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Avaliação de mecanismos rompedores e compactadores em semeadura direta (página 2)

Luciana Castro Geraseev

Tessier et al. (1991) destacaram a capacidade da haste, com ponteira larga, em trazer solo úmido do fundo do sulco para a proximidade das sementes, melhorando a disponibilidade de água no solo, naquela profundidade, por um curto período de tempo após a semeadura. Entretanto, a haste proporcionou maior mobilização do solo, maior profundidade de semeadura e desagregação do solo junto às sementes, diminuindo o número de plântulas de trigo, que emergiram e a velocidade de emergência em relação ao disco duplo. Portella et al. (1997a), avaliando a influência de elementos rompedores de solo, tipos disco e facão, sobre o índice de velocidade de emergência do milho, em plantio direto no sul do Brasil, não encontraram diferença significativa entre os dois mecanismos.

A semeadura deve ser feita no estádio de friabilidade do solo (Gassen e Gassen, 1996), desde que a carga aplicada sobre a semente não ultrapasse sua capacidade de suporte (Kondo e Dias Júnior, 1999). Para Iqbal et al. (1998), a compactação das paredes laterais do sulco de semeadura, proporcionado pelos discos duplos em solos argilosos, úmidos e compactados, representa uma limitação, observando que à medida que aumenta o teor de água do solo, aumenta a compactação lateral dos sulcos.

Hummel et al. (1981), trabalhando com diferentes tipos de rodas compactadoras na semeadura de soja, afirmaram que o desenho e a operação da roda compactadora tiveram considerável influência sobre o ambiente do solo, em torno da semente. Relataram, ainda, que a compactação aplicada sobre o solo, pelas rodas, pode ou não ser benéfica ao ambiente geral da semente, o que dependerá do nível de pressão e desenho da roda, do tipo e umidade do solo e das condições climáticas entre o período de semeadura e emergência. Furlani et al. (2001), combinando três profundidades de semeadura da cultura do milho com quatro níveis de compactação do solo sobre as sementes, não encontraram influência destes fatores sobre o número médio de dias para emergência das plântulas. Por outro lado, a resistência à penetração aumentou com a utilização das maiores cargas e profundidades de semeadura.

Segundo Ortolani et al. (1986), a profundidade de semeadura representa um fator fundamental no processo de emergência. Se a semente for colocada em grandes profundidades e coberta com muita terra, a planta ao nascer, terá uma camada espessa de solo a atravessar. Além disso, a profundidade de semeadura determina a situação em que as raízes primárias irão desenvolver. As raízes que surgem das profundidade de semeadura (Viégas e Peeten, 1987).

Baseado no exposto, estudos que possibilitem melhor interpretação dos efeitos do teor de água do solo, bem como os mecanismos de abertura do sulco e compactação do solo no desenvolvimento inicial das culturas, contribuirão para o aprimoramento das semeadorasadubadoras de plantio direto, sendo este o objetivo deste trabalho.

Material e métodos

Este trabalho foi desenvolvido em condições de campo, em área experimental da Universidade Federal de Viçosa, Município de Coimbra, MG, com longitude de 42° 48’ S, latitude de 20° 51’ W e altitude de 716 m. Esta região apresenta precipitação média anual de 1300 a 1400 mm, concentrada, principalmente, no período de outubro a março, média anual de umidade relativa do ar de 80 a 85% e temperatura média anual de 19° C.

Avaliou-se uma semeadora-adubadora de plantio direto, na cultura do milho, modelo Seed-Max PC 2123, com duas linhas de plantio, espaçadas de um metro e massa total de 640 kg, considerando os carregamentos de adubo e sementes. A máquina, montada no sistema de engate de três pontos, apresenta mecanismos de simples funcionamento e pequeno porte, sendo recomendada para atender às necessidades de pequenas propriedades rurais. É constituída, basicamente, por disco liso de corte de palhada, conjunto distribuidor de fertilizantes, sulcador para colocação de sementes tipo disco duplo defasado, dosador de sementes tipo disco alveolado, com regulagem feita por meio de troca de engrenagens e acionado por pneus de tração. Para abertura do sulco, visando à colocação de fertilizante, utilizaramse dois mecanismos: haste sulcadora e disco duplo defasado. Para a compactação do solo sobre as sementes, foram utilizados a roda de borracha e a roda lisa. A semeadoraadubadora foi tracionada por um trator da marca Massey Ferguson, modelo 265, com tração dianteira auxiliar e potência nominal de 48 kW, em uma velocidade de 5,0 km h-1 .

Os testes foram realizados em um Latossolo Vermelho-Amarelo, coberto por vegetação espontânea ou mato, predominando o sapé (Imperata brasiliensis) e

  • capim-braquiária (Brachiaria decumbens Stapf), que foi implantado para o ensaio. O nível de cobertura foi determinado, antes da realização do plantio, fazendo-se a coleta da palha em uma área de 1 m2, escolhida em locais mais representativos dentro das parcelas experimentais (5 t ha-1 de massa seca). Antes dos testes com a semeadora, foi feita a caracterização física do solo, apresentada no Quadro 1, sendo determinado
  • teor de água do solo, a densidade e a resistência do solo à penetração (ASAE, 1998).

Cada parcela experimental foi constituída de uma área de 30 m2, sendo 30 metros de comprimento por 1 metro de largura. A área foi, previamente, dessecada com aplicação de herbicida glyphosate, na dose de 5,0 L ha-1 , em um volume de pulverização de 300 Lha-1 .

 

O plantio do milho foi efetuado com uma semeadora–adubadora de plantio direto, substituindo-se os mecanismos de acordo com os tratamentos. Antes da realização dos testes, a semeadora-adubadora foi regulada, visando ao plantio de milho, com espaçamento de 1 m entre linhas, 8,0 sementes metro-1 (equivalente a 80.000 sementes hectare-1) e profundidade de plantio de 5 cm. A semente utilizada nos testes foi o BR 106, com poder germinativo de 89%, pureza de 98% e peneira de classificação número 22M.

Os teores de água foram obtidos aplicando-se água sobre o solo, com monitoramento da lâmina de água. Durante a semeadura, foram retiradas amostras de solo e o teor de água foi determinado por meio do método padrão de estufa.

Montou-se o experimento no esquema de parcelas subsubdivididas, em que as parcelas constituíram os teores de água do solo (0,22; 0,28; e 0,34 kg kg-1), as subparcelas os tipos de hastes sulcadoras (facão e discos duplos) e as subsubparcelas

o tipo de elementos compactadores (borracha e lisa), no delineamento em blocos casualizados, com três repetições, tendo-se, no total, 36 parcelas. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e comparados pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Para avaliação da influência do teor de água do solo, do mecanismo de abertura do sulco e da compactação da semente no desenvolvimento inicial da cultura do milho, os seguintes parâmetros foram considerados: carga aplicada sobre a semente, distribuição de sementes, profundidade de plantio, índice de velocidade de emergência, percentagem de germinação.

Os níveis de cargas aplicadas sobre as sementes foram determinados por meio de uma célula de carga da marca Omega, modelo LCCA-1k, com capacidade de 4540 N e escala de saída de 2,999 mV por volts de entrada, acoplada à roda compactadora. Com o auxílio de um multímetro (marca Tektronix, modelo DMM 252), foi determinada a tensão de saída da célula durante o percurso, em cada parcela experimental, que foi, posteriormente, utilizada para determinar a carga aplicada sobre a semente. A área de contato do rodado com o solo foi determinada com o auxílio de tinta ("splay"), vidro e um planímetro. Com a máquina parada, aplicouse tinta e, com o auxílio do vidro e papel transparente, delimitou-se a área de contato com o solo. Essa área foi transferida para papel vegetal e determinada com o auxílio de um planímetro.

O número de sementes foi determinado, em função da distribuição longitudinal, considerando-se, também, as sementes não germinadas. A quantidade de sementes não germinadas e germinadas correspondeu ao número de sementes por hectare (Mantovani et al., 1992).

A temperatura do solo foi medida até que ocorresse toda a germinação, atingindo, assim, o estande final. Essa temperatura foi observada na profundidade de plantio, durante o período compreendido do primeiro até o décimo quarto dia após a semeadura (Coan et al., 1993). O valor médio de temperatura, encontrado no período, foi de 25,2 ± 3,0 0C.

A profundidade de plantio foi determinada em uma faixa de 10 m em cada parcela, eliminando-se áreas próximas à bordadura, de acordo com a metodologia utilizada por Oliveira et al. (2000). Após a germinação do milho, cortou-se a parte aérea rente à superfície do solo e, após a coleta dos mesocótilos com as sementes removidas, determinouse a distância entre a semente e a superfície do solo.

Determinou-se o índice de velocidade de emergência das sementes no campo, em função dos teores de água e mecanismos de abertura e compactação das sementes,

o qual representa a velocidade de emergência em condições de campo. A velocidade de emergência foi determinada, contando-se as plântulas emergidas a cada dia, a partir do dia em que a primeira plântula emergiu, até à não ocorrência da emergência, sendo este valor utilizado para caracterizar a percentagem de germinação. Os índices de velocidade de emergência, para cada teor de água do plantio, foram obtidos dividindo-se o número de plântulas emergidas a cada dia pelo número de dias do plantio até a emergência (Maguire, 1962).

Resultados e discussão

No Quadro 2 está apresentada a influência dos mecanismos de abertura do sulco e dos elementos compactadores, nos diferentes teores de água do solo, sobre a pressão aplicada pela roda durante a operação de plantio. Verifica-se, neste quadro, que não houve efeito significativo dos mecanismos de abertura do sulco para os teores de água estudados. Entretanto, o formato dos elementos compactadores exerceu interferência significativa na pressão aplicada na linha de plantio. A pressão média aplicada pela roda lisa foi de 29,42 KPa e a pressão aplicada pela roda de borracha foi de 20,59 KPa. Isso ocorreu devido ao fato de a roda lisa apresentar menor área de contato com o solo. Outro fator que deve ser levado em conta é a diferença entre os dois mecanismos de compactação, pois, enquanto a roda lisa aplica pressão lateralmente ao sulco, o mesmo não ocorre com a roda de borracha, que aplica carga sobre a linha de plantio. Hummel et al. (1981), trabalhando com diferentes tipos de mecanismos compactadores, afirmaram que o desenho e a operação do elemento compactador influenciam, consideravelmente, o ambiente do solo sobre a semente, contudo, não quantificou esse efeito sobre as propriedades do solo.

No Quadro 3 está apresentado o número médio de sementes distribuídas na linha de plantio; observa-se que não há diferenças estatísticas significativas. Houve diferença de 5% entre a quantidade recomendada de oito sementes, por metro, para a observada de 7,6 por metro (Quadro 3). Casão Júnior e Siqueira (2003) relataram que, se a semeadora apresentar número de sementes inferior a 10% do recomendado, ela pode ser considerada satisfatória. Esta diferença é devida à patinagem da semeadora e à capacidade de enchimento dos discos. Como os mecanismos dosadores de sementes são acionados pelo rodado, quando este patina, o disco dosador deixa de girar, reduzindo, assim, o número de sementes por metro linear. Os depósitos trabalharam abaixo de 3/4 de sua capacidade, o que pode ter influenciado a capacidade de enchimento dos discos, em razão do peso sobre as sementes.

O coeficiente de variação médio da distribuição de sementes, na linha de semeadura, foi de 6,0% nos tratamentos estudados. Em experimentos realizados com várias semeadoras–adubadoras, visando à avaliação da eficiência operacional na semeadura de milho, Mantovani et al. (1992) encontraram um coeficiente de variação médio de 12,2% em semeadoras, trabalhando com diferentes mecanismos dosadores de sementes. Oliveira et al. (2000) obtiveram um coeficiente de variação de 10,01%, para semeadoras com dosadores tipo disco horizontal.

No Quadro 4, mostra-se a influência dos mecanismos de abertura do sulco e dos elementos compactadores, nos diferentes teores de água do solo, sobre a profundidade de plantio. Houve efeito do elemento compactador e interação entre o teor de água do solo e o mecanismo sulcador.

No Quadro 5, está apresentada a interação entre o sulcador e o teor de água do solo. O mecanismo sulcador do tipo disco duplo apresentou maior profundidade de plantio nos teores de água de 0,28 e 0,34 kg kg-1 , o que pode ter ocorrido pelo espelhamento lateral do solo, facilitando a colocação das sementes em maiores profundidades. No teor de água de 0,22 kg kg-1 houve, entretanto, uma menor profundidade de plantio, o que foi devido à dificuldade de penetração do disco em solo mais seco. Para o mecanismo do tipo facão, não houve diferenças na profundidade de plantio, para os teores de água estudados, apresentando menores valores para os maiores teores de água do solo. Portella et al. (1997a) e Reis et al. (2003) avaliaram a profundidade de semeadura de milho, utilizando semeadoras com mecanismos do tipo facão e discos duplos e encontraram maiores profundidades de colocação da semente para mecanismos do tipo disco duplo. Silva (2000), trabalhando com diferentes mecanismos sulcadores, encontrou maior profundidade de plantio, quando utilizou o mecanismo de abertura tipo facão. Tal discrepância pode ser devida a comportamentos diferentes dos sulcadores, em diferentes solos.

Os elementos compactadores apresentaram diferenças entre si, independentemente do teor de água e do mecanismo de abertura do sulco. A roda de borracha apresentou a maior profundidade de plantio (4,2 cm), a qual foi significativamente superior à da roda lisa, que mostrou valor médio (3,6 cm). Isso ocorreu devido a diferenças entre os elementos compactadores; a roda de borracha contém um comprimento do braço maior que a roda lisa. As rodas compactadoras da semeadora utilizada são usadas como limitadores de profundidade, o que interfere, diretamente, na profundidade de plantio. Há poucos dados na literatura a respeito dos efeitos de elementos compactadores sobre a profundidade de plantio.

Não houve efeito significativo do teor de água no solo, dos mecanismos de abertura e elementos compactadores sobre o índice de velocidade de emergência, conforme apresentado Quadro 6. Portella et al. (1997b), estudando o efeito dos elementos de abertura do sulco e da compactação das sementes em diferentes semeadoras– adubadoras, não encontraram diferenças significativas no índice de velocidade de emergência, o que também foi observado no presente trabalho. Tessier et al. (1991) e Mead et al. (1992) verificaram que a emergência de plantas foi afetada pela evaporação e que alguns dos fatores, as quais influenciaram a perda de água pelo solo, deveram-se à maior mobilização dos solos pelos mecanismos de abertura do sulco. Furlani et al. (2001) não verificaram efeito significativo da compactação do solo no número médio de dias para a emergência de plântulas de milho.

No Quadro 7, estão apresentados os valores de percentagem de emergência de plantas. Não houve efeito significativo do teor de água no solo e de elementos compactadores sobre a percentagem de emergência de plantas. Independentemente do teor de água do solo e do tipo de elemento compactador, o mecanismo do tipo facão apresentou maior percentagem de plantas emergidas (85,7) do que o tipo disco duplo (81,2). Isso pode ter ocorrido em virtude da maior retenção de água pela parede do sulco, no mecanismo tipo disco duplo. Resultados semelhantes foram encontrados por Wilkins et al. (1993). Tessier et al. (1991) e Mead et al. (1992), que verificaram ser a emergência de plantas afetada pela evaporação e que alguns dos fatores, que mais influenciaram a perda de água pelo solo, deveram-se à maior mobilização dos solos pelos mecanismos de abertura do sulco.

Conclusões

De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que:

  • teor de água, os mecanismos de abertura e os elementos compactadores do solo não interferiram no índice de velocidade de emergência das plântulas.
  • No mecanismo sulcador do tipo facão houve maior percentagem de emergência de plantas.
  • Os mecanismos de compactação não interferiram na percentagem de emergência de plantas.
  • mecanismo de abertura tipo disco duplo apresentou maior profundidade média de plantio, nos teores de água de 0,28 e 0,34 kg kg-1 .
  • Em solos com alto teor de argila, deve-se utilizar o mecanismo tipo facão para abertura de sulco.

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Elton Fialho dos Reis2, Haroldo Carlos Fernandes3, Carlos Ernesto G. R. Schaefer 4, Eduardo Fontes Araújo5
haroldo[arroba]ufv.br

1 Parte da tese apresentada pelo primeiro autor para obtenção do grau de Doutor em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG.
2 Professor Engenharia Agrícola, UEG, 75110-390, Anápolis, GO-Brasil. E-mail:
fialhoreis[arroba]ibest.com.br
3 Professor Adjunto, D.S., Dep. Eng. Agrícola, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 36571-000
4 Professor Adjunto, Ph.D., Dep. de Solos, Universidade Federal de Viçosa. 36571-000 5 Professor Adjunto, D.S., Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa. 36571-000.



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