RESUMO: No presente trabalho, mediram-se o crescimento e o desgaste do casco dos quatro dígitos laterais, em duas posições (dorsal e lateral), em quatro garrotes da raça Jersey e quatro da raça Gir, mantidos em "tie-stall", sobre piso de cimento recoberto por alta camada de maravalha. O trabalho transcorreu no período de novembro de 1997 a abril de 1998. As medidas de crescimento e desgaste do casco foram obtidas empregando-se a técnica clássica descrita por Hahn et al. (1986). Não ocorreram diferenças significativas no crescimento e no desgaste dos cascos entre as raças estudadas, assim como entre as unhas dos cascos dos membros anteriores e posteriores. Em ambas as raças, foram constatados maiores desgaste e crescimento da região lateral (lado abaxial) do casco, em relação à região dorsal, indicando que grande parte do contato e sustentação do corpo ocorre na área lateral do casco. A apara funcional acelera o crescimento do casco, porém não altera a taxa de desgaste.
Palavras-chave: bovino, casco, crescimento, desgaste, medidas.
SUMMARY: Rates of hoof growth and wear, on both dorsal and lateral surfaces of front and rear outside claws, were measured in four Jersey and four Gir yearling steers kept on a tie-stall system on a concrete ground covered by deep layer of sawdust. Measurements were taken from November 1997 to April 1998 according to the classical technique described by HAHN et al. (1986). No significant differences in the growth and wear of the claws were found between the two breeds. There was no significant difference of growth and wear rates between front and rear claws. Horn of the lateral walls grew and wore faster in taurine and zebuine cattle, indicating that most of the weight-bearing and contact to the soil is given through this region. Functional trimming increases claw horn growth but does not interfere with wear rates.
Key words: bovine, claw, growth, wear, measurements.
A inspeção do estojo córneo pode fornecer importantes informações a respeito do manejo nutricional e histórico clínico recente de um bovino (GREENOUGH & WEAVER, 1997). Enfermidades metabólicas, tais como acidose láctica ruminal, laminites e carências extremas de certos nutrientes, podem promover alterações na qualidade e no crescimento dos cascos, através de modificações temporárias do tecido primordial germinativo deste tegumento, na lâmina coriônica e no "stratum basale" do perióplio, na coroa do casco. A presença de tecido córneo de má qualidade constitui um fator predisponente para o desenvolvimento de outros processos infecciosos ou degenerativos futuros, que gerarão claudicação nos bovinos acometidos. A freqüência de problemas locomotores é mais alta em bovinos mantidos em sistemas de criação confinados e semiconfinados que em sistemas extensivos (MGASSA et al. 1988; RIBEIRO et al. 1992).
Bovinos criados em confinamento que conseguem manter um balanço adequado entre crescimento e desgaste do estojo córneo são menos sujeitos a problemas de cascos, tais como úlcera de sola, doença da linha branca e pododermatite séptica (MANSON & LEAVER 1988).
Numa revisão sobre crescimento e desgaste dos cascos, VERMUNT & GREENOUGH (1995) afirmaram que não existe influência racial sobre essas variáveis. Por outro lado, MURPHY & HANNAN (1986) compararam garrotes das raças Holandesa e Hereford, detectando maiores crescimento e desgaste na primeira raça. Contudo, deve-se ressaltar que os estudos supracitados sobre esse assunto foram realizados apenas em bovinos de raças européias (taurinos). Até o momento, não foram encontrados quaisquer outras avaliações comparativas, na literatura, entre raças zebuínas e taurinas, sendo essa uma lacuna a ser preenchida. Nessa mesma revisão, VERMUNT & GREENOUGH (1995) destacaram as marcantes influências anatômicas, fisiológicas, estacionais, nutricionais, ambientais e de manejo sobre o crescimento e desgaste dos cascos dos bovinos.
Em sistemas de criação intensiva de bovinos, em especial de raças leiteiras, o corte de casco preventivo é salutar e necessário para diminuir a freqüência de problemas locomotores, assim como o descarte de animais por esses motivos (GREENOUGH & WEAVER, 1997). Um único trabalho estudou a influência da apara de casco sobre o crescimento e o desgaste dos mesmos, concluindo que essa manobra estimula o crescimento córneo ocorrendo o inverso com o desgaste (MANSON & LEAVER 1988). Mesmo assim, maiores estudos são necessários para comprovar estas constatações. O mesmo aplica-se à taxa de crescimento e de desgaste entre os cascos dos membros anteriores e posteriores, havendo autores, CLARK & RAKES (1982) e TRANTER & MORRIS (1992), que não constataram diferenças, enquanto que HAHN et al. (1986) encontraram maiores crescimento e desgaste nos cascos dos membros posteriores.
O objetivo do presente trabalho é estudar, comparativamente, a influência racial e de apara corretiva do estojo córneo sobre a taxa de crescimento e de desgaste dos cascos de garrotes das raças Jersey e Gir criados em condições intensivas.
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