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Degradação ruminal da matéria seca e proteína bruta, de alimentos concentrados utilizados como suple (página 2)

Lana, P.P.

Material e métodos

O experimento foi realizado nas dependências do Laboratório Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federa de Viçosa (UFV), onde foram utilizados três novilhos Nelores inteiros, fistulados no rúmen, mantidos no pasto, recebendo apenas suplementação mineral, com idade aproximada de 24 meses e peso médio de 350 kg.

Para as avaliações, utilizou-se a técnica in situ descrita por Mehrez e Orskov (1977), para se determinar a degradabilidade potencial e efetiva da matéria seca (MS) e da proteína bruta (PB) de seis alimentos concentrados utilizados na alimentação animal: farelo de soja, farelo de amendoim, polpa cítrica, glúten de milho, farelo de trigo e grão de milho moído, cuja composição bromatológica é mostrada na Tabela 1. As amos-tras foram preparadas segundo as recomendações pro-postas por Nocek (1988), em que os alimentos foram moídos com peneira de 2 mm de malha, pesados, para que se respeitasse a quantidade de 1,0 g de MS, e colocados no interior de sacos de náilon com porosidade conhecida de 50 micras, com dimensões 6,5 x 4,0 cm de área livre; com isso, proporcionou-se uma relação de 20 mg/cm2 (Nocek, 1988). Os sacos foram incubados em ordem decrescente de 48, 36, 24, 12, 6, 3 e 0 horas, em triplicatas por animal e por tempo de incubação, sempre na parte da manhã (Orskov, 1988; Nocek, 1988).

As amostras dos alimentos utilizados e os resíduos remanescentes das incubações foram secos em estufa ventilada a 65ºC, por 48 horas, e analisadas, para se determinar os teores de matéria seca (MS) e de proteína bruta (PB).

Os dados sobre desaparecimento da matéria seca e proteína bruta foram calculados baseando-se na diferença entre o peso incubado e os resíduos após a incubação. Para a estimativa dos parâmetros de degradação, utilizou-se o programa estatístico SAEG (UFV, 2000), mediante ajustes por regressão não-linear, segundo modelo proposto por Orskov e McDonald (1979): DP = a + b(1-e-ct), em que DP é a degradabilidade ruminal potencial dos alimentos; "a" é a fração solúvel; "b", a fração potencialmente degradável da fração insolúvel que seria degradada a uma taxa "c"; "c", que seria a taxa de degradação da fração "b"; e "t", o tempo de incubação em horas. A fração considerada não degradável seria calculada da seguinte forma: (100- (a+b)).

A degradabilidade ruminal efetiva (DE) do componente nutritivo analisado foi calculada segundo o modelo matemático proposto por Orskov e McDonald (1979): DE = a + [(b * c)/(c + K)], em que K é a taxa de passagem de sólidos pelo rúmen, definida aqui como sendo de 2, 5 e 8,0%/h.

Resultados e discussão

Os parâmetros "a", "b" e "c", a fração indegradável (I) e degradabilidade efetiva (DE) da MS, para as taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h, são mostrados na Tabela 2. A degradabilidade potencial dos alimentos (DP) para os diferentes tempos de incubação estão na Tabela 3.

A fração solúvel (a) corresponde à parte solúvel do alimento, mais as partículas eliminadas através da malha dos sacos, quando esses são imersos no líquido ruminal e, posteriormente, lavados em água corrente. O milho apresentou valor semelhante (23,2%) ao encontrado por Pereira et al. (1997), que foi de 20,3%, mas inferior ao encontrado por Martins et al. (1999), de 32,9%. Entretanto, a fração potencialmente degradável (75,5%) e a taxa de degradação da fração "b" (4,7%) foram superiores aos valores encontrados por ambos os autores, 63,1 e 67,1% e 0,4 e 3,7%, respectivamente. As degradabilidades da MS obtidas neste trabalho, para as taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h, foram de 76,0; 59,6; e 51,0%, superiores aos encontrados por Martins et al. (1999), cujos valores são 43,2; 37,6; e 36,0%. Para a taxa de 5%/h, o valor obtido está próximo ao valor médio apresentado pelo NRC (1996), de 55%, mas inferior ao encontrado por Deschamps (1994), de 66,6%.

O valor encontrado por Pereira et al. (1997), sem o lag time, foi de 55,4%, para taxa de passagem de 3,41%/h. A polpa cítrica, que apresentou alto valor para a degradabilidade efetiva de MS (76,6%) para taxa de passagem de 5%/h, apresentou valor superior ao encontrado por Martins et al. (1999), de 67,5%, e ao NRC (1996), que preconiza degradação ruminal para a polpa cítrica de 70%. A fração solúvel obtida foi de 37,1% e a taxa de degradação da fração "b", 10,5%. Diferenças nos conteúdos dos nutrientes da polpa seca são atribuí-das ao processo de desidratação, à fonte e à variedade da fruta e ao tipo de operação para a obtenção do resíduo (AMMERMAN e HENRI, 1993, citados por MARTINS et al., 1999). Os valores obtidos por Dewhurst et al. (1995) para a fração solúvel e a taxa de degradação da fração "b" foram semelhantes aos encontrados neste trabalho, que foram de 33,5% e 7,6%/h. Silva et al. (1997) mostraram alta degradabilidade da matéria seca para a polpa cítrica no rúmen, sugerindo alto valor energético para bovinos. Com isso, pode ser usado como alimento energético, porém, a única limitação é o fator econômico.

O glúten de milho apresentou alto valor para a fração "a", 11,9%, sendo superior ao apresentado por Teixeira et al. (1996), 5,9%, mas a taxa de degradação da fração "b" de 2,1% foi inferior à obtida pelo mesmo autor, 3,9%, com uma fração não degradável de 45,8%, superior à encontrada neste trabalho de 27, 97%. Todavia, a degradabilidade efetiva para a taxa de passagem de 5%/h foi semelhante para os dois trabalhos, 29,3 e 27,1%, respectivamente, possivelmente devido à sua baixa solubilidade, sendo inferior à degradabilidade do milho em grão moído, que foi de 59,6%. A maior degradabilidade do milho possivelmente foi atribuída à presença do amido, que é susceptível à ação das amilases.

A fração "a" do farelo de trigo obtida foi de 31,6%, sendo superior à encontrada por Deschamps (1994), que foi de 20,2%, mas inferior à obtida por Martins et al. (1999), de 61,5%. A taxa de degradação da fração "b" de 14,4% foi ligeiramente superior à encontrada por Aroeira et al. (1996), de 9,8%/h. A degradabilidade efetiva da MS para esse alimento (60,5%) foi semelhante aos valores encontrados por Deschamps (1994) e Martins et al. (1999), de 60,2 e 61,2%, respectivamente, e Valadares Filho (1994), de 62%, em uma coletânea de dados, para a taxa de passagem de 5%/h. Van Soest (1994) mostrou o farelo de trigo com degradabilidade de 70%, sendo o teor de fibra do alimento responsável por parte dessa degradação, principalmente da digestão da parede celular. Alimentos com alto teor de fibra apresentam baixa degradabilidade efetiva, com baixas frações solúveis (DEWHURST et al., 1995).

Os valores dos parâmetros "a", "b" e "c" para a MS do farelo de soja obtidos neste trabalho foram semelhantes aos encontrados por Teixeira et al. (1996), de 34,5%, 65,0% e 6,3%/h, e por Batajoo e Shaver (1998), de 35,4%, 63,6% e 5,8%/h. Rossi Júnior et al. (1997) obtiveram valores superiores, de 35,3%, 61,9% e 7,23%/h, respectivamente. A taxa de degradação "c" foi superior àquela encontrada por Ha e Kennely (1984), de 5%/h. A DE da MS para a taxa de passagem de 2%/h (84,1%) foi superior ao valor médio encontrado por Valadares Filho (1994), de 82,4%, mas inferior à de Martins et al. (1999), de 85,6%. Vilela et al. (1994) obtiveram valores de DE, com taxa de passagem de 5%/h, inferiores aos encontrados neste trabalho, de 64,7%, para vacas mestiças gestantes.

Moron et al. (2001) destacam maiores valores de degradabilidade de alimentos com frações altamente fermentescíveis, em que ocorreram absorção dos produtos finais de fermentação e manutenção do pH em limite aceitáveis, com o farelo de soja apresentando uma fração solúvel de 46,2% e uma degradadilidade efetiva de 68,3%, valores esses um pouco inferiores ao encontrado neste experimento, que foi de 71,3%.

O farelo de amendoim apresentou um dos maiores valores entre os alimentos, para a fração "b", de 67,3% (inferior apenas ao do milho de 75,5%), com taxa de degradação de 7,7%, caracterizando esse alimento como potencialmente degradável no rúmen. A degradabilidade efetiva da MS foi de 60,8% para taxa de passagem de 5%/h. O valor nutritivo desse alimento é semelhante ao farelo de soja, porém, a DE do farelo de soja foi 17% maior que a do farelo de amendoim, com uma menor taxa de degradação da fração "b" (6,6%/h).

Os parâmetros "a", "b" e "c" e a fração indegradável dos alimentos incubados e sua degradabilidades efetivas (DE) da proteína bruta (PB), para as taxas de passagem de 2, 5 e 8%/h, estão na Tabela 4. Na tabela 5 são apresentadas as degradabilidades potenciais (DP) da PB dos alimentos nos diferentes tempos de incubação.

A fração "a" da PB do milho apresentou baixo valor (3,4%) e foi inferior ao valor encontrado por Pereira et al. (1997), de 29,1%, e Martins et al. (1999), de 38%. A DE da PB foi de 30,1%, valor inferior aos encontrados pelos autores acima, 62,5 e 40,2%, respectivamente, e ao NRC (1996), 45%. Porém, o NRC (1984) informa que a degradação do milho em dietas que apresentam mais de 35% de forragens está associada ao tamanho da moagem. Wadhwa et al. (1998) relataram a relação inversamente proporcional entre a solubilidade e o tamanho da partícula. Esse alimento apresentou lenta degradação ruminal, em que o valor da taxa de degradação de fração "b" foi de 2,9% e o da fração solúvel, de 3,4%, com uma fração não degradável de 24,1%. O NRC (1984) classificou a degradação protéica do milho como de médio escape ruminal.

A polpa cítrica apresentou DE da PB de 56,1%, para taxa de passagem de 5%/h, porcentagem inferior ao valor encontrado por Martins et al. (1999), que foi de 62,1%. O NRC (1996) preconiza degradação ruminal da PB de 70%. Silva et al. (1997) encontraram valores semelhantes ao deste trabalho, de 56,6%, com taxa de degradação da fração "b" de 3,7%/h.

O NRC (1984) e Alcade et al. (1994) consideraram o glúten de milho uma fonte de proteína de alto escape ruminal, acima de 60%. Neste trabalho, esse alimento apresentou DE de 8,5% para taxa de passagem de 5%, inferior aos valores obtidos por Teixeira et al. (1996), Rodriguez et al. (1996), que foram de 34 e 24%, respectivamente. Porém, a fração solúvel foi baixa (0,2%) e a taxa de degradação da fração "b", de 0,5%, valores inferiores aos apresentados pelo primeiro autor, que foi de 3,2%. Isso leva a menores taxas de DE para altas taxas de passagem, proporcionando alto escape ruminal. Variações entre estudos podem ser decorrentes do tamanho das partículas e dos métodos de processamento (BATAJOO e SHAVER, 1998). Essa diferença pode ter ocorrido em razão do teor de PB do glúten de milho utilizado neste trabalho e em Teixeira et al. vamente. (1996), cujas porcentagens foram 54,8 e 61,6%, respectivamente.

O farelo de trigo apresentou DE da PB de 67,9% para taxa de passagem de 5%, sendo inferior ao valor médio encontrado por Valadares Filho (1995), de 75,5%. Martins et al. (1999) e Aroeira et al. (1996) obtiveram valores superiores ao deste trabalho, ou seja, 86,5 e 84,7%, respectivamente. O NRC (1996) idealiza uma degradabilidade ruminal para a PB desse alimento bem superior (80%) à encontrada nesta pesquisa. Essa diferença pode ser decorrente dos valores da fração "a" (solúvel), que foi de 25,9%, inferior à Martins et al. (1999), que foi de 55,8%, porém, a taxa de degradação da fração "b" deste trabalho (15,9%) foi semelhante ao valor de 15,5% encontrado por Martins et al. (1999). Isso pode ser explicado, em parte, pela grande variedade na composição do farelo, conseqüência da forma de obtenção do material da indústria.

Os farelos de soja e amendoim são classificados pelo NRC (1984) como de baixo escape e de alta degradabilidade ruminal (66 e 70%, respectivamente) (NRC, 1996). A DE para o farelo de soja foi de 47,3%, semelhante à obtida por Martins et al. (1999), de 51%, para taxa de passagem de 8%/h e de Valadares Filho (1995), de 55%. Rossi Júnior et al. (1997) obtiveram DE de 80,05%, quando a taxa de passagem foi de 2%/h, sem considerar o "lag time". Broderick (1995), utilizando o método in situ, obteve valores de 14%, 86% e 6,7%/h para a fração "a", fração "b" e taxa de degradação da fração "b", respectivamente, valores semelhantes aos encontrados neste trabalho. Vilela et al. (1994), para taxa de passagem de 5%/h, obteve DE efetiva de 64,7%.

O farelo de amendoim teve a maior DE de PB entre os alimentos incubados e foi 48% superior ao farelo de soja e maior que os valores citados pelo NRC (1996). A fração solúvel foi de 20,9%, com taxa de degradação da fração "b" de 30%.

A manipulação dos sacos, a contaminação microbiana e a possível perda de material nãodegradado pelos poros do tecido podem ter influenciado alguns resultados.

Conclusões

O glúten de milho apresentou baixa degradação ruminal, e a polpa cítrica e o milho, lenta degradação ruminal, principalmente quando comparados ao farelo de amendoim.

O farelo de amendoim apresentou valores superiores ao farelo de soja, podendo agir como um substituto para proteína degradada no rúmen.

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(Recebido para publicação em 4 de dezembro de 2002 e aprovado em 5 de maio de 2003)

Rafael Henrique de Tonissi e Buschinelli de Goes1, Antonio Bento Mancio2,
Sebastião de Campos Valadares Filho3, Rogério de Paula Lana
3
rlana[arroba]ufv.br

  1. Doctor Scientie, Departamento de Zootecnia, UFV, 36571-000 – Viçosa, MG, rhtbg[arroba]uol.com.br/rgoes[arroba]umunet.com.br
  2. Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia/UFV. amancio[arroba]ufv.br
  3. Professores do Departamento de Zootecnia/UFV, pesquisadores do CNPq.


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