A modernização da agricultura e os impactos sobre o trabalho (Brasil)



  1. Resumo
  2. Introdução
  3. Novo padrão de acumulação na agropecuária goiana
  4. A monocultura da soja no cerrado goiano
  5. A modernização conservadora e as mutações no trabalho
  6. Notas
  7. Bibliografia

Resumo

A imposição da racionalidade técnica e científica na agricultura brasileira, especificamente no Estado de Goiás – principal fronteira agrícola do país – transformou as paisagens rurais do Planalto Central Brasileiro em grandes lavouras tecnificadas. Essa nova dinâmica territorial provocou profundas mudanças nas relações sociais de trabalho no espaço rural, destacando-se a desqualificação, a sub-proletarização e outras formas precarizadas, e o desemprego, redefinindo a subordinação dos trabalhadores `a nova dinâmica da produção. O capital agroindustrial-financeiro internacionalizado incorporou diversos espaços rurais à economia mundial, mediante a monocultura para exportação, especialmente a soja e o milho, a instalação de agroindústrias e a ‘integração’ de grande parcela dos pequenos produtores ao mercado, além da expulsão (desterritorialização) de milhares de famílias, que atualmente aglomeram-se precariamente nos centros urbanos, sendo, pois, esse processo, redefinidor da questão cidade-campo.

Palavras chave: trabalho rural, modernização da agricultura, relação capital - trabalho

Introdução

Pensar geograficamente a relação metabólica entre o homem e a natureza e suas configurações sócio-territoriais significa perceber uma nova sociabilidade construída a partir da relação capital x trabalho. A reestruturação produtiva do capital processada nos últimos 20 anos do século XX, portadora de novas formas de produção e de trabalho resultou em alterações profundas no processo de acumulação e (re)produção de capitais e em uma verdadeira metamorfose nas relações de trabalho, com conseqüências danosas para os trabalhadores, bem como para os movimentos sindical e operário, e para a classe trabalhadora de forma geral.

Mediante a crise do padrão de regulação, novas ações são implementadas, destacando-se a transnacionalização das empresas e/ou de setores, distribuindo por vários países, diferentes fases do processamento da produção de um determinado produto, possibilitando a universalização das técnicas e a unificação dos mercados (1)

Moreira (2001), ao discutir as novas formas de acumulação do capital, diz que esse momento se caracteriza por uma nova fase do capitalismo, o da financeirização, onde a acumulação deixa de apoiar-se na forma clássica operário-fabril e passa a pluralizar-se, alterando a produção do valor e consequentemente provocando transformações no mundo do trabalho.

No período de hegemonia financeira, falar do valor é abrir um leque maior de possibilidades, franqueadas pelo alcance largamente amplo da nova esfera da circulação, que o capital financeiro organiza. Este, incorpora a mais-valia operária, mas também se apropria da renda camponesa, explora o trabalho das comunidades indígenas, dá o sentido do trabalho acadêmico científico, técnico e universitário, abarcando formas históricas antes não parametradas de excedente no perfil do valor e do trabalho capitalistas. (Moreira, 2001, p. 16)

Cremos que o cerne da questão seja compreender através do espaço geográfico – a espacialização no território – os atores/produtores de valor não mais apenas na fábrica, mas também na agropecuária, no setor de serviços, na informalidade e nas diversas modalidades de trabalho (altamente precarizados) existentes e sua articulação com a finalidade máxima do processo produtivo capitalista, qual seja, a acumulação de capitais no campo e na cidade. Mediante essa dinâmica o trabalho se metamorfoseia possibilitando novas configurações espaciais geográficas, que necessitam ser investigadas no âmbito da ciência geográfica.

De acordo com Antunes, (2001, p.16)

"A lógica do sistema produtor de mercadorias vem convertendo a concorrência e a busca da produtividade num processo destrutivo que tem gerado uma imensa precarização do trabalho e aumento monumental de exército industrial de reserva, do número de desempregados."

A competição e a concorrência inter-capitais ocasionaram a precarização do trabalho e a degradação crescente do meio ambiente. Essas ações também se expressam na atividade agropecuária moderna, particularmente nas áreas de cerrado no Planalto Central brasileiro, atualmente a fronteira agrícola do país.

O capital operou, portanto, o aprofundamento da separação entre a produção voltada genuinamente para o atendimento das necessidades humanas e as necessidades de auto-reprodução de si próprio. Quanto mais aumentam a competição e a concorrência inter-capitais, mais nefastas são suas conseqüências, das quais duas são particularmente graves: a destruição e/ou precarização, sem paralelos em toda a era moderna, da força humana que trabalha e a degradação crescente do meio ambiente, na relação metabólica entre homem, tecnologia e natureza, conduzida pela lógica societal subordinada aos parâmetros do capital e do sistema produtor de mercadorias. (2001, p.26).


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