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Rendimento de grãos da soja e seus componentes por estrato do dossel em função do arranjo de plantas (página 2)

José Fernando Schlosser, Henrique Debiasi, Geovano Parcianello, Lisandro Ra

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Estação Experimental Agronômica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EEA/UFRGS), localizada no município de Eldorado do Sul, RS. O solo da área experimental pertence à unidade de mapeamento São Jerônimo, classificado com Argissolo Vermelho Distrófico típico (9).

O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso com parcelas sub-subdivididas e quatro repetições.

Os tratamentos constaram de irrigação (irrigado e não irrigado); espaçamentos entre linhas (20 e 40 cm) e populações de plantas (20, 30 e 40 plantas.m-2).

Utilizou-se a cultivar BRS 137, de ciclo semiprecoce e hábito de crescimento determinado. O experimento foi instalado em semeadura direta. As sementes foram tratadas com fungicida (captan) e inoculadas com Bradyrhizobium japonicum em meio turfoso. A semeadura foi realizada na época recomendada preferencial, com semeadora de parcelas.

Aos 15 dias após emergência, quando as plantas estavam no estádio V2 (7) realizou-se o desbaste, ajustando-se para as populações desejadas.

Manteve-se o experimento livre de pragas e plantas daninhas. A irrigação foi feita por aspersão, de acordo com a umidade do solo, monitorada com tensiômetros, a 20 cm de profundidade, quando a tensão da água do solo ultrapassava o limite de -0,05 MPa.

As determinações dos componentes do rendimento (número de legumes, de grãos por legume e massa do grão) e do rendimento de grãos foram realizadas por estrato do dossel da soja.

Para tanto, foram coletadas 10 plantas previamente marcadas, em seqüência na linha, de cada subsubparcela.

As plantas foram colocadas lado a lado, sobre uma tábua graduada em centímetros, simulando a disposição que se encontravam no dossel (no campo). Efetuou-se a estratificação destas plantas em três planos paralelos, com base na planta de maior estatura.

A estratificação das plantas visava dividir o dossel da soja em três seções de mesma altura.

Para tanto, seccionou-se o caule e ramos em dois planos paralelos a 1/3 e 2/3 da estatura das plantas.

Esta metodologia foi utilizada com o objetivo de representar melhor a estrutura do dossel da soja no campo, objetivando refletir de forma mais fidedigna possível a contribuição de cada estrato deste dossel, de acordo com a localização de suas estruturas reprodutivas, para o rendimento de grãos.

De cada estrato da amostra de 10 plantas por sub-subparcela, foram obtidos os seguintes dados: número de legumes (por contagem e posteriormente transformados para metro quadrado e percentagem); massa de 100 grãos (medida gravimétrica de uma amostra de 50 grãos, corrigido para 13% de umidade); grãos por legume fértil (calculado pela quantidade de legumes férteis) e rendimento de grãos, em kg.ha-1 (por método gravimétrico, corrigido para 13% de umidade e transformado para kg.ha-1).

Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA), pelo teste F, sendo a diferença entre médias de tratamentos comparadas pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade para os fatores irrigação e espaçamento entre linhas. O fator população de plantas foi comparado por análise de regressão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi observado aumento no rendimento de grãos no tratamento irrigado, principalmente pela maior contribuição do estrato médio do dossel (Tabela 1). A irrigação aumentou, também, o peso do grão, em todos os estratos do dossel (Tabela 2). Os componentes do rendimento legumes por planta e grãos por legume, não foram afetados pelo fato da irrigação ter sido aplicada no estádio R6 (máximo volume de grãos), época em que ocorreu deficiência hídrica, quando estes já estão com o crescimento praticamente definido.

A falta de água durante o enchimento de grãos limita o rendimento da soja (1, 23), principalmente pela redução no tamanho e peso do grão (18, 22, 16).

Em relação ao arranjo de plantas, o maior rendimento de grãos foi observado no tratamento com 20 cm de espaçamento entre linhas e 20 plantas.m-2 (Tabela 3 e Figura 1a). Também houve diminuição linear no rendimento de grãos com o aumento da população de plantas no espaçamento de 20 cm (Figura 1a). Respostas similares foram obtidas nos estratos médio e inferior do dossel (Tabela 3 e Figura 1a).

TABELA 1. Rendimento médio de grãos (kg.ha-1) por estrato do dossel da cultivar de soja ‘BRS 137’ em dois regimes hídricos. EEA/ UFRGS, Eldorado do Sul (RS), 2000/01.

*Médias seguidas de mesma letra na linha, não diferem pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. Coeficiente de variação = 5.

Os resultados obtidos, quanto ao rendimento de grãos, podem ser melhor entendidos pela análise dos componentes do rendimento (Tabela 4 e Figura 1b). O arranjo com 20 cm e 20 plantas.m-2 apresentou maior número de legumes férteis e peso do grão em comparação a 40 cm de espaçamento e 20 plantas.m-2. Houve também decréscimo linear nestes componentes com o aumento da população de plantas no espaçamento de 20 cm. Resultados semelhantes foram obtidos em todos os estratos do dossel para o número de legumes férteis e nos estratos médio e inferior quanto ao peso do grão. Dentre as três seções, da divisão de plantas de soja por planos paralelos ao solo, a inferior é a menos produtiva, apresentando menor número de legumes e de grãos e massa de grãos (8).

TABELA 2. Massa de 100 grãos (g), por estrato do dossel, da cultivar de soja ‘BRS 137’, em dois regimes hídricos, na média de dois espaçamentos entre linhas e três populações de plantas. EEA/UFRGS, Eldorado do Sul, RS, 2000/01.

*Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade.

Os arranjos associando espaçamento reduzido e menor população de plantas, provavelmente, tiveram menor competição intraespecífica, principalmente por luz, em função da melhor distribuição das plantas na área. Estes arranjos podem ter proporcionado a penetração de luz nos estratos inferiores do dossel, aumentando a produção fotossintética, contribuindo com o aumento no rendimento de grãos.

A maior intercepcão de luz pela soja ocorre entre 15 e 30 cm do topo da planta (17). Assim, parte das folhas do dossel da soja está contribuindo menos do que poderiam para a fotossíntese, enquanto outras estão trabalhando próximo ao seu limite. No entanto, quando as folhas da seção inferior são suplementadas com luz ocorre aumento na fixação de CO2 (12), indicando que estas folhas não atingem seu potencial fotossintético quando sombreadas. O aumento do rendimento nos segmentos inferior, médio e superior é de 30, 20 e 2%, respectivamente.

Também as plantas bem supridas por luz têm mais grãos, nós, legumes, ramificações, legumes por nó, grãos por legume, e maior teor de óleo nos grãos (12).

TABELA 3. Rendimento de grãos (kg.ha-1) por estrato do dossel da cultivar de soja ‘BRS 137’ em dois espaçamentos entre linhas e três populações de plantas, na média de dois regimes hídricos. EEA/UFRGS, Eldorado do Sul, RS, 2000/01.

*Médias seguidas de mesma letra na linha, dentro de cada nível de população de plantas, não diferem pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. Coeficiente de variação para níveis de população de 15,7 e 15,0 para espaçamento entre linhas.

Outro fator importante é que as condições meteorológicas ocorrentes durante o presente estudo foram favoráveis ao crescimento da soja, principalmente em relação ao regime hídrico. A dinâmica do crescimento durante o período vegetativo é importante na compensação do rendimento entre as populações de planta (3), sendo que em baixas populações devese evitar os estresses neste período, que podem diminuir a capacidade de compensação das plantas.

TABELA 4. Componentes do rendimento da cultivar de soja ‘BRS 137’ sob diferentes arranjos de plantas, nos estratos superior (S), médio (M) e inferior (I) do dossel, e da planta inteira (T), na média de dois regimes hídricos. EEA/UFRGS, Eldorado do Sul, RS, 2000/01.

* Médias seguidas de mesma letra na linha, dentro de cada nível de população, não diferem pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade.

FIGURA 1. Rendimento de grãos (a) na planta inteira (total), no estrato médio e inferior do dossel da soja, e número de legumes férteis (b) na planta inteira (total), no estrato superior, médio e inferior do dossel da soja; no espaçamento de 20 cm entre linhas, em três níveis de população de plantas, na média de dois regimes hídricos. EEA/UFRGS, Eldorado do Sul, RS, 2000/01.

CONCLUSÕES

- O estresse hídrico no final do ciclo diminui o rendimento da soja, pela redução da massa do grão;

- Os estratos superior e médio do dossel da soja apresentam maior contribuição para o rendimento de grãos, pela maior produção de legumes férteis;

- As reduções no espaçamento entre linhas e na população de plantas aumentam a contribuição dos estratos médio e inferior do dossel para o rendimento de grãos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido em 06/06/2002 - Aceito em 25/10/2002

Lisandro RAMBO1; José Antonio COSTA2; João Leonardo Fernandes PIRES3; Geovano PARCIANELLO4; Felipe Gutheil FERREIRA5
lisandro.rambo[arroba]syngenta.com

1. Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Doutorando do PPG em Fitotecnia da FA/UFRGS. Departamento de Plantas de Lavoura. Caixa Postal 776, CEP 91501-970, Porto Alegre-RS. Bolsista do CNPq. Autor para correspondência.
2. Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Professor do Departamento de Plantas de Lavoura da FA/UFRGS. Bolsista do CNPq. E-mail:
jamc[arroba].ufrgs.br.
3. Engenheiro Agrônomo, Dr., FEPAGRO - RS. E-mail:
piresjl[arroba]vortex.ufrgs.br.
4. Engenheiro Agrônomo, M.Sc. E-mail:
geovanoparcianello[arroba]vortex.ufrgs.br.
5. Aluno do Curso de Agronomia da UFRGS. Bolsista da FAPERGS. E-mail:
ferreirafg[arroba]yahoo.com.br.



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