- Os trabalhadores do Rio de Janeiro entre 1890/1920 –
TRABALHADORES CARIOCAS - um olhar anarquista, investiga as condições de vida dos trabalhadores do Rio de Janeiro entre 1890 e 1920, a partir de bibliografia já existente sobre o tema. O trabalho está dividido em três capítulos.O primeiro apresenta um painel da cidade do Rio de Janeiro, na época capital do país e centro das decisões governamentais. O segundo enfoca os trabalhadores cariocas, suas origens, seu cotidiano e influências ideológicas. No terceiro desenvolve-se o conflito inevitável entre trabalhadores e patrões, analisando-se o comportamento do governo e constatando-se a forte presença do anarquismo.
PALAVRAS-CHAVE:
TRABALHADORES – ANARQUISMO – RIO DE JANEIRO - LUTA
A política é a ciência da liberdade. O governo do homem sobre o homem, disfarçado sob qualquer nome, é opressão. A sociedade atinge a perfeição na união da ordem com a anarquia.
Proudhon
O movimento operário brasileiro nasce ao mesmo tempo em que o Brasil inaugura um novo regime político. Ao final do século XIX, ambos dão os primeiros passos de sua longa trajetória e o local onde ocorre esse duplo nascimento é, certamente, a cidade do Rio de Janeiro, desde os tempos do Império, o centro político, econômico, social e cultural do país.
Entretanto, ao ler autores que tratam desse assunto, percebi algumas visões distintas que me motivaram a refletir sobre o tema. Alguns historiadores, como Boris Fausto, afirmam que, no Rio de Janeiro, as organizações operárias praticavam um sindicalismo "de resultados", uma vez que ligavam-se aos problemas mais imediatos da classe trabalhadora, como jornada de trabalho e conquistas salariais, referindo-se à tendência anarquista somente quando trabalhavam o movimento operário paulista, enquanto outros autores já buscam a importância do anarquismo entre o operariado carioca.
Para delimitar o trabalho, utilizei o recorte temporal referente aos primeiros anos da República. Afinal, já destaca Boris Fausto: "O Rio de Janeiro é, neste período, a cidade brasileira que concentra o maior número de operários".
Além disso, como afirma Otávio Brandão, "sem levar em consideração as lutas operárias e populares, não será possível escrever a História do Brasil e da América Latina no século XX" (BRANDÃO apud DULLES, 1977, p. 9).
O Brasil, desde sempre envolvido nas lutas entre dominadores e dominados, inicia o século XX com uma nova forma de governo, a República, porém com velhas e constantes disputas. O surgimento de uma nova categoria – os trabalhadores – buscando um lugar nesta recém-inaugurada ordem político-administrativa torna este período de nossa história decisivo no desenrolar das relações entre patrões, trabalhadores e Estado.
É importante ressaltar que, ao me debruçar sobre a História, cem anos depois, procuro os vestígios da influência anarquista, sem esquecer, contudo, que circulavam, no seio do operariado, outras tendências e que as fronteiras entre elas, naquele momento, não estavam tão rigidamente estabelecidas.
Entretanto, o anarquismo se destaca durante os primeiros anos do século XX, principalmente, porque é a única corrente que, definitivamente, se propõe a organizar o movimento operário ao mesmo tempo em que realiza "uma crítica radical aos fundamentos da sociedade burguesa e do Estado capitalista". Com seu discurso que prega "a construção de uma sociedade livre e igualitária, sem classes e sem exploração", abolindo todas as formas de repressão, contempla amplamente os anseios dos operários além de levá-los a buscar uma identidade comum através de uma prática cultural.
No primeiro capítulo trabalhei a cidade do Rio de Janeiro, considerada palco dos embates operários. Busquei identificar o desenvolvimento político e econômico assim como o crescimento da população com a chegada de imigrantes da Europa e do interior do Brasil, todos em busca de uma vida melhor. Procurei, também, identificar os problemas que a população necessitou enfrentar em virtude das transformações que foram realizadas no espaço urbano, no sentido de deixar a cidade digna de sua nova condição de metrópole republicana.
A seguir me debrucei sobre aqueles que são a parte dinâmica do espetáculo – os trabalhadores. Conhecer um pouco do cotidiano desses anônimos; apreciar as correntes teóricas que os influenciaram e, finalmente, determinar a importância do anarquismo entre esta população que começava a se observar e se reconhecer como classe, são as diretrizes do segundo capítulo.
Já no último capítulo, trabalhei a ação: desvendar como o anarquismo fortaleceu-se o bastante a ponto de direcionar a luta dos trabalhadores assim como os meios que os ativistas utilizavam para disseminar suas idéias entre as diversas categorias e a população em geral. Também refleti acerca da reação do Estado e dos patrões em relação ao movimento operário bem como os artifícios e manobras que foram empregadas na esperança de enfrentá-lo e, até mesmo, destruí-lo.
Apesar de trabalhar exclusivamente com as fontes bibliográficas, conforme orientação deste programa de pós-graduação, encontrei, em muitos livros consultados, transcrições de documentos de época que, acredito, foram indispensáveis para a reflexão sobre o período.
O Estado, como a roupa, é o símbolo de nossa inocência perdida; os palácios reais são construídos sobre as ruínas dos jardins do paraíso.
Tom Paine
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