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TDAH: Compreensão psicológica ou fortalecimento do discurso médico? (página 2)


Segundo Mattos (2008) "para se fazer um diagnóstico é necessário que aqueles comportamentos estejam interferindo de modo desfavorável na vida do indivíduo e que ele sofra por isso." (p, 131).

Diante do diagnóstico médico do TDAH, o metilfenidato (MPH) com o nome de Ritalina no Brasil e mais recentemente Concerta são os medicamentos mais comumente receitados para hiperatividade, ambos são estimulantes que têm efeito paradoxal de acalmar o sistema nervoso e aumentar a capacidade da criança hiperativa de prestar atenção. Isto parece mais uma resposta à preocupação de pais e queixa de professores: "o que a autoridade não "conserta" a medicina Concerta?" (MOYSÉS; COLLARES, 2010)

O mecanismo de ação do MPH (Ritalina) é o mesmo da cocaína, pois aumenta a atenção e produtividade; eleva a produção de dopamina no cérebro, pelo bloqueio de sua recaptação nas sinapses.

A dopamina é o neurotransmissor responsável pela sensação do prazer, como resposta desse aumento artificial, "o cérebro torna-se dessensibilizado a momentos e situações comuns da vida que provocam prazer, como alimentos, emoções, interações sociais, afetos, o que leva a busca contínua do prazer artificial provocado pela droga, culminando na drogadição." (MOYSÉS; COLLARES, 2010, p. 99)

Moysés e Collares (2010) afirmam que a medicalização de crianças e adolescentes articula-se com a queixa escolar que perpassa o "não aprender" como doença. A medicina afirma ser competente para resolver os problemas da não-aprendizagem declarando serem decorrentes de doenças que ela é capaz de solucionar; cria então, a demanda pelos serviços médicos, ampliando a medicalização.

O TDAH é alvo de críticas por parte de vários profissionais, uma delas é quanto ao diagnóstico; o mesmo não pode ser testado por exames médicos, o que o descaracteriza como doença, passando a ser uma forma de adoecer crianças saudáveis; não leva em conta o comportamento da criança em outros contextos. (LEONARDI; RUBANO; ASSIS, 2010).

A educação não pode acontecer somente na sala de aula, mas deve ser pensada em termos amplos, na formação de um cidadão consciente, criativo, saudável e capaz; não só de criar e reproduzir, mas também de ensinar, ou seja, o aprender deve ser na verdade uma apreensão dos diversos fatores inseridos neste processo.

No caso de um aluno que apresenta comportamento hiperativo, a ajuda psicológica pode ser de grande valia no apoio à família, escola e à própria criança.

A indicação de ajuda psicológica por pessoa especializada pode ser a melhor estratégia, pois geralmente os pais já fizeram o que estava ao seu alcance. Esse profissional especializado pode orientar os pais e a escola sobre como ajudar a criança enquanto ela lida com os problemas após um bom diagnostico situacional. (TIBA, 2006, p. 150).

Para um tratamento terapêutico dessas crianças e adolescentes sem a necessidade ou em uso de medicação; segundo Silva (2009), a terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a mais indicada para trabalhar com a criança que apresenta comportamento hiperativo (TDAH), por ser uma abordagem que se caracteriza pela busca de mudanças de afetos e comportamentos por meio da reestruturação cognitiva.

As terapias cognitivas assumem que nossos pensamentos manipulam nossos sentimentos, que entre um acontecimento e nossa resposta a ele está a mente; uma perspectiva cognitiva sobre os transtornos psicológicos mostra que as reações emocionais de uma pessoa não são produzidas diretamente por eventos, mas pelos pensamentos da pessoa em resposta a eles. (MYERS, 2006), críticas podem potencializar o comportamento, recompensas quando fazem algo certo costumam dizer a elas que estão andando no caminho esperado

Partindo também de uma abordagem da psicologia humanista a empatia profunda deve ser o primeiro ponto da terapia interventiva, possibilitando ao indivíduo se enxergar como sujeito livre e capaz de se avaliar sem medo de julgamento ou repreensão, para que consiga lidar com suas emoções e sentimentos, utilizando suas próprias experiências. (ROGERS, 1983)

Uma intervenção efetiva não equivale a ignorar os saberes científicos e biomédicos, mas ter um espírito crítico em relação ao que se chama doença tratando apenas os aspectos biológicos; ter uma escuta integralizada do paciente, buscando enxergá-lo como um ser um humano criativo cheio de potencialidades e habilidades, possibilitando o surgimento de caminhos e descobertas para um sentido de viver criativo!

Desta forma faz-se necessário investigar se há alguma percepção clara sobre TDAH no espaço de aprendizagem. Questiona-se o comportamento hiperativo pode ser diagnosticado como doença e medicado, e quais aas implicações dessa prática médica no processo ensino aprendizagem do aluno diagnosticado com TDAH.

Se precisar de técnicas de como educar uma criança, colocá-la na linha, transformá-la em uma semana numa criança feliz e obediente, não nos faltarão livros e livros que falam que generalizam, como se um remédio fosse eficaz para todos.

O problema é que além das peculiaridades de cada criança, precisamos considerar todo o contexto em que estão inseridas e saber que técnica alguma surtirá efeito nem ensinará se o ensinador não se entregar ao que faz.

A justificativa deste trabalho é a relevância do tema (TDAH), a aceitação do mesmo como doença, e como este mascara os verdadeiros problemas na escola, justificando e dando respostas a dificuldades de aprendizagens e comportamento desviante em sala de aula. A partir da justificativa, a pesquisa na escola é importante, pois geralmente os professores são os primeiros a fazer a queixa da hiperatividade ou desatenção, pois sentem o reflexo no processo ensino-aprendizagem.

O objetivo geral desta pesquisa baseou-se em ouvir e interpretar as percepções dos envolvidos na educação quanto ao TDAH e medicação; como o mesmo permeia o processo ensino aprendizagem e quais as implicações na convivência social da criança.

A pesquisa de campo na escola se fez necessária para realce do tema em questão, para que ouvir como os envolvidos no processo ensino aprendizagem, tanto alunos como professores entendem o comportamento hiperativo na sala de aula e no espaço escolar em geral, bem como o TDAH e a medicação sob diagnóstico médico.

A hipótese principal deste estudo foi verificar como os educadores percebem seus alunos portadores do TDAH e se os mesmos aceitam como patologia, justificando os comportamentos não-aceitáveis dentro de sala de aula, e se os alunos diagnosticados têm consciência de como isso influencia sua vida escolar e social.

Método

2.1 Participantes

Participaram da pesquisa 5 (cinco) professores de uma escola da rede estadual de ensino de uma cidade de Minas Gerais (Divinópolis), a supervisora de turma, mãe de um aluno diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, que faz uso de medicação, e 9 (nove) alunos sobre a percepção que tem sobre o que é hiperatividade e o que sabem sobre o termo.

2.2 Delineamento da pesquisa

Optou-se por uma escola pública pela maior probabilidade de contato com os pesquisados. Seis dos nove alunos pesquisados era do sexo feminino, a idade variou entre 10 e 13 anos de idade, do 5º ao 8º ano, a escolha dos pesquisados foi aleatória, portanto os educadores atuam em disciplinas e áreas variadas: História, Educação Física, Geografia; a supervisora, a bibliotecária e uma mãe.

Procedimentos

A pesquisa bibliográfica, o projeto de pesquisa, a apresentação do desenvolvimento da pesquisa ao 4º período de Psicologia deu-se entre os meses de fevereiro a junho, a coleta de dados na escola aconteceu no mês de maio 2013.

Antes da pesquisa na escola, foi feita a apresentação da pesquisa e esclarecimento dos aspectos éticos envolvidos, então foi feito um agendamento de horário com a diretora da instituição.

Após combinar os horários, os pesquisados foram convidados a ler e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para participar da pesquisa.

Instrumentos

Foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas (anexo 2) com a supervisora, professores, mãe, alunos. Buscou-se intervir o mínimo possível na rotina de trabalho dos educadores, sendo ouvidos nos intervalos entre uma aula e outra e os alunos nos horários vagos, em grupo ou individualmente.

Análise dos dados

Foram analisadas as entrevistas, as observações, a forma como os alunos foram tratados, como se relacionam no recreio, a fala dos pesquisados de acordo com o tema proposto, a percepção que tem sobre TDAH, comportamento hiperativo, medicação de crianças diagnosticadas com o transtorno e até que ponto a educação familiar é responsável pelo comportamento

Aspectos éticos

Cada participante recebeu o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que informou o tipo de pesquisa, seus objetivos e esclareceu que a participação seria voluntária, não prevendo qualquer ressarcimento, e sem prejuízo de qualquer natureza para os não participantes. No termo, também se estabeleceu um compromisso com a privacidade de cada participante e a utilização confidencial e sigilosa dos dados colhidos.

Resultados e impactos esperados

Os resultados esperados da presente pesquisa eram a confirmação da aceitação do TDAH como doença e justificativa para problemas de aprendizagem, bem como a explicação para comportamentos desviantes em sala de aula e no espaço escolar, culminando em medicação de alunos, mediante diagnóstico médico de transtorno de déficit de atenção e Hiperatividade.

 

Resultados Obtidos

Sobre o PPP da escola a supervisora E.A.S. B disse que: "o Projeto Político Pedagógico se baseia em formar cidadãos críticos e construtores de sua própria história."

Quanto aos alunos diagnosticados com TDAH e uso de medicamento ela esclareceu: "a escola trabalha a criança com TDAH desde os primeiros anos escolares, [...] ela é encaminhada ao neuro e já começa a ser medicada, quando ela chega na adolescência não tem muitos problemas mais."

Ela ainda disse que tem muitos alunos com TDAH, e alguns tomam medicamento controlado, mas a família ajuda a piorar o quadro quando acha que é doença, que não pode chamar atenção e não vem às reuniões; reclamam das notas, de como os filhos são tratados, mas não são participativos.

Os critérios para o atendimento dos alunos que com TDAH é muito difícil, pois TDAH não é considerado demanda para uma sala de recursos, e tem que ter no mínimo 25 alunos que apresentam as necessidades- dificuldades de aprendizagem-, consideradas pela Secretaria de Educação; síndromes nem transtornos são considerados para a contratação de um profissional para Serviços de Apoio Pedagógico Especializado (SAPEs). "Os alunos que precisam de apoio pedagógico são atendidos em caráter particular. Quando os pais não têm condições ficam do jeito que dá mesmo." Ressalta a supervisora. Os professores se posicionaram de várias maneiras, o que nos chamou bastante atenção, pois pudemos observar a postura dos profissionais diante da mesma manifestação.

R.N. N, professor de educação física diz que não se preocupa se o aluno apresenta comportamento hiperativo ou não, ele exige que todos participem das atividades propostas e sempre traz novidades, de forma que se alguém procurar entre os alunos enquanto estão na aula, não poderão dizer qual deles tem transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade: "eu trabalho com jogos, disputas, brincadeiras interativas, músicas, dramatizações. Procuro diversificar a aula e não me preocupo se o aluno vai bagunçar, penso apenas em oferecer um momento prazeroso de aprendizagem."

Conferindo a fala dele com Wallon (1981) e Piaget (1975) o jogo é uma forma de organizar o acaso, superar repetições, por meio dele a criança percebe como se dão as relações humanas, explora e desenvolve noções sobre o mundo físico, estabelecendo novas cadeias de significados e amplia sua percepção do real.

No jogo a criança encena a realidade utilizando regras de comportamento socialmente constituídas. Nessa situação, os objetos perdem sua força determinadora sobre o comportamento da criança; ela passa a agir independentemente daquilo que vê. Desse modo, está lidando com uma situação imaginária, na qual novos significados são associados aos objetos. (VYGOTSKY, 1984)

Ele ainda ressaltou que trabalha com os alunos a questão do ganhar e perder, do respeito, de esperar a hora e de aprender a conviver, para isso procura ser amigo de todos, e sabe que não perde a autoridade por isso.

Partindo do pressuposto da abordagem da psicologia humanista, notamos no educador uma empatia profunda, deixando o aluno livre para se ver como ser, capaz de se avaliar sem medo de julgamento ou repreensão, para que consiga lidar com suas emoções e sentimentos, utilizando suas próprias experiências. (ROGERS, 1983)

A mãe entrevistada L.A. C trabalha na escola como servente e levou o filho para estudar lá para acompanhá-lo de perto. Ela é mãe de D.W. S; sobre o comportamento do filho disse: "os professores tem que entender o D. ele precisa tomar remédio controlado, ele não dá conta de aprender, nem de ficar quieto. Já até coloquei ele na aula particular, levei ele no médico, na psicopedagoga, que os professor ficaram reclamando, aí a supervisora e a diretora mandaram levar ele; o médico pediu um tanto de exame, mas não deu nada."

"Em casa ele gosta de sair com pai dele pra trabalhar, entregando leite, mas só que não me ajuda em nada em casa. Ele gosta só de ficar jogando vídeo game." "Eu falo as coisas pra ele, só que ele faiz de surdo, intão eu largo"

Sobre os medicamentos ela disse: "ele toma Tofranil, eu não sei pra quê, só que o doutor falou que ele tem que tomar pra aprender melhor."

A mãe disse que não acha que o remédio muda alguma coisa no comportamento diário de seu filho, mas se o médico receitou, ela procura atender, "porque ele estudou para isso, então ele deve saber, né?

Dona L.A disse que não sabe o que fazer para ajudar o filho, ela sempre participa das reuniões, só escuta reclamações sobre D., e que pediu transferência para a escola para ficar mais perto do filho, assim quando os professores precisam, ela está por perto.

Os professores são unânimes em afirmar sobre D. que realmente a mãe e o pai são participativos, mas acham que o filho é doente e pedem paciência por parte dos professores.

A bibliotecária V.A. S, ressaltou: "o aluno hiperativo se manifesta até na biblioteca, pois aqui te mais espaço pra ele andar, olha muitos livros e acaba escolhendo um além de sua capacidade cognitiva. Eu falo pra ele trocar, levar um mais fino, mais da sua idade, da série, mas eles teimam." Ela disse que na biblioteca todos são um pouco hiperativos, pois falam ao mesmo tempo, contam piadas, falam alto e riem; principalmente quando estão fazendo trabalho.

L.F.S, professor de História, disse que procura não reclamar com os pais sobre o comportamento dos alunos em sala de aula, pois considera como reforço negativo, ele ressalta os pontos fracos e fala como eles podem melhorar.

Segundo a abordagem da terapia cognitiva, o educador assume uma postura coerente, pois a mesma afirma que nossos pensamentos manipulam nossos sentimentos, que entre um acontecimento e nossa resposta a ele está a mente.

Uma perspectiva cognitiva sobre os transtornos psicológicos mostra que as reações emocionais de uma pessoa não são produzidas diretamente por eventos, mas pelos pensamentos da pessoa em resposta a eles. Myers (2006). "Se eu ficar falando sobre os erros deles e os pais chamarem atenção, voltam pior que antes, então falo que estão melhorando e o que ainda precisam melhorar."

S.L.G. P, professora de Geografia demonstra cansaço e desânimo: "eles parecem uns loucos, só porque tomam remédio, acham que podem levantar sem falar, gritar, andar na sala, virar as costas para o professor, dar má resposta", "para fazer bagunça eles não são doentes, acho que falta é educação vinda de casa."

A educadora ressalta "eles querem chamar atenção, eu não dou muita importância, porque sei que eles não vão longe. Se passar do ensino médio, já está bom."

Os alunos falam sobre hiperatividade sob muitos aspectos: "a J.S é hiperativa, ela beija todos os meninos da escola" "o nome dela devia ser é J. Surfistinha" todos riem (inclusive ela).

L.A. C, declara: "eu tenho transtorno de hiperatividade, não consigo ficar quieta, tomo remédio desde pequena." "até no fim de semana eu tomo, senão meu pai e minha mãe não me aguentam."

L.A. C diz não conseguir ficar quieta e o dia que se esquece de tomar o remédio (Ritalina) tem que ir para a casa, porque fica muito desinquieta e os professores a mandam para casa.

O aluno A.U.P. C diz que todo mundo fala que ele é hiperativo: "eu acho que eles falam isso, porque eu ando muito, converso na sala, brinco de bater, sei lá, deve ser..."

Ele diz que não se importa com o que as pessoas falam, a supervisora o encaminhou ao neurologista, mas os exames não constataram nada, mesmo assim o médico passou um remédio: "ele falou que é pra mim ficar mais quieto na escola e aprender melhor... hi, eu não sei o nome do remédio não"

A aluna L.C.S. L diz que os professores e a mãe falam que ela é hiperativa: "hiperativo é doente e eu não sou isso, eu gosto de conversar com minhas colegas...", como estava um grupo reunido foi interrompida "e com os colegas", todos riram, "ela fica com todos os meninos, até com os mais feios, ela não importa" (risadas)

L.A. C diz que não consegue ficar sem o medicamento (Ritalina) que toma de quatro em quatro horas, acha que ajuda a prestar mais atenção, quando o remédio falta, ela mesma sente uma "agitação assim, por dentro, sabe, uma coisa esquisita. Quero fazer tudo, mas não quero fazer nada." (risadas do grupo)

Outros alunos que participaram da entrevista dizem não fazer uso de medicamento, mas sabem de colegas que tomam remédios controlados para prestar atenção na aula. A.G. C; diz: "tem umas aulas que nem com remédio dá pra aguentar, a professora é chata, a matéria é chata, que que adianta tomar remédio?"

Todos concordam que a disciplina que mais gostam é Educação física e de sala de aula a de História: "porque o professor é legal e a educação física tem muito movimento."; as disciplinas que não gostam de jeito nenhum são: religião e artes. "Tem outras né? mas a gente tem que fazer, igual Geografia, Matemática, Português..."

Considerações Finais

Foi observado pelo grupo que os resultados confirmam a hipótese da aceitação social do TDAH como doença e justificativa para alguns problemas apresentados na escola nos dias atuais, bem como explicação para problemas de aprendizagem, defasagem, desatenção, comportamento hiperativo.

Durante a pesquisa observamos a rotulação dada às crianças que apresentam comportamento hiperativo e às muitas quietinhas como desatentas com o diagnóstico de TDAH, partindo para a medicalização, ou abandono pelos professores no processo ensino-aprendizagem.

Foi presenciado que os alunos que apresentam comportamento hiperativo e os que são medicados se apropriam dessa rotulação e sentem-se no direito de andar na sala, sair sem avisar, gritar, brincar de forma agressiva (com chutes, tapas, etc.), parecem não se importar com as ordens recebidas, nem com as reprimendas ou ameaças (ficar de castigo, ficar sem recreio, chamar os pais, assinar advertência, etc.).

Sobre os educadores a hipótese se confirmou em parte, eles culpam mais a educação familiar pelo comportamento desviante dos alunos hiperativos do o transtorno propriamente dito ou a necessidade de uso de medicação. Observa-se na fala dos educadores um pedido de mais participação familiar na educação secular dos filhos, "a gente não tem mais direito a nada, se chamar a atenção é bulling, preconceito, racismo [...] e aí a família vem...", disse uma das educadoras.

Por outro lado, mesmo tendo conhecimento da presença do transtorno e da educação deficitária recebida em casa por motivos vários, alguns trabalham de forma a alcançar a atenção de todos os alunos e não se deixam levar pela agitação do hiperativo dentro da sala, no entanto alguns apresentam em seus relatos certo desânimo em relação aos alunos que apresentam comportamento hiperativo ou TDAH, abandonam o aluno, tratando-o como doente e incapaz de aprender como os demais; "não vão muito longe mesmo", disse uma das professoras.

O ambiente escolar nos dias da pesquisa estava conturbado, faltaram alguns professores entre os horários de aula e os alunos ficavam no pátio, correndo, gritando, falando alto e contando piadas e eram constantemente repreendidos.

Logo que chegamos vieram conversar conosco e perguntaram se a gente ia fazer estágio. Ao saber da pesquisa se prontificaram a ajudar.

Durante um horário vago, por causa da "bagunça" dos alunos uma das professoras pegou dois meninos pelos braços e colocou-os de castigo com a ordem que se levantassem apenas quando ela deixasse; em poucos minutos eles já estavam correndo outra vez e ela disse: "é assim, não adianta falar"; "se a gente ficar falando muito, a gente é que cansa."

Vale ressaltar que não foi feita uma observação apurada sobre os eventos, nem uma pesquisa minuciosa, desta forma diante da importância do tema e das implicações no processo ensino aprendizagem e mesmo na vida social dos indivíduos com TDAH, e mesmo os que somente apresentam comportamento desviante, mas recebendo o diagnóstico do transtorno são medicadas, e acabam recebendo rótulos e se apropriando disso para não se esforçarem a aprender mais.

De maneira geral, os resultados demonstraram que o TDAH é aceito culturalmente como doença pela sociedade atual e no ambiente escolar, sendo desta forma justificado a medicação, os desvios comportamentais e vários problemas de aprendizagem. Percebe-se aí a necessidade de aproximação dos estudos, acerca dos processos envolvidos na estigmatização dos alunos com TDAH.

Concorda-se que uma intervenção efetiva não equivale a ignorar os saberes científicos e biomédicos, mas ter um espírito crítico em relação ao que se chama doença tratando apenas os aspectos biológicos; ter uma escuta integralizada do paciente, buscando enxergá-lo como um ser um humano criativo, cheio de potencialidades e habilidades, possibilitando o surgimento de caminhos e descobertas para um sentido de viver criativo!

Infelizmente, a escola reproduz a ideologia capitalista sobre vários aspectos: aluno problema não aprende, TDAH é doença, o aluno que não tem uma família participativa é propenso a dar mais trabalho, etc.

Lembrando o que diz o PPP da escola sobre a formação de cidadãos críticos e capazes; fica uma dúvida: como fazer isso se o aprender precede o ensinar e se o que ensina não se funde no que faz, mas reproduz um discurso médico; tem medo das consequências que sua prática pode causar? Desta forma o educador não oferecerá um ensino que resulte em aprendizado, pois o verdadeiro ensino é aquele que possibilita uma transformação. Somente um educador crítico, transformador, político, que pensa e age certo, pode causar isso nos alunos.

Desta forma, pensa-se que compreender o transtorno se torna mais importante que aceitar o comportamento e repetir o discurso médico do TDAH como doença.

 

Referências Bibliográficas

MATTOS, P. No Mundo a Lua: perguntas e respostas sobre transtorno do déficit de atenção e hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. 8ª Ed.rev.atual. São Paulo: Casa Leitura Médica, 2008.

MOYSES, A. B, COLLARES. N. C (orgs). MEDICALIZAÇAO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doenças de indivíduos. Conselho Regional De Psicologia De São Paulo- Grupo Interinstitucional "Queixa Escolar". São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.

MYERS, D. G. Psicologia. 7ª Edição. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 2006

PETRY, A.. Hiperatividade: Características e procedimentos básicos para amenizar as dificuldades. Revista do Professor, Porto Alegre. Abril, p.47-48, jul/set, 1999.

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

ROGERS, C. R. Tornar-se Pessoa. 5ª Edição. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 2001.

SILVA, A. B. B.. Mentes inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

TIBA, I. Quem ama, educa! São Paulo: Editora Gente, 2002.

_________. Disciplina: limite na medida certa. Novos paradigmas. Ed.rev.atual. e ampl. São Paulo: Integrare Editora, 2006.

WALLON, H., A Evolução Psicológica da Criança – Lisboa: edição 70, 1981.

VYGOTSKY, L.S. (1987). Pensamento e linguagem. 1° ed. brasileira. São Paulo, Martins

Fontes.

________________ (1988). A formação social da mente. 2° ed. brasileira. São Paulo,

Martins Fontes.

DSM III. Disponível em www.cmdc.com.br Acesso em 12/03/2013

DSM IV. Disponível em virtualpsy. locaweb.com.br Acesso em 12/03/2013

 

Anexos

Lista de siglas

LCM: Lesão Cerebral Mínima

DCM: Disfunção Cerebral Mínima

RHI: Reação Hipercinética da Infância

DDA: Distúrbio do Déficit de Atenção

TDA: Transtorno do Déficit de Atenção

TDAH: Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade

DSM: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders)

TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

PPP: (Projeto político Pedagógico)

SAPEs: Serviços de Apoio Pedagógico Especializado

ANEXO 1- Critérios para o diagnóstico de TDAH segundo DSM—IV

O subtipo apropriado (para um diagnóstico atual) deve ser indicado com base no padrão predominante de sintomas nos últimos 6 meses conforme indicação:

F90.0 - 314.01 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Combinado.

Este subtipo deve ser usado se seis (ou mais) sintomas de desatenção e seis (ou mais) sintomas de hiperatividade-impulsividade persistentes há pelo menos 6 meses. A maioria das crianças e adolescentes com o transtorno tem o Tipo Combinado. Não se sabe se o mesmo vale para adultos com o transtorno.

F98. 8 - 314.00 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Predominantemente Desatento.

Este subtipo deve ser usado se seis (ou mais) sintomas de desatenção (mas menos de seis sintomas de hiperatividade-impulsividade) persistem há pelo menos 6 meses.

F90. 0 - 314.01 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo.

Este subtipo deve ser usado se seis (ou mais) sintomas de hiperatividade-impulsividade (mas menos de seis sintomas de desatenção) persistem há pelo menos 6 meses. A desatenção pode, com freqüência, ser um aspecto clínico significativo nesses casos. 

Segundo o DSM IV, alguns critérios são necessários para diagnosticar o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade  A. Ou (1) ou (2) 

1) Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram por pelo menos 6 meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Desatenção: a) freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras

(b) com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas

(c) com freqüência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra

(d) com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções)

(e) com freqüência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades

(f) com freqüência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa)

(g) com freqüência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais)

(h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa

(i) com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias 

2) Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram por pelo menos 6

meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Hiperatividade:

(a) freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira

(b) freqüentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado

(c) freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação)

(d) com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer

(e) está freqüentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor"

(f) freqüentemente fala em demasia impulsividade

(g) freqüentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas

(h) com freqüência tem dificuldade para aguardar sua vez

(i) freqüentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por ex., intromete-se em conversas ou brincadeiras) 

B. Alguns sintomas de hiperatividade-impulsividade ou desatenção que causaram prejuízo estavam presentes antes dos 7 anos de idade. 

C. Algum prejuízo causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (por ex., na escola [ou trabalho] e em casa). 

D. Deve haver claras evidências de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. 

E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico e não são melhor explicados por outro transtorno mental (por ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou um Transtorno da Personalidade). 

Codificar com base no tipo: 

F90. 0 - 314.01 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Combinado: se tanto o Critério A1 quanto o Critério A2 são satisfeitos durante os últimos 6 meses.

F98. 8 - 314.00 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Predominantemente Desatento: Se o Critério A1 é satisfeito, mas o Critério A2 não é satisfeito durante os últimos 6 meses.

F90. 0 - 314.01 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Predominantemente

Hiperativo-Impulsivo: Se o Critério A2 é satisfeito, mas o Critério A1 não é satisfeito durante os últimos 6 meses. 

Nota para a codificação: Para indivíduos (em especial adolescentes e adultos) que atualmente apresentam sintomas que não mais satisfazem todos os critérios, especificar "Em Remissão Parcial".

Lista de medicamentos

Ritalina (MPH): cloridrato de metilfenidato. Indicado para o tratamento do Déficit de atenção e hiperatividade (DAH). 

Concerta: cloridrato de metilfenidato: Indicado para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Tofranil: cloridrato de imipramina. Indicado para todas as formas de depressão, incluindo as formas endógenas, orgânicas e psicogênicas e a depressão associada com distúrbios de personalidade.

 

Autor:

Rosana Lúcia Santos De Oliveira

rosanadivi[arroba]hotmail.com

Graduada em Pedagogia- UEG- Goianésia (2002), Especializada em Transtornos de Aprendizagem; Pós- graduada- Lato sensu em coordenação, Inspeção e Supervisão Escolar; Pós- graduada- Lato sensu- Psicopedagogia; Psicologia- Cursando (10º período)

Orientador:

Prof. Dr. Eustáquio José de Souza Júnior

Artigo apresentado ao curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras – Unidade Divinópolis, como requisito do grau de bacharelado em Psicologia.

FACULDADE PITÁGORAS – UNIDADE DIVINÓPOLIS

Divinópolis-MG

2015



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