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O trabalho foi realizado no ano agrícola de 1998/1999, na Fazenda Experimental São Manuel, Município de São Manuel, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA), Campus de Botucatu/Unesp (latitude 22º45' S, longitude 48º34' W, altitude de 750m). O clima predominante na região é do tipo Cwa (Köeppen), ou seja, clima tropical de altitude, com inverno seco e verão quente e chuvoso (Lombardi Neto & Drugowich, 1994).
O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho distroférrico, textura média, com as seguintes características químicas: pH, 5,3; MO, 8 g dm-3; P-resina, 7 mg dm-3; 1,3, 12, 6, 12, 19 e 31 mmolc dm-3, respectivamente, de K+, Ca2+, Mg2+, H+Al, SB e CTC; 0,14, 0,6, 10, 2,7, 0,3 e 5,9 mg dm-3, respectivamente, de B, Cu, Fe, Mn, Zn e Si; e V, 61%. Quanto à caracterização física, o solo apresenta 810 g kg-1, 190 g kg-1 e 0 g kg-1, respectivamente, de areia, argila e silte.
O delineamento experimental empregado foi o de blocos casualizados, com oito repetições. Os tratamentos foram constituídos de duas fontes de Si, sendo duas escórias, alto-forno (196 g kg-1 de Si) e aciaria (56 g kg-1 de Si), na dose de 1.000 kg ha-1 de Si, e a testemunha, sem aplicação. As características químicas dos materiais utilizados são apresentadas na Tabela 1.
A aplicação das escórias foi a lanço e posteriormente incorporadas ao solo, na profundidade de 0 a 20 cm, mediante grade aradora. Após cinco dias, foi feita a semeadura do arroz (cultivar IAC-202).
Por ocasião da semeadura aplicaram-se 270 kg ha-1 da fórmula 4—30—10, conforme Cantarella & Furlani (1996). Foram realizadas três adubações de cobertura, a primeira no perfilhamento (fase vegetativa), com 30 kg ha-1 de N e 13 kg ha-1 de K2O, a segunda no ponto de algodão (fase reprodutiva), com 30 kg ha-1 de N e 15 kg ha-1 de K2O e a terceira no emborrachamento (fase reprodutiva), com 30 kg ha-1 de N e 30 kg ha-1 de K2O, utilizando sulfato de amônio e cloreto de potássio.
As parcelas eram formadas de 10 linhas de 5 m de comprimento, sendo desprezadas duas linhas laterais e 0,5 m de cada extremidade. A irrigação foi realizada utilizando um sistema por aspersão convencional quando os tensiômetros indicavam 35,5 kPa de tensão.
O desenvolvimento radicular foi avaliado quando as plantas encontravam-se em pleno florescimento e a sua amostragem foi realizada utilizando-se um trado de aço galvanizado com diâmetro de 4,5 cm. As amostras foram coletadas nas profundidades de 0—10, 10—20, 20—30 e 30—50 cm. As raízes foram separadas do solo por lavagem em água corrente sobre peneira de 0,5 mm. O material lavado e separado foi acondicionado em coletor universal com uma solução 70% de álcool e 30% de água e levado à geladeira a uma temperatura de 4ºC.
As variáveis que caracterizaram o desenvolvimento radicular foram determinadas em um Scanner acoplado a um computador dotado do Software WinRhizo, que utiliza como princípio o método proposto por Tennant (1975). Nesse equipamento determinou-se o comprimento (km m-3), a superfície (m2 m-3) e o volume radicular (dm-3 m-3). Após essas avaliações as amostras foram secadas em estufa a 65ºC, para posteriormente determinar-se a produção de matéria seca radicular (g m-3). Nas avaliações dos atributos químicos do solo foram coletadas cinco subamostras para formarem uma amostra composta por parcela.
No momento da colheita avaliou-se a produtividade de matéria seca da parte aérea (kg ha-1), a produtividade de grãos (kg ha-1) e os atributos químicos do solo (pH, H+Al, K+, Ca2+, Mg2+ e Si) na profundidade 0—20 cm, conforme Korndörfer et al. (1999) e Raij et al. (2001).
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste DMS a 5% de probabilidade.
A utilização de escórias elevou de forma significativa os valores de pH e reduziu a acidez potencial (H+Al) do solo em relação ao tratamento testemunha (sem aplicação de escória) (Tabela 2). Resultados semelhantes com o uso de escórias foram relatados por Ribeiro et al. (1986), Prado & Fernandes (2000, 2003) e Prado et al. (2002), sendo atribuído à ação do agente neutralizante SiO3-2 gerado pela reação das escórias com o solo (Alcarde, 1992).
Os valores de pH e H+Al diferiram entre as escórias, apesar de o cálculo ter sido feito de modo a receber a mesma quantidade de silício, ou seja, 1.000 kg ha-1, o equivalente a 214 kg ha-1 de SiO2 (Tabela 2). A diferença constatada entre as fontes para esses atributos químicos (pH e H+Al) pode estar relacionada ao PRNT dos materiais, uma vez que Carvalho (2000) verificou para escória de alto-forno e de aciaria, valores de 39% e 60%, respectivamente.
O teor de K no solo foi maior no tratamento que recebeu escória de alto-forno, em razão desse resíduo apresentar o elemento na sua constituição.
A aplicação de escória de aciaria proporcionou maiores teores de Ca e Mg no solo, diferindo da escória de alto-forno e da testemunha, que, por sua vez, não diferiram entre si (Tabela 2). Essa diferença ocorre porque a escória de aciaria contém maior teor de Ca e Mg que a escória de alto-forno, além de possuir menor teor de Si, necessitando, dessa forma, de maiores quantidades do produto para fornecer a mesma quantidade de silício. A utilização de diferentes fontes de escória proporcionou aumentos nos teores de Si no solo, sendo mais pronunciado com a aplicação da escória de aciaria, que diferiu significativamente da de alto-forno.
Quanto ao comprimento radicular, houve diferença entre as escórias e entre os tratamentos escória de alto-forno e a testemunha, na profundidade de 0—10 cm, enquanto na profundidade de 10—20 cm verificou-se diferença entre todos os tratamentos (Figura 1). Nas profundidades de 20—30 e 30—50 cm, houve diferenças entre as escórias e entre a escória de alto-forno e a testemunha.
A escória de aciaria apresentou os melhores resultados em relação aos atributos químicos do solo (pH, H+Al, Ca, Mg, e Si) na camada de 0—20 cm, exceto quanto aos teores de potássio. Os teores de K não contribuíram para um maior crescimento radicular nessa camada, nem nas camadas subsuperficiais (20—50 cm), onde a escória de alto-forno proporcionou os maiores valores para crescimento radicular (Figura 1). Esse padrão de desenvolvimento do sistema radicular pode estar relacionado a uma menor absorção de K, que reduziu o crescimento no perfil amostrado, visto que com a aplicação da escória de aciaria, as relações, tanto de Ca/K (48:1) quanto de Mg/K (16:1) foram elevadas (Andreotti, 1998) e bem superiores às propiciadas pela escória de alto-forno (Ca/K = 16:1 e Mg/K = 8:1).
As altas relações Ca/K e Mg/K no tratamento com escória de aciaria, provavelmente, foram mantidas em profundidade por meio da lixiviação das bases (K, Ca e Mg), uma vez que o solo apresenta granulometria favorável a esse mecanismo de carregamento de íons, sendo ainda favorecido pelo sistema de cultivo do arroz sob irrigação por aspersão. Além disso, os baixos teores de K no solo restringiram o crescimento radicular do arroz (Crusciol et al., 2002).
O menor desenvolvimento do sistema radicular no tratamento testemunha, na camada de 30—50 cm, comparado ao que recebeu escória de alto-forno (Figura 1), deve-se às baixas relações Ca/K (11:1) e Mg/K (6:1) nas camadas superficiais, que podem ter reduzido a absorção de Ca e Mg e, conseqüentemente, o crescimento radicular, uma vez que ambos elementos são componentes dos pectatos que constituem a parede celular (Malavolta, 1980). Segundo Büll et al. (1993), raízes de monocotiledôneas como o arroz apresentam baixa CTC radicular, tendo preferência na absorção de cátions monovalentes, como o potássio. Desta forma, torna-se necessário um suprimento adequado de Ca e Mg no solo, de modo que esses elementos possam competir por sítios de ligação no sistema radicular, uma vez que a planta preferencialmente absorve K, o qual inibe de forma competitiva a absorção de Ca e magnésio.
A superfície e o volume radicular apresentaram as mesmas tendências de resposta aos tratamentos, exceção feita à camada de 0—10 cm, em que não houve diferença da superfície radicular entre os tratamentos escória de alto-forno e a testemunha, ao passo que, em relação ao volume radicular, esses tratamentos apresentaram diferenças (Figura 1). Em ambas as variáveis não houve diferença entre as escórias nesta camada, porém a escória de aciaria diferiu da testemunha. Nas profundidades de 10—20 cm e 20—30 cm não houve diferença entre os tratamentos, enquanto na profundidade de 30—50 cm, o tratamento com escória de alto-forno diferiu dos demais, os quais, por sua vez, não diferiram entre si (Figura 1).
A produção de massa de matéria seca de raiz na camada de 0—10 cm não apresentou diferença entre as escórias, mas ambas diferiram da testemunha (Figura 1). Na profundidade de 10—20 cm houve diferença apenas entre o tratamento escória de aciaria e a testemunha. Na profundidade de 20—30 cm não houve diferença entre os tratamentos, porém, na de 30—50 cm, o tratamento com escória de alto-forno diferiu dos demais, os quais, por sua vez, não diferiram entre si.
As características morfológicas das raízes que apresentam maiores influências no processo de absorção são o comprimento e o diâmetro (Rosolem, 1995).
Dessa forma, ao analisar o porcentual do sistema radicular por meio do comprimento, constata-se, no perfil amostrado, melhor uniformidade na distribuição com a aplicação da escória de alto-forno em relação aos demais tratamentos, apresentando, nitidamente, maior porcentagem de raízes na profundidade de 30—50 cm (Figura 2). Esse resultado é decorrente da escória de alto-forno ter proporcionado maior comprimento total de raízes na camada mais profunda (30—50 cm). Assim, como o comprimento total, no perfil amostrado, em todos os tratamentos, foi considerado 100%, houve maior porcentagem de raízes na maior profundidade no tratamento com escória de alto-forno, o que diminuiu do total a porcentagem nas camadas superficiais (0—10 cm e 10—20 cm) em relação aos demais tratamentos, não significando menor comprimento (Figura 1).
Esses resultados podem ter refletido na produção de massa de matéria seca da parte aérea e na produtividade de grãos, cujos maiores valores foram alcançados no tratamento que recebeu escória de alto-forno (Tabela 3). O maior crescimento em profundidade aliado à melhor distribuição do sistema radicular no perfil amostrado propiciou às plantas exploração de maior volume de solo, tendo como conseqüência, provavelmente, maior absorção de nutrientes, tanto os de maior mobilidade, como o N, que facilmente é lixiviado, atingindo as camadas mais profundas, o que nas condições experimentais provavelmente deve ter ocorrido por causa do tipo de solo e do sistema de cultivo irrigado por aspersão, como os nutrientes de menor mobilidade, como o fósforo (Sousa et al., 1996).
1. As escórias podem ser usadas como corretivo de acidez do solo e como fonte de silício.
2. As alterações nos atributos químicos do solo estão relacionadas com a composição química das escórias.
3. A escória de alto-forno proporciona maior crescimento radicular em profundidade e melhor distribuição no perfil do solo e, conseqüentemente, maior produção de massa de matéria seca da parte aérea e produtividade de grãos de arroz.
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crusciol[arroba]fca.unesp.br
IUniversidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA), Dep. de Produção Vegetal, Caixa Postal 237, CEP 18603-970 Botucatu, SP.
IIUnesp, FCA, Dep. de Recursos Naturais.
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