Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 


Solidão nas relações amorosas da contemporaneidade (página 2)


Justifica-se a importância para Ciência, especificamente para a Psicologia, porque seu objeto de estudo é o ser humano e por ser um tema bastante atual no mundo de hoje. É relevante para a sociedade no intuito de identificar no ser humano esse sofrimento a vivência da solidão este "fenômeno universal" (RÚDIO, 1991).

Entender este fenômeno, a solidão, como um dos sentimentos mais significativos no homem de hoje sob a influência de fatores da contemporaneidade.

A solidão será analisada no contexto do mundo contemporâneo. Buscaremos entender como se desencadeia, que influências o ser humano sofre, interna e externamente, ao perceber o sentimento de sentir-se só, mesmo com o cônjuge ao lado.

De fato, o sentimento de solidão não está associado à companhia ou à falta de alguém. Decorre das profundezas de cada ser humano em particular, sob as influências sociais para lidar melhor, ou não, com a solidão. Como também auxiliar o sujeito na busca de uma vivência profunda dos sentimentos afetivos, especificamente, o amor sincero e verdadeiro.

Outro aspecto é do compromisso amoroso apenas com o seu cônjuge. Isto é, para que o casal não se deixe influenciar por fatores causadores do sentimento de solidão que poderão desencadear o isolamento do casal no mundo moderno. Portanto, Solidão nas relações Amorosas da Contemporaneidade.

Os objetivos deste estudo teórico-científico são investigar que fatores da contemporaneidade contribuem para a solidão nas relações amorosas, compreender como os casais contemporâneos percebem o sentimento de solidão, refletir sobre a interferência da comunicação da mídia sobre a falta de diálogo, impedindo a convivência amorosa dos casais e analisar como a falta de companheirismo favorece o isolamento dos casais.

Esta pesquisa teve como principal fundamentador teórico o trabalho de Victor Franz Rúdio, que aborda o sentimento de solidão, ressaltando seu significado no ser humano. Aponta os aspectos da solidão no sentido amplo e o sinaliza no sentido estrito. Considerando esses dois pontos, é necessário esclarecer suas diferenças pelo menos para entendermos o que seja solidão em diversos contextos.

Portanto, esta temática terá como metodologia geral, artigos científicos e literaturas pertinentes ao assunto proposto, que será possível a obtenção de novo conteúdo técnico-científico fornecendo análise da solidão nas relações amorosas.

2 DESENVOLVIMENTO

O sentimento de solidão no contexto do isolamento é estar separado do outro. É de se apontar que o sujeito que está isolado sofre psicologicamente ao perceber que está só, e saber que estar fisicamente longe do outro, pode causar dificuldades em quaisquer relações afetivas. No isolamento este sentimento interfere nas relações uns com os outros, consequentemente nas relações amorosas no âmbito da contemporaneidade.

Segundo Rúdio,

...o processo de relacionamento se encontra prejudicado por causa do rompimento ou diminuição do contato humano com os outros...o aspecto mais importante do isolamento está no seu correspondente psicológico, isto é, na repercussão que produz dentro da pessoa que, percebendo-se isolada, é acometida pelo sentimento de estar sozinha (RÚDIO, 1991, p. 10).

Para este autor o isolamento é base da estrutura do sujeito, diz que é inerente a todo ser humanizado. Mas ele é particular porque cada pessoa tem sua subjetividade, sua peculiaridade, baseada na vivência e no cenário da vida.

Nesta mesma perspectiva, Dolto (1991) enfatiza todos nós um dia já sofremos de solidão. Rúdio (1991) define, solidão é de origem primária, ou seja, desde o nascimento o recém-nascido sente-se só, separado, isolado, contra a sua vontade, da companhia de sua mãe.

Isto nos direciona as origens da solidão. A primeira solidão nos remete ao sentimento de desamparo que o homem e a mulher trazem desde sua infância. Cabe ao ser humano perceber, uma vez sentida a solidão desde a sua origem, ele pode senti-la novamente em um envolvimento amoroso com o outro.

Para este autor a solidão no sentido amplo, divide-se em estrutural e funcional. No sentido estrutural, define-se em relação às nossas escolhas e decisões, pois ninguém pode decidir e escolher por nós. Quando permitimos que o outro decida e escolha por nós, perdemos nossa liberdade e sentimos solidão.

E no sentido funcional se manifesta em confronto com as circunstâncias. Como por exemplo: uma pessoa que vive em uma ilha, os idosos que são obrigados a viverem com os jovens. Mas também existem aqueles por si mesmo procuram o isolamento a fim de refletir, meditar, orar e fazer planos para a vida. Pode ser benéfico para o homem o isolar-se para encontrar-se.

Em suma, percebe-se: "a solidão no sentido estrito não visa diretamente o relacionamento com outras pessoas, mas à experiência interior de abandono". (RÚDIO, 1991 p.12).

É necessário observar que:

O que caracteriza a solidão é a consciência que o indivíduo tem de estar sozinho, mas acompanhado de um sentimento penoso de desamparo e de uma carência premente de alguém que lhe possa dar apoio. Portanto, a percepção de estar sozinho, o sentimento de desamparo e a necessidade de alguém formam os três elementos constitutivos da solidão, interpretando-se e misturando-se. A maneira de vivenciá-los de quem os experimenta e do momento em que os experimenta. (RÚDIO, 1991 p.12)

Deixa claro o autor o sentimento de solidão os quais o homem e a mulher vivencia, por perceberem que estão sozinhos, lhe causa desamparo e, consequentemente, desperta a necessidade de estarem em companhia um do outro.

O sentir-se só no isolamento é um dado objetivo, circunstância do mundo externo, que se pode perceber por alguém, mesmo este não comunicando uma palavra. Já no sentido de sentir-se só, na solidão, é um "estado da alma" subjetivo, pois só é possível verificar o sentimento de solidão se a pessoa o disser.

Rollo May (1982) entende a solidão sempre foi um prol, mas isto é mais grave porque as relações são diferentes:

Não há dúvida que em todas as épocas a solidão foi temida e as pessoas dela procuram fugir... a diferença é que em nossa época o medo da solidão é muito mais intenso e as defesas contra ele – diversões, atividades sociais e "amizades" são mais rígidas e compulsivas. (MAY, 1982, p. 26)

 

Em suma, as circunstâncias sociais interferem neste sentimento hoje, são mais desfavoráveis pelo medo da solidão. As pessoas na sociedade contemporânea buscam divertimentos, relações sociais, amizade para se esconderem da solidão com a finalidade de não enfrentarem os impasses da vida em sociedade.

Para May a solidão é uma característica forte no homem da contemporaneidade, pois, para este é insuportável sentir-se só. Ressalta que a solidão está associada ao vazio, devido ao grande desamparo que se experimenta.

A sociedade exerce certo "poder" no homem, porque este tem temor de ficar extremamente só alienado. Sobre isto, o autor nos afirma: "em nossa cultura costuma-se dizer "você anda solitário", um modo de admitir que não seja bom estar só. "(p.25)

Angerami-Camon (1990) embasa a temática da solidão na Psicoterapia Fenomenológica Existencial. Para ele, "Solidão é a ausência do outro". O conceito configura a extrema ausência do outro. O desespero do homem contemporâneo apresenta-se em várias facetas de sofrimento e uma delas é a ausência de alguém com quem se possa estar e contar em momentos aflitos e de desamparo.

A ausência do outro faz com que o indivíduo crie novas situações, como estar em contato com o outro, ouvir a sua voz, perceber sua presença como fatores importantes para que se possa sair da sensação de sentir-se só.

A solidão desperta sentimentos difíceis de ser incluídos no rol de uma análise que não seja pormenorizada. A solidão desperta até mesmo sentimentos que são um insulto à dignidade humana, como a compaixão. ...que por definição, uma forma de amor e simpatia pelos que sofrem. (ANGERAMI, 1990, p.8)

O sentimento de solidão não só desperta sentimento de compaixão, mas desamparo, aflição, angústia, medo, vazio, abandono, são todos sentimento interligados entre si. A solidão pode ser um sentimento mais profundo, enraizado, doloroso que um ser humano na sua essência de existir no mundo possa sentir.

Hoje a ideia que muitos fazem da solidão é no sentido de um sentimento momentâneo que invade o coração, como, por exemplo, finais de semana, domingo á noite. Mas quem nunca se sentiu só? Faz parte da vida do ser no mundo, do existir. Então é necessário perceber como esse sentimento se manifesta, e através desta percepção, identificar a possibilidade de lidar melhor e positivamente com a solidão.

Enfatiza Angerami-Camon (1990) que, estar com alguém não significa que eu não me sinta só. Esta posição faz um paralelo com Rúdio (1991) que ressalta que a companhia de alguém não é possível, não é suficientemente para vencê-la.

Bauman (2004, p.8) "a misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ele inspira e os desejos conflitantes (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo de mantê-los frouxos", caracterizando as relações amorosas da contemporaneidade como sendo relacionamentos tão frágeis e incertos que deixam ser acometidos pelos sentimentos de insegurança nas relações afetivas, no qual a contemporaneidade poderá influenciar na vida a dois desencadeando sentimentos de isolamento e solidão.

Pode-se dizer que o sentimento conflitante na vida do casal é a solidão que pode manter os laços afetivos, mas também rompê-los. É necessário o conhecimento desse sentimento na vida a dois para saber os meios de confrontá-lo.

Na medida em que o casal vai conhecendo um ao outro, buscando um relacionamento amoroso, fiel, protegendo-se do mundo externo, saberá significar o sentimento de solidão, não como alienação, mas como um meio de conhecimento de si mesmo e do outro. Esta não é tarefa fácil:

Hoje em dia as atenções humanas tendem a se concentrar nas satisfações que esperam obter das relações precisamente porque, de alguma forma, estas não têm sido consideradas plenas e verdadeiramente satisfatórias. E se satisfazem, o preço disso tem sido com frequência considerada excessiva e inaceitável. (BAUMAN, 2004, p.9).

O autor relata que os relacionamentos tendem a concentrarem nas satisfações em que o outro possa trazer e não a busca do amor mútuo, sincero e verdadeiro. Isso faz com que a contemporaneidade enfatize que o importante é o relacionamento de curto prazo, sem compromisso diário, mas a busca incessante do seu próprio prazer. Isso gera solidão e isolamento, pois se fica esperando do outro aquilo que ele não tem para oferecer.

2.1 OS CONCEITOS DE ISOLAMENTO E DE SOLIDAO

Segundo Rúdio (1991) a solidão pode ser analisada sob o aspecto do isolamento, que significa a pessoa estar separada, afastada dos outros. Caracteriza a dificuldade de estabelecer vínculos com pessoas em seu entorno, por isso, prejudica todo o relacionamento podendo trazer danos psicológicos ao homem. É um sentimento originário na essência do existir. A solidão no sentido do isolamento é um componente da base estrutural na personalidade do sujeito. É inerente a todo ser humano, porque cada pessoa tem a sua subjetividade, sua peculiaridade. Contudo o sentimento de solidão ocorrerá de acordo com cada ser.

Nas palavras do autor observa-se:

Os seus pontos extremos se encontram no nascimento e na morte: nascemos sozinhos e sozinhos morremos. Podemos acreditar que, no útero materno, não tínhamos solidão porque estávamos intimamente unidos à nossa mãe. Começamos, porém, a senti-la na hora do parto, quando fomos separados e nascemos para o mundo. (RÚDIO, 1991, p.10)

O sentimento de solidão está presente de forma funcional em nossas vidas, que quer dizer, que ele pode ser reconhecido nas diversidades dos nossos relacionamentos, no cotidiano, no trabalho, nas opiniões alheias, no senso-comum, na família, no mundo contemporâneo.

Isto tem impacto sobre cada um de nós, em nossas escolhas e decisões, pois se escolhem e decidem por nós perdemos a liberdade e, consequentemente, aumenta a temida solidão.

Inúmeras situações da contemporaneidade têm impacto muito grande sobre cada ser humano, o que de certa forma define o sentimento existente, como por exemplo, no isolamento funcional. Rúdio (1991) ressalta que ele é relativo de pessoa para pessoa, porque nem todos se interessam em estar na companhia de alguém.

Yalom (1996) apud Sá (2006) enfatiza a solidão do ponto de vista do isolamento existencial, que é a condição de todo o ser no mundo. Entretanto, é interesse do homem ir ao encontro do outro, pois se caracteriza por ele não estar acompanhado de alguém. O autor designa também, para o fato do homem estar isolado, ser inevitável. Seria uma forma de estar no mundo e fugir da solidão.

Observa-se que o isolamento é um sentimento de estar só, ou seja, sem a companhia do outro. Sendo assim, pode-se considerar que isolamento "é uma lacuna intransponível, entre o eu e os outros". (Yalon apud Sá, 2006 p.10).

Rúdio (1991) indica que a solidão difere do isolamento na sua maneira de se manifestar, pois, "solidão é solidão", em outras palavras, é o sentimento pelo qual o ser humano encontra-se constantemente só, mesmo com alguém em seu entorno. É um sentimento significativo no homem.

Percebe-se que "a solidão no sentido estrito não visa diretamente o relacionamento com outras pessoas, mas a experiência interior de abandono" (ibidem, p.12). É de suma importância analisar sob este ângulo a origem da solidão.

A primeira solidão nos remete ao sentimento de desamparo e abandono que o homem traz desde a sua infância. Repete o momento íntimo e afável do sujeito com sua mãe. (Rúdio, 1991) mas também pode estar associado à primeira separação:

Recém-nascido, ... insólita separação das estranhas nidificantes da mãe que o faz descobrir uma nova modalidade de vida, em que sua sobrevivência depende desse ar comum a todas as criaturas. Ameaçadora para a sua sobrevivência, a solidão não largará mais esse homem, essa mulher, separados pela primeira vez... É arrebatada por esse grito de solidão primeira...(DOLTO,1998, p.51)

Cabe ressaltar que, a autora enfatiza que todos nós algum dia já sofremos de solidão, pois esta é de origem primária. Desde o nascimento sentíamo-nos sós, desamparados, separados contra vontade da companhia da mãe. Cada ser humano percebe que uma vez sentida a solidão, revive o sentimento de sentir-se só, abandonado novamente, mesmo estando acompanhado.

Segundo May (1982) a solidão se caracteriza por um sentimento penoso e de desamparo que está associada ao vazio, insuportável para o homem na atualidade. É interessante observar que a sociedade contemporânea exerce um "certo poder" sobre o homem porque ele tem temor de ficar extremamente só alienado.

A solidão nunca foi tão temida como agora porque cada pessoa é levada a fugir dela o máximo que puder a fim de que o vazio existencial seja preenchido de forma diversificadas no mundo de hoje.

2.1.1 As formas de sentir-se sozinho no Isolamento e na Solidão

Rúdio (1991) esclarece que a pessoa ao sentir-se sozinha já é um dado importante a avaliarmos psicologicamente, que ela sofre com o seu modo de ser no mundo, e ressalta neste as formas em que uma pessoa pode sentir-se sozinha no isolamento e na solidão. Os conceitos são distintos como podemos observar:

No isolamento, o indivíduo pode estar sozinho e: (1º) não perceber que está quando, por exemplo, se encontra absorto numa tarefa que está fazendo; (2º) perceber e gostar, como acontece, por exemplo, como o homem religioso que prazerosamente se afasta dos outros para fazer sua oração; (3º) perceber e não gostar como se dá com alguém que, por exemplo, se vê rejeitado do convívio de outras pessoas. Já na solidão a consciência de estar sozinho persegue insistentemente o indivíduo, e ele a vivencia com sentimentos marcantes de insatisfação e desagrado. (RÚDIO, 1991 p. 12)

O autor destaca que a solidão é um fenômeno existente em cada indivíduo. E que a consciência que a pessoa tem de sentir-se sozinha é um sentimento intenso e senti-lo causa insatisfação e desamparo.

No isolamento temos um dado importante para avaliarmos no ponto de vista psicológico, que é uma mudança significativa no comportamento: estar isolado, afastado do outro, um dado passível de observar.

Ressaltando que a pessoa ao sentir-se sozinha pode não perceber. Pode estar concentrada, com um olhar voltado para o outro e não achar que está sozinha. Com isso o isolamento em si, não causa prejuízo para ela. Neste caso, o isolamento pode ser visto como algo bom em que o ser humano por livre escolha, quer estar afastado de alguém.

Por outro lado, é de se preocupar quando a pessoa percebe o sentimento de estar só e isso lhe causa medo, dor, ligado a um sentimento permanente. Ela pode se afastar ainda mais não só dos outros, mas principalmente dela mesma. Podemos chamar de solidão.

Solidão é consequência do mundo externo, uma realidade. É um "estado da alma" é um afronto ao nosso íntimo, ao nosso ser. Porém sair da solidão não exige a mesma solução do isolamento. Solidão é uma experiência de abandono de si mesmo. Pode-se compreender isto nas palavras de Rúdio (1991, p.13) "mas, quanto à solidão, só a companhia de alguém não é suficiente para vencê-la. De fato, a experiência nos prova que uma pessoa pode estar em relacionamento constante com outras, e, no entanto, sentir-se profundamente sozinha".

Sintetizando, o que o autor diz, é que a solidão é um dado subjetivo, pessoal, particular, íntimo do ser humano, até gerador de conflitos com o próprio eu. Pode-se estar com alguém ao lado e mesmo assim sentir-se só, porque isto é um "fenômeno universal". (RÚDIO, 1991, p. 9)

2.1.2 O olhar do Homem sobre a Solidão

"Eu e minha sombra ninguém a quem contar nossas penas... só eu e minha sombra tão tristes e sozinhos". (Billy Rose e outros, 1927, apud May, 1982)

O olhar do homem contemporâneo sobre o sentimento de solidão é tão temido e ameaçador, que todos nós, de certa forma, com medo, procuramos fugir com todas as forças deste sentimento. O que vemos é algo negativo e insuportável. Segundo May (1982, p.26) "Não há dúvida de que em todas as épocas a solidão foi temida e as pessoas a ela procuram fugir... Mas a diferença é que em nossa época o medo da solidão é muito mais intenso e as defesa contra ele- diversões, atividades sociais, e "amizades" são mais rígidas e compulsivas".

A solidão é uma característica do homem na contemporaneidade. Mas, para ele é insuportável sentir-se só. Ela está associada ao vazio que se sente e, por conseguinte, não se sabe de onde vem e muito menos se sabe como enfrentá-lo.

A visão do homem moderno sobre a solidão o causa medo. Segundo Rúdio (1991) o sentimento de sentir-se só é além do que um desamparo, vazio. Quando estamos na solidão confrontamos conosco mesmo, é árduo este momento. É difícil suportar a dor da solidão que nos incomoda por enfrentarmos a nós mesmos. A causa deste medo nos faz pensar ir de encontro do nosso eu, mas às vezes nos remetem a lembranças desagradáveis, insuportáveis, cobranças, ameaças, remorsos e descasos.

Rúdio (1991, p.16) destaca que a solidão não é um mal que não se pode vencer. De fato, para que uma pessoa possa olhar para a solidão de forma positiva, precisa ir ao encontro do outro, não num curto relacionamento, "mas sim, que o outro seja capaz de acolher e de entender o que se passa com quem o procura... Sem dúvida, a aceitação e a compreensão formam os traços mais expressivos do amor verdadeiro". Para não sentir solidão o indivíduo deve procurar ser amado pelo outro e amar reciprocamente.

___________________________

1 " Eu e minha sombra", de Billy Rose Al Johnson e Dave Dreyer, Copyright 1927 de Bourne Inc., Nova York, (MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. Vozes,1982).

2.2 O CONCEITO DE AMOR ROMÃNTICO

Ao longo desta parte do trabalho a intenção é explicar as diferenças do amor, as formas que ele se manifesta especificamente, o amor romântico contemporâneo, se é que ele ainda existe! "Amar romanticamente é colocar o "eu em risco", mas, tendo como promessa a possibilidade de "ganhar um novo sentido de si"." (Solomom apud Costa, 1998, p. 202)

Ao ler sobre o amor pode-se perceber que existem diversos conceitos. Costa (1998) elenca o amor como uma convicção. É um ato de crer, mutável com o passar do tempo, mas que precisa ser revelado e renovado nas nossas relações amorosas mantendo-se como a principal ligação entre o eu e o outro.

Cabe ressaltar que o amor é uma "mola" que vai ao encontro do outro com certas restrições e que ao voltarmos para nós mesmos, olhamos o amor como um risco que corremos ao amar e que é um afrontamento com nosso eu, mas que alimenta, tornando possível um aprimoramento da nossa personalidade e um jeito novo de sentido a vida.

Entretanto, sem amor o ser humano padece, perde a liberdade de ser, pois o amor é a alegria, mas também sacrifício, aonde alguns vêm como algo penoso e difícil. O que engrandece o amor entre duas pessoas não é o fato de serem felizes somente, mas a forma altruísta do amor. Amar é também sofrer:

Sem amor estamos amputados da nossa melhor parte. A vida pode até ser mais tranquila e livre de dores quando não amamos... Mas trata-se de uma paz de cinzas... Nada traz o alento do amor-paixão romântico correspondido. Diante dele tudo empalidece; sem ele, até o que engrandece perde a razão de ser. (COSTA, 1998, p. 11)

Sintetizando as palavras do autor, o amor é de certa forma a necessidade para relacionar-se amorosamente com outro. Se não houver, o relacionamento não amadurece, fica isento "frouxo" (Bauman, 2004) mutável, sem compromisso. Portanto as pessoas passam a olhar o amor de forma que vejam momentos só alegres. Chegam a achar que amam. Mas amar sem sofrer, não é amor: "... já que sem amor somos amputados da nossa melhor parte" (Costa, 1998, p. 11).

Costa (1998) destaca que existem três considerações importantes sobre a crença do amor. A primeira diz que o amor é um sentimento natural e universal, existente em todos os momentos históricos e culturais. A segunda pontua que o amor é um sentimento dos apaixonados, ou seja, amor-paixão romântico, que são sentimentos incontroláveis, contra a vontade e cegos à luz da razão. E a terceira, o "amor é a condição sine qua non da máxima felicidade a que podemos aspirar". (p.13).

Analisando essas afirmações sobre o amor, podemos dizer que o amor é natural em cada ser humano. Ele é fruto do relacionamento que une uma pessoa a outra de forma espontânea. De fato através de épocas e culturas, pode-se afirmar que ele é o mesmo, foi e ainda, audaciosamente, o será.

O amor na história do homem é um marco de desejos e de mudanças, mesmo quando imposto pela cultura ou época, como por exemplo: na idade média em que os pais escolhiam os parceiros para que os filhos casassem e, por conseguinte, não havia escolha. Isso não fez com que se perdesse a característica do próprio amor, bondoso, leal e compromissado. No entanto, o homem, no relacionamento com o outro, cria laços afetivos demonstrando sempre novas maneiras de amar.

O amor demonstra capacidades de superar certos desafios da vida conjugal. São Paulo, na passagem bíblica (BÍBLIA, I Cor. 13 4-7) diz que o amor não é orgulhoso, não é invejoso, não procura interesses próprios não se irrita e tudo suporta, crê e espera.

Costa (1998) enfatiza que por ser universal, o amor é de certa maneira constituído de experiências vividas no passado e trazidas para nossa contemporaneidade. Ou seja, momentos amorosos inesquecíveis ao logo da história de cada um, se refletem nas nossas relações como traços bastante significativos nos momentos atuais. Amar é reconstruir sentimentos, laços, ternura e afeto por alguém com quem nos identificarmos.

O amor é espontâneo e mesmo com toda sua espontaneidade, que acentua um sentimento incontrolável, cego à luz da razão, o amor-paixão romântico é um forte condutor para um amor constante e verdadeiro. Contudo se torna necessário a junção da espontaneidade com racionalidade.

Em outras palavras: "A prática amorosa desmente radicalmente a idealização. Amamos com sentimentos, mas também com razões e julgamentos. A racionalidade está tão presente no ato de amar quanto as mais impetuosas paixões". (COSTA, 1998, p. 17)

Com isso o autor quer dizer que o amor-paixão romântico de fato é uma idealização do amor, entende como algo incontrolável à razão, mas é de se notar que embala um verdadeiro amor. Porque o amor não é só um sentimento do coração é guiado pela razão. A razão de amar.

Outra característica da crença sobre o amor, segundo o autor acima, é a relação que ele tem com a felicidade, que por sua vez torna tão complexa esta associação. A felicidade é o ideal do amor. O amor não é natural e muito menos espontâneo. De certa forma, o nosso argumento não condiz com essa afirmação. Defende-se aqui as variedades e complementos do amor romântico que são: Natural, universal, espontâneo e que almeja por fim último, a felicidade.

Hoje, no mundo, estamos na "era das sensações" (Costa, 1998) e para "além do princípio do prazer" (Freud), o que nos impede de vivermos das histórias passadas que motivavam a amar de forma livre, espontânea, com sentimentos sinceros e verdadeiros. Por outro lado, o contexto nos caracteriza pelas seduções das sensações e a saudade dos puros sentimentos existentes em cada um de nós como fruto, de nossa liberdade de amar e ser amado.

Assim o amor romântico contemporâneo será possível a partir dos aspectos Psicológicos caracterizados, como por exemplo, já mencionado acima, a capacidade de reconstruir, criar laços afetivos e a maturidade no amor, que mantém o relacionamento através dos vínculos amorosos pré-estabelecidos pelo casal.

2.2.1 Os Aspectos Psicológicos nos Vínculos Amorosos

Segundo (Pichon-Rivière apud DIAS, 2000) esclarece que o vínculo amoroso "é um tipo particular" que se tem com a relação ao outro, isto é, a base do vínculo. Externo e interno. Esses vínculos são formados por um encantamento, uma "atração erotizada" entre marido e mulher, de maneira que as relações possam ser sustentadas pelo amor.

Esses tipos de vínculos no qual chamamos, são os aspectos psicológicos que motivam as escolhas e a permanência do outro nas relações amorosas.

Dias (2000) ressalta a importância dos aspectos psicológicos, ou seja, as estruturas dos vínculos nas relações amorosas. Os vínculos se instalam a partir da atração que um sente pelo outro. Neste processo podemos considerar três fatores: 1) atração sexual é um fator que motiva o vínculo. Ou seja, é atração física é o corpo que impulsiona a ligar-se ao outro. É onde se dá início a fase de encantamento-paixão. 2) A atração afetiva, corresponde o modo de ser do outro; o jeito, o comportamento, as atitudes, as formas de se apresentar de se comunicar com os demais, a ternura, o carinho e o companheirismo. 3) A atração intelectual são a maneira que o outro pensa, as expectativas, os ideais, os valores, crenças, interesses, virtude. É um meio pelo qual um ou outro se sente protegido, compreendido, aceito.

O vínculo externo desses casais entende-se numa perspectiva sociológica, que por sua vez, se baseia na à proximidade, nos laços afetivos, nos gestos de amor, como estruturas psicológicas nas relações conjugais.

Outro aspecto do vínculo, o interno, entende-se sob um olhar psicanalítico de forma que o eu se relaciona com outro e a imagem que os cônjuges fazem um do outro e no qual se identificam.

Analisando as palavras de Dias (2000, p. 13) "O vínculo conjugal se caracteriza como toda e qualquer relação no casamento" é de se apontar que a relação conjugal é estruturada através dos vínculos, ou seja, o "amoroso", o "compensatório" e o de "conveniência". Nós nos aprofundaremos em cada um deles.

Na teoria do autor, o vínculo amoroso se estabelece por uma atração intensa que sustenta a relação conjugal, consequentemente, corresponde por cativar um ao outro pela forma de manifestar encantamento. O sentimento de encantar-se pelo outro, leva-o a crer que a pessoa seja perfeita para entrelaçar-se em uma relação saudável e durável.

É importante salientar que, ao passar do tempo à paixão e o encantar-se pelo outro vão diminuindo, dependendo das características da personalidade de cada um, que irão sendo reveladas através do diálogo e da convivência. Descobre-se de que a pessoa amada, de fato, não é o que se pensa ser, mas, isto é um ponto de partida para uma relação madura e estável.

A partir da convivência a fase do encantamento e paixão diminui e evolui para outra fase da decepção e do desencanto. Que existem três tipos de situações possíveis:

No primeiro tipo destaca-se o amor, como uma das características das relações amorosas, necessário que os cônjuges dialoguem sobre as frustrações durante a passagem de um relacionamento paixão-encantamento para que ao serem solidários um com o outro venham ter uma relação mútua e recíproca.

O segundo tipo é o ódio: "A relação pode evoluir para uma relação de ódio, à medida que o casal não consegue dialogar nem elaborar seus desencantos e decepções, em que um passa a acusar o outro como responsável pelas próprias decepções". (ibidem, 2000. p. 16)

Com isso, o autor quer dizer que ódio pode ser uma das emoções vivenciadas pelo casal, por não terem maturidade para resolver suas frustrações e decepções por não dialogarem suficientemente, contudo, passam a culpa e a responsabilidade para o outro. Neste caso se desfaz o vinculo amoroso.

O último tipo é a indiferença.

A relação pode evoluir para uma relação de esfriamento e de indiferença. Ocorre quando, por algum motivo, o casal tenta negar ou dissimular a fase de decepção e de desencantamento e passa, então, a ter um diálogo falso e mentiroso tentando justificar, mentir, dissimular e até mesmo manipular para evitar admitir suas partes menos nobres, seus traços neuróticos, além de admitir a frustração e a decepção para com a pessoa amada. Os fatores mais comuns que impedem o diálogo franco e sincero é o medo de que, ao assumir a decepção, isto pode destruir a relação. (DIAS, 2000. p. 16)

Este é um ponto pertinente para avaliarmos em que patamar a relação do casal está, pois uma relação sem confiança é difícil. Conversas falsas e omissas em relação às fases do desencanto podem levar a não saber mais quem é o outro que está ao seu lado. O autor destacou o terceiro tipo do vínculo amoroso, o mais significativo para não manter uma relação saudável e sincera. Pois, manter um diálogo sincero e franco é amedrontar o outro na sua relação com a possibilidade de assumir suas decepções e devaneios.

O vinculo "compensatório" é sempre um vínculo em que um é dependente do outro. São três aspectos relacionados a esse vínculo. O cuidar, quando a pessoa passa a delegar ao outro, responsabilidades suas. É o outro que precisa amparar proteger, se responsabilizar pelos nossos interesses afetivos. "À medida que o parceiro não cumpre ou cumpre de forma incompleta esta função, isso provoca tensão frustração, e até mesmo hostilidade na relação do casal." (p.26).

O segundo e o terceiro aspecto estão ligados entre si, o julgamento e a orientação. Estes também deveriam ser de responsabilidades próprias e não do outro, mas é outro que precisa julgar as atitudes, as ações boas ou más e orientar, decidir, responder pelas minhas questões e até mesmo as escolhas que precisam ser tomadas.

Outro vínculo citado é o da conveniência. Esse vínculo pode ser dividido em três grupos: "Primeiro, a conveniência é explícita e é a própria causa do casamento. Segundo, a conveniência é encoberta e pode ser ou não a causa do casamento. Terceiro a conveniência se estrutura durante a vida do casal" (ibidem, p. 33)

Esse vínculo está baseado nos interesses que acontecem dentro das relações conjugais. Pode-se dizer que ocorre em todas as áreas da vida do casal: situação financeira, política, social, familiar e situações específicas, como ter um filho, por exemplo.

A conveniência explicita é aquele em que há um interesse apenas econômico, não há vínculo amoroso estabelecido que se possa manter a relação. Na conveniência encoberta há um interesse desde o início do vínculo e que pode ou não ser a causa do casamento. Na conveniência que se estrutura ao longo da vida conjugal, os interesses são mútuos, os objetivos, os ideais, os projetos comuns. Na medida em que as pessoas vão se relacionando, descobrindo um e outro, amadurecendo, vão construindo essa estrutura, através dos vínculos amorosos previamente adquiridos. Esses vínculos dão origem às relações amorosas.

2.2.2 As Relações Amorosas Marido e Mulher na atualidade

Segundo Bauman (2004) as relações amorosas na atualidade são marcadas por prazeres momentâneos, relacionamentos de curto prazo, sem compromisso com o outro. É também a busca de satisfazer o seu próprio corpo. Esta é uma realidade do mundo contemporâneo na qual os casais sofrem de certa forma por um desejo "latente", onde procuram resgatar o verdadeiro amor romântico.

"E assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para o uso imediato, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, garantias de seguro total e devolução do dinheiro". (BAUMAN 2004, p. 21)

Nos dias atuais as relações amorosas nos levam a crer que o casal se inclina ao relacionamento visando a obter momentos satisfatórios e compensatórios, de modo que cada um busque o seu próprio prazer.

Os relacionamentos amorosos, que neste texto, enfatiza o casal marido e mulher, nos levam a refletir sobre este estigma, que é tão complexo: O relacionamento humano conjugal. Os casais contemporâneos refletem a própria sociedade, demonstrando-se aparentemente resolvidos e interligados entre si, mas anseiam por uma relação segura e buscam de uma maneira ou de outra relacionar-se.

Nas palavras do autor "no líquido cenário da vida moderna, os relacionamentos talvez sejam representantes mais comuns, agudos, perturbadores e profundamente sentidos de ambivalência" (BAUMAN 2004 p. 8).

Os casais vivem a frustração de forma ambivalente, ou seja, querem relacionar-se e não querem estar "permanentemente" nesta relação. Isso traz sentimentos de solidão porque os laços não são estáveis, são inseguros.

Segundo Costa (1998, p. 134), o casal muitas vezes prefere a solidão a todas as coisas que atrapalham e impedem a liberdade, que abrange a espontaneidade de amar. Em consequência disso às pessoas preferem às relações frouxas, mornas, com certas tranquilidades e renúncias de suas paixões. Talvez porque sejam relações que não comprometem um amor que seja verdadeiro, mas um simples relacionar-se.

O autor nos ajudar a pensar que entrar no relacionamento envolve modos de investir como qualquer outra situação, mas que por sua vez, implica investimentos que não nos garantem seguranças de uma relação ao longo prazo:

Se você investe numa relação, o lucro esperado é, em primeiro lugar e acima de tudo, a segurança – em muitos sentidos: a proximidade da mão amiga quando você, mas precisa dela, o socorro na aflição, a companhia na solidão, o apoio para sair de uma dificuldade, o consolo na derrota e os aplausos na vitória. (Bauman, 2004, p. 29)

Em última análise pode-se perceber que as relações nos dias de hoje não são motivadas pelo amor e compromisso, mas pelo prazer e interesse. Costa (1998) considera que as relações amorosas só se tornam verdadeira quando os casais são livres para amarem e desejarem-se mutuamente.

2.3 SOLIDAO NA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA- EXISTENCIAL

Nesta parte do trabalho, abordaremos a solidão sob o olhar da Psicologia Fenomenológica- Existencial. Não somente como um "fenômeno universal" (Rúdio) de um sentimento existente em cada pessoa humana, mas como algo particular, vivenciado individualmente.

Segundo Xausa (1986) fenomenologia, propriamente dita, em sua origem grega significa fenômeno, ou seja, ela ultrapassa as aparências para se chegar às essências. Ela busca sintetizar e aprofundar na epistemologia da intenção e da consciência de estar no mundo, visando entender o ser a partir das estruturas do próprio ser humano, em particular detém-se a vivência no mundo. Então, pensar na solidão nesta perspectiva é buscar ir além das aparências, é tentar entender como o ser humano vive este sentimento no mundo.

Segundo Angerami-Camon (1990, p. 2) o sentimento de solidão é simplesmente solidão porque o outro está ausente. De fato a pessoa necessita da presença do outro para que venha aliviar a dor da solidão. "Solidão. Solidão, nada mais que um vagar na incerteza do insólito da existência humana".

Na ótica existencial, o ser humano, pelo fato de existir no mundo necessariamente precisa do outro para sentir solidão. Então solidão é uma maneira de expressar o seu olhar sobre quem é o outro. Mas, para o autor, mesmo o outro estando presente é possível ainda sentir-se sozinho. "... por mais que se viva junto do outro que se ama, por mais que se interaja socialmente, não será possível evitar a certeza de ser só" (ibidem p. 10) isto vem de encontro com a abordagem de Rúdio (1991) solidão é um sentimento de sentir-se sozinho mesmo que o outro esteja ao lado.

É interessante apontar que a ausência ou a presença do outro não significa que a pessoa não possa vivenciar sentimentos de solidão. No entanto, o homem contemporâneo se desespera, sofre pela ausência, não só física, mas com a ideia de quem seja o outro, dos sentimentos dos outros em relação a si mesmo.

De acordo com Rúdio (1991, p,5) "Solidão configuração real da ausência do outro. ...significado do outro: ausência e a presença. E ausência fazendo com que o outro se tornasse muito mais presente do que em situações reais de presença física".

É pertinente ressaltar que esta configuração que se faz do outro, é uma forma do outro fazer parte da existência, de que sem o outro a vida existencial não pode dar a sua continuidade. Solidão é um fator determinante para dependência do outro na nossa vida.

A solidão faz parte da vida do homem, caracteriza de maneira particular o que cada um vivencia no seu existir, há momentos na vida em que nos deparamos com tamanha solidão e não conseguimos lidar com ela e suportá-la. Mas se no relacionamento diário, à medida que olhamos para o outro, se o outro me ama, me percebe, de fato isso ameniza a dor da solidão.

Lessa (2003) com base em Heidegger enfatiza que a solidão é a condição de todo ser humano. De fato todos estão sós neste mundo. Esta é a essência do existir. Mas não nos conformamos como isso. Pois a existência humana procura relacionar-se com alguém apenas para fugir da solidão.

Esta aceitação é própria de cada pessoa humana, porque não é fácil ser só consigo mesmo. Uma das dificuldades do homem contemporâneo é não conseguir viver a sua própria existência. Acredita que o brilho e o enamorar-se com a vida não se encontram em si mesmo, e sim no outro. É necessário aceitar e viver a própria solidão. "O homem se torna autêntico quando aceita a solidão como preço da sua própria liberdade. E se torna inautêntico quando interpreta a solidão como abandono". (Lessa, 2003).

O homem quando é autêntico, aceita a solidão. Ser só no mundo é a garantia de ser livre e se responsabilizar diante dos desafios, mesmo que haja dificuldades, esforça-se para atingir suas metas e volta a olhar para si, encontrando-se e sentindo-se seguro de si mesmo. Por outro lado, o homem sendo inautêntico, não suporta a solidão e a vê como um mal, um abandono.

Como esclarece Angerami-Camon (1990) existem formas de expressar a solidão. No ato de escrever o ser humano se comunica com o outro através de um simples ato de recolhimento. Aparentemente encontra-se isolado, porém este é o momento de encontro com o outro que se configura em sua mente. Outro modo de expressar a solidão é orar. É outro momento de isolar-se dos demais. Entretanto é também um meio de comunicação, é relacionar-se de forma íntima com o outro, "através da abstração arbitrariamente imaginada e denominada de Deus." (ibidem p.21) Isso nos faz pensar que um gesto simples de orar, acalma, sossega a alma e alivia o peso imensurável da solidão.

Solidão não é fácil. Entrar em contato com este estado é tarefa árdua, penosa e incômoda, mas de fato deve-se buscar incessantemente um significado e compreensão acerca deste sentimento único que cada ser humano pode experimentar em sua própria trajetória existencial. Contudo, percebe-se que a solidão nos faz encontrar sentido para a vida, que "também se percebe que está aí à grandeza e a beleza da condição humana". (ibidem p. 15)

2.3.1 O Vazio Existencial

Neste tópico veremos o vazio existencial associado à solidão. Segundo May (1982) o vazio e a solidão são males do nosso mundo contemporâneo. Sendo a solidão uma das características que o homem vivencia, e que quer evitar. Que de certa forma, ao longo da história do homem, houve sempre um esforço constante para destruir sua própria solidão:

A solidão é uma ameaça não violenta e penosa para muitos que não possuem a concepção dos valores positivos do isolamento a até se assustam com a possibilidade de ficar sós. ...a sensação de vazio e a solidão andam juntas. Quando alguém fala do rompimento de uma relação amorosa raro manifesta tristeza ou humilhação pela conquista perdida diz que se sente vazio. (MAY, 1982 p. 23)

Portanto, este sentimento é penoso e ameaçador ao ser humano, já que ele não consegue vê-lo de modo positivo. Muito pelo contrário, percebe-o como insulto à condição humana, avassalador e temido, já que o homem fica com a possibilidade de sentir-se só. Mas a solidão é uma maneira de encontrar-se consigo mesmo. A sensação de vazio que a pessoa humana sente é um vácuo muito grande, na qual se sente incapaz de conduzir a sua própria existência neste mundo.

E há de se instalar esse sentimento de vazio, nos dias de hoje, quando a relação amorosa não se concretiza como gostariam ou rompem a conquista. Instala-se o vazio e, consequentemente, as pessoas se deparam com a solidão.

E "a sensação de isolamento ocorre quando a pessoa se sente vazia e amedrontada." (ibidem, p. 24), mas a necessidade de aproximação do outro surge da vontade de preencher o próprio vazio.

"É aceitável querer ficar só temporariamente, para desligar-se de tudo... mas se alguém gosta de estar sozinho, como preferência pessoal, é inconcebível que uma pessoa fique sozinha por livre escolha" (ibidem, p. 26) Na nossa atualidade observamos que ficar só não é aconselhável. Isso nos faz compreender a ideia de que as pessoas sentem mais medo da solidão.

Angerami-Camon (1990) cita outro termo, ´tédio existencial", que é uma sensação de dor por não estar realizando os objetivos da própria vida. É o sentimento de estar estacionado no tempo e no espaço:

Milhares de pessoas estão sempre insatisfeitas, sempre sonhando com condições ideais para vencer e crescer. No tédio a temporalidade é comprometida. E tédio é algo permanente, o tempo é sentido como comprido. Não existe dimensão de futuro verdadeiro, ou de passado rico em experência. O presente nada significa. Vazio, solidão, cansaço de existir. Os quadros das pessoas no domingo à tarde, quando a vida, nua e crua, chega e diz: " olha, essa é a sua vida. E o tempo passando..." (May, 1990, p. 26)

Infelizmente é uma realidade do nosso mundo contemporâneo. Vivemos como se o tempo fizesse parte de nós, ou melhor, não vivemos, apenas estamos neste mundo. Pois se o homem não buscar crescer e amadurecer o tempo realmente se abstrai e passa, para aqueles que permanecem sem dar passos em direção ao seu próprio caminho.

Para Frankl (2006), de fato, dar sentido a própria vida é sair do tédio, do vazio, da solidão, encarando-os. Mas isso depende de cada um. Cada vez mais o homem moderno é acometido de uma sensação de falta de sentido, que geralmente vem acompanhada de uma sensação de "vazio interior", aquilo que descrevi e denominei de "vazio existencial" (p. 78).

O autor explica que a sensação de vazio é falta de sentido pra vida; que ele denomina o vazio existencial e que se manifesta através de tédio e indiferença. Seria uma perda pelos interesses, por não estar realizando objetivos e metas traçadas a cada dia. É a indiferença que retrata não só o ser individual, mas a sociedade moderna, que não se empenha para uma melhoria pequena, para um mundo sentido e mais humano.

Em última análise sobre o texto acima, pode-se verificar que:

Nenhuma época acumulou conhecimentos tão numerosos e tão diversos sobre o homem como a nossa. Nenhuma época conseguiu apresentar seu saber acerca do homem sob uma forma que nos afeta tanto. Nenhuma época conseguiu tornar esse saber tão facilmente acessível. "Mas, também nenhuma época soube menos o que é o homem" (Heidegger (1976) apud, ANGERAMI-CAMON, 1990, p. 92)

2.4 SOLIDAO E CONTEMPORANEIDADE

 

Solidão e contemporaneidade apresentam ligações entre si. Mesmo que a solidão não seja um assunto atual, está calcada na contemporaneidade, e é neste grande cenário que vivemos.

Segundo Bauman (2004) contemporaneidade está relacionada ao modo de vida das pessoas. Ao relacionar-se amorosamente, corre-se o risco das relações serem descartadas, ou seja, elas são marcadas com o fator "ficar" apenas.

Somos fadados ao fracasso no amor das relações "líquidas", frouxas, instáveis que produzem nos homens sentimentos de insegurança. Nos laços afetivos isso se traduz no aumento da solidão.

Neste mundo moderno há uma ideia que retrata uma realidade do ser humano: que ele não está disposto a enfrentar tudo que é sólido e durável é a negação da realidade, um modo de viver sem compromisso e esforço. As pessoas estão, no entanto, cada dia, mais propensas aos fracassos, incertezas, inconstâncias e medos.

Deste modo, hoje é tão penosa e até mesmo desumana a convivência entre duas pessoas. Num mesmo cenário da vida estão "certezas" e "incertezas". Este se tornou o modo assumido de conviver. As incertezas vividas exteriormente ao casal são vividas na relação. E a falta de garantia que o outro representa é um fator que se associa à vivência da solidão.

Bauman (2004) refere-se à era da "modernidade líquida" como penosa e contrária ao ser humano na essência da capacidade de amar. No amor aos outros, como por exemplo, marido e mulher. Enfatiza que as relações amorosas são frágeis e inconstantes. Há mudanças inaceitáveis e surpreendentes. É desse "amor líquido" que o casal é, na contemporaneidade, representante".

Nesta linha de raciocínio, os relacionamentos de hoje são abertos a novas oportunidades, geradores do sentimento de solidão. Portanto, seria difícil para o casal sentir amor verdadeiro, sólido, constante, durável devido à grande permissividade da sociedade para incentivar as relações de curto prazo.

Para Bauman (2004), as relações amorosas estão calcadas em vínculos frouxos, que podem se diluir a qualquer momento, trazendo um sentimento de incapacidade, insegurança e incerteza às relações. Os relacionamentos na contemporaneidade perderam a 'tradição', deixaram de ser sagrados, eternos por estarem fortemente marcados pela sociedade de consumo. São relações vistas como mercadorias que satisfazem por momentos.

Em suma, é interessante observar que o mundo contemporâneo está marcado por diversas transformações sociais e que Bauman (2001) enquadra as relações amorosas num estado "líquido". De fato vivemos numa era de dissolução dos laços afetivos no casal.

Como os relacionamentos são frágeis e livres tendem a contribuir com a solidão, da qual, tantos tentam fugir.

2.4.1 A Influência da Tecnologia da Contemporaneidade na Vida Conjugal

Este tópico tem o intuito de esclarecer e apontar como a contemporaneidade influência a vida conjugal. Como vimos anteriormente, para Bauman (2004) os relacionamentos atualmente estão cada vez menos compromissados e duradouros. Um dos fatores que contribuiu para isso é o crescimento tecnológico, como por exemplo, a televisão e a internet que tem sidos meios pelas quais as relações podem estar sujeitas ao fracasso e ao rompimento conjugal. Observa-se em outras palavras:

Vivemos um avanço ímpar no desenvolvimento da tecnologia das comunicações. É possível, por exemplo, ligando-se um simples botão de televisão assistir-se uma transmissão no momento exato de sua ocorrência no outro lado do mundo. Ou então discar-se o telefone e imediatamente entrar-se em contato com as mais longínquas partes da Terra. Mas ao mesmo tempo em que vivemos esse avanço tecnológico igualmente assistimos ao total empobrecimento das relações interpessoais. Isso faz que não seja desprezível o fato de um número cada vez maior de pessoas se queixarem de solidão. (Angerami-Camon, 1990, p. 7)

Cabe explicar que Angerami-Camon não está sendo contra os avanços da tecnologia, mas, nos alerta sobre como os meios de comunicação interferem na solidão. Eles influenciam nossos relacionamentos cada vez mais, tornando-os inseguros, "pobres frágeis", "líquidos" (Bauman, 2004).

No mundo atual deparamos com diversos casais que "fazem confidências um ao outro em frente às câmeras de televisão". (Balint apud Costa, 1998) Os relacionamentos não têm o mesmo valor, a mesma importância que nos tempos passados. Mesmo porque as infidelidades conjugais são inúmeras e a "permissividade rouba o lugar da paixão que é o motor mais potente". (ibidem, p. 134)

Costa (1998) afirma que nos relacionamentos amorosos atuais, mais que em qualquer outra situação, é preciso reconstruir o próprio eu, a si mesmo e não contar com as garantias que o amor ou outro possa trazer no amanhã.

Bauman (2001) enfatiza que hoje os meios de comunicação (como internet através de e-mails, bate-papo celulares mensagens de textos, a mídia televisiva) de um modo geral, tem tido grandes influência na vida dos casais que compõem a sociedade moderna. No entanto, as relações estão mais flexíveis, expostas às interferências da mídia, podendo-se cada vez mais ser acometidas por inseguranças e sentimentos de solidão e, sendo assim, interferir no rompimento do casal.

As relações terminam tão rápido quanto começam. As pessoas tentam terminar com um problema cortando seus vínculos, mas o que fazem mesmo é criar problemas em cima de problemas. O sofrimento e a solidão são problemas para as pessoas. Nesta perspectiva, o sofrimento e a solidão podem ser considerados como um problema relevante. Os seres humanos estão sendo ensinados a não se apegarem a nada, para não se sentirem sozinhos.

O sentimento de solidão instala-se devido às flutuações amorosas contemporâneas e causa insegurança. Bauman (2004) observa que para as pessoas de hoje se sentirem seguras precisam ter sempre uma mão amiga, o socorro na aflição, o consolo na derrota e o aplauso na vitória e isso nem sempre aconteceria caso tivessem as mesmas pessoas ao seu lado.

No momento em que o outro não lhe dá a segurança que tanto precisa logo o mesmo é esquecido e substituído. No sentido contrário, os relacionamentos sólidos e fortes, conseguem identificar as influências para sobreviverem à solidão.

Na contemporaneidade os avanços tecnológicos são importantes para o desenvolvimento humano e social que, por sua vez, também contribuem para uma geração de relacionamentos insatisfatórios, sujeitos "líquidos", "frágeis", "inconstantes e "inseguros" em suas relações conjugais.

2.4.2 O Sentimento de Solidão nas Relações Amorosas Contemporâneas

A solidão é inerente a todo ser humano, Mas há um questionamento primário se existe solidão na relação conjugal. É isto que discutiremos.

Segundo Rúdio (1991) a solidão dentro do relacionamento amoroso é possível:

Podemos imaginar, por exemplo, o caso hipotético de um marido e sua mulher que, juntos, sentam-se à mesa para as refeições, conversam muitas vezes durante o dia e até dormem na mesma cama, etc. E apesar disso pode um deles ou os dois afirmar que vive em permanente solidão" (Rudio, 1991, p.13)

Para Sá e outros (2006) a solidão hoje é percebida de forma muito negativa, como um mal que a todo custo deve-se evitar. O sentimento de solidão percebido pelos casais contemporâneos, às vezes surge como forma de conhecimento e outras como penoso, insuportável e inadmissível. Já Moreira (2006), afirma que a solidão pode caracterizar-se pela ausência afetiva do outro e estar intimamente relacionada com a sensação de estar só. O outro pode até estar próximo, mas não haver aproximação psicológica. Há falta de vínculo e ligação emocional, neste caso.

Segundo May (1982) a solidão é um sentimento que aflige todo ser humano, pelo fato de que muitos não entendem este fenômeno que se caracteriza por um sentimento penoso e de desamparo associada ao vazio, insuportável para o homem na atualidade. É interessante observar que a sociedade contemporânea exerce um "certo poder" sobre o homem porque ele tem temor de ficar extremamente só, alienado.

É necessário observar que o que "caracteriza a solidão é a consciência que o indivíduo tem de estar sozinho, mas acompanhado de um sentimento penoso de desamparo e de uma carência premente de alguém que lhe possa dar apoio". (RÚDIO, 1991, p. 12)

Deixa claro o autor, portanto, que o sentimento de solidão que o homem e a mulher vivenciam, está ligado ao desamparo, por perceberem que estão sozinhos e consequentemente isso convoca a necessidade de estarem em companhia um do outro.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 DADOS DA PESQUISA

A presente monografia apresenta o tema solidão nas relações amorosas da contemporaneidade. O assunto foi investigado através de pesquisa bibliográfica, esclarecendo, interrogando, dialogando com os autores de forma exploratória, bem como consultados livros, revistas, sites de pesquisa científica. O método utilizado também foi a pesquisa de campo referente à experiência qualitativa do assunto abordado.

O trabalho de campo foi realizado na cidade de Petrópolis. A população alvo foi: seis pessoas casadas, sendo quatro mulheres e dois homens. Dados referentes aos entrevistados: Entrevistada "A" " brasileira. 39 anos. Casada a 19 anos. Petropolitana" Entrevistado "B" " brasileiro. 34 anos. Casado a 9 anos. Petropolitano" Entrevistada "C" "brasileira. 37 anos. Casada a 13 anos. Petropolitana" Entrevistado "D" " brasileiro. 55 anos. Casado a 30 anos. Petropolitano" Entrevistada "E" "brasileira. 33 anos. Casada a 7 anos. Petropolitana". Entrevistada "F" "brasileira. 25 anos. Casada a 2 anos. Petropolitana"

3.2 INSTRUMENTO E COLETA DE DADOS

O instrumento utilizado nesta pesquisa foi a entrevista semiestruturada (Anexo I). As perguntas foram elaboradas de maneira a corresponderem ao problema e objetivos da pesquisa.

3.3 RESULTADOS OBTIDOS

As entrevistas realizadas forneceram-nos os dados que transcrevemos a seguir:

  • 1) O que é solidão para você?

Entrevistada "A" – "Solidão para mim é interior no íntimo do seu ser, as vezes você sente solidão junto com pessoas"

Entrevistado "B" - "Solidão – acho que é não depender de ninguém, se isolar".

Entrevistada "C" - "Solidão é ser um só, estar sozinho não ter ninguém com quem contar, muitas vezes me sinto sozinha".

Entrevistado "D" - "Solidão é sentir-se só, não é estar só".

Entrevistada "E" - "Solidão é sentimento de estar sozinho, isolado".

Entrevistada "F" - "Solidão é exclusão é índice do aumento de suicídio, é não ter amor e não ser amado".

  • 2) Você vê a solidão como positiva ou negativa? Por quê:

Entrevistada "A"- "Sozinho sentimento não é positivo, mas estar sozinho é bom, momentos sozinhos refrescam a cabeça".

Entrevistado "B" -"Sempre negativo, é depressão ausência de si mesmo".

Entrevistada "C" - "Às vezes positiva e negativa. Às vezes você tem dificuldades de ficar só, às vezes você quer um companheiro e não tem".

Entrevistado "D"- "Negativo. O ser humano não foi criado para estar só".

Entrevistada "E "-"Negativo. Porque traz um sentimento de tristeza, ninguém gosta de ficar sozinho".

Entrevistada "F"- "Depende. Solidão para refletir é boa, mas ruim da solidão quando é para se esconder das pessoas".

  • 3) Você acha que existe solidão a dois? Fale um pouco sobre isso.

Entrevistada "A"- "Muitas vezes sentimento de estar sozinha".

Entrevistado "B"-"Existe com certeza. Um casamento sem amor, só atração, falta de diálogo entre os dois".

Entrevistada "C"-"Existe e é a pior solidão que se tem. Você sabe que está só sem a presença dele. Mas às vezes, se sente só com a pessoa ao seu lado. Solidão do afeto. A falta de carinho de atenção ou você se acostuma ou sofre. Eu sou romântica e por isso sofro muito".

Entrevistado "D"- "Existe. O sexo não acaba com a solidão. É a falta de diálogo".

Entrevistada "E" -"Sim. Aqueles que não têm um relacionamento de troca de interação aí a pessoa pode se sentir sozinha".

Entrevistada "F"- "Existe. Solidão a dois. Pontos de vista diferentes, contrários, você tem conflitos de opiniões. Vem o silêncio e a solidão a dois".

  • 4) Que fatores da atualidade contribuem para a solidão conjugal?

Entrevistada "A"-"Trabalho contribui para a solidão, falta de tempo para o outro"

Entrevistado "B"- "Televisão, destrói a família".

Entrevistada "C" -"Internet e mania de trabalho, a pessoa está em casa sempre procura fazer alguma coisa".

Entrevistado "D" "televisão e internet"

Entrevistada "E"- "O trabalho, individualidade e a televisão e a gente vai se fechando".

Entrevistada "F"- "1º O financeiro. 2º a falta de fé 3º visão contrária".

5) Você acha que os meios de comunicação( internet, TV) colaboram para a solidão conjugal? De que maneira:

Entrevistada "A" "Muito. Muitas vezes você perde tempo com essas coisas e deixa o outro de lado".

Entrevistado "B" "Atrapalha e contribui para a solidão do casal. É um refúgio".

Entrevistada "C" "Colaboram. Eu a TV e ele a Internet. Interferem na solidão. Dói".

Entrevistado "D" "Totalmente".

Entrevistada "E" "Sim. Pois separa uma da outra. A pessoa fica presa e acaba tendo um relacionamento virtual".

Entrevistada "F" "Colabora. A pessoa doa o seu tempo para a internet. Desperdiçando o seu tempo podendo ficar com o outro. O diálogo é importante para o conhecimento, o desconhecimento causa solidão a dois".

6) Você acha que a falta de companheirismo contribui para o isolamento do casal? Por quê?

Entrevistada "A" "Muitas vezes sim. Quando não tem companheirismo cada um tem um sentido de viver isoladamente".

Entrevistado "B" "Contribui porque se não tem companheirismo, não tem como desabafar, compartilhar, e ai se isolam por falta de atenção".

Entrevistada "C" "O companheirismo é tudo. Quantos casais andam lado a lado e todas as situações. E você não tem companheirismo isso isola o casal um do outro".

Entrevistado "D" "Sim. Porque o casal tem que ser companheiro, depois do diálogo tudo se resolve e não há diálogo não há companheirismo".

Entrevistada "E" "Sim. Um tem que ouvir o outro, o certo é o diálogo, pois um acaba se isolando."

Entrevistada "F" "Cúmplice e companheiro. Nasce a dificuldade e só desta forma supera obstáculos".

7) Que consequências a solidão pode trazer para a vida conjugal?

Entrevistada "A" "Solidão no casamento é separação uma vida sem sentido".

Entrevistado "B" "Separação"

Entrevistada "C" "O fim do casamento. Muito. Para isso principalmente quando se um pelo menos não tenta dialogar e tenta mudar. Aí é o fim".

Entrevistado "D" "A separação".

Entrevistada "E" "A separação. Falta de diálogo pois os dois acabam se isolando".

Entrevistada "F" "desaba tudo. Você passa a não mais conhecer o outro e passa só estar ao lado".

8) Como você acha que o casal lida com a solidão?

Entrevistada "A" "Não deixar ela acontecer"

Entrevistado "B" "É difícil lidar com a solidão. Chama o outro pra conversar, fazer alguma coisa que sai da solidão".

Entrevistada "C" "Sofre, pena, chora, espera uma solução. Mas se ela não vem eu falo e abro o jogo".

Entrevistado "D" "Cada um vivendo o seu mundo sem saber o que o companheiro está passando. No diálogo se supera a solidão".

Entrevistada "E" "Mantendo uma relação calma. E estar juntos consegue lidar com a solidão".

Entrevistada "F" "Sentar. Olho no olho, olhos nos olhos e falar do sentimento. Preciso mais do sentimento do coração do que do sexo".

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Diante dos resultados aqui apresentados o que foi relatado pelos entrevistados que a solidão é vista de uma maneira que quase todos ao definirem, que as respostas estão relacionadas ao isolamento. Segundo Rúdio (1991) é o estar só, separado, de outras pessoas. Mas nas palavras de dois entrevistados definiram. O que é solidão. Entrevistado "A" "Solidão para mim é interior no íntimo do seu ser, às vezes você sente solidão junto com pessoas" e o "D" "Solidão é sentir-se só, não é estar só". Estas também são as ideias centrais do que é solidão de acordo com o autor no qual diz: que "solidão é solidão" afirma que difere do isolamento na sua maneira de se manifestar, em outras palavras é o sentimento pelo qual o ser humano encontra-se constantemente só, mesmo com alguém em seu entorno. É um sentimento significativo no homem contemporâneo. "a solidão no sentido estrito não visa diretamente o relacionamento com outras pessoas, mas a experiência interior de abandono". (RUDIO, 1991, p. 12).

Verificaram-se também como as pessoas casadas percebem este sentimento, e pudemos constatar que a solidão foi vista em geral de forma negativa. Conforme Rúdio (1991) é de extrema importância destacar que a solidão não é um mal que não se pode vencer. De fato para que uma pessoa possa olhar para a solidão de forma positiva, precisa ir ao encontro do outro, mas não num curto relacionamento, em companhia de alguém para "que o outro seja capaz de acolher e de entender o que se passa com quem o procura". Mas no entrevistado "C" podemos ver uma oscilação: "Às vezes positiva e negativa. Às vezes você tem dificuldade de ficar só, às vezes você quer um companheiro e não tem". O entrevistado "F" afirmou: "Depende. Solidão para refletir é boa, mas ruim da solidão quando é para se esconder das pessoas" nesta afirmação se vê o lado bom, positivo da solidão. Dolto (1998) refere-se à solidão feliz nos recantos de uma natureza encantadora, lugares em que o refúgio é de encontro, ainda que solitário. O homem pode se encontrar e encontrar-se em lugares de paz e alegria no coração, sem ouvir sussurros de quaisquer vozes humanas.

Foi identificado nos relatos dos entrevistados que todos disseram que existe solidão a dois. É importante destacar a profundidade da resposta do entrevistado "C". "Existe e é a pior solidão que se tem. Você sabe que está só sem a presença dele. Mas às vezes, se sente só com a pessoa ao seu lado. Solidão do afeto. A falta de carinho de atenção ou você se acostuma ou sofre. Eu sou romântica e por isso sofro muito".

Rúdio (1991, p.13) afirma esta dimensão: "Mas, quanto à solidão, só a companhia de alguém não é suficiente para vencê-la. De fato, a experiência nos prova que uma pessoa pode estar em relacionamento constante com outras, e, no entanto, sentir-se profundamente sozinha".

Outros aspectos relevantes para este estudo foram os meios de comunicação, (TV e internet). Os entrevistados relataram que são fatores da atualidade que influenciam na vida do casal, interferem e colaboram para a solidão. Disseram que a jornada de trabalho e a individualidade atrapalham a vivência conjugal. Observa-se nas palavras dos entrevistados. Entrevistada "A" "Trabalho contribui para a solidão, falta de tempo para o outro". Entrevistada "E" "O trabalho, individualidade e a televisão e a gente vai se fechando" E a entrevistada "F" relatou diferentemente dos demais como fatores desencadeadores da solidão. "1º O financeiro. 2º a falta de fé 3º visão contrária". Referindo-se a esses fatores realmente todos contribuem para sentimento de solidão e a falta de diálogo do casal. Angerami-Camon (1990) nos diz que no mundo de hoje há um avanço considerável na tecnologia e percebe-se que a comunicação como televisão a internet, são grandes desenvolvimentos tecnológicos, mas que esses avanços nos faz assistir um total afastamentos das pessoas, um empobrecimento nas relações amorosas, a busca por relacionamento cada vez mais virtual que evite um contato como o outro. "Isso faz que não seja desprezível o fato de um número cada vez maior de pessoas se queixarem de solidão. (ibidem, 1990, p. 7).

Em síntese pode-se confirmar que a falta de companheirismo é um fator importante na vida conjugal que contribui para o isolamento do casal. Que se não existe é impossível ter diálogo como relata o entrevistado "D" "Sim. Porque o casal tem que ser companheiro, depois do diálogo tudo se resolve e não há diálogo não há companheirismo" o outro "A" Muitas vezes sim. "Quando não tem companheirismo cada um tem um sentido de viver isoladamente". E o "C" "O companheirismo é tudo. Quantos casais andam lado a lado em todas as situações. E você não tem companheirismo isso isola o casal um do outro". Segundo Costa (1998) A atração afetiva, corresponde o modo de ser do outro, o jeito, o comportamento, as atitudes, as formas de se apresentar de comunicar com os demais, a ternura, o carinho, o companheirismo. Pois, a falta de companheirismo contribui para o isolamento e rompimento do casal.

"Se você investe numa relação, o lucro esperado é a segurança proximidade da mão amiga quando você mais precisa dela, o socorro na aflição, a companhia na solidão, o apoio para sair de uma dificuldade, o consolo na derrota e os aplausos na vitória. ( Bauman, 2004, p. 29) esta afirmação retrata bem o sentido que o companheirismo e a sua importância tem para a relação conjugal.

Interessante destacar que existe consequência nas relações acometidas pelo sentimento de solidão, que os entrevistados disseram ser a separação. Todos responderam de forma imediata. Observamos então nos relatos. Entrevistada "A" "Solidão no casamento é separação". Entrevistado "B" "Separação" Entrevistada "C" "O fim do casamento". Entrevistado "D" "A separação". Entrevistada "E" "A separação. Entrevistada "F" "desaba tudo". Cabe ressaltar que nenhum deles pensou para responder, ou seja, como diz May (1982, p.23). "A solidão é uma ameaça não violenta e penosa para muitos que não possuem a concepção dos valores positivos do isolamento a até se assustam com a possibilidade de ficar sós se a pessoa não procurar com o outro maneiras de lidar com a solidão, realmente a relação pode chegar ao fim. Mas quando foi questionada como o casal lida com a solidão? Eles procuram pensar melhor e antes tudo ter o diálogo, procurar não deixar que ela aconteça. Segundo o entrevistado "B" disse que lidar com a solidão é difícil. Talvez seja , mas fácil não é lutar contra ela, não procurar vencê-la, mas romper com a relação seja um caminho mais fácil pra sair da solidão a dois.

Segundo Angerami-Camon (1990) Pois, solidão não é fácil, entrar em contato com este estado é tarefa árdua, mas deve-se buscar um significado e compreensão acerca deste sentimento único que cada ser humano há de experimentar em sua própria trajetória existencial. Contudo, a de se perceber que a solidão nos faz encontrar sentido para a vida que "também se percebe que está aí a grandeza e a beleza da condição humana". (p.15)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto este trabalho considerou que o sentimento de solidão é a condição de todo ser humano, independentemente, se são homens e/ou mulheres. Solidão é um sentimento que defere de isolamento. Pois, solidão é sentir-se só permanentemente e o isolamento é o indivíduo estar sozinho isolado.

Na pesquisa destacou-se que as relações amorosas da contemporaneidade dependem do amor verdadeiro e fiel dos cônjuges perante as influências que desencadeiam a solidão nas relações, marido e mulher, ressaltando que essas relações, necessariamente, pressupõem as bases do amor romântico.

Seja interessante apontar os resultados que não foram objetivados durante a pesquisa, como a solidão a dois, pois ela existe, embora esclarecido de maneira diferente pelos entrevistados. "é a pior solidão que existe".

O amor romântico foi caracterizado na pesquisa como indispensável. Sem ele somos "amputados de nossa melhor parte". Isso contradiz as ideias da contemporaneidade que as relações conjugais são frouxas e instáveis, conforme argumentado por Sygmunt Bauman.

Se as relações amorosas na atualidade podem manter-se, tiver durabilidade e forem motivadas pelo amor e companheirismo, nossos dados também revelaram que a falta contribui para o isolamento e o rompimento do casal.

Podemos definir que as relações amorosas do mundo atual são afetadas por fatores como a televisão, internet, a intensa jornada de trabalho, a falta de companheirismo, que aumentam o sentimento de solidão e o isolamento do casal.

Percebemos no trabalho que os casais veem a solidão de maneira negativa, como um mal do qual se deve fugir. Mas, coincidentemente com o trabalho de Dolto (1991) e Angerami-Camon (1990), duas das seis pessoas disseram que a solidão pode ser também positiva, quando permite o voltar-se para si mesmo, o autoconhecimento e a reflexão.

Finalmente, é importante frisar que este trabalho foi gratificante e motivador. Diante da dificuldade que foi fazer consultas bibliográficas, espera-se que novas pesquisas sejam realizadas para aprofundar o tema e gerar subsídios para o trabalho terapêutico daqueles que se sentem sozinhos nas relações amorosas contemporâneas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto. Solidão: a ausência do outro. São Paulo: Pioneira, 1990. (Coleção novos umbrais)

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

________________. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

BÍBLIA. I Coríntios. Bíblia Sagrada. Revisada por Frei João José Pedreira de Castro, O.F.M., e pela equipe auxiliar da editora. Ave Maria, 2000. I Cor. 13, 4-7.

COSTA, Jurandir Freire. Sem fraude nem favor: Estudos sobre o amor romântico. Rio de janeiro: Rocco, 1998.

DIAS, Victor, R. C. S Vínculo Conjugal na Análise Psicodramática, diagnóstico estrutural do casamento. Ágora, São Paulo, 2000.

DOLTO, Françoise. Solidão. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 502 pág.

FRANKL, Viktor E. A presença Ignorada de Deus. Petrópolis, Vozes, 2006.

LESSA, J Trechos do livro: Solidão e liberdade. Disponível em: acesso em 15/02/2010.

MAY, Rollo. O homem a procura de si mesmo. Tradução de Áurea Brito Weissenberg. 9ª ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 1982. 230 p. (coleção Psicanálise, II)

NERI, M.C. Sexo, casamento e economia. Rio de Janeiro: FGV/IBRE/CPS, 2005.

Psicologia: Ciência e profissão/Conselho Federal de Psicologia - v.1, n.1 (1981). Brasília, CFP, 1981 vl 2 2002. Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações.

RÚDIO, Franz Victor. Compreensão humana e ajuda ao outro. Petrópolis. Vozes, 1991.

SA, R. N; MATTAR, M; RODRIGUES, J.T- Solidão e relações afetivas na era da técnica, in Rev. Dep. Psicol. UFF, Niterói, v 18, n. 2, 2006. Disponível em: acesso 19/09/09.

XAUSA, Izar Aparecida de Moraes. A Psicologia do sentido da vida. Petrópolis, Vozes, 1986.

ANEXO

ENTREVISTA

As perguntas da pesquisa:

1) O que é solidão para você?

2) Você vê a solidão como positiva ou negativa? Por quê:

3) Você acha que existe solidão a dois? Fale um pouco sobre isso.

4) Que fatores da atualidade contribuem para a solidão conjugal?

5) Você acha que os meios de comunicação (internet, TV) colaboram para a solidão conjugal? De que maneira:

6) Que consequências a solidão pode trazer para a vida conjugal?

7) Que consequências a solidão pode trazer para a vida conjugal?

8) Como você acha que o casal lida com a solidão?

 

Autor:

Rodrigo Osório Dos Santos

rodrigo.vivian[arroba]yahoo.com.br

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

PETRÓPOLIS

2010

Monografia apresentada ao Centro de Ciências da Saúde da Universidade Católica de Petrópolis como requisito para a conclusão do Curso de Psicologia.

Orientador: Maria de Lurdes Costa Domingos



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.