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Germinação e vigor de sementes de arroz irrigado tratadas com zinco, boro e cobre (página 2)

Cleomar Cezar Hermes, Sandro Luis Petter Medeiros; Paulo Augusto Manfron, B

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em 1996 no Laboratório de Análise de Sementes do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Maria - Santa Maria, RS, situada na região da Depressão Central do Estado, apresentando como coordenadas 53o48’42" de longitude oeste e 29o41’25" de latitude sul, com altitude de 95m.

Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições de 100 sementes para o teste de germinação e cinco repetições de 20 sementes para o teste de vigor. Os tratamentos constaram da testemunha (sem micronutrientes), zinco (ZnSO4.7H2O com 22,73% de Zn, na dose 0,67 g kg-1 de sementes), boro (H3BO3 com 17,65% de B, na dose 0,065 g kg-1 de sementes), cobre (CuOCl com 50% de Cu, na dose 0,135 g kg-1 de sementes) e as combinações Zn+B, Zn+Cu, B+Cu e Zn+B+Cu (nas mesmas doses dos tratamentos individuais), utilizando-se 250 gramas de sementes do cultivar BR IRGA 410 por tratamento. Os produtos foram dissolvidos em 5 ml de água destilada, colocados sobre as sementes, sendo que a testemunha não foi umedecida. Após agitação manual intensa das sementes, deixou-se os sacos abertos para secagem à sombra, pelo período de 24 horas.

Realizou-se o teste padrão de germinação em substrato rolo papel toalha, com quatro repetições de 100 sementes por tratamento, determinando-se a porcentagem de plântulas normais, anormais e sementes dormentes + mortas realizado em duas contagens, no sétimo e décimo quarto dia após a semeadura. As condições de substrato, temperatura e a avaliação de plântulas seguiram as Regras de Análise de Sementes (BRASIL, 1992).

Os testes de vigor (comprimento e massa seca de plântulas) foram instalados em substrato rolo de papel toalha de acordo com a metodologia sugerida por KRZYZANOWSKI et al. (1991).

Foram usadas cinco sub-amostras de 20 sementes por rolo, alinhadas a 2 cm abaixo da borda do papel toalha para melhor desenvolvimento das plântulas. As sub-amostras foram agrupadas e colocadas na vertical no germinador, o qual foi envolvido com plástico preto para impedir a passagem da luz, com o objetivo de uniformizar o crescimento das plântulas. O germinador foi regulado para 25°C, permanecendo por sete dias.

Foram avaliadas somente as plântulas normais, medindo-se o comprimento da parte aérea e do sistema radicular. Foram separadas as duas partes, eliminando os restos das sementes, acondicionadas em sacos de papel, colocadas na estufa a temperatura de 65°C até atingir peso constante, quando foi determinada a massa seca.

Os dados do teste de germinação foram transformados em arco seno , e os dados foram submetidos à análise da variância, sendo as médias dos tratamentos de sementes comparadas pelo teste de Duncan em nível de 5% de probabilidade de erro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os tratamentos tiveram efeito significativo pelo teste de F para as variáveis: comprimento da parte aérea de plântulas, comprimento de raízes e, consequentemente sobre o comprimento total de plântulas (P<0,01), para massa seca de raízes (P<0,01) e para plântulas anormais (P<0,10), não surtindo efeito sobre as demais variáveis.

Na germinação, quanto ao percentual de plântulas normais, todos os tratamentos com cobre, zinco e boro, assim como suas combinações, não diferiram pelo teste de Duncan(P<0,05) da testemunha (Tabela 1).

Quanto a anormalidade de plântulas, a utilização de boro na dose 0,335 g kg-1 de sementes e a testemunha apresentaram maiores percentuais, não diferindo dos demais tratamentos. O menor percentual ocorreu com a aplicação de cobre, diferindo significativamente da testemunha e do boro, que apresentaram os maiores valores. Quando o boro foi combinado com Zn e/ou Cu, o percentual de plântulas anormais aumentou, não diferindo da testemunha e do boro.

No entanto, quando da aplicação conjunta de B+Cu, houve redução de 45% na anormalidade de plântulas. Isso se deve provavelmente à ação fungicídica do cobre, uma vez que, a aplicação de cobre na dose 0,135 g kg-1 de sementes, a anormalidade de plântulas foi reduzida em 54,8% quando comparada com a testemunha, o que fez com que a germinação aumenta-se em 6,2% e reduzisse em 19,1% o percentagem de sementes dormentes + mortas.

O tratamento com Zn apresentou os maiores valores de comprimento da parte aérea, de raiz e total, diferindo dos demais tratamentos, exceto para comprimento da parte aérea, onde não diferiu do B, Cu e Zn+Cu (Tabela 2). Verificou-se que a aplicação de zinco em sementes de arroz irrigado elevou em 9,3%, em relação à testemunha, o comprimento da parte aérea, 5,1% o comprimento das raízes e, com isso, 6,6% o comprimento total de plântulas, seguido do tratamento Zn+Cu e Cu. Esse resultado, deve-se ao fato do zinco ser necessário para a síntese do triptofano, aminoácido precursor do AIA (ácido indolacético – auxina), hormônio promotor de crescimento em plantas (MARSCHNER, 1986; MENGEL & KIRKBY, 1987 e FERREIRA & CRUZ., 1991). Outrossim, os tratamentos Zn+B e B+Cu apresentaram menor comprimento médio de plântulas, o que se deve, provavelmente à algum efeito antagônico entre esses micronutrientes Os tratamentos não apresentaram diferença significativa para a variável massa seca da parte aérea, (Tabela 3). Já para produção de massa seca das raízes, a aplicação de cobre apresentou maior média, sendo 33,6% superior à testemunha, não diferindo estatisticamente da aplicação de zinco e boro e das combinações Zn+Cu e Zn+B+Cu.

Tendo o zinco papel como promotor de crescimento, isso se refletirá também em produção de massa seca. Essa significância na produção de massa seca de raízes não se refletiu, porém sobre produção de massa seca total, a qual não apresentou diferença significativa entre os tratamentos de sementes.

Os tratamentos de sementes mantiveram a germinação acima do valor mínimo de 80% requerido pelas Normas para Produção de Semente Fiscalizada de arroz irrigado no Estado do Rio Grande do Sul (BRASIL, 1993), devendose, no entanto, ter cuidado quanto à dose de boro, a qual pareceu ser alta. O tratamento de sementes com zinco e cobre foram os mais eficiente sobre o vigor de plântulas de arroz irrigado, cultivar BRIRGA 410. No entanto, a utilização das combinações Zn+B e B+Cu devem ser evitadas por terem causado reduções no vigor das plântulas.

CONCLUSÕES

Dessa forma, o tratamento de sementes de arroz irrigado, cultivar BR-IRGA 410, com zinco (ZnSO4.7H2O na dose 0,67 g kg-1 sementes), boro (H3BO3 na dose 0,065g kg-1 sementes), cobre (CuOCl na dose 0,135 g kg-1 sementes) e as combinações Zn+Cu, e Zn+B+Cu, podem ser efetuado momentos antes da semeadura sem prejudicar a germinação e o vigor, possibilitando maior fornecimento destes micronutrientes para o início do desenvolvimento e crescimento, especialmente em condições deficientes, devendo-se atentar para a essência do tratamento de sementes, que é torná-las ricas no nutriente que, posteriormente, será transferido para as plantas.

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Tabelas

TABELA 1- Plântulas normais, anormais e sementes dormentes + mortas de sementes de arroz, cultivar BR IRGA 410, obtidos em função do tratamento de sementes com zinco, boro, cobre e suas combinações. Média de quatro repetições. Santa Maria, RS, UFSM. 1996.

* Tratamentos com médias não ligadas por mesma letra, na coluna, diferem entre si pelo teste de Duncan em nível de 5% de probabilidade de erro.

TABELA 2 - Comprimento da parte aérea (CPA), das raízes (CR) e total (CT) de plântulas de arroz, cultivar BR-IRGA 410, obtidas em função do tratamento de sementes com Zn, B, Cu e suas combinações. Média de cinco repetições. Santa Maria, RS, UFSM, 1996.

* Tratamentos com médias não ligadas por mesma letra, na coluna, diferem entre si pelo teste de Duncan em nível de 5% de probabilidade de erro.

TABELA 3 - Massa seca da parte aérea (MSPA), das raízes (MSR) e do total (MST) de plântulas de arroz, cultivar BR-IRGA 410, obtidas em função do tratamento de sementes com Zn, B, Cu e suas combinações. Média de cinco repetições. Santa Maria, RS, UFSM, 1996.

* Tratamentos com médias não ligadas por mesma letra, na coluna, diferem entre si pelo teste de Duncan em nível de 5% de probabilidade de erro.

Rev. Fac. Zootec. Vet. Agro. Uruguaiana, v.7/8, n.1, p. 73-79, 2000/01

Silvana Ohse(1); Valéria Marodim(2); Osmar Souza Dos Santos(3); Sidinei José Lopes(4); Paulo Augusto Manfro(5).
manfronp[arroba]smail.ufsm.br
(1) Eng. Agr. Dr. Profa. UFSC. Florianópolis/SC. <ohse[arroba]ccb.ufsc.com.br>
(2) Eng. Agr. M.Sc. UFSM. 97105-900. Santa Maria/RS.
(3) Eng. Agr. Dr. Prof. Visitante - UFSM. 97105-900. Santa Maria/RS. Bolsista do
(4) Eng. Agr. M.Sc. Prof. do Depto de Fitotecnia - UFSM. 97105-900. Santa Maria/RS.
(5) Eng. Agr. Dr. Prof. Titular do Depto de Fitotecnia - UFSM. 97105-900. Santa Maria/RS.



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