INTRODUÇAO
As instituições modernas se caracterizam por estarem desenhadas sob o modelo organizacional mecanicista. A estrutura burocrática, a hierarquia, o caráter instrumental do indivíduo, a separação da organização em partes, o caráter funcionalista da relação entre as partes e a adequação de meios a fins, fazem parte de uma forma de pensamento que tem a sua inspiração na racionalidade cartesiana e efetiva sua expressão na organização burocrático-mecanicista.
A estrutura burocrático-mecanicista apresenta uma série de características que se mostram inadequadas para os tempos atuais, tal como a falta de flexibilidade e de adaptação a ambientes mutáveis. Por outro lado, esse tipo de estrutura revela-se imprópria para lidar com as fontes da motivação do homem, causa pela qual tem surgido ampla série de propostas na área motivacional ao longo do século, inspiradas em teorias de corte humanista, com vistas a incentivar o homem no trabalho. Os resultados, porém, têm estado longe das expectativas.
Paralelamente, a Sociedade Moderna encontra-se inserida em sistema econômico racional, baseado no comportamento individualista do homem, que determina e modela as instituições sociais, tendo como resultado alto grau de conforto material e de progresso tecnológico, mas onde os termos de igualdade e solidariedade não estão incorporados adequadamente à realidade quotidiana. Isso conduz a um crescimento econômico permanente em nível mundial, sem tomar em conta a sua inviabilidade a longo prazo, devido a fatores como a marginalização de setores importantes da população, a desigual distribuição da renda, o esgotamento de recursos, o fluxo instável de capitais especulativos, a alienação do indivíduo e a poluição do meio ambiente.
Tanto a estrutura burocrático-mecanicista quanto o sistema de mercado surgem da análise racional da realidade. A razão, símbolo por excelência da Idade Moderna, tem reduzido a análise da Sociedade e do Homem ao nível de sistemas mecânicos. O paradigma racional enxerga a realidade como uma grande máquina, esquecendo uma série de fatores relacionados à natureza orgânica dela. Todos os sistemas são tratados como máquinas: os elementos que a compõem são separados, analisados separadamente e depois sintetizados, sem estabelecer alguma diferença entre o conjunto de elementos funcionando separadamente e o sistema formado pelos elementos integrantes do sistema agindo em conjunto, com propriedades adicionais.
Consideramos que existe a possibilidade de enxergar a realidade organizacional e a Sociedade de um ponto de vista diferente. Partimos do princípio de que as organizações, as instituições sociais e a sociedade podem ser vistas como uma grande teia de relações justapostas, com propriedades próprias além da análise dos elementos feita separadamente, em que a metáfora a usar não seja a máquina, baseada na razão, mas a rede, baseada na consciência do homem, pudendo dar origem ao que denominaremos de Estrutura Orgânica. Nesse intuito vamos explorar o paradigma orgânico como parte da metáfora que consideramos pode ser implementada em nível organizacional e social.
Adicionalmente, consideramos necessário explorar outras dimensões da realidade humana diferentes da racional, para levar a cabo nosso verdadeiro objetivo: a implementação de um tipo de organização que use a metáfora orgânica como inspiração. Para isso, devemos apelar a vários fatores organizacionais relacionados com a própria natureza do ser humano, do ambiente e dos fatores que influenciam o comportamento humano, tais como a consciência, a solidariedade e o Amor.
Não deixa de ser paradoxal que devamos usar argumentos racionais, através do uso da palavra escrita neste estudo, para tentar transmitir idéias e conceitos diferentes da razão. O Amor, a consciência, a emoção e outras dimensões não racionais, só as poderemos explicar aqui em termos da razão mediante o uso da palavra escrita, com base no que elas projetam na dimensão racional, mesmo que aceitemos que jamais poderemos explicar de forma pertinente essas facetas da experiência humana mediante termos racionais. Assim como o cubo só pode ser explicado em termos bidimensionais como um quadrado, graças a sua projeção nesse plano, da mesma forma só poderemos explicar os aspectos não racionais da vida em termos racionais, mediante a sua projeção no plano racional através da linguagem, aqui escrita, com as limitações que isso pode trazer. Assim, aceitamos a necessidade de usar a linguagem racional para explicar que existe outro tipo de linguagem que nos permitiria compreender melhor a dimensão humana. Mas, não deixa de ser contraditório perceber que devemos apelar para argumentos racionais a fim de mostrar que eles revelam-se limitados para entender outras dimensões da experiência humana.
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