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As perspectivas de vida escolar dos educandos(página 2)


Trivinüs (1987, p. 129) comenta sobre uma das características mais importantes em relação à pesquisa qualitativa, destacando a preocupação do pesquisador com o processo de investigação. O autor enfatiza que, "para a pesquisa qualitativa, os significados e a interpretação surgem a partir da percepção do fenômeno visto num contexto".

Os instrumentos utilizados nesse estudo foram constituídos de observações em sala de aula e um questionário para cada um dos 43 educandos, contendo cinco questões abertas, relacionadas com os objetivos. O levantamento dos dados foram tabulados e analisados com o auxílio das abordagens teóricas de autores especialistas na área da educação.

2 - A ESCOLA COMO UM CENÁRIO DE DIFERENTES PERCEPÇÕES

O enfoque principal desta seção é apresentar num primeiro momento as percepções de educandos de 7ª (E5) e 8ª Série (E6) do Ensino de Jovens e Adultos – EJA, as quais estão relacionadas com a representação da escola; como o educando se sente durante as aulas; a maneira de ensinar ideal para o crescimento da aprendizagem; caso o educando fosse o professor como seriam suas aulas e como deveria ser a escola. Num segundo momento, apresentam-se as abordagens teóricas de alguns autores sobre o conceito, a função e o papel da escola e dos educadores com relação ao ensino e a aprendizagem.

Percebe-se que para os educandos a escola representa o lugar certo para aprender e adquirir conhecimentos, para outros ela representa o futuro, na qual os sonhos podem ser realizados. Além disso, a escola também representa uma ferramenta indispensável para o mercado de trabalho, isto é um mundo de possibilidades para a conquista da cidadania. Importante é destacar que a escola também representa o princípio da vida.

A maioria dos educandos sente-se muito bem quando há silêncio na sala de aula. Outros ficam com vontade de ir embora e sentem-se prejudicados, pois não conseguem entender as explicações dos conteúdos. Outros se sentem privilegiados e felizes por estarem na escola aprendendo, ou seja, sentem-se como uma criança querendo aprender.

Para os educandos, a maneira ideal de ensinar seria o professor perguntar se existem dúvidas sobre um determinado conteúdo, bem como dar uma boa explicação da matéria. Destaca-se também a necessidade de uma aula mais organizada e colaborativa com alguém que ao mesmo tempo em que ensine adote regras. Outro fator relevante está relacionado com falta do professor ter postura e seriedade nas suas aulas. Para alguns educandos, as aulas deveriam ser mais dinâmicas, criativas com professores alegres e com vontade de ensinar.

Com relação à troca de posição, isto é, o educando no lugar do educador é visível que as aulas seriam mais divertidas, porém com postura e seriedade. No lugar do professor conforme a opinião dos educandos, as suas aulas seriam explicativas e com mais orientações. Para eles os trabalhos em grupos seriam fundamentais para a avaliação. Outros educandos destacam que seriam rígidos para manter o respeito necessário em sala de aula.

A escola na concepção dos educandos deveria ser um lugar de respeito, de colaboração e sem preconceitos. Eles percebem a escola apenas como um lugar de ensino, com professores mais capacitados para desempenhar o seu papel de ensinar.

2.1 O ESPAÇO DA ESCOLA NA VIDA DOS APRENDIZES

Para abordar sobre o espaço da escola na vida dos aprendizes, faz-se necessário considerar que a mesma representa um local instituído para trabalhar com o conhecimento formal dos educandos. Nesse sentido, quando os jovens e adultos ingressam na escola, já trazem consigo experiências de vida e de suas vivencias. Para eles, o mundo da vida já existe, porém necessitam a todo o momento reconstruir cotidianamente seus conhecimentos por intermédio das múltiplas relações e inter-relações dos saberes estabelecidos com os outros e consigo mesmo.

Acredito que, a cultura, as experiências de vida e os valores dos educandos não podem ser ignorados pela escola, pois educação é todo o processo que contribui para a formação da personalidade e a integração do sujeito na sociedade. E, repensá-la a todo o momento é a principal tarefa do professor consciente da realidade do seu contexto social, econômico, político e cultural. É interrogar-se continuamente à procura de respostas adequadas para a possível transformação da realidade.

Sabemos que tanto as crianças, quanto os jovens e adultos trazem para a escola uma gama de experiências e conhecimentos e, estes representam um valioso referencial que deve ser explorado pela escola e pelos educadores. Este é papel da escola enquanto espaço de produção, socialização, construção e reconstrução do saber, ressignificar os conhecimentos e experiências de vida de seus educandos relacionando-os com os conceitos oferecidos pelas diferentes ciências.

É a área das Ciências Humanas e Sociais que nos fornece um referencial teórico que apresenta o papel da escola. Assim, é possível verificar que Redin (2002), caracteriza a escola frente às mudanças histórico-sociais com um espaço e lugar, onde as condições mínimas de sobrevivência para as pessoas não conseguem ser garantidas.

Para Manacorda (1989), as contradições da estrutura educativa que temos atualmente se assemelham àquelas de épocas anteriores, as quais apresentam um caminho minado de contradições, de avanços e retrocessos no pensamento humano, na forma de concepção de mundo e na forma de atuação nos espaços que o homem ocupa.

  • A MANEIRA IDEAL DE ENSINAR PARA O CRESCIMENTO DA APRENDIZAGEM

Sabemos que o mundo e as pessoas estão em constante evolução e isso lhes causa certa inquietação, muitas vezes incompreendidas pela sociedade. Assim, sentem a necessidade de redimensionar a consciência de si e do mundo. Diante disso, não cabem mais no cenário educativo, visões mecânicas, compartimentalizadas da vida das pessoas, mas uma visão holística de outros modelos e paradigmas de ensino.

Quando falo da necessidade de redimensionar a consciência de si e do mundo, significa atribuir sentido ao fazer pedagógico, através do qual, os conhecimentos vão sendo desvendados de modo peculiar. E isso só acontece se considerarmos um ensino realmente voltado para um humanismo social, sem perder o elemento crítico e sem se tornar apenas em mero discurso. Nesse aspecto, Assmann (1996, p. 2) "vê nas discussões da pós-modernidade, um desafio para o espaço da educação repensar a sua prática, o seu agir pedagógico".

Acredito que essa postura de Assmann (1996, p. 3) compreende num fazer pedagógico criativo, considerando a ludicidade, a felicidade e a corporeidade dos educandos no contexto escolar e, como diz o autor cabe a escola "devolver-nos o direito de soltar nosso imaginário e começar a raciocinar lúdica e prazerosamente", isto é, redescobrir na educação fundamentos humanizadores.

Snyders (1993, 12) acredita que a escola "possa ser um lugar de satisfação, de alegria, um lugar para a especificidade da infância e da juventude". Para que isso aconteça realmente, faz-se necessário uma tomada de consciência por parte de educadores no sentido de instaurar na escola a alegria e o prazer de trabalhar com os diferentes saberes que permeiam a sala de aula.

3 - A IMAGEM DO EDUCADOR EM SALA DE AULA

A educação deve ser capaz de cunhar processos e situações de interação social que possibilitem aos sujeitos não somente compreender amiúde a realidade como principalmente, ressignificar, propor e apresentar novas perspectivas de interpretação e análise da realidade e, nesse sentido, faz-se necessário entender a questão do próprio sentido do fazer pedagógico, isto é, a prática docente.

Sabe-se que, o professor é um articulador de sentidos, através do trabalho pedagógico com os múltiplos saberes ajuda as novas gerações a atribuírem novos significados ao mundo em que vivem, caso perca o sentido do seu próprio trabalho pedagógico, perde a referência do ensino.

Para fundamentar sobre a imagem do educador em sala de aula temos contribuições teóricas valiosas da área da Sociologia, Filosofia, Psicologia, entre outras. Tomando como exemplo, a Sociologia da Educação procura estudar o homem e suas formas de organização e relação social, bem como os momentos históricos da realidade cultural, política, social e econômica.

É possível verificar que Arroyo (2000, p. 18), aborda os segredos e as artes de ofício de mestre enfatizando que "Educar incorpora as marcas de um ofício e de uma arte, aprendida no diálogo de gerações. Isso expressa às pluralidades de saberes que informam a prática docente".

Ainda citando Arroyo (2000, p. 155), "Nós aprendemos no gesto, no espelho daquela professora ou professor de quem guardamos uma imagem positiva ou negativa". Isto nos leva a admitir que a prática docente e os saberes de formação legitimam deixando marcas das ações pedagógicas no cenário escolar.

Freire (2000) ressalta em sua obra a importância da reflexão crítica que o professor deve ter com relação a sua prática docente, como também sobre as relações de docência e de discência.

Segundo Freire (2000, p. 25) "Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender".

Em Therrien (1997, p. 5), verifica-se que o professor enquanto sujeito que articula e media diferentes saberes nas suas intervenções pedagógicas no contexto social, que é a sala de aula "não se limita a transmitir saberes, mas a situação de interação com os alunos inerentes a este ambiente o obriga a adequá-los, a traduzi-los de modo crítico, reflexivo".

Conforme Therrien (1997, p. 9), as interações e a racionalidade que as sustentam, são elementos inerentes à prática docente nas situações complexas de sala de aula. Para este autor, "o ensino se desenvolve num contexto constituído de múltiplas interações, (...) que se expressam no saber-fazer pessoal e profissional validados pelo trabalho cotidiano".

Gutiérrez (2000, p. 53) aborda a questão da essencialidade do processo educativo que ocorre ao longo da vida do sujeito. É esta educação que "torna possível a apropriação de sentido, a geração de relações significativas e a ativação de forças e potencialidades necessárias a todo grupo que está em processo".

Ainda, Morin (2000, p. 93), nos fala das interdependências que se multiplicaram entre os humanos com relação aos princípios de solidariedade. A evolução tecnológica triunfa no planeta, porém a falta de compreensão predomina. Por isso, "A missão propriamente espiritual da educação: ensinar a compreensão entre as pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da humanidade".

A educação, nesse aspecto, especialmente a formal, deve ter como finalidade, democratizar o conhecimento escolar, isto é, criar espaços para a formação de pessoas cidadãs criativas e responsáveis, de tal modo que ofereça aos seus educandos meios não apenas para sobreviver, mas para viver bem e melhor no usufruto de bens culturais que hoje são privilégios de uma pequena minoria de indivíduos.

4 - A ESCOLA IDEAL PARA UM FUTURO PROMISSOR

A escola, sem dúvida é o espaço ideal para o aprender. E o aprender acontece na ação, na relação e na reflexão. Para isso, ela necessita se modificar e reorganizar seu espaço para que o conhecimento seja contextualizado histórica e politicamente. Isso significa que não se pode falar de escola sem considerar o fazer pedagógico como um elemento fundamental que ainda necessita de mudanças para possíveis rompimentos de velhos paradigmas educacionais.

Conforme Wiese (2009), a forma como os educadores desenvolvem seu fazer pedagógico, requer mudanças coerentes com a formação de um cidão pois "As características da educação de nossa época, coerentes com a formação de um cidadão instrumentalizado para protagonizar o seu tempo". Essa instrumentalização envolve elementos fundamentais para o desenvolvimento de capacidades e habilidades como autonomia, seletividade, planejamento, interação social, coletividade, flexibilidade, criatividade.

Nesse sentido, Wiese (2009, p. 98) sugere que "A educação pode ser melhorada somente quando o professor compreender que a tarefa da escola é desenvolver no aluno a habilidade de aprender e se tornar um pensador autônomo". A partir disso, a autora questiona sobre o futuro da educação diante de tantas mudanças e incertezas.

Conforme dados de pesquisa realizada pela autora acima citada, é impossível negar que uma das reclamações dos alunos está relacionada com o tédio de ficar ouvindo por muito tempo o professor e com a distância entre o conteúdo das aulas e a vida.

Segundo Wiese (2009, p. 99), "a aula continua predominantemente oral e escrita, com pitadas de audiovisuais. Não se transforma o ensinar e o aprender, enverniza-se a novidade, a mudança, mas a embalagem é a mesma". Isso nos convida a uma reflexão de que educar nos dias atuais é ainda mais complexo, porque o mundo e a sociedade exigem de homens e mulheres competências e habilidades necessárias para mantê-los com uma vida digna, com qualidade e sustentabilidade planetária.

Portanto, a escola constitui num espaço que precisa de ação para que o verdadeiro aprendizado aconteça. Aprendizado que possibilitem aos educandos a compreensão, ressignificação de novas perspectivas de interpretação e análise da realidade social, bem como entender o real sentido do fazer pedagógico como forma de compromisso humano.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos relatos dos educandos articulados com as fundamentações teóricas deste estudo, é possível identificar que mesmo diante das adversidades a maioria acredita e deposita sua confiança na escola. Uma escola que irá prepará-lo para a vida em todos os sentidos. Acredito que o espaço escolar ainda mantém vivo o interesse pelo conhecimento, pela vontade de apreender, assim faz-se necessário salientar que o mesmo não pode ser artificial e sim um espaço de redescoberta e significação social para todos que nela ainda permanecem com muitas expectativas e objetivos de vida.

Tanto as abordagens teóricas quanto as percepções dos educandos remetem para uma reflexão sobre o fazer pedagógico que deveria transformar-se numa práxis criativa, resultando em uma articulação entre o pensamento criador, a experiência estática e o conhecimento, pois o ato de conhecer sempre poderá ser um ato de produção e significado, através de uma nova e original produção dos saberes.

Sabe-se que as pessoas sentem a necessidade de se instrumentalizar para participar da vida produtiva, visando certa garantia para o futuro. É essa necessidade e desejos que se contrapõem com o que a escola oferece atualmente para quem a procura e/ou já esta inserida nela.

Nesse sentido, destaco que a escola é lugar de aprender com prazer, com criatividade e não espaço de memorizar conteúdos. Quanto mais os educandos ficarem em sala de aula, desenvolvendo qualquer atividade, cumprindo com a programação dos conteúdos, mais fortemente estará contribuindo sua função de apenas disciplinar pessoas. Para muitos educadores é difícil perguntar para os seus educandos sobre o sentido e o significado da escola, pois é mais fácil ocupá-los com conteúdos escolares que precisam ser legitimados, especialmente mediante a aplicação sistemática de provas, instrumentos presentes nas avaliações. Diante das diversas informações e recursos de qualidade: Internet, computador, TV, ao alcance da maioria das pessoas, a escola corre o risco de perder sua função de proporcionar um ensino de qualidade e sustentabilidade.

Percebe-se que ao longo de épocas anteriores a escola era um espaço de maus-tratos e de disciplina rígida, não que o jovem de agora não necessite de limites, mas mais que isso, a maioria das escolas atualmente está contribuindo para uma formação de um conformismo cego. Desenvolve nas crianças, jovens e adultos a paciência para aceitar tudo, por isso sentem-se, muitas vezes o tédio, a indiferença e a falta de prazer para assistir as aulas e, até para permanecer na escola.

Portanto, são aceitáveis as abordagens teóricas, bem como as considerações dos educandos, pois reforça que a escola e a sua organização curricular, merecem ser estudadas, replanejadas e pensadas em todas as dimensões pedagógicas, para que seja possível vê-los apreendendo com satisfação, preparando-se para um futuro incerto e cheio de incertezas. Para que isso seja possível, acredito que o educador precisa assumir sua função de formador e trabalhar qualitativamente para a práxis, pois formar para a cidadania necessita de uma metodologia interligada com os quatro pilares da educação: aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser, explicitando o seu verdadeiro papel de cidadão e objetivo de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

ASSMANN, Hugo. Pós-modernidade e agir pedagógico: Como reencantar a educação. VII ENDIPE – Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Florianópolis, SC, mai.,1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GUTIÉRREZ, Francisco. Eco pedagogia e cidadania planetária. Tradução Sandra Trabucco Valenzuela. 2. ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000.

MANACORDA, Mário Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez, 1989.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. Da Silva e Jeanne Sawaya. 2. ed. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 2000.

OLIVEIRA, Sílvio Luiz. Tratado de metodologia científica. São Paulo: Pioneira, 1997.

SALOMON, Décio Vieira. Como fazer uma monografia. 11. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

SNYDERS, Georges. Alunos felizes. São Paulo: Paz e Terra, 1993.

THERRIEN, Jacques. A natureza reflexiva da prática docente: elementos da identidade profissional e do saber da experiência docente. Educação em debate. Fortaleza, Ano 19, n. 33, 1997.

TRIVINÜS, Augusto N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1987.

WIESE, Maria do Carmo da Silva. A "jaula" de aula não é o limite. Curitiba: Positivo, 2009.

 

Autor:

Miguel Angelo Nunes Pinto

angelonunes[arroba]pop.com.br

Pós-Graduando no curso de, Orientação Educacional da Faculdade Avantis

Professor Ms. Nair Maria Balem

nairbalem[arroba]terra.com.br

Professor do IERGS e Orientador do TCC, Mestre em Educação.

FACULDADES AVANTIS

Curso de Pós-Graduação em Orientação Educacional

Dezembro 2010

Artigo Científico apresentado como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Orientação Educacional.



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