não tardou a introdução do sistema de máquinas, na agricultura, às custas de polpudas somas de financiamentos estatais, ou ainda, se para outros registram-se grandes somas de investimentos associados à montagem de estruturas específicas para a difusão de tecnologia, política agrícola e (agro)industrial específicas, fixação de preços com fortes percentuais de subsídios, enfim, para a grande maioria dos agricultores brasileiros, pouco ou quase nada sobrou. A diferencialidade desdobrante desse quadro é reveladora da inclusão e obviamente da exclusão vigente na agricultura brasileira.
Pode-se dizer que esse processo, além das revelações assinaladas acima, também comporta: a elevação da magnitude da capacidade de produção e dos índices de produtividade, alcançados, pois, com o consorciamento, não necessariamente articulado, da adoção de tecnologias. Também, novas formas de gerenciamento do processo de trabalho, superexploração do trabalho, incremento da concentração da propriedade da terra, articulada ou não com a centralização e concentração de capitais, no caso do setor de ponta da agroindústria, fortalecimento das relações de assalariamento por um lado e de relação não assalariadas por outro, como no caso dos produtores integrados, com a explicitação das diferentes formas de apropriação da renda da terra e do excedente.
De todo modo, diante tamanha diversidade de questões, é preciso fazer escolhas. Nossa opção inclina-se em dimensionar as relações que produzem formato específico a um segmento da agricultura empresarial e os efeitos sobre as relações de trabalho e os desdobramentos para os órgãos de representação política, em especial dos sindicatos e centrais sindicias. Nesse sentido, nos aproveitamos de um conjunto de pesquisas sistematizadas recentemente(2), para colocar em discussão algumas evidências sobre a agroindústria sucro-alcooleira paulista
Privilegiar as ações do movimento sindical na agroindústria sucro-alcooleira como forma de desvendar a relação capital-trabalho, é o fundamento para que possamos entender as novas relações que se anunciam, tais como, a precarização das relações de trabalho, a intensificação da mecanização do corte e plantio da cana-de-açúcar, informatização da planta fabril, constituição da Câmara Setorial Paulista Sucro-alcooleira etc. Não se trata de adotar um tratamento individualizado para a parcela específica do sindicalismo brasileiro envolvida na atividade agroindustrial sucro-alcooleira, ao contrário, quer-se privilegiar a especificidade das ações dessa fração do sindicalismo, considerando as mediações concernentes à relação capital-trabalho, ou a singularidade do processo em que o capital materializa-se como relação social dominante, enquanto pois, tecnologia, enquanto mecanização, enquanto novas formas de contratação, de gestão e de controle da força de trabalho.
Embora a escolha das ações do movimento sindical ou do conjunto das categorias envolvidas (cortadores de cana, condutores, alimentação e químicos), nos indiquem as disputas e os enfrentamentos que deram formato e conteúdo à relação capital-trabalho, faz-se importante demarcar que os elementos norteadores da estrutura de dominação de classe que se multiplicaram historicamente, pelo sindicalismo brasileiro, mas não somente(3), mantêm-se ou em alguns aspectos tiveram poucas alterações.
Quer-se dizer que, ainda que os levantes operários do final dos anos 70, mais precisamente com as primeiras greves em maio de 1978, no ABC Paulista(4), que deu início ao novo sindicalismo tenham efetivamente recolocado novos ânimos para o legado da emancipação dos trabalhadores rumo à democracia (política), às melhorias das condições de vida de trabalho - portanto desafiando a truculenta ditadura militar que havia relegado os trabalhadores brasileiros à exclusão, já no final dos anos 70 era contraditada e ruia - manteve-se pouco alterado pois, o apego dos dirigentes e do staff sindical ao regramento jurídico ou aos parâmetros e imposições da legalidade institucional.
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