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Influência de mecanismos rompedores e velocidades de trabalho no desempenho de uma semeadora-adubado (página 2)

Luciana Castro Geraseev

Material e métodos

O trabalho foi desenvolvido em condições de campo, em área experimental da Universidade Federal de Viçosa, sendo a semeadura realizada no mês de maio de 2004. As coordenadas geográficas da área experimental são latitude 20º45’20" S, longitude de 45º52’40" W (Gr) e 658 m de altitude.

Como fonte de potência nos testes experimentais, utilizou-se um trator de pneus Massey Ferguson, modelo 265 4x2 TODA, com potência máxima de 48 kW (61 cv) no motor a 2000 rpm.

Foi avaliada uma semeadora-adubadora de plantio direto para a cultura de feijão, modelo Seed-Max PC 2123, com três linhas de plantio, espaçadas de meio metro e massa total de 640 kg. A máquina foi montada no sistema de engate de três pontos, apresentando mecanismos de simples funcionamento e pequeno porte, sendo recomendada para atender às necessidades de pequenas propriedades rurais. Para abertura do sulco, visando à colocação de fertilizante, foram utilizados dois mecanismos diferentes: haste sulcadora (facão) e disco duplo defasado.

Os testes foram realizados em um Argissolo Vermelho-Amarelo. Antes da realização de testes com a semeadora, foi feita a caracterização física do solo, a qual está apresentada no Quadro 1, estando incluídos os valores obtidos para a resistência à penetração (ASAE, 1990), densidade do solo e do teor de água no solo.

A área encontrava-se 100% com cobertura vegetal espontânea, predominando a palhada de milho, constituindo uma quantidade de matéria seca sobre a superfície de 5,83 t ha-1 .

Cada parcela experimental foi constituída de uma área de 67,5 m2, sendo 25 metros de comprimento por 2,7 metro de largura. A área foi, previamente, dessecada com herbicida.

Antes da realização dos testes, a semeadora-adubadora foi regulada para o plantio de feijão, variedade Uirapuru, com espaçamento de 0,5 m entre linhas, 10 sementes metro-1 (equivalente a 200.000 sementes hectare-1) e profundidade de plantio próxima de 4 cm.

Utilizou-se o delineamento experimental em blocos casualizados, composto por seis tratamentos e quatro repetições. A área foi subdividida em quatro blocos casualizados, totalizando vinte e quatro parcelas experimentais, cada uma com área de 67,5 m2 (2,7 x 25 m) e espaçamento de 1 metro entre blocos.

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e comparados pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. As análises estatísticas dos dados foram realizadas utilizando-se o programa computacional ESTAT, versão 2.0.

Foram utilizados os seguintes tratamentos:

T1 = velocidade de deslocamento de 3,5 km h-1 e mecanismo sulcador tipo disco

T2 = velocidade de deslocamento de 5,0 km h-1 e mecanismo sulcador tipo disco

T3 = velocidade de deslocamento de 6,0 km h-1 e mecanismo sulcador tipo disco

T4 = velocidade de deslocamento de 3,5 km h-1 e mecanismo sulcador tipo facão

T5 = velocidade de deslocamento de 5,0 km h-1 e mecanismo sulcador tipo facão

T6 = velocidade de deslocamento de 6,0 km h-1 e mecanismo sulcador tipo facão

Para avaliação da influência da velocidade de deslocamento e do mecanismo de abertura do sulco no desempenho operacional da semeadora, os seguintes parâmetros foram tomados: patinagem do rodado do trator, consumo de combustível, uniformidade de distribuição longitudinal de sementes, profundidade de semeadura e percentagem e índice de velocidade de emergência de plântulas

A patinagem foi determinada pela relação entre o número de voltas do rodado do trator sem carga e em condições de trabalho, conforme expresso na Equação 2.

O consumo de combustível foi determinado por meio de um fluxômetro, constituído por uma bureta de vidro graduada em mL, montada no sistema de alimentação do motor do trator. De posse dos dados de consumo de combustível e do tempo de cada teste, calculou-se o consumo horário (Equação 3):

A uniformidade de distribuição longitudinal de sementes foi obtida, utilizando-se a metodologia apresentada por Kurachi et al. (1989). A distância entre sementes foi obtida por meio de régua graduada, em uma faixa de 3 m em cada parcela, eliminando-se áreas próximas à bordadura. Determinou-se a percentagem de espaçamentos aceitáveis, falhas e sementes duplas.

A percentagem de espaçamentos aceitáveis foi calculada considerando-se todos os espaçamentos entre sementes de 0,5 a 1,5 vezes o espaçamento médio esperado. Os valores obtidos fora deste limite foram considerados falhas no plantio (acima de 1,5 vezes o espaçamento médio esperado) ou sementes duplas (abaixo de 0,5 vezes o espaçamento médio esperado).

A profundidade de semeadura foi determinada em uma faixa de 3 m, em cada parcela, eliminando-se áreas próximas à bordadura. Próximo ao local de deposição da semente, foi escavada uma pequena trincheira e, com o auxílio de uma régua graduada, mediu-se a profundidade de semeadura.

A percentagem e o índice de velocidade de emergência de plântulas foram avaliados em 5 m de comprimento na linha de plantio, com três repetições. O número de sementes inicial foi determinado de acordo com a uniformidade de distribuição de sementes da semeadora-adubadora. A contagem das plântulas emersas foi feita, diariamente, durante 15 dias, sendo o total expresso em percentagem.

A determinação do índice de velocidade de emergência de plântulas foi feita, utilizando-se a Equação 4 (adaptada de Magure, 1962). Calculou-se, primeiro, o número de plântulas emersas a cada dia, e, aplicando-se a Equação 4, calculou-se o índice de velocidade de emergência das plântulas.

 

Resultados e discussão

Profundidade de semeadura

No Quadro 2 está apresentada a influência do mecanismo de abertura do sulco e da velocidade de trabalho na profundidade de semeadura. A interação entre mecanismo e velocidade não foi significativa. Quanto à influência dos mecanismos de abertura do sulco, percebe-se que o disco duplo proporcionou semeadura mais profunda do que o facão. A velocidade de deslocamento não influenciou a profundidade de deposição de sementes.

Portella et al. (1997), avaliando a profundidade de semeadura de milho e soja, utilizando semeadoras com mecanismo de abertura de sulco tipo disco e tipo facão, também encontraram maiores profundidades de colocação da semente para os mecanismos tipo disco, com o aumento do teor de água no solo. Entretanto, nesse trabalho, os autores encontraram correlação positiva entre velocidade de avanço e profundidade.

Reis et. al. (2003), estudando a mesma semeadora-adubadora na semeadura de milho, também encontraram maior profundidade de deposição das sementes no mecanismo sulcador tipo disco duplo, sendo este comportamento atribuído ao formato do disco, o qual confere maior estabilidade às paredes do sulco, fazendo com que as sementes caiam em maior profundidade.

Patinagem na roda motriz do trator

No Quadro 3 está apresentada a influência do mecanismo de abertura do sulco e da velocidade de trabalho na patinagem da roda motriz do trator, podendo-se observar que a interação entre mecanismo e velocidade não foi significativa, indicando independência entre estes dois fatores.

Verifica-se, também, que a velocidade de 3,5 km h-1 apresentou os menores valores de patinagem, para ambos os mecanismos sulcadores, bem como uma patinagem estatisticamente inferior às obtidas às velocidades de 5,0 e 6,0 km h-1 .

O mecanismo sulcador tipo disco duplo apresentou valor médio de patinagem maior do que o mecanismo tipo facão, nas três velocidades. Provavelmente, isto seja devido à maior profundidade de deposição das sementes neste tipo de sulcador, conforme apresentado no Quadro 2.

Reis et. al. (2003) também encontraram maiores valores de patinagem com o incremento na velocidade, porém encontraram maior valor de patinagem no mecanismo sulcador tipo facão, diferentemente ao que ocorreu no presente trabalho. Esta discrepância de valores pode estar associada a fatores como o tipo de solo, quantidade de cobertura morta ou teor de água do solo.

Os valores da patinagem apresentaramse inferiores aos do intervalo de 7 a 10 %, recomendado pela ASAE (1989) para que se obtenha máxima eficiência de tração em solos não mobilizados, o que pode ser devido ao fato de a potência disponível no trator estar bem acima da demanda apresentada pela semeadora.

Consumo de combustível

No Quadro 4, observa-se a influência do mecanismo de abertura do sulco e da velocidade de trabalho no consumo horário de combustível. A interação entre mecanismo e velocidade foi significativa, indicando a dependência entre os dois fatores. Observase que, com o incremento na velocidade, o consumo de combustível aumentou e que, dentro de cada velocidade, o mecanismo de abertura do sulco tipo disco duplo demandou maior consumo de combustível.

Este maior consumo, observado no mecanismo sulcador tipo disco, pode ser devido à maior profundidade de deposição das sementes, observada com o uso deste mecanismo, conforme apresentado no Quadro 2, pois, na maior profundidade exige-se maior potência e, conseqüentemente, maior consumo de combustível do trator.

Em trabalho conduzido por Reis et. al. (2003), foi encontrado resultado diferente. Esses autores encontraram maior consumo horário de combustível nos mecanismos rompedores tipo facão, independentemente das velocidades de trabalho, indicando que outros fatores, como teor de água do solo, podem interferir neste parâmetro.

 

Índice de velocidade de emergência

No Quadro 5, observa-se a influência do mecanismo de abertura do sulco e da velocidade de trabalho sobre o índice de velocidade de emergência, podendo-se verificar que a interação entre mecanismo e velocidade não foi significativa, indicando a independência entre os dois fatores.

Observa-se, ainda, que as diferentes velocidades também não interferiram no índice de velocidade de emergência. Entretanto, os mecanismos sulcadores diferiram estatisticamente, sendo obtido um maior índice de velocidade de emergência com o mecanismo sulcador tipo facão.

Possivelmente, essa diferença seja devida à maior profundidade de deposição das sementes, obtida com o mecanismo tipo disco duplo (Quadro 2) e ao alto teor de água médio (44,51 %), que fez com que o disco abrisse apenas uma fenda no solo, mobilizando, assim, um menor volume de solo e, conseqüentemente, diminuindo a velocidade de emergência de plântulas.

Reis (2003), estudando o efeito de diferentes mecanismos rompedores e teor de água no solo na semeadura do milho, não encontrou diferença significativa entre os tratamentos, porém, detectou tendência de aumento no índice de velocidade de emergência, com o aumento no teor de água no solo.

Percentagem de emergência

No Quadro 6 está apresentada a influência do mecanismo de abertura do sulco e da velocidade de trabalho sobre a percentagem de emergência. Onde observase que a interação entre mecanismo e velocidade não foi significativa, indicando a independência entre os dois fatores.

Assim como o índice de velocidade de emergência de plântulas foi maior com a utilização do mecanismo sulcador tipo facão, a percentagem de emergência também foi maior neste mecanismo, independentemente da velocidade de trabalho.

Observa-se também que, com o incremento na velocidade, os tratamentos diferiram estatisticamente, obtendo-se, na menor velocidade, maior percentagem de emergência de plântulas.

Portella et al. (1997), avaliando o índice de emergência de plântulas na semeadura de soja, utilizando semeadoras com mecanismo de abertura de sulco tipo disco e facão, também encontraram maiores índices de emergência, quando foram utilizados os mecanismos tipo facão. Os autores observaram, também, que os mecanismos sulcadores tipo disco proporcionaram redução no índice de emergência de plântulas com o aumento da velocidade de trabalho.

Distribuição longitudinal das sementes classificada quanto à uniformidade de tamanho.

No Quadro 7, estão apresentados os valores de uniformidade de distribuição longitudinal de sementes. Analisando-se os resultados, nota-se que não houve diferença significativa entre os tratamentos para a percentagem de espaçamentos duplos, falhas e espaçamentos aceitáveis. Em média, a semeadora apresentou 56,5% de espaçamentos aceitáveis, 25% de falhas e 18,5% de espaçamentos duplos.

Segundo Tourino e Klingensteiner (1983), as semeadoras com percentagem de espaçamentos aceitáveis de 90 a 100 podem ser consideradas de ótimo desempenho; de 75 a 90, de bom desempenho; de 50 a 75, de desempenho regular; e abaixo de 50, de desempenho insatisfatório. Assim, analisando os resultados, percebe-se que a semeadora utilizada teve desempenho regular. Este desempenho pode ter sido influenciado pela qualidade da semente, a qual não foi

A alteração da velocidade de avanço na faixa estudada pouco influiu na uniformidade de distribuição de sementes. Provavelmente, isso é devido ao fato de o mecanismo distribuidor de semente estar próximo ao solo, reduzindo a possibilidade de rebote das sementes no tubo condutor, levando a uma mesma distribuição longitudinal, mesmo em maiores velocidades de avanço.

Reis et. al. (2003), estudando a influência dos mesmos mecanismos rompedores em diferentes velocidades, também não encontraram diferenças significativas entre os tratamentos. Entretanto, encontraram maior valor de espaçamentos aceitáveis e menores de espaçamentos duplos e falhas. Provavelmente, devido ao fato de os autores terem trabalhado com sementes classificadas, o que não ocorreu no presente trabalho.

Conclusões

Considerando-se os resultados obtidos e as condições avaliadas, conclui-se que:

  • uso do mecanismo sulcador tipo disco duplo proporcionou maior valor médio de patinagem da roda motriz do trator.
  • incremento na velocidade de trabalho aumentou o valor médio de patinagem da roda motriz do trator.
  • uso do mecanismo sulcador tipo disco duplo propiciou maior profundidade média de semeadura e maior consumo horário de combustível.
  • A velocidade de avanço do trator não influenciou a profundidade de semeadura.
  • mecanismo sulcador tipo facão possibilitou a obtenção de maior percentagem de emergência de plantas.
  • A velocidade de trabalho não interferiu no índice de velocidade de emergência.
  • uso do mecanismo sulcador tipo facão propiciou maior índice de velocidade de emergência.
  • A velocidade de avanço e o mecanismo de abertura não influenciaram a distribuição longitudinal de sementes. Em geral, a semeadora apresentou desempenho regular quanto à uniformidade de distribuição de sementes.

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PORTELLA, J. A.; SATTLER, A.; FAGANELLO, A. Desempenho de elementos rompedores de solo sobre o índice de emergência de soja e de milho em plantio direto do sul do Brasil. Engenharia na Agricultura, Viçosa, v.5, n.3, p.209-217, 1997.

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TOURINO, M. C.; KLINGENSTEINER, P. Ensaio e avaliação de semeadorasadubadoras. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 8., 1983, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: UFRRJ, 1983. v.2. p.103-116.

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Arlindo José Camilo2, Haroldo Carlos Fernandes3, Alcir José Modolo4, Ricardo C. de Resende3
haroldo[arroba]ufv.br

1 Projeto de Iniciação Científica PIBIC/CNPq 2 Graduando em Engenharia Agrícola e Ambiental – DEA/UFV, Viçosa-MG. E-mail: ajcamilo[arroba]vicosa.ufv.br 3 Prof. Adjunto do Departamento de Engenharia Agrícola, UFV, Viçosa-MG. E-mail: haroldo[arroba]ufv.br 4 Doutorando em Engenharia Agrícola – DEA/UFV.



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