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Realizaram-se dois experimentos com a cultura do pimentão sob estufa plástica, no Depto de Fitotecnia da UFSM (29º43’23’’S e 53º43’15’’W a 95 m de altitude), cujo clima é classificado como Cfa subtropical úmido sem estação seca e com verões quentes, conforme a classificação de Köppen. As sementes do híbrido Vidi foram semeadas em bandejas de 128 alvéolos, preenchidos com substrato comercial de turfa. A semeadura foi procedida em 04/01/2002 e 24/08/2003, sendo o transplante das mudas em 14/02/2002 e 02/10/03, nas estações sazonais de verão-outono (VO) e inverno-primavera (I-P), respectivamente, quando as mudas apresentavam de seis a oito folhas definitivas ou aproximadamente 15 cm de altura. A adubação, tratos fitossanitários e manejo seguiram as recomendações da cultura propostas por Filgueira (2000). As linhas de cultivo foram compostas por 70 plantas, com espaçamento de 1,00 x 0,30 m, onde as linhas foram cobertas por plástico opaco preto, sob o qual realizou- se a irrigação por gotejamento.
A estufa plástica utilizada apresentava dimensões de 24 x 10 m, com alinhamento Norte-Sul, pé direito de 2,0 m e altura central de 3,5 m, com estrutura de madeira na forma de arco pampeano, coberta com filme de PeBD 100 micras, mesmo material utilizado nas portas e cortinas laterais. Os experimentos apresentaram dez linhas com direção N-S, no entanto, desprezou-se as linhas das bordas, pois foram cultivadas com variedade diferenciada, totalizando oito linhas efetivas.
Identificou-se a posição de cada planta dentro da estufa pelo número da linha de cultivo (Linha), sendo numeradas do centro para as laterais extremidades de 1 a 4 para o lado leste e mesma numeração para o lado oeste. As plantas dentro de cada linha foram numeradas de 1 a 35, partindo do centro para as extremidades norte e sul, totalizando 70 plantas por linha.
O ponto de colheita foi caracterizado pela mudança da coloração dos frutos de verde para verde azulado. No total, foram realizadas oito colheitas na estação sazonal de V-O de 2002 (NC1) e quatro na estação I-P de 2003 (NC2), com as avaliações do peso total de frutos por planta (Total), do número total de frutos produzidos por planta (NFT), do comprimento médio dos frutos (CM), da largura média dos frutos (LM), do diâmetro de caule (DC1) logo acima do colo da planta (medidos com paquímetro digital, precisão 1,0 mm), do diâmetro do caule logo abaixo da primeira bifurcação (DC2), da altura da primeira bifurcação (ALTB), da distância do colo à primeira bifurcação e da altura da planta (ALTP), medida do colo à extremidade da ramificação da maior haste.
A partir destas variáveis, calculouse o peso médio de frutos por colheita (PMC), calculada pelo quociente entre o peso total dos frutos de cada planta e o número de vezes que a planta foi colhida, peso médio dos frutos (PMF), obtido pelo quociente entre o peso total de frutos e o número total de frutos por planta, relação entre o comprimento e a A. D. C. Lúcio et al.
33 Hortic. bras., v. 24, n. 1, jan.-mar. 2006 largura dos frutos (CL) e desvio padrão do peso total de frutos (DP) nas quatro ou oito colheitas realizadas em cada estação sazonal, sendo que as plantas não colhidas durante determinada colheita receberam valor zero. Além disso, nas quatro primeiras colheitas realizadas no ano de 2002 e nas duas primeiras do ano de 2003 observaram-se algumas outras variáveis definidas como produção precoce de frutos (PFP), número precoce de frutos (NFP), desvio padrão precoce, obtido entre a produção precoce de frutos de pimentão (DPP) e peso médio precoce de frutos (PMFP). De posse destas 19 variáveis, realizou-se, a estimativa dos coeficientes de correlação de Pearson.
Anteriormente à análise de trilha, fez-se necessária a realização da diagnose da multicolinearidade entre as variáveis independentes (Cruz, 2001), representada pelo número de condição (NC), calculado pela razão entre o maior e o menor autovalor. Se constatada multicolinearidade com intensidade severa (NC>1000), nos casos em que existe correlação alta ou perfeita entre as variáveis, ou moderada (1000>NC>100), torna-se difícil a avaliação da influência das mesmas sobre a variável resposta, pois a estimativa do coeficiente de trilha fica prejudicada levando a resultados incoerentes ou absurdos.
O mesmo autor cita duas alternativas para dar continuidade à análise: realizar a análise considerando a multicolinearidade, ou eliminar as variáveis altamente correlacionadas e de menor interesse no estudo. Quando apresentar número de condição inferior a 100 indica que não ocorrerá comprometimento das inferências realizadas através da análise de trilha.
Após o diagnóstico, desdobrou-se o coeficiente de correlação de Pearson de cada variável independente, em seus efeitos diretos e indiretos sobre a variável dependente desvio padrão do peso total de frutos (DP). Levando-se em conta alguns pontos essenciais da relação entre o coeficiente de correlação de Pearson do fator causal e seu efeito direto pode-se observar algumas relações de interesse, pois quando forem iguais ou semelhantes em magnitude e sinal, a correlação direta explica a verdadeira associação existente. Se o coeficiente de correlação de Pearson for positivo, mas o efeito direto for negativo ou desprezível, a correlação será causada pelos efeitos indiretos, sendo estes considerados na análise. Com o coeficiente de correlação de Pearson desprezível e o efeito direto apresentando-se positivo e alto, os efeitos indiretos é que são responsáveis pela falta de correlação, merecendo a mesma atenção na análise. Finalmente, com a correlação de Pearson negativa e efeito direto positivo e alto, deve-se eliminar os efeitos indiretos da análise e aproveitar somente os diretos (Vencovsky & Barriga, 1992).
Para a estimativa dos coeficientes de correlação de Pearson e de trilha, utilizou- se o programa SAEG versão 8.1, com 1% de probabilidade de erro, enquanto para a diagnose de multicolinearidade utilizou-se o programa GENES.
Observaram-se correlações significativas entre praticamente todas as variáveis (Tabela 1) e foi constatada uma concordância entre os coeficientes de correlação, tanto em magnitude como sinal, para ambas as estações sazonais verão/outono (V/O) e inverno/primavera (I/P), o que permite fazer considerações em conjunto.
Para as duas estações sazonais estudadas, verificou-se correlação positiva e significativa entre a produção total e as variáveis número de frutos colhidos, peso médio de frutos por colheita, peso médio de frutos e desvio padrão entre o número de colheitas realizadas. A alta correlação se estendeu entre as variáveis morfológicas da planta e das dimensões dos frutos, como comprimento e largura média, relação entre comprimento e largura, diâmetro de caule na altura do colo, diâmetro de caule na altura da primeira bifurcação, altura da primeira bifurcação e altura da planta.
No experimento de 2003, observouse correlação negativa e significativa entre as variáveis de posição (Linha e Planta) e Total, NFT, PMC, PMF, DP, DC1 e ALTP, indicando que à medida que o posicionamento das plantas se afasta do centro da estufa plástica, em direção às extremidades, ocorre redução nestas variáveis, ou seja, a região central favorece a produção, o número de frutos e seu peso médio, o que leva indiretamente ao incremento do desvio padrão da produção, assim como indica que a posição interfere nas variáveis de produção.
A correlação entre as variáveis levou à detecção de multicolinearidade severa (NC>1000) entre os caracteres, tornando difícil a avaliação da influência das variáveis explicativas sobre a variável resposta via análise de trilha.
Foram retiradas da análise as variáveis que estavam altamente correlacionadas, mantendo-se apenas as de interesse no estudo e que apresentaram menor correlação entre si. A diagnose entre as variáveis: Linha, Planta, Total, PFP, PMF, CM, LM, DC1 e ALTP, mantidas na análise, resultou em multicolinearidade fraca (número de condição <100), o que permitiu que fosse realizada a análise de trilha sem problemas estatísticos. Em seguida, os coeficientes de correlação de Pearson foram desdobrados em efeitos direto e indireto (Tabela 2). Verificou- se que também houve semelhança, tanto em sinal como em magnitude, entre os coeficientes dos efeitos diretos e indiretos sobre o desvio padrão entre as colheitas realizadas, para ambas as estações sazonais, de forma que as considerações discutidas em uma estação são válidas para a outra.
As variáveis PFP, PMF, CM, LM, DC1 e ALTP ou apresentaram efeito direto desprezível ou muito baixo em relação ao DP. No entanto, seus respectivos coeficientes de correlação são positivos e significativos, indicando que existe um efeito indireto atuando para o aumento desta associação. Esse efeito indireto foi, para todos os casos, positivo e via produção total da planta. Essa afirmação se comprovou quando o efeito direto da produção total sobre o DP foi alto, positivo e significativo (1,323 e 0,961 para V/O e I/P, respectivamente), assim como o coeficiente de correlação de Pearson. Estabeleceu-se também uma correlação positiva e significativa entre NC1 e NC2 e o DP. No entanto, seu efeito direto foi negativo, por isso, a associação entre tais variáveis ocorreu indiretamente, também via produção total.
Cabe salientar que os efeitos indiretos via NC foram, em todas as situações, altos e negativos fazendo com que os coeficientes de correlação de Pearson entre as variáveis explicativas fossem reduzidos.
Pode-se verificar também que ao realizar um número menor de colheitas por estação, há uma redução no número de dias para o término das colheitas, diminuindo assim o ciclo da planta, fazendo com que esta tenha um porte mais reduzido. Isso implica em valores menores da sua altura final e seu diâmetro do caule na base da planta, que se correlacionaram com o total, com coeficientes de 0,281 e 0,290 para 2002 e 0,572 e 0,441 em 2003. Esse comportamento também irá proporcionar uma redução no desvio padrão da produção em ambas as estações sazonais, com isso, observa-se que, reduzindo a altura e o diâmetro, reduz-se o total produzido que, por conseqüência, minimiza o desvio padrão da produção (Tabela 1).
Estas relações observadas vieram a revelar as principais variáveis, entre as estudadas, que realmente interferem no desvio padrão da produção entre as colheitas, ou seja, na variabilidade existente para a variável produção total de frutos produzida durante o ciclo da cultura, e o número de vezes em que se colhe os frutos e a produção total. Isso indica que, se o objetivo do experimento for obter produções mais homogêneas entre as plantas, deve-se optar por realizar um baixo número de colheitas e definir bem o ponto adequado desta, em detrimento do total produzido no ciclo da cultura, podendo assim, realizar experimentos mais rápidos, com menor variabilidade e menor dispêndio de mão-de-obra.
As variáveis de posição da planta dentro da estufa (Linha e Planta), tanto em seus efeitos diretos como indiretos sobre o desvio padrão do peso total de frutos (DP) foram desprezíveis, o que indica que devem ser desconsideradas no planejamento de um experimento, com o objetivo de reduzir a variância entre as colheitas, mas interferiram na produção total, no número e peso de frutos por planta, na produção das colheitas iniciais, na variação da produção de frutos entre as colheitas e na altura das plantas. O aumento da produção total, pelo maior número de colheitas, induz ao aumento do desvio padrão entre colheitas, enquanto um menor número de colheitas leva à redução da produção total e do desvio padrão da produção entre colheitas, além da redução do tempo de manutenção do experimento no campo. Assim para manter a produção homogênea durante o ciclo produtivo de pimentão em ambiente protegido devese estimar o número ideal de colheitas a serem realizadas e estas deverão ser planejadas e executadas individualmente em cada linha de cultivo, considerando assim cada linha como um bloco, ou seja, uma repetição para fins de experimentação.
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