RESUMO: Quatro garrotes Jersey (J) (Bos taurus) e quatro Gir (G) (Bos indicus) foram utilizados para comparar a susceptibilidade de zebuínos e taurinos à acidose láctica ruminal (ALR). Neste trabalho, acompanhou-se o grau da acidose metabólica (AM) e a metabolização do lactato-L. A ALR foi induzida com a administração de sacarose intraruminal. Amostras de sangue foram colhidas nos seguintes momentos: zero, 14, 16, 18, 20, 22 e 24 horas. Foram determinadas as concentrações de lactato total, de seus isômeros L e D e o perfil hemogasométrico. Nos momentos mais críticos observados (14ah a 18ah), a AM foi severa em ambas as raças, porém, ao término do experimento, esta passou a grau moderado nos garrotes G, mantendo-se severa nos J. Os animais J absorveram, do rúmen, maiores quantidades de lactato-D, o qual apresentou correlação negativa com o pH sangüíneo (r = - 0,78). Por outro lado, o lactato-L foi mais absorvido e utilizado nos bovinos G, contribuindo para a restauração parcial do equilíbrio ácido-básico e gerando alterações nas pCO2 e pO2. Os garrotes zebuínos da raça Gir apresentaram menor susceptibilidade à AM que os taurinos da raça Jersey.
Palavras-chave: bovinos, raças, susceptibilidade, acidose metabólica, lactato.
SUMMARY: In order to compare the susceptibility to acute rumen lactic acidosis (RLA), four Jersey (J) (Bos taurus) and four Gir (G) (Bos indicus) steers were used to evaluate the degree of metabolic acidosis (MA) and the metabolism of L-lactate during the RLA. The RLA was induced by the administration of sucrose into the rumen. Blood samples were collected at following times: zero, 14th,16th, 18th, 20th, 22nd and 24th h. Total lactic acid and its isomers, and blood gas determination were measured. At the most critical moments (14th to 18th h) the MA was severe in both breeds, but the MA became moderate in the G steers and remained severe in the J steers at the end of the trial. Higher amounts of D-lactate was absorbed from the rumen to the blood of the J steers; the higher the D-lactate plasma level, the lower the blood pH in this breed (r = - 0.78). Conversely, L-lactate was more absorbed and metabolised in the G steers promoting a partial recovery of the acid-basic homeostasis, as measured by the pO2 and pCO2 changes. The Bos indicus steers were less susceptible to metabolic acidosis than the Bos taurus steers.
Key words: cattle, breeds, susceptibility, metabolic acidosis, lactate.
A acidose láctica ruminal é uma doença metabólica causada pela ingestão excessiva de alimentos ricos em carboidratos de fácil fermentação. A digestão deste substrato no rúmen produz grande quantidade de ácido láctico, o qual causa inicialmente uma acidose ruminal. Parte deste ácido é absorvida para a corrente circulatória, na qual se dissocia em lactato e íons H+. Este último íon é rapidamente tamponado pelo bicarbonato sangüíneo. Na evolução deste processo, há redução das reservas de bicarbonato e diminuição do pH sangüíneo, gerando uma acidose metabólica (DUNLOP, 1972, NOCEK, 1997).
O lactato absorvido pode ser metabolizado no fígado, sendo oxidado ou formando glicose, utilizando para tal, íons H+, o que produz indiretamente um efeito tampão. Contudo, apenas o seu isômero L pode ser completamente utilizado pelo organismo (NAYLOR & FORSYTH, 1986, NOCEK, 1997, MOLLER et al., 1997).
TAYLOR et al.. (1969) e BRAWNER et al. (1969) descreveram que os zebuínos da raça Brahman são mais predispostos à ALR que os taurinos da raça Hereford, pelo fato de os primeiros absorverem maior quantidade de ácido láctico ruminal e por apresentarem menor tolerância à AM. TAYLOR et al.. (1969) introduziram quantidades não especificadas de ácido láctico dentro do rúmen dos taurinos e zebuínos, até que o pH do conteúdo do órgão atingisse 3,9. Contudo, segundo MARUTA & ORTOLANI (2002) é possível que a quantidade de ácido láctico administrado no rúmen dos zebuínos fosse bastante superior ao dos taurinos, inviabilizando uma comparação eqüitativa entre as raças estudadas. BRAWNER et al. . (1969), trabalhando também com zebuínos da raça Brahman e taurinos da raça Hereford, promoveram uma mudança brusca de alimentação, exclusiva de forragem para apenas concentrados energéticos, e concluíram que o quadro clínico de ALR foi muito mais severo nos zebuínos. Posteriormente, HENTGES (1970), citando dados não publicados de BRAWNER et al. (1969), revelou que a concentração de ácido láctico no conteúdo ruminal, quando da manifestação da ALR, foi maior nos zebuínos da raça Brahman, indicando que estes animais ingeriram maiores quantidades de concentrados que os taurinos da raça Hereford, variável essa não controlada pelos autores. Assim, a conclusão de BRAWNER et al.. (1969), que aponta para os efeitos mais intensos da acidose nos zebuínos que taurinos, necessita de uma reavaliação, na qual fosse promovida uma idêntica acidose ruminal entre estas raças. Em experimento anterior, MARUTA & ORTOLANI (2002) induziram experimentalmente ALR em garrotes das raças Jersey e Gir, segundo técnica de ORTOLANI (1995), obtendo o mesmo grau de acidose ruminal e semelhantes concentrações de ácido láctico total no conteúdo deste órgão, nos animais de ambas as raças.
Como a maioria dos animais confinados em nosso país é de origem zebuína ou azebuada, e como a incidência de ALR é maior em bovinos neste sistema de produção, maiores estudos se fazem necessário para esclarecer a real susceptibilidade dos bovinos indianos à ALR. Logo, o objetivo deste trabalho é a comparação do grau de acidose metabólica, da absorção de ácidos do rúmen e da metabolização do lactato em bovinos da raça Jersey (J) (Bos taurus) e da raça Gir (G) (Bos indicus), submetidos à ALR aguda, induzida experimentalmente.
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