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A psicanálise na compreensão dos adolescentes da sociedade atual (página 2)


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Formam-se, então, nesse momento, dois grupos de doenças, sendo o primeiro relativo às com sintomatologia regular e que remetiam a lesões orgânicas identificáveis pela anatomia patológica e, o segundo, das neuroses, perturbações sem lesão e que a sintomatologia não apresentava regularidade desejada.

Charcot traz à tona o conceito de que a histeria não é uma simulação, mas sim uma doença funcional, com um conjunto definido de sintomas e na qual a simulação ocupava um papel desprezível.

Houve, em seguida, o que se pode chamar do estabelecimento do método catártico, que consiste em fazer o paciente remontar, por meio da hipnose, à pré-história psíquica da doença, para que se possa localizar o acontecimento psíquico que originou o distúrbio.

Pouco tempo depois, sabe-se que o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), denominado pai da Psicanálise, passou a usar a sugestão para chegar aos fatos traumáticos, eliminando os sintomas ou debilitando-os em sua força patogênica.

Freud lança, pois, uma noção fundamental na elaboração da teoria psicanalítica: a concepção de defesa, à qual ele só teve acesso ao abandonar a técnica da hipnose.

Ao solicitar aos pacientes que procurem se lembrar do fato traumático que poderia ter causado os sintomas, verificou que tanto a sua insistência quanto os esforços do paciente esbarravam em uma resistência destes a que as ideias patogênicas se tornassem conscientes.

Muitos outros teóricos importantes da Psicanálise surgiram a partir de então. Para citar alguns nomes principais, tem-se Wilfred Bion, Melanie Klein, Donald Winnicott, Jacques Lacan, Wilhelm Reich, entre outros, que merecem estudos detalhados e pesquisas mais abrangentes à luz de seus conceitos.

Em termos de metodologia, este trabalho consiste em um estudo de revisão bibliográfica, sendo que as fontes de informações foram artigos científicos advindos da base de dados Scielo, publicados nos últimos anos, na categoria de artigos e periódicos nacionais.

Segundo Gil (2001), as pesquisas dizem respeito, em linhas gerais, a mecanismos sistemáticos para construir conhecimentos, que demonstram como objetivos essenciais a geração de novos conhecimentos, a corroboração deles ou, finalmente, refutar certa ideia pré-existente.

Em sua base, trata-se então de um mecanismo de aprendizado, que ocorre tanto por parte do sujeito que a realiza ou da sociedade em que a pesquisa é desenvolvida, pois agrega conhecimentos de diversos pontos de vista.

Como tarefas consideradas como regulares, as pesquisas também podem ser definidas como o conjunto de atividades orientadas e planejados pela busca de um conhecimento específico, de modo amplo e organizado.

De acordo com Lakatos e Marconi (1991), tendo como ponto de partida um problema, toda pesquisa tem como objetivo encontrar respostas e sanar dúvidas que amplifiquem o conhecimento sobre determinado assunto.

Pode-se dizer, desse modo, que o presente trabalho tem seu foco voltado à aplicação dos resultados encontrados para solução de problemas. De acordo com o estudo em questão, foi utilizado o tipo de pesquisa caracterizado como exploratório a partir de referencial bibliográfico.

Além do objetivo de aprimoramento de ideias, os procedimentos consistiram também na descoberta de intuições do pesquisador ao longo da pesquisa como um todo.

1.1 CONTEXTUALIZAÇAO

Diante das transformações constantes advindas da modernidade, Bauman (2001) pontua que os homens e mulheres contemporâneos sentem-se como estranhos em seus próprios lugares, tendo em vista que a realidade social investida de sentidos é cada vez mais fluida e volátil. Seja singularmente ou no coletivo, os indivíduos se encontram em um constante processo de adequações ao meio em que vivem. De acordo com Ballone (2003, p 23):

"A organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de desempenhar o seu papel social." (BALLONE, 2003, p.23)

Para tanto, o advento da modernidade, por sua vez, também exigiu tais adequações, ensejando transformações de comportamentos e hábitos sociais, conforme as mudanças de preceitos.

Conforme Bauman (2001, p. 33), o sujeito impelido aos preceitos sociais nos quais está imerso, devido a atual fase da vida moderna, e considerando dado período como flexível, veloz e fluido, possibilita aos indivíduos caminharem cada vez mais soltos, num experimento de uma realidade diferente do contexto histórico passado, transitando entre uma profusão de grupos de referência e pequenas identidades, entendendo tal processo que se traduz em uma modernidade líquida.

Legitimando tal conceito, Bauman (1998, p. 98) discorre que, quanto mais o indivíduo percebe sua inserção no universo da dinâmica social moderna, se encaminhará no sentido de um funcionamento marcado por uma experiência fluida, em mudança e plenamente receptiva dos sentimentos pessoais diferenciados.

Comparando-se ambas – a realidade virtual e a real e consciente – compreende-se os argumentos que tornam a virtualidade tão atraente. A disposição e o alcance tecnológico, que tem como meio de disseminação a internet, promove certa extinção do espaço real, valorizando o virtual. Mais seguro, o mundo abstrato dissemina o desejo de atuação de atores sociais, cujos comportamentos, possivelmente, são diferentes em tais realidades.

A modernidade impulsionada por novas ordens, dentre elas uma avançada tecnologia computadorizada que preenche nossa lacuna subjetiva permutando livros por microcomputadores e, testemunhando a tudo isto, não temos a menor ideia onde vamos ancorar.

Certamente a modernidade, possibilitou o surgimento do indivíduo singular, capaz de construir sua própria realidade, tendo como referência seu alvedrio e alforriado do próprio menos tardio.

Assim, conforme Forbes (2005), a modernidade produziu a inversão dessa ordem temporal, apontando que é no porvindouro - e não no passado - o âmbito em que se deve esquadrinhar o entendimento de felicidade, objetando também o fim do sofrimento.

Bauman (1998, p. 45) sustenta que, a modernidade assinala os pilares dos preceitos de beleza e ordem, uma vez que, diante da subjetividade humana, está a condição natural de preservação da beleza, manutenção da ordem e observâncias do cotidiano. Diante disso, salienta-se a ideia de que os prazeres da vida civilizada trazem também os efeitos colaterais adversos como o mal-estar moderno, apontado por diversos autores.

Assim, o princípio do prazer diminui na medida do âmbito da realidade. De acordo com Bauman (1998, p. 66), o mal-estar da modernidade advém da ideia de segurança, limitando as fronteiras da liberdade tendo em vista a felicidade almejada.

Para tanto, é notável que a modernidade preconizasse a coletivização do sentido humano. Os sujeitos incidem em um mundo sob a ideia do "moderno", em que o espaço apresenta cernes sólidas e duráveis.

A modernidade demonstra ser ilusória quando entendida a partir da criação de sentidos para a existência de si. Para Lipovetsky (2004, p. 32) a modernidade nega o próprio passado e procura suas respostas no futuro. Por ora, Forbes (2005), discorre sobre o advento da globalização como ponto de transição entre a modernidade como um novo meio de organização social.

Assim, na modernidade os interstícios sociais mostram-se verticalmente, podendo ser referenciados adiante pelo contexto familiar, do trabalho e da pátria. Nesta nova ordem estão traçados os laços horizontais socializantes.

Diante deste cenário, o que impulsionou a passagem da modernidade para a pós-modernidade foi o consumo de massa e os valores hedonistas transmitidos por esta. Segundo o autor, os sujeitos pós-modernos trocaram as possibilidades de segurança por uma porção de venturas de algum modo imaginário (BAUMAN, 1998, p. 59).

Segundo Kehl (2002, p. 90), ao notar que os últimos anos do século XX precederam o declínio da era industrial e da ética do trabalho todo pelo sacrifício e prol do prazer, aponta que a nova economia tem gerado boa parcela de seus ganhos a partir da tecnologia da informação, da indústria virtual e também do consumo de artigos de luxo, serviços e lazer. Ainda, tal economia tem causado concentrações rápidas e grandes de riqueza.

Bauman (1998, p. 87) conceitua que o pós-modernismo é a fluência do tempo, denominando-o de líquido em sua obra. Estar em constante movimento nessa pós-modernidade indica não fazer parte de qualquer lugar, tendo como consequência não contar com a proteção de ninguém.

Entretanto, entende-se que a vida líquida também é um processo em movimento, não sendo possível, assim, permanecer em curso por um longo tempo. O envelhecimento e obsolescência de coisas acontecem de modo dinâmico antes de ser assimilado.

Forbes (2005, p. 56) advoga que, a pós-modernidade ultrapassou as características marcantes da modernidade, especialmente o individualismo e o tecnicismo. Entretanto, a hipermodernidade de Lipovetsky (2004) define que foram as incidências desses mesmos aspectos que replicaram seu alcance nas relações humanas.

A hipermodernidade reproduz movimentos que ora estão em direção da independência subjetiva e da moderação, ora da dependência e dos excessos (Lipovetsky, 2004, p. 33).

Ao mesmo tempo em que os sujeitos hipermodernos são mais bem informados também se mostram mais desestruturados, mais adultos e também mais instáveis, mais abertos e mais influentes, mais críticos e ao mesmo tempo em que parecem mais superficiais.

Propõe-se uma problemática focada nesse aspecto de atuações sociais – isto é, relações interpessoais entre os adolescentes focadas em uma realidade, seja virtual ou real – supondo que as influências do meio virtual exerça influência constante nas relações que são experimentadas no dia a dia dos indivíduos.

O uso anômalo ou obsessivo da internet como tema para este trabalho, indicia a necessidade do tema, enquanto assunto relativamente novo, necessitando de estudos mais aprofundados diante desta nova realidade promovida por um âmbito virtual, imaginário.

Assim, se, menos tardiamente, a forma mais eficiente de informar-se eram os impressos que circulavam em localidades limitadas, atualmente, a informação pode ser acessada de e em qualquer parte do mundo. Porém, nenhum trânsito de dados ou qualquer relação está imune de influências externas.

1.2 DELIMITAÇAO DO PROBLEMA

O eixo norteador para o embasamento desta proposta, encontra aporte no pensamento da psicanálise em prol da compreensão dos adolescentes nos tempos atuais. Para os autor dessa linha de pensamento, a cultura de si é tanto uma hermenêutica quanto um domínio.

As inferências de cunho espiritual, que compõem a figura de si, são indistintamente práticas de autodomínio e exercícios reflexivos de cuidado e de conhecimento de si.

Para o reconhecimento de pertencimento social, diante das habilidades requeridas no coletivo em relação aos sujeitos, uma compreensão autônoma do mundo só se tornaria possível para aqueles que pudessem compreender o processo de constituição de si próprios enquanto sujeitos integrados em uma sociedade.

1.3 JUSTIFICATIVA E ORIGINALIDADE

Este trabalho acadêmico pretende a avaliar as mudanças de comportamento em diversos níveis, embasando-se na compreensão dos adolescentes na sociedade atual sob a luz da psicanálise.

Porém, por ser um fenômeno relativamente recente, os estudos sobre a adolescência e as influências psicanalíticas apresentam-se escassos até o presente momento. Ainda, os trabalhos e artigos verificados como referenciais para esta proposta dão conta de apresentar novas e importantes percepções, sobre um tema que ainda é de difícil domínio e dimensionamento.

Um indivíduo consciente de sua existência no âmbito coletivo, está num processo constante de tornar-se, traduzindo tudo o que pensa em termos de processo. Então, a noção de si e o reconhecimento de uma identidade singular atrelada ao indivíduo, assinala os processos que este vivencia para a busca de si. Os meios virtuais, além de proporcionarem uma outra realidade, também exige dos sujeitos certa adequação, na busca pela satisfação própria, auxiliando os usuários nessa busca pelo reconhecimento de si no âmbito coletivo.

Em se tratando de uma nova categoria, empiricamente possível de ser verificada se pautada teoricamente, o domínio do virtual, reiterado pelo advento da internet, carece de um método que sintetize claramente as possíveis tendências sobre o tema. Embora diversos estudos e pesquisas tentem mensurar a evolução de tais dimensionamentos, o tema carece de instrumentos e métodos aplicáveis para tal avaliação.

Ao conceituar distintos períodos como pós-modernos, modernos ou hipermodernos, assinala-se a existência de diferentes formas de modulação de identidades. Os anseios humanos, conforme Freud (1997), pontua-se a integridade estrutural. A realidade é organizada por um eixo vertical das identificações (crianças se identificam com o pai, adultos com outros indivíduos no trabalho, em relações sociais, etc.).

Os padrões tidos como ideais orientam as ideias de satisfação, amor, trabalho, relações. Entende-se como sendo pré-determinismos de modelos. Para Forbes (2005), diante da globalização hipermoderna, comprimi-se o espaço-tempo horizontalizando, guiando as formas que dirigem o mundo à multiplicidade de modelos. As relações hipermodernas são influenciadas pelas culturas globais diversificadas e diferenciadas.

As referências são opostas aos modelos pós-modernos, pois são múltiplos, o que acaba invalidando muitos padrões. Romper o eixo vertical corresponde a uma desorientação da unidade (Forbes, 2005, p. 66).

Conforme Chemama (1993, p. 90), o prazer está atrelado ao desejo inconsciente, em uma experiência que vai além de qualquer consideração das emoções, sentimentos e emoções. A satisfação se opõe ao prazer, diminuindo as tensões do aparelho psíquico no nível mais baixo possível. O que está sempre promovendo a satisfação do instinto, simbolizando a satisfação real é o sintoma.

Para o autor, o sintoma é definido por Lacan, na década de 1950, a partir do simbólico, e depois de 1970 como do âmbito do real. O sintoma, portanto, seria a expressão de uma satisfação do desejo e da realização de um inconsciente que serve para realizar tal desejo. Segundo Quinet (2009), em Lacan o sintoma é o efeito do simbólico na realidade, sendo assim o sintoma o que as pessoas têm de mais real em si mesmas.

Lacan (2007, p. 52) divide em três aneis separados o que representa o real, o simbólico e o imaginário, associados por um quarto anel que trata do sintoma, lembrando que seu conceito indica que o pai e o complexo de Édipo freudiano também são sintomas.

Salienta-se que foi Lacan (2007, p. 77) quem projetou uma psicanálise além do Édipo, aprofundando-se em uma psicanálise capaz de englobar o homem cujo problema é não saber o que fazer, ou ter dificuldades em escolher entre os vários futuros que lhe são postos como possíveis.

O problema do sujeito não é mais escravo de seu passado, mas dada a escolha entre várias possibilidades para o futuro.

Em Cabas (2009, p. 88), o excesso de padrões e prazeres a serem satisfeitos tornou-se a regra. O sexo passou a ser considerado uma necessidade, assinalando a perda de desejo – referenciando o grande espaço ocupado desse aporte nos estudos de Freud (1997, p. 52).

Na psicanálise, atualmente, a causa desta nova economia está associada com o declínio da função paterna (Cabas, 2009), o que, possivelmente, postule a emergência de novos sintomas.

Em Melman (2003, p. 98), a depressão é uma das principais patologias prevalentes na atualidade. Para o autor, a depressão surge quando o indivíduo tem a sensação de não ter mais valor diante do outro.

A depressão é uma espécie de covardia, no sentido de que tal covardia é construída a partir de uma autoridade imaginária que define o seu grau de valorização e importância.

Forbes (2005, p. 44) discorre sobre a emergência de um novo pacto sócia. Se o mundo moderno teve sua existência apoiada na impotência de poder, a diferença do tempo hipermoderno é que o mundo se move a partir de uma posição de impotência sobre a realidade.

Para compreender essa nova existência, o mesmo autor enfatiza a necessidade de se pensar em uma terceira dimensão para além do imaginário e do simbólico.

A terceira dimensão, além da realidade simbólica da virtualidade e do imaginário, trata do real não captável, envolvido em um limite que só pode ser descoberto quando a própria existência deixa de ser guiada pela realidade cotidiana.

No sentido intersubjetivo, pode-se entender o imaginário como a introdução de algo ficcional, sendo a projeção imaginária em uma tela. Exemplo disso é o que Lacan (2007, p. 43) diz sobre relação a dois ser sempre mais ou menos marcada pelo imaginário, projetando a ideia de si na tela do outro.

Chemama (1993, p. 58) argumenta que o simbólico é uma função complexa que envolve toda a atividade humana, compreendendo uma parcela do consciente e do inconsciente, em geral, associada à função da linguagem.

A criatividade humana induz à criação de novos espaços e fronteiras. Entretanto, as relações amorosas virtuais são face de uma nova forma de impotência diante do que se acredita ser impossível.

Acredita-se que a sociedade hipermoderna pensa curar os sofrimentos da vida real através da eliminação de qualquer mal-estar e de toda a angústia de viver.

Não é por acaso que a depressão é a patologia predominante entre as doenças psíquicas entre o final do século XX e início do século XXI. A sociedade moderna detém a liberdade requerida por muito tempo, porém tanta autonomia incidiu em valores narcisistas, construindo pilares individuais através de novos modos de fruição e de alienação, orientados para o consumo.

De acordo com Del Prette (2006, p. 55), o desempenho social refere-se à emissão de um comportamento ou sequência de comportamentos em uma situação social qualquer.

Diferentemente, o termo habilidades sociais aplica-se à noção de existência de diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar com as demandas das situações interpessoais. A competência social tem sentido a avaliativo que remete aos efeitos do desempenho das habilidades nas situações vividas pelo indivíduo.

Trata-se de um tema que implica na constituição de conceitos individuais, estruturados a partir do que o indivíduo toma como experiências vividas. Diante do expostos, entende-se que as habilidades sociais são aprendidas e contemplam as dimensões pessoal, situacional e cultural (DEL PRETTE, 2006, p. 91).

2 A INFLUÊNCIA DA PSICANÁLISE NA CONTEMPORANEIDADE

2.1 PSICANÁLISE, SUBJETIVIDADE E CULTURA

Quando se fala acerca da psicanálise na sociedade atual, é importante partir do conceito de subjetividade, que não pode ser compreendido isoladamente da sociedade na qual o sujeito se desenvolve.

Os conceitos de sociedade, socialização, indivíduo, subjetividade instituições, cultura e civilização, embora distinguíveis, são interligados, interdependentes e indissociáveis da existência e do desenvolvimento humano, referindo-se ao mesmo estado de coisas, mas com perspectivas diferentes.

Subjetividade, este tema complexo, já foi pauta de inúmeros autores com as mais diversas concepções teóricas, nossa opção teórica é pela discussão dos autores da Escola de Frankfurt, contudo cabe esclarecer que estes autores não utilizam este termo, pelo menos na obras a que tivemos acesso.

Os termos continuamente utilizados por esses autores são indivíduo e individuação, que dizem respeito ao processo de compreensão da sociedade por parte do indivíduo e a partir disso de sua própria formação psíquica e social.

Assim, no decorrer do texto utilizaremos coerência teórica os conceitos e definições da Teoria Crítica da Sociedade. Antes, porém, algumas questões sobre subjetividade se fazem muito interessantes.

Na psicologia o termo subjetividade faz parte da constituição histórica do campo de conhecimento. Figueiredo e Santi (2000) abordam o conceito de subjetividade privatizada atrelando-o ao desenvolvimento social e como uma precondição para o aparecimento da psicologia no século XIX.

Para os autores alguns sentimentos de solidão e privacidade só podem ser experienciados em virtude de algumas características da sociedade na qual se encontra o indivíduo.

Assim, sem apoio da sociedade e de suas instituições, como a igreja, o homem não tem outra alternativa a não ser construir referências internas para apoiar seu fazer cotidiano.

Como consequência, o indivíduo desenvolverá sua reflexão moral tentando conciliar seus desejos pessoais com as exigências impostas pela sociedade na qual está inserido, que pode ser determinante na tomada de consciência que tem de sua própria existência.

Para Adorno, a sublimação dos impulsos dos indivíduos seria um ponto importante no desenvolvimento da cultura e da sociedade, já que as consciências individuais formariam a consciência coletiva.

Porém, adquirir consciência individual não significa progresso social, as transformações sociais exigem além do desenvolvimento individual o engajamento em ideários e projetos políticos.

Assim, a formação dos indivíduos está estreitamente vinculada as condições sociais e culturais em que este indivíduo vive.

Segundo Horkeimer e Adorno o conceito puro de indivíduo e de sociedade não existem já que ambos os conceitos não podem ser desvinculados.

Quando falamos em cultura temos a impressão de algo estritamente social que influencia a vida cotidiana dos indivíduos.

Cultura, este termo complexo, envolve características da vida humana, tais como: a sociedade, o indivíduo e as relações humanas e já foi analisado por diversos autores nas reflexões sobre cultura (Forquin, 1993 e Pérez Gómez, 1998).

Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado (Geertz, 1989, p.15).

Em que pese as diversas possibilidades de discussão acerca do conceito, optamos, por apresentar o conceito de cultura de acordo com os autores da Escola de Frankfurt e por Sigmund Freud, além aquele apresentado por Erik Erikson.

Para iniciar, é importante ressaltar o momento histórico em que foi produzido o conceito de cultura pela psicanálise e pela teoria crítica.

Freud publicou o texto Mal-estar na Civilização em 1930, época de grande agitação mundial, na qual as consequências da 1ª Guerra Mundial ainda se faziam presentes e o sentimento anti-semita influenciava as relações sociais.

Muitas das conceituações elaboradas por Freud foram permeáveis a este momento histórico e seus textos, especialmente os de análise social, refletem este período.

As observações sobre a vida interior do indivíduo, sob constante impacto da cultura e da sociedade, foram realizadas, por Erikson, também em um período particular da história recente da humanidade: os horrores da Segunda Guerra Mundial.

O autor argumenta que a divisão entre o mundo externo e o mundo interno, presente na teoria psicanalista, tem sua base na cisão entre o iluminismo individualista e a adesão a um Estado racista e totalitário (Erikson, 1998).

Segundo o autor, os teóricos da psicanálise conseguiram compreender que o treinamento cultural de uma criança não é só importante para o seu ciclo de vida particular, mas para todo o equilíbrio da sociedade, por sua vez, determinada por constantes modificações, sejam tecnológicas, sejam históricas.

Os sentimentos então manifestados no pós-guerra também influenciaram de certo modo a elaboração da teoria crítica da sociedade, formulada, em parte, nos Estados Unidos da América, no período do pós-guerra (2ª Guerra Mundial), momento em que foram evidenciadas a intensificação da barbárie e as atrocidades de um grande genocídio.

Mesmo com produções datadas historicamente, podemos encontrar na obra desses autores questões que não pereceram ao tempo.

Devido aos seus complexos conteúdos e reflexões sobre o indivíduo, relações humanas, formação e desenvolvimento se fazem atuais, porque a sociedade permanece tendo um papel fundamental na formação dos indivíduos e de suas subjetividades.

2.2 INDIVÍDUO, CULTURA E CIVILIZAÇAO

No texto Cultura e Civilização, Horkheimer e Adorno (1973) estabelecem uma distinção entre os conceitos de cultura e civilização: cultura possui uma conotação de cunho espiritual, enquanto que no conceito de civilização está subentendido o progresso material.

O conceito de civilização, para os autores, não se opõe simplesmente ao conceito de cultura, mas se refere a ele no âmbito geral da humanidade.

Os conceitos de cultura e civilização não se separam, antes eles devem ser tencionados em um movimento dialético do mundo exterior, hoje em dia fortemente administrado.

Para Adorno (1971) cultura, formação e educação são termos indissociáveis e estão intimamente ligados aos conceitos de indivíduo e de sociedade na qual se desenvolvem.

Cultura possui duas características fundamentais: a primeira é que não há cultura sem sociedade, bem como, não há sociedade sem cultura.

Como produto e produtora da vida real, cultura pode ser entendida, também, como o resultado da adaptação humana à sociedade, mas que exige disposição, interesse e reflexão do indivíduo.

A segunda característica, diz respeito ao intermédio realizado pela cultura entre a sociedade e a formação dos indivíduos.

Cultura não se estabelece desligada da sociedade e tampouco ocorre colocada unicamente em uma dada realidade, ela é também produto da experiência, da reflexão e atribuição de significados dos indivíduos à realidade objetiva.

Freud, por sua vez, define cultura como algo que deve servir para proteger o homem das intempéries da natureza e facilitar suas relações interpessoais, mas essa acomodação humana não é tranquila. Em seu texto O mal-estar na civilização,

Freud retrata a contradição entre indivíduo e sociedade, refletindo sobre a inconciliação entre os desejos do indivíduo e da cultura no processo de acomodação:

Para Freud, assim como para os frankfurtianos, na adaptação humana à sociedade está presente a renúncia do indivíduo à satisfação integral de seus desejos por exigência da realidade social, o que para o homem é fonte de grande sofrimento.

Na sociedade moderna, o domínio e a racionalização da natureza que se apoiam, antes de qualquer coisa, na tecnologia, assumiram um lugar de destaque na cultura.

Nesse sentido, as históricas necessidades humanas de domínio da natureza podem ser racionalmente satisfeitas, contudo, com o avanço tecnológico, são criados nos homens pseudonecessidades, o que pode propiciar uma adesão sem reflexão a uma cultura de consumo.

Tendo em vista a caracterização da sociedade atual, com seus apelos consumistas, claramente percebe-se aqui uma contradição entre formação cultural e sociedade, já que a primeira só seria possível em uma sociedade sem exploração, na qual o indivíduo desenvolveria sua consciência em uma sociedade racional, sendo livre em uma sociedade livre.

Na sociedade moderna, facilmente a formação cultural converte-se em pseudoformação, isto é, converte-se em uma falsa formação em relação àquela que potencialmente pode ser proporcionada.

A pseudoformação adquiriu nos dias de hoje uma ampla abrangência. Pseudonecessidades culturais são criadas, o que alimenta de forma bastante importante à indústria cultural.

Para constatar isso, vide os recordes de bilheteria atingidos pelos filmes norte-americanos que têm como base fatos culturais, como as grandes guerras ou nas edições reduzidas de importantes obras literárias e/ou científicas, que podem ser consumidas de forma simples e rápida, não exigindo muitas elaborações e reflexões por parte dos indivíduos, no máximo despertando o desejo de consumo por obras de igual teor.

Assim, em nome de uma formação cultural, aspectos da cultura são falsamente compreendidos, constituindo-se em inimigos mortais da formação, pois não focalizam a totalidade cultural e adulteram a consciência, geram superstições e impedem a experiência e reflexão do indivíduo.

A pseudoformação transforma, pois, a cultura em uma pseudocultura reduzindo-a em bens de consumo. Não é raro percebermos esse consumo desenfreado dos bens culturais nas "obras de arte", filmes, livros, composições musicais, entre outros.

Atualmente, o consumo também se transfere para a busca de cursos e especializações nas quais os indivíduos encontram a pseudoformação com a ilusão de inserção e permanência no mercado de trabalho, o que significa, em última análise, a manutenção da sua sobrevivência.

A socialização deve ser entendida como um elemento fundamental do desenvolvimento humano, uma vez que homem e sociedade, embora distinguíveis, são inseparáveis, não existe homem sem sociedade e sociedade nada mais é do que a principal produção humana.

Para Horkheimer e Adorno (1973) a socialização foi "concebida na base da divisão do trabalho como meio para satisfazer as necessidades materiais de uma comunidade".

A convivência entre os homens possibilitaria a cada indivíduo ser útil para si, para os outros e para o desenvolvimento da sociedade. Para os autores os conceitos puros de sociedade e de indivíduo são abstratos:

Desse modo, a vida de cada um depende da convivência com outros homens, que adquire sentido em condições sociais específicas.

O conceito de indivíduo não pode ser entendido como algo fechado e auto-suficiente, já que é na sociedade que o indivíduo encontra o conteúdo para a elaboração da realidade e de sua subjetividade.

Em sua constituição a socialização humana é mediada, objetivada e institucionalizada determinando o homem em seu processo de individuação.

Em síntese, a socialização pode ser entendida como um processo cuja resultante é a formação do indivíduo.

O processo de socialização pode se caracterizar, também, por uma adaptação, não sem sofrimento, do indivíduo ao mecanismo social, necessária para a sobrevivência humana.

Esta adaptação, pois, acaba por propiciar uma contradição na formação do indivíduo, na qual pode ocorrer a adesão do indivíduo à sociedade sem a necessária reflexão, ou então, o desenvolvimento da autonomia reflexiva, imbuída da compreensão do papel desempenhado pelo indivíduo na sociedade e suas possibilidades de emancipação.

Em última instância, compreende-se que há o surgimento de um indivíduo livre, reflexivo e autônomo é indissociável de uma socialização promovida por uma sociedade livre e justa.

Freud (1997), em Mal-estar na civilização, aponta que o sofrimento que nos ameaça pode vir de três direções: do nosso próprio corpo que está condenado à decadência; da ameaça de aniquilamento pelo mundo externo; e das relações estabelecidas com outros homens.

Para o autor, a terceira ameaça pode ser a mais penosa, já que o indivíduo só se reconhece como tal a partir da convivência com outros; convivência marcada pela obrigatoriedade do cumprimento de normas sociais e pela renuncia ou repressão de desejos.

Desse modo, é válido concluir que para Freud (1997), o insucesso de prevenir-se contra o sofrimento, decorrente dos regulamentos, já determina uma parcela da constituição psíquica.

Por sua vez, a sociedade, como modo regulamentar da vida entre os indivíduos deve servir a dois objetivos: "o de proteger o homem contra a natureza e o de ajustar seus relacionamentos mútuos" (Freud, 1997).

Como não cumpre as promessas de proteção e felicidade as quais se propôs, a sociedade deve ser responsabilizada por uma ampla parcela de sofrimento humano.

A contradição, aqui, consiste em fomentar formas de aniquilamento do indivíduo, seja pela realização de desejos psíquicos e a quebra dos padrões e normas sociais, ou seja pela aceitação e submissão de condutas sociais e pela repressão do desejo.

2.3 A PSICANÁLISE E O MECANISMO DAS NEUROSES

Para Freud a base do mecanismo das neuroses está na frustração que a sociedade impõe ao indivíduo em nome dos ideais comuns.

A sociedade impõe ao homem muitos sacrifícios, além das renúncias aos desejos sexuais, ao exigir que o indivíduo se relacione com uma quantidade razoável de outros indivíduos por meio do trabalho e que compartilhe de interesses comuns, ainda que tais relacionamentos sejam contra a sua vontade.

Do esforço para o convívio social emerge o estabelecimento de limites para as pulsões agressivas do homem.

O domínio da agressão pelo indivíduo é efetuado por meio do sentimento de culpa que surge não apenas quando este fez alguma coisa má, mas também quando identifica sua intenção de fazê-la.

Freud destaca que uma coisa má não é necessariamente ruim, "mau é tudo aquilo que, com a perda do amor, nos faz sentir ameaçados" (Freud, 1997), originando assim ansiedades.

Os indivíduos manifestam, pois, esse sofrimento particularmente em contato com figuras de autoridade – por sua vez, pai, mãe, patrão - ligadas às instituições sociais.

As instituições sociais, das quais fazem parte intrínseca a família, escola e prisão permitem ao indivíduo o conhecimento objetivo da realidade na qual está inserido.

O papel da família e o vínculo materno são, pois, tidos por muitos autores como dois fatores importantes à socialização dos indivíduos e à manutenção da cultura.

O desenvolvimento da cultura, para Erikson, está pautado, especialmente, na relação adulto-criança, na qual se dá a transmissão de cultura e a instrumentalização do indivíduo para o processo de socialização.

Para a psicanálise, a família é o locus privilegiado do desenvolvimento e estruturação da personalidade, possuindo primordial responsabilidade no processo de socialização, individuação e formação de seus membros.

Na família, a criança começa a realizar as identificações primárias que terão fundamental importância no seu desenvolvimento egóico, por meio das quais integra fragmentos destas identificações e expectativas de sua cultura, sendo as experiências familiares essenciais na formação do ego das crianças.

O ego, chamado por Freud de "criatura de fronteira", tem que ser o conciliador de três forças na personalidade do indivíduo: as exigências do mundo social, o desejo libidinal do id e a censura realizada pelo superego.

A teoria do ego é uma importante contribuição de Freud para a análise de grupos sociais.

Segundo Erikson, esses grupos estavam unidos por "instintos amorosos", que desviados de sua função biológica colaboravam na manutenção de metas sociais (cf. Erikson, 1998).

Em suas funções sociais o ego pode ter uma certa gratificação controlando a ansiedade e transformando a força instintual para que as relações entre o id, o superego e as imposições sociais fiquem harmônicas.

Erikson, citando Anna Freud, reforça a importância ambiental para a promoção do desenvolvimento egóico, com a seguinte ponderação.

A socialização primária aqui adquire o devido destaque na constituição da personalidade dos indivíduos, na qual tem influência não só as posturas dos adultos significativos, bem como na cultura na qual estes adultos e as próprias crianças estão inseridos.

A identificação que as crianças estabelecem com as figuras de autoridade no interior da família serve como base para formação de sua personalidade e posteriores identificações feitas na fase adulta.

Para Horkheimer e Adorno (1973), a família é um microgrupo primário que, assim como a vizinhança, tem primazia nas primeiras etapas de socialização do indivíduo, no desenvolvimento de sua personalidade e na manutenção de ideais sociais.

Esse entendimento implica destacar a personalidade como um sistema complexo, que inclui uma estrutura psíquica formada e transformada no processo de desenvolvimento do indivíduo em uma determinada sociedade.

O conceito de personalidade é histórico e recebe significado na cultura em que está inserido. Adorno (1995), afirma que personalidades eram consideradas as pessoas com condecorações e faixas; definição em que está implícita a ideia de pessoa forte que procura sua conservação por meio da adaptação.

Adorno argumenta ainda que a desvalorização do conceito de personalidade como "antiguidade" constitui uma regressão social.

Embora sobre forte influência ideológica em sua definição, no conceito de personalidade está colocada a força do indivíduo, com possibilidades de autonomia e reflexão, e que por isso deve ser conservado. Nas palavras do autor.

Dessa perspectiva, a formação da personalidade enfrenta um conflito claro: a conciliação das necessidades dos indivíduos e as imposições da cultura, o que é, por sua vez, geradora de ansiedade, fazendo o indivíduo buscar a redução da tensão interna por meio de gratificações oferecidas pelo meio social, de sorte a garantir a sua sobrevivência.

2.4 PSICANÁLISE E SOCIEDADE MODERNA

Diante das transformações constantes advindas da modernidade, Bauman (2001) pontua que os homens e mulheres contemporâneos sentem-se como estranhos em seus próprios lugares, tendo em vista que a realidade social investida de sentidos é cada vez mais fluida e volátil, não fornecendo guias seguros e duradouros para que possam se identificar.

Seja singularmente ou no coletivo, os indivíduos se encontram em um constante processo de adequações ao meio em que vivem. De acordo com Ballone (2003, p 23):

A organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de desempenhar o seu papel social.

Para tanto, o advento da modernidade, por sua vez, também exigiu tais adequações, ensejando transformações de comportamentos e hábitos sociais, conforme as mudanças de preceitos.

Conforme Bauman (2001), o sujeito impelido aos preceitos sociais nos quais está imerso, devido a atual fase da vida moderna, e considerando dado período como flexível, veloz e fluido, possibilita aos indivíduos caminharem cada vez mais soltos, num experimento de uma realidade diferente do contexto histórico passado, transitando entre uma profusão de grupos de referência e pequenas identidades, entendendo tal processo que se traduz em uma modernidade líquida.

Rogers (1961), legitimando tal conceito, discorre que, quanto mais o indivíduo percebe sua inserção no universo da dinâmica social moderna, se encaminhará no sentido de um funcionamento marcado por uma experiência fluida, em mudança e plenamente receptiva dos sentimentos pessoais diferenciados.

Comparando-se ambas – a realidade virtual e a real e consciente – compreende-se os argumentos que tornam a virtualidade tão atraente. A disposição e o alcance tecnológico, que tem como meio de disseminação a internet, promove certa extinção do espaço real, valorizando o virtual.

Mais seguro, o mundo abstrato dissemina o desejo de atuação de atores sociais, cujos comportamentos, possivelmente, são diferentes em tais realidades.

A modernidade impulsionada por novas ordens, dentre elas uma avançada tecnologia computadorizada que preenche nossa lacuna subjetiva permutando livros por microcomputadores e, testemunhando a tudo isto, não temos a menor ideia onde vamos ancorar.

"A modernidade" registrou Baudelaire (1996) em seu artigo, rotulado expressivamente por Harvey de seminal, "Sobre a Modernidade" (editado em 1863), "é o transitório, o efêmero, o contingente; é uma metade da arte, sendo a outra o eterno e o imutável".

Certamente a modernidade, possibilitou o surgimento do indivíduo singular, capaz de construir sua própria realidade, tendo como referência seu alvedrio e alforriado do próprio menos tardio.

Assim, conforme Forbes (2005), a modernidade produziu a inversão dessa ordem temporal, apontando que é no porvindouro - e não no passado - o âmbito em que se deve esquadrinhar o entendimento de felicidade, objetando também o fim do sofrimento.

Bauman (1998) sustenta que, a modernidade assinala os pilares dos preceitos de beleza e ordem, uma vez que, diante da subjetividade humana, está a condição natural de preservação da beleza, manutenção da ordem e observâncias do cotidiano.

Diante disso, salienta-se a ideia de que os prazeres da vida civilizada trazem também os efeitos colaterais adversos como o mal-estar moderno, apontado por diversos autores.

Assim, o princípio do prazer diminui na medida do âmbito da realidade. De acordo com Bauman (1998), o mal-estar da modernidade advém da ideia de segurança, limitando as fronteiras da liberdade tendo em vista a felicidade almejada.

Para tanto, é notável que a modernidade preconizasse a coletivização do sentido humano. Os sujeitos incidem em um mundo sob a ideia do "moderno", em que o espaço apresenta cernes sólidas e duráveis.

Segundo Kehl (2002), a modernidade demonstra ser ilusória quando entendida a partir da criação de sentidos para a existência de si. Para Lipovetsky (2004) a modernidade nega o próprio passado e procura suas respostas no futuro.

Por ora, Forbes (2005), discorre sobre o advento da globalização como ponto de transição entre a modernidade como um novo meio de organização social.

Assim, entende-se que, na modernidade os interstícios sociais mostram-se verticalmente, podendo ser referenciados adiante pelo contexto familiar, do trabalho e da pátria. Nesta nova ordem estão traçados os laços horizontais socializantes.

O autor Charlies (2004) vem defender, em sua teoria, que a pós-modernidade trata de uma época pontuada pelo aumento da autonomia subjetiva, a propagação das distinções individuais e a dissolução dos fundamentos de regulação social através de opiniões críticas (ideia de liberdade dos sujeitos) e modos de vida.

Diante deste cenário, para Bauman (1998), o que impulsionou a passagem da modernidade para a pós-modernidade foi o consumo de massa e os valores hedonistas transmitidos por esta.

Segundo o autor, os sujeitos pós-modernos trocaram as possibilidades de segurança por uma porção de venturas de algum modo imaginário (BAUMAN, 1998).

Assim, a pós-modernidade institui um preciso momento histórico em que os limites institucionais de oposição a de emancipação individual são extintos em detrimento de manifestação dos desejos subjetivos de realização individual e de autoestima.

Compreende-se que Lipovetsky (2005) entende a pós-modernidade como uma instituição de serviços que dissolve o tradicional empenho disciplinar através da sedução.

Segundo Kehl (2002), ao notar que os últimos anos do século XX precederam o declínio da era industrial e da ética do trabalho todo pelo sacrifício e prol do prazer, aponta que a nova economia tem gerado boa parcela de seus ganhos a partir da tecnologia da informação, da indústria virtual e também do consumo de artigos de luxo, serviços e lazer. Ainda, tal economia tem causado concentrações rápidas e grandes de riqueza.

Bauman (1998) conceitua que o pós-modernismo é a fluência do tempo, denominando-o de líquido em sua obra. Estar em constante movimento nessa pós-modernidade indica não fazer parte de qualquer lugar, tendo como consequência não contar com a proteção de ninguém.

Assim o autor entende que a estratégia de vida pós-moderna é evitar o "fixo" (BAUMAN, 1998). A partir deste conceito de fluidez, o autor elaborou o conceito de "vida líquida", como um meio de vida intrínseca à sociedade líquida moderna (BAUMAN, 2007).

Para tanto, esse conceito trata de uma sociedade em que as condições de seus agentes provocam transformações em um período menor do que o necessário para a consolidação, comportamentos e rotinas, meios de ação (Bauman, 2007).

Entretanto, entende-se que a vida líquida também é um processo em movimento, não sendo possível, assim, permanecer em curso por um longo tempo. O envelhecimento e obsolescência de coisas acontecem de modo dinâmico antes de ser assimilado.

Trata-se de uma sucessão de novos começos, novos períodos em que certas prioridades são substituídas e outras modificadas. Em Bauman (2007), o mundo pós-moderno estaria se preparando para a existência sob as condições de incertezas, sendo estas permanentes e irredutíveis.

Compreende-se que, para Gilles Lipovetsky (2004), a teorização do pós-modernismo aponta o mérito das mudanças de direção, de reorganizações na dinâmica social e cultural, assinalando o enfraquecimento das regras disciplinares e de elevação do prazer.

Forbes (2005) advoga que, a pós-modernidade ultrapassou as características marcantes da modernidade, especialmente o individualismo e o tecnicismo. Entretanto, a hipermodernidade de Lipovetsky (2004) define que foram as incidências desses mesmos aspectos que replicaram seu alcance nas relações humanas.

Umas das características da pós-modernidade podem ser sintetizada em alguns fenômenos como a disposição de se deixar dominar pela imagem das mídias eletrônicas, particularmente a internet, como também pela conquista do seu universo pelas atividades e ações psicossocais e culturais.

Diversos elementos são discorridos por Lipovetsky (2004) como componentes de um período caracterizado pelo narcisismo:

- o consumo que assimila e integra quantias cada vez maiores da vida social através de uma lógica hedonista, transformando o consumo para o prazer e não para exibição de status (característica da pós-modernidade);

- a sociedade liberal caracterizada pela fluidez - indiferente aos grandes princípios da modernidade em se adequar ao tempo - não desapareceram;

- a responsabilidade que se desenvolve no próprio sujeito rompendo com os preceitos hedonistas característicos ao pós-moderno em detrimento da hipervalorização do sujeito.

A hipermodernidade reproduz movimentos que ora estão em direção da independência subjetiva e da moderação, ora da dependência e dos excessos (Lipovetsky, 2004).

Ao mesmo tempo em que os sujeitos hipermodernos são mais bem informados também se mostram mais desestruturados, mais adultos e também mais instáveis, mais abertos e mais influentes, mais críticos e ao mesmo tempo em que parecem mais superficiais.

Assim, para Lipovetsky (2004), a mudança está no ambiente social e na sua relação com o presente. O centro temporal de nossas sociedades deslocou-se do futuro para o presente.

Observa-se que entre os anos de 1980 e 1990, disseminou-se a importância do presentíssimo, inerente à globalização neoliberal e à revolução da informação. Estas se associam para uma compressão do espaço-tempo, do aumento da tensão atrelado à ideia de brevidade.

Se, por um lado, a mídia eletrônica e tecnologia da informação possibilitam a troca de informações em tempo real, por outro lado, cria-se um senso de proximidade e simultaneidade que confrontam as expectativas temporais e relacionais com o outro, promovendo certa superficialidade nas relações e no entendimento de mundo.

Ainda, ressalta-se que a atual crescente evolução do capitalismo de mercado colocou em causa os processos a longo prazo em detrimento do desempenho de curto prazo, através da circulação acelerada do capital em escala global e das transações econômicas em ciclos cada vez mais rápidos (Lipovetsky, 2004).

Portanto, pode-se entender, como umas das formas de assimilação deste cenário, as relações reais de proximidade dão lugar aos relacionamentos virtuais, projetando uma outra realidade, bem mais segura do que aquela enfrentada no cotidiano.

Ao conceituar distintos períodos como pós-modernos, modernos ou hipermodernos, assinala-se a existência de diferentes formas de modulação de identidades.

Os anseios humanos, conforme Freud (1930), pontua-se a integridade estrutural. A realidade é organizada por um eixo vertical das identificações (crianças se identificam com o pai, adultos com outros indivíduos no trabalho, em relações sociais, etc.).

Compreende-se que os padrões tidos como ideais orientam as ideias de satisfação, amor, trabalho, relações. Entende-se como sendo pré-determinismos de modelos.

Para Forbes (2005), diante da globalização hipermoderna, comprimi-se o espaço-tempo horizontalizando, guiando as formas que dirigem o mundo à multiplicidade de modelos. As relações hipermodernas são influenciadas pelas culturas globais diversificadas e diferenciadas.

As referências são opostas aos modelos pós-modernos, pois são múltiplos, o que acaba invalidando muitos padrões. Romper o eixo vertical corresponde a uma desorientação da unidade (Forbes, 2005).

Conforme Chemama (1993), o prazer está atrelado ao desejo inconsciente, em uma experiência que vai além de qualquer consideração das emoções, sentimentos e emoções.

A satisfação se opõe ao prazer, diminuindo as tensões do aparelho psíquico no nível mais baixo possível. Quinet (2009) sugere que o que está sempre promovendo a satisfação do instinto, simbolizando a satisfação real é o sintoma.

Para o autor, compreende-se que o sintoma é basicamente definido por Lacan, na década de 1950, a partir do simbólico, e depois de 1970 como do âmbito do real.

O sintoma, portanto, seria a expressão de uma satisfação do desejo e da realização de um inconsciente que serve para realizar tal desejo. Segundo Quinet (2009), em Lacan o sintoma é o efeito do simbólico na realidade, sendo assim o sintoma o que as pessoas têm de mais real em si mesmas.

Lacan (2007) divide em três aneis separados o que representa o real, o simbólico e o imaginário, associados por um quarto anel que trata do sintoma, lembrando que seu conceito indica que o pai e o complexo de Édipo freudiano também são sintomas.

Salienta-se que foi Lacan quem projetou uma psicanálise além do Édipo, aprofundando-se em uma psicanálise capaz de englobar o homem cujo problema é não saber o que fazer, ou ter dificuldades em escolher entre os vários futuros que lhe são postos como possíveis.

Para Forbes (2005), compreende-se que o problema do sujeito não é mais escravo de seu passado, mas dada a escolha entre várias possibilidades para o futuro.

Em Cabas (2009), o excesso de padrões e prazeres a serem satisfeitos tornou-se a regra. O sexo passou a ser considerado uma necessidade, assinalando a perda de desejo – referenciando o grande espaço ocupado desse aporte nos estudos de Freud.

Na psicanálise, atualmente, a causa desta nova economia está associada com o declínio da função paterna (Cabas, 2009), o que, possivelmente, postule a emergência de novos sintomas.

Em Melman (2003), a depressão é uma das principais patologias prevalentes na atualidade. Para o autor, a depressão surge quando o indivíduo tem a sensação de não ter mais valor diante do outro.

Melman (2003), nesse aspecto, também discorre que, para Lacan, a depressão é uma espécie de covardia, no sentido de que tal covardia é construída a partir de uma autoridade imaginária que define o seu grau de valorização e importância.

Forbes (2005) discorre sobre a emergência de um novo pacto sócia. Se o mundo moderno teve sua existência apoiada na impotência de poder, a diferença do tempo hipermoderno é que o mundo se move a partir de uma posição de impotência sobre a realidade.

Para compreender essa nova existência, o autor enfatiza a necessidade de se pensar em uma terceira dimensão para além do imaginário e do simbólico (Forbes, 2005).

A terceira dimensão, além da realidade simbólica da virtualidade e do imaginário, trata do real não captável, envolvido em um limite que só pode ser descoberto quando a própria existência deixa de ser guiada pela realidade cotidiana.

O imaginário é conceituado por Checchinato (1988) como tudo o que, assim como uma sombra ou um fantasma, não tem existência própria. Por sua vez, Chemama (1993), o imaginário deve ser entendido a partir da imagem que produz.

No sentido intersubjetivo, pode-se entender o imaginário como a introdução de algo ficcional, sendo a projeção imaginária em uma tela. Exemplo disso é o que Lacan (2005) diz sobre relação a dois ser sempre mais ou menos marcada pelo imaginário, projetando a ideia de si na tela do outro.

Chemama (1993) argumenta que, nesse sentido, o simbólico é uma função complexa que envolve toda a atividade humana, compreendendo uma parcela do consciente e do inconsciente, em geral, associada à função da linguagem.

Lacan (2005) incorre que o inconsciente e o sintoma são estruturados como linguagem. Em Jorge (2008), o simbólico tem a ver com o conhecimento em questão, sendo responsável por transformações profundas nos sujeitos.

Forbes (2005) mostra-se otimista a respeito da compreensão da globalização, em que a criatividade humana induz à criação de novos espaços e fronteiras. Entretanto, pode-se entender que, em suma, as relações amorosas virtuais são face de uma nova forma de impotência diante do que se acredita ser impossível.

Acredita-se que a sociedade hipermoderna pensa curar os sofrimentos da vida real através da eliminação de qualquer mal-estar e de toda a angústia de viver.

Não é por acaso que a depressão é a patologia predominante entre as doenças psíquicas entre o final do século XX e início do século XXI. Assim, pode-se entender que a sociedade moderna detém a liberdade requerida por muito tempo, porém tanta autonomia incidiu em valores narcisistas, construindo pilares individuais através de novos modos de fruição e de alienação, orientados para o consumo.

Nos estudos do âmbito da psicologia, são ensejadas diversas correntes que ofereçam justificativas para o mal-estar vivenciado na hipermodernidade. Porém, a psicologia social deve convocar a multiplicidade de conceitos e áreas disciplinares para trabalhar diante dos efeitos produzidos pelas temporalidades, especialmente no campo social.

Para a autora Kehl (2002), o profissional da área não interfere como explicador, mas sim como questionador, expondo a fragilidade das certezas estabelecidas.

De acordo com Del Prette (2006), o desempenho social refere-se à emissão de um comportamento ou sequência de comportamentos em uma situação social qualquer.

Diferentemente, o termo habilidades sociais aplica-se à noção de existência de diferentes classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar com as demandas das situações interpessoais.

Compreende-se que a competência social tem sentido a avaliativo que remete aos efeitos do desempenho das habilidades nas situações vividas pelo indivíduo.

Assim, infere-se que o sujeito que vivencia a contemporaneidade, sente-se impelido em adequar-se aos mecanismos modernos, e em constantes transformações.

Isso implica na constituição de conceitos individuais, estruturados a partir do que o indivíduo toma como experiências vividas.

Diante do expostos, entende-se que as habilidades sociais são aprendidas e contemplam as dimensões pessoal, situacional e cultural (DEL PRETTE, 2006).

2.5 A QUESTAO DOS PROCESSOS GRUPAIS

Sigmund Freud (1997, p. 51) escreve abordando temas bastante atuais e que merecem ser destacados como importantes conceitos. Ele afirma que há uma busca pela diferenciação entre a psicologia individual e a grupal, uma vez que seus contrastes parecem ser notórios e dignos de separação.

Entretanto, ao se realizar uma análise precisa dos fatos, percebe-se que não é possível tratar de um indivíduo de maneira isolada, uma vez que seu contexto de vida envolve outros seres desde o instante do nascimento.

Dessa maneira, ainda que um sujeito afirme sua individualidade por meio da busca pessoal, da superação de si mesmo e do alcance de sua independência, torna-se paulatinamente viável dizer que, cada vez mais, ele necessita do outro em sua vida.

Portanto, define-se desse modo que a psicologia que analisa a sociedade é também aquela que viabiliza as relações individuais estabelecidas neste mesmo grupo.

Nesse sentido, os indivíduos, em geral, costumam tomar para si uma só figura ou um número reduzido de pessoas que tragam um sentido próprio para suas ações, que façam com que as atitudes sejam, ao mesmo tempo, individuais e coletivas.

Assim, compreende-se que a responsabilidade atribuída a um só sujeito se amplia aos demais, aliviando superficialmente a culpa e trazendo a ideia de que, se algo der errado, ao menos a pessoa não terá realizado o fato sem um apoio que venha do outro, que é, como Freud (1997, p. 70) já mostrou, um elemento essencial na vida de todo ser humano.

Por outro lado, o autor ressalta que os grandes movimentos são feitos por um grupo maior de pessoas, seja por um ideal comum ou pelo simples fato de estarem em maior número, com o sentimento de fortalecimento aflorado por meio da junção de mais indivíduos.

Entretanto, compreende-se que surge também a ideia de que este instinto social não aparece em todas as situações de vida do sujeito, caracterizando a hipótese de que esta parte talvez não seja primitiva ou indissociável de seu mundo psíquico.

Em meio aos fatores citados, nasce também a suposição de que a família seja um cerne importante para a formação do conceito de grupo na mente do indivíduo, uma vez que é daí que nascem as relações que constituem a base de tudo que ele irá viver ao longo de sua trajetória.

Freud (1997, p. 41) baseia suas conclusões em citações de Le Bon. Um dos principais pontos questionados pelo autor é a natureza da alteração mental que um grupo realiza num indivíduo isolado.

Isso está relacionado ao fato de que, separadamente, o sujeito se comporta de maneira muito diferente daquela que ele se utiliza quando está agrupado.

A justificativa para que o fenômeno se dê dessa maneira está na teoria do inconsciente formulada por Freud (1997, p. 49), que afirma que a maioria dos atos de um indivíduo reside não ao nível consciente, e sim em seu inconsciente mais abstrato e distante de si mesmo.

Já em grupo, o sujeito perde uma parte de seus dotes que escondem aquilo que não quer aparecer conscientemente, causando uma maior exposição dos conteúdos inconscientes da mente de cada pessoa.

Desta maneira, as funções inconscientes determinam os grupos e os fazem caracteristicamente diferentes dos indivíduos isoladamente.

Ainda que o conceito de inconsciente utilizado por Le Bon seja diferente daquele usado por Freud (1997, p. 31), pois este último ressalta muito a função do conteúdo reprimido, ao contrário do primeiro, ambos afirmam que a exposição das pulsões individuais é muito mais visível quando o sujeito está em grupo, do que se estivesse isolado.

3 O PERFIL DOS JOVENS NOS DIAS DE HOJE

3.1 NATIVOS DIGITAIS PELO MUNDO

Cabe compreender que os jovens da sociedade hoje, isto é, a chamada geração Y, não é um fenômeno estudado apenas no Brasil e, portanto, muitas teorias estrangeiras podem ser adaptadas para entender a realidade do nosso país em relação a esses jovens.

Tapscott (2009, p. 111) afirma que 47% da população brasileira possui, atualmente, menos de 25 anos. Além disso, o crescimento do número de jovens dessa idade, desde 1980, tem sido de 22%, o que representa um dado bastante relevante para a presença da geração Y no país.

Essa geração é vista, também, como composta por nativos digitais. Expressão cunhada em 2007 por Marc Prensky, pensador e desenvolvedor de games, o termo está sendo estudado como um fenômeno que pode causar impactos inclusive no mercado de trabalho.

Hoje, essa geração representa 50% da população ativa (pessoas de até 25 anos), mas em 2020, com o crescimento demográfico, eles serão 80% da população.

Palfrey & Gasser (2008, p. 202) afirmam que um nativo digital é aquele que nasceu e cresceu com as tecnologias digitais presentes em sua vivência.

Tecnologias como videogames, Internet, telefone celular, MP3, iPod, etc. Caracterizam-se principalmente por não necessitar do uso de papel nas tarefas com o computador. Ainda de acordo com os autores, no sentido mais amplo, esse conceito refere-se a pessoas nascidas a partir da década de 80 e mais tarde, na Era da Informação que teve início nesta década.

Geralmente, o termo foca sobre aqueles que cresceram com a tecnologia do século 21. Em relação à presença dos nativos digitais pelo mundo, Tapscott (2009) ainda demonstra que, em países como China, Rússia e Japão, o crescimento da geração Y tem se apresentado negativo.

Isso denota que a população tem envelhecido mais nesses círculos, conforme o Quadro 1 abaixo:

País

(%) População Total < 25 anos

Crescimento da população com < 25 anos desde 1980)

Índia

52%

46%

China

38%

-9%

Estados Unidos

35%

11%

Brasil

47%

22%

México

49%

14%

Rússia

32%

-15%

Japão

25%

27%

Quadro 1: Nativos digitais pelo mundo.

Fonte: Tapscott (2009, p. 26).

Os nativos digitais são autodidatas das novas tecnologias. Por meio da observação de outras pessoas mexendo nos softwares ou da estratégia do "interesse por tudo", eles assimilam os mecanismos de operação e funcionamento, através de qualquer comando do computador. A tecnologia não os assusta e eles não têm medo de serem deste universo.

Ainda de acordo com Palfrey & Gasser (2008, p. 198), as gerações mais antigas tentam estar conectadas às novas tendências tecnológicas, mas nunca conseguem adquirir as peculiaridades dos nativos digitais, se enquadram na definição de "imigrantes digitais". Desse modo, migram para o novo mundo, mas ainda têm algumas raízes fincadas no passado. Na condição de imigrantes digitais, devem pensar no comportamento e nas particularidades da geração Y para compreender como tudo já está e será ainda mais diferente.

Comparando-se aos nativos digitais, os imigrantes digitais ainda têm medo de mexer em qualquer botão porque sentem que podem estragar o computador ou perder um trabalho qualquer.

Essas crianças que hoje têm entre nove e doze anos estão sofrendo um processo de "adultização" (PALFREY & GASSER, 2008, p. 81). Eles estão amadurecendo precocemente e parecem não se interessar mais pelos brinquedos e brincadeiras de antigamente.

Atualmente, está fora de moda ser criança. Assim, a infância está sendo reinventada. Elas não sabem mais o que é jogar bola, queimada, andar de bicicleta. Sabem utilizar muito bem o computador, podendo ser comparadas aos executivos quando o assunto é tecnologia digital.

Passaram se confinar no isolamento físico, no entanto, são achados no MSN, Orkut e celulares, fazendo com que estejam 24 horas do dia conectados ao mundo. Novas linguagens e a capacidade criativa expressam seus sentimentos e seu dia-a-dia

Segundo Palfrey & Gasser (2010, p. 15), para os jovens, não há mais essa história de um mundo real e outro virtual, pois tudo é real. Um indício dessa maneira de lidar com o mundo é a diferente percepção e noção de tempo que vem sendo alterada cada vez mais com o desenvolver das gerações.

Muitas escolas já oferecem aulas de informática desde o jardim da infância, pois antes o assunto era uma atividade complementar, e hoje é matéria obrigatória do currículo pré-escolar.

3.2 A CHAMADA "GERAÇAO Y" E O MUNDO CAÓTICO

De acordo com Kullock (2010, p. 03), a chamada geração Y nasceu na época do surgimento do que se pode chamar de mundo caótico. A autora defende que a sociedade atual vive em um mundo de grande flexibilidade que, com o passar do tempo, se transforma em um contexto de irresponsabilidades. Além disso, pelo fato de existirem múltiplas identidades, a todo instante, há um descompromisso maior por parte dos jovens de hoje.

Shirky (2008, p. 54) afirma que, hoje, assistimos ao fenômeno do crowdsourcing – o poder das multidões, acabando por gerar uma fácil manipulação dos conteúdos, por parte de quem quer que seja.

O ambiente criativo que envolve a geração Y se abstém de um controle externo, gerando maior liberdade e ausência de filtros no perfil do jovem pertencente a esse grupo.

Além disso, não se pode esquecer que a sociedade, em geral, passou por mudanças drásticas e importantes nas últimas décadas, ocasionando uma mudança de paradigmas em todos os sentidos.

Guerras, conflitos territoriais, revolução tecnológica, avanços em termos de saúde, entre outros, são fatores que impactam diretamente na vida da população mundial e, portanto, de um mundo fechado, hierarquizado, e hierárquico, caminhamos em direção a um universo caótico, aberto e que valoriza o aprendizado com os pares.

De acordo com Yarrow e O´Donnell (2009, p. 43), os jovens consumidores de hoje não aceitam que alguma coisa seja vendida para eles.

Eles querem ser vistos, conhecidos e respeitados; portanto, somente as empresas que investirem no relacionamento pela empatia, pela profunda compreensão e pelos insights irão atrair esses jovens.

Deve-se, então, colocar nas propostas que cada empresa é um produto e o candidato vai comprá-lo cada vez mais. Vai comprar o "trabalhar lá dentro", a credibilidade. E, caso os gestores não saibam fazer essa combinação com eles, outra pessoa saberá.

A autoconfiança dos jovens, o seu nível de conhecimento e interesse no mercado, bem como sua paixão pela tecnologia, devem ser reconhecidos pelas organizações. A lealdade dessa geração se dá em função da parceria e colaboração em relação a marcas e lojas.

De acordo com Beck & Wade (2004, p. 56), no trabalho, os jovens entendem que alguém ser autoridade não significa que essa pessoa seja mais inteligente.

Eles, portanto, são fieis às suas marcas enquanto elas atenderem às suas expectativas. Procuram as marcas, fazem comparações de preços, da rapidez das conexões e das entregas.

Os autores ainda afirmam que essa geração tem uma atitude de prova que é a mesma para empregadores, marcas e lojas. E eles são capazes de fazer viver e morrer restaurantes e empresas pelos seus comentários não de experts, mas de consumidores.

Essa é uma sociedade muito mais visual em função da rapidez em que vivemos. O que vestimos é uma maneira de nos conectarmos com o outro, de socializar e assumir papeis.

E, dentro disso, vemos que a juventude nunca foi tão definidora de tendências quanto essa é. O impacto econômico dessa geração vai muito alem do que eles possuem como dinheiro – eles estão influenciando outras gerações, quer queiramos, quer não.

De acordo com Kullock (2010, p. 01), a geração Y é múltipla, adaptativa e confiante. Desde cedo, esses jovens foram considerados as crianças mais desejadas e queridas; cresceram numa era de grande interesse no conhecimento e desenvolvimento de crianças e da Psicologia.

A autora ainda afirma que as gerações anteriores também amavam seus filhos, mas os viam como uma responsabilidade. No passado os pais também os amavam, mas os enxergavam como colaboradores a mais no trabalho.

Os pais de hoje tratam seus filhos de igual para igual e os consideram como membros centrais da casa. Isso adicionalmente fez com que a família ficasse mais próxima, por causa da tecnologia que o celular permite.

Yarrow e O´Donnell (2009, p. 201) afirmam que os pais da geração Y têm sido criticados por paparicarem, adiarem a independência de seus filhos e funcionarem como "helicópteros" desses jovens, trazendo tudo o que desejam com muita rapidez.

Mas, ao mesmo tempo, os pais aparentam precisar desesperadamente da aprovação de seus filhos e essa característica é mais acentuada nessa geração.

Segundo Kullock (2010, p. 05), muitos dependem do sucesso dos seus filhos para levantarem seu próprio ego.

O que a literatura tem descrito como paparicadores, interessados e envolvidos pode ser visto também como pais completamente dependentes – pessoas que valorizam muito a opinião de seus filhos. Portanto, ainda de acordo com a autora, é viável dizer que essa é a geração mais centrada nos jovens que já tivemos. A casa em que a geração Y vive é onde a relação é igualitária.

Os pais não são autoritários e valorizam muito a amizade com seus filhos. Essa é uma das razões pelas quais a geração Y é tão autoconfiante e se sente tão poderosa. O conhecimento e a habilidade de buscar coisas na internet, bem como a sofisticação, aumentaram a influência, criando uma mentalidade de equipe dentro de casa, o que lhes deu mais poder.

A geração Y geralmente providencia suporte técnico aos seus pais, o que reforça seu posicionamento como iguais ou superiores, pelo menos no que diz respeito ao conceito de tecnologia. Beck e Wade (2004, p. 45) afirmam que a facilidade intuitiva e a capacidade dos jovens se adaptarem às mudanças tecnologias fizeram um bem para a família.

A geração Y não tem ansiedade muito mais simples do que é para em lidar com a tecnologia – ao contrário, sente alegria – gosta de brincar, faz o aprendizado seus pais. Esses, por sua vez, podem ser extremamente ansiosos quando se trata de tecnologia e se sentirem extremamente aliviados quando seus filhos facilitam a sua vida.

A expertise contribui ainda mais para a autoconfiança dessa geração – o que significa que essas crianças têm mais do que um voto, mais que poder na decisão da família. Isso acabou se estendendo para assuntos como destinos de férias e carros. A geração jovem ajuda seus pais a encontrar direções de trânsito, mandar fotos para a família e até a fazer o imposto de renda.

Sabe-se, também, que essa geração é multitarefa e tudo significa velocidade. Querem respostas instantâneas, querem pais sempre disponíveis, da mesma maneira que professores e amigos, numa conexão que desafia a geografia e a hierarquia.

De acordo com Beck & Wade (2004, p. 198), Jenny Floren, fundadora e presidente da empresa Experience, que ajuda a selecionar estudantes para os seus clientes, diz que essa é uma geração muito diferente porque vive online desde a pré-adolescência.

É na internet que eles têm seus amigos, compram e estudam. Para eles, o olho no olho se dá pela web. O mundo digital que eles absorveram diminuiu a atenção concentrada, aumentou a necessidade de gratificação instantânea e fez com que eles tivessem que ser muito rápidos pra processar informações visuais.

Os mesmos autores ainda afirmam que essa geração também sabe procurar pela informação que é relevante ou percebida como relevante para eles. Antes, não havia essa coisa de resposta instantânea, então quando a gente diz empowered, estamos de fato querendo dizer poder. Da informação sobre um remédio até uma tecnologia, a geração Y só conhece um mundo – o que eles querem quando eles querem.

A grande mudança na autoconfiança é de uma hierarquia plana que acompanhou essa democratização da informação. Além disso, com o desapontamento nas instituições sociais, desde as escolas até as instituições religiosas, passando pelos nossos líderes políticos, atletas e celebridades, eles preferem confiar em si mesmos.

Antigamente, o vilão nos cinemas era um monstro ou um comunista ou um alien. Hoje, é um empresário. Os Y abraçaram o trabalho em grupo para facilitar a sua compreensão sobre tecnologia. Eles podem estar unidos fisicamente ou não pelo mundo para descobrir coisas, para lutar por causas, passeando por sites de mídia social, de análise de produtos e lugares, restaurantes, hoteis ou mesmo para conhecer um novo site legal, filme ou TV show.

Não cabe a nós dizer se essa vai ser uma geração superficial, se vai ter paciência para pensar profundamente sobre problemas. Eles vão ter seus próprios problemas para resolver como todas as gerações tiveram, mas certamente têm presentes poderosos e ferramentas para ajudá-los – autoconfiança, trabalho em equipe, tecnologia e um genuíno desejo de fazer uma contribuição positiva no mundo.

Kielberman (2010, p. 01) afirma que a forma como a geração Y foi criada gera um tipo de autoestima "inflacionado" e leva a expectativas pouco realistas, com uma grande rejeição ao feedback, tendência a "culpar os outros" por seus erros e dificuldades e em ver as coisas na perspectiva correta.

Tudo isso foi provocado por seus pais, das gerações anteriores, que exigiram que se elogiasse também o desempenho insuficiente,

3.3 O PERFIL DA GERAÇAO Y NO TRABALHO

Tulgan (2009, p. 32) afirma que o movimento de levantar a autoestima das crianças transformou todos em vencedores – é a chamada geração troféu. E, ao chegarem no mercado de trabalho, esses jovens ganham autoconfiança por meio de um ambiente mais igualitário. Todas as gerações lutaram por condições de trabalho melhores e por terem suas demandas atendidas, mas respeitaram a hierarquia.

Partes: 1, 2, 3


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