O presente trabalho de conclusão de curso trata da importância de se desenvolver novas metodologias de ensino da Geografia como forma de envolver os alunos tornando-os críticos, contextualizados e produtores de conhecimento científico. Considerando a importância das novas linguagens e dos meios de comunicação na formação psicossocial dos alunos e no desenvolvendo de sua capacidade de percepção, contextualização e criação, propôs-se a utilização da música no ensino de conteúdos da Geografia. Por envolver tanto o campo visual (texto), o campo auditivo (melodia), o campo comunicativo (expressão de idéias), a música pode proporcionar raciocínio, contextualização, percepção, concentração desinibição, criatividade e aproximação da realidade do educando.
Considerando esses aspectos, foi realizada uma pesquisa empírica em uma escola estadual em Anápolis, numa turma do Ensino Médio, tendo como referência as seguintes etapas: a) apreciação de músicas de forma crítica, b) contextualização da música, levando em conta que esta é um produto cultural e histórico-geográfico, c) produção (composição e interpretação) de músicas que tinham relação com os conteúdos de Geografia. Para dar base científica à metodologia foram explanados conceitos importantes na análise das músicas dentro da geografia conceitos como o de natureza e o de cidade e urbano.
Em meio a tantos desafios no ensino atual, se tornam primordiais os estudos acerca de metodologias que possibilitem a inserção do aluno no processo de construção do saber, em meio a uma sociedade dinâmica e contrastante.
Diante de tais desafios, propusemos a pesquisa de uma metodologia de ensino, que utilizando a música, levasse os alunos a relacionarem as mensagens contidas nas músicas, aos conteúdos geográficos, motivando a produção musical. A música pode ser um instrumento de massificação de idéias e de difusão de valores e atitudes, e essas propriedades somadas a presença deste meio no cotidiano dos alunos, a torna um instrumento valioso no desenvolvimento de capacidades como contextualização, análise, expressão de idéias, produção de letras e músicas, construção de conhecimento e mudança de atitudes. Essa análise será feita no primeiro capítulo.
Para o desenvolvimento destas capacidades foi criada uma metodologia, apresentada no segundo capítulo, dividida em quatro fases: a apreciação musical (motivação), contextualização, produção musical e apresentação, que foram executadas na segunda série do ensino médio de uma escola pública estadual. Executada no mês de setembro de 2004, a atividade apresentou várias falhas, como pouca participação da maioria dos alunos e a impossibilidade da quarta fase (apresentação) ser executada. Mas obteve resultados muito importantes, mostrados e analisados nas considerações finais, como o desenvolvimento do senso crítico e a produção de três paródias e uma composição nova. Pôde-se constatar que quando não subestimamos a capacidade dos alunos e oferecemos subsídios sólidos para se desenvolverem ele surpreendem pela criatividade, especialmente se partimos do pressuposto de que, o que está presente na vida sócio-cultural deles, é a melhor forma de motivação, e a música é um exemplo disso.
Para termos uma base conceitual para o entendimento dos processos, fenômenos e relações implícitos nas músicas, fizemos um apanhado acerca de conceitos pertinentes aos temas expostos nas músicas dos alunos, como natureza, cidade e urbano, conceitos importantes na compreensão da realidade de nossa sociedade, e na produção de indivíduos atuantes na construção de atitudes que levem à mudança na atual concepção do papel do ser social em seu meio natural e cultural.
O mundo tem mudado muito. Nas últimas décadas houve o desenvolvimento de novas tecnologias fazendo com que a sociedade atual se baseie na informação que é cada mais dinâmica. Todavia, segundo Vieira (1995), a educação permanece essencialmente inalterada: continuamos a confundir um amontoado de fatos com o conhecimento; muitos professores insistindo em permanecer em posição frontal diante de suas classes, transmitindo seus poucos conhecimentos. Essa situação é, provavelmente, uma das principais responsáveis pelo baixo rendimento dos alunos e da falta de interesse destes pelo ensino.
Para reverter tal situação torna-se necessária a utilização de recursos de ensino que considerem as seguintes funções humanas: fisiológica (reações nervosas), psicológica (mecanismos sensoriais) e pedagógica (propriedades sensoriais dos recursos). De acordo com Vieira (1995), "os recursos de ensino servem para a exposição do professor, para o trabalho independente do aluno, para a busca, exercitação ou problematização. Servem ao professor, ao aluno, para aprender ou controlar o aprendido". Ainda segundo a mesma autora, do ponto de vista da teoria da comunicação, os recursos de ensino são o canal através do qual se transmitem as mensagens docentes e o sustento material das mensagens no contexto da aula".
O canal que liga o professor ao aluno ou os recursos de ensino utilizados pelo professor deve servir "para a exposição do professor, para o trabalho independente do aluno, para os seminários ou aulas práticas, para a busca, exercitação ou problematização" (VIEIRA, 1995). No momento em que este canal não realiza sua função de instrumento para a construção de conhecimento, ele pode vir a ser um subterfúgio para a desatenção e desinteresse do aluno.
Uma outra função dos recursos de ensino é a motivação, que pode ter ótimos resultados quando se utilizam os recursos certos nos momentos certos, e com uma adequada preparação por parte do professor. Dentre esses recursos, os visuais podem atingir maior êxito no aproveitamento dos mecanismos sensoriais, obtendo-se também maior retenção dos conhecimentos aprendidos, na memória. A junção dos recursos visuais com os recursos auditivos pode promover um aproveitamento e uma retenção de conhecimentos ainda maiores. Comênio citado por Vieira (op cit), expressava em seu oitavo fundamento na obra Didática Magna, que "(...) para aprender tudo com maior facilidade deve utilizar-se quanto mais sentido se possa (...) Por exemplo: devem ir juntos sempre os ouvidos com a vista e a língua com as mãos (...)".
Além das propriedades sensitivas que os recursos audiovisuais, podem proporcionar, devemos analisar um outro fator: a significação subjetiva dos estímulos usados como recurso. O estímulo é maior quando está relacionado às experiências, habilidades, preferências, imagens e sons que compõem o dia-dia do indivíduo. O aluno se interessará mais pelo que está costumado a ver, ouvir e sentir, tudo que envolve sua formação cultural dentro de seu meio social.
De acordo com Libâneo (2001), citado por Souza (2001), "é necessário valorizar a escola na sua função mediadora entre o aluno e o mundo da cultura, integrando racionalmente, o material/formal do ensino aos movimentos estruturados que visam a transformação da sociedade, com base na pedagogia crítico-social dos conteúdos culturais".
Entendendo cultura como "um patrimônio de conhecimentos e de competências, de instituições, de valores e de símbolos, constituído ao longo de gerações e característico de uma comunidade humana particular, definida de modo mais ou menos amplo e mais ou menos exclusivo", segundo Forquin (1993) citado por Cavalcante (2002, pg.72) e percebendo que o desenvolvimento desta cultura é condição para a estruturação de uma sociedade racional e voltada para o crescimento do ser humano, vemos como importante, a estruturação de uma pesquisa, que utilizando bases teóricas sólidas, possa contribuir para o enriquecimento do ensino de Geografia e a subseqüente formação de seres pensantes e contextualizados.
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