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As progênies de polinização livre utilizadas neste experimento foram obtidas de 21 árvores selecionadas na Floresta Nacional do Tapajós, Belterra, Pará, Brasil. Na seleção fenotípica das árvores matrizes, utilizou-se como critérios caracteres de crescimento em altura e diâmetro, e de volume. O ensaio de progênies foi instalado em 1989 no Campo Experimental do Cerrado, pertencente ao Centro de Pesquisa Agroflorestal do Amapá - Embrapa Amapá (0º 22`N, 51º 04`W e 50 m de altitude). A área apresenta topografia plana, originalmente cobertura com vegetação de cerrado, clima tipo Ami, segundo a classificação de Köppen, temperatura média anual de 27ºC, umidade média relativa do ar de 82% e precipitação média de 2300 mm (Embrapa, 1990). O solo é do tipo Latossolo Amarelo, textura média e de baixa fertilidade.
O desenho experimental empregado foi o de blocos casualizados, com 21 tratamentos (progênies) e 10 repetições, sendo as parcelas experimentais lineares e constituídas de cinco plantas, com espaçamento de 3 x 3 m. As avaliações foram realizadas aos 48 e 96 meses após o plantio (início da produção de sementes), coletando-se dados de altura e diâmetro à altura do peito (DAP). A estimativa da biomassa (BMS) foi obtida por meio da expressão BMS = - 3,64 + 0,593*(CSA), onde CSA resulta do somatório dos diâmetros ao quadrado dos fustes existentes numa mesma árvore a uma altura de 1,30 m (Milton Kanashiro, Embrapa Amazônia Oriental, com. pessoal).
Foram empregadas as seguintes metodologias de seleção precoce: mudança das estimativas dos parâmetros genéticos entre as idades; estimativa da interação família x idade (Eberhart & Russell, 1966) e sua decomposição em simples e complexa, de acordo com a proposta apresentada por Cruz & Regazzi (1994), somente para os casos em que o efeito da interação foi estatisticamente significativo; estimativa da eficiência da seleção na idade juvenil e correspondência na idade adulta, segundo metodologia preconizada por Hamblin & Zimmermann (1986); e estimativa da resposta correlacionada com a seleção. Na estimação do ganho genético, considerou-se uma intensidade de seleção de 33% entre famílias de acordo com a fórmula apresentada por Vencovsky & Barriga (1992). A eficiência relativa da seleção precoce foi obtida pelo quociente dos ganhos por ano entre as idades de 48 meses e 96 meses.
Verificou-se ocorrência de variações significativas entre progênies em nível de 1% de probabilidade, nas duas idades de avaliação, para todos os caracteres, evidenciando a presença de variabilidade genética e, conseqüentemente, a perspectiva favorável de obtenção de ganhos por meio da seleção (Tabela 1). Verificou-se que a variação dos parâmetros genéticos entre as idades avaliadas foi de pequena magnitude, notadamente para o caráter biomassa, indicando que a variabilidade genética entre as famílias em relação à média foi praticamente a mesma em ambas idades. A variação dos coeficientes de variação genética e das herdabilidades para biomassa reforça a constância da variabilidade, haja vista que variou de 21,2 a 22,6%, enquanto a herdabilidade oscilou de 0,84 a 0,90%, podendo essa pequena diferença ser atribuída ao (p<0,01) somente para biomassa (Tabela 2).
Entretanto, apesar da presença da interação significativa, a sua decomposição em simples e complexa indica que há predominância de sua parte simples, evidenciando não haver mudança significativa na classificação do desempenho das famílias dos 48 a 96 meses de idade. Outros fatos que comprovam a pouca ou nenhuma influência da interação no resultado da seleção são as estimativas positivas e altas (³0,85) das correlações genéticas e os baixos valores da relação das variâncias entre progênies e da interação. Esses resultados são coerentes com os relatados por Kageyama (1980), Borralho (1991) e Pereira et al. (1997), e sugere forte associação entre o desempenho da planta jovem e adulta, condição essencial para o sucesso da seleção precoce.
Na avaliação da seleção precoce pela resposta correlacionada (RC), isto é, a estimativa RC no momento da rotação pela seleção simulada em idade mais jovem (Tabela 3), verificouse que os maiores valores das estimativas foram obtidos aos 96 meses. Em se tratando de erro associado às estimativas. Esses resultados sugerem que a seleção aos 48 meses é uma prática viável. Rezende & Bertolucci (1993) obtiveram resultados coerentes aos encontrados neste estudo. Quanto à precisão experimental, praticamente não ocorreram mudanças nos coeficientes de variação do erro experimental, sendo estes considerados de média magnitude (Garcia, 1989). O maior CV do erro experimental foi da biomassa, até porque esse caráter foi estimado por meio de outros componentes, donde vem a tendência de apresentarem maiores erros.
Quanto ao estudo da interação família x idade foi detectada diferença significativa seleção recorrente o mais importante é a estimativa do ganho por unidade de tempo (Vencovsky & Barriga, 1992; Rezende & Bertolucci, 1993). Nesta condição, os valores para a seleção aos 48 meses foram expressivos.
Nessa idade, os ganhos anuais com a seleção para altura, DAP e biomassa foram 12%, 31% e 80% maiores que a realizada aos 96 meses, respectivamente. Resultados coerentes com esses foram obtidos por Rimenschneider (1988), Borralho et al. (1992), Rezende & Bertolucci (1993), Gurgel Garrido & Kageyama (1993), Marques Jr. (1995) e Pereira et al. (1997) com outras espécies.
Tabela 2. Quadrados médios da análise de variância conjunta das idades (48 e 96 meses) para os três caracteres de crescimento, estimativas da variância genética entre progênies (s2p), variância da interação (s2pa), correlação genética (rg) e decomposição do componente da variância da interação obtida em progênies de meios irmãos de Sclerolobium paniculatum em Macapá, AP, Brasil.
Utilizando a metodologia apresentada por Hamblin & Zimmermann (1986), que permite identificar o número de famílias superiores coincidentes nas duas idades, verificou-se uma eficiência de seleção precoce para altura e DAP de 77,7% e para biomassa de 100%, indicando que todas as progênies identificadas como superiores para biomassa aos 48 meses foram também aos 96 meses. Considerando que a biomassa é o caráter mais importante quando o objetivo é a produção de carvão, como é o caso do taxi-branco, essa metodologia também confirmou o sucesso do emprego da seleção precoce.
Pereira et al. (1997) estimaram eficiência de seleção de 66,18% para o caráter DAP nas idades de 43 meses e 80 meses. Segundo esses mesmos autores, a eficiência estimada de 66,18% não permitiu fazer uma inferência mais segura quanto ao sucesso da seleção precoce, sendo, portanto, uma limitação dessa metodologia.
A variabilidade genética constatada entre famílias de meios irmãos de táxi branco permitirá obtenção de ganhos genéticos via seleção.
Todas as metodologias empregadas evidenciaram a eficiência da seleção precoce, sendo, portanto, um instrumento que deve ser utilizada em programas de melhoramento genético do taxi-branco.
EMBRAPA. 1990. Boletim Agrometeorológico, 1990. EMBRAPA-UEPAE de Macapá, Macapá, AP. 55p.
Borralho, N.M.G.; Coterrill, P.P.; Kanowiski, P.J. 1992. Genetic control of growth of Eucaluptus globulus in Portugal. II Efficiencies of early selection. Silvae Genética, 41(2):70-77.
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Garcia, C.H. 1989. Tabelas para classificação do coeficiente de variação. Circular Técnica, 171, Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais, Piracicaba. 12p.
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Pereira, A.B.; Marques Jr., O.G.; Ramalho, M.A.P.; Althoff, P. 1997. Eficiência da seleção precoce em famílias de meios irmãos de Eucalyptus camaldulensis Dehnh, avaliadas na região noroeste do Estado de Minas Gerais. Revista Ceres, 3(1):67-81.
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Submetido à publicação: 21/03/2001 Aceito: 27/09/2002
João Tomé de FARIAS NETO1 , Alberto William Viana de CASTRO1 e Arnaldo BIANCHETTI2
tome[arroba]cpatu.embrapa.br
1. Pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental. Tv. Dr. Enéas Pinheiro C.P. 48, CEP 66095-100. Belém-PA.
2. Pesquisador da Embrapa Amapá.
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