Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
Origem da Didática
Ainda que nas obras dos filósofos da antiguidade existam referências às formas que deveriam ser seguidas no ensino na escola, com grandes contribuições ao Desenho Curricular (currículo) como parte importante da Didática, é com a obra "Didática Magna" do eminente checo João Amós Comênio, que surge a Didática, como uma incipiente área de conhecimento. Não obstante, o termo tinha sido utilizado, anteriormente, pelo alemão Wolfgang Ratke, que foi o primeiro quem abordou as duas partes da Didática: Desenho Curricular ou Currículo e a Dinâmica do Ensino, quando, segundo Sandino Hoff, Universidade do Contestado, explicitou:
Em seus princípios teóricos, captados do período de trabalho em Cöthen, Ratke fez distinção entre "ensinos" e "arte de ensinar": os primeiros incluem conteúdos extraídos de uma totalidade enciclopedicamente organizada de conhecimentos, e a segunda, de uma teoria que configura o processo pedagógico.
Em outros termos, os "ensinos" são compostos com base na estrutura global das ciências e da filosofia; e a arte de ensinar relaciona-se com normas e métodos extraídos das idéias de harmonia entre a fé, a natureza e as línguas. (HOFF, S. 2007, p.147)
Voltando ao assunto da origem da Didática, se tem que no século XIX, Herbart, intentando criar todo um sistema científico da educação, colocou a didática dentro da Pedagogia, como teoria da instrução. Pode ser que a partir daqui, a Didática sempre seja vista como isso, uma disciplina da Pedagogia. Outro aspecto que poderia ter influenciado sobre o assunto foi a utilização ambígua dos termos: Educação, Instrução e Ensino, para denotar uma mesma realidade ou fenômeno.
Já no século XX, a Didática passou por muitos questionamentos, como também tinha acontecido, anteriormente, com a Biologia, a Física, a Química, e outras ciências no século XIX. É importante destacar que toda ciência, independentemente do seu objeto de estudo: seja da natureza, da sociedade ou do pensamento, passa por esses períodos críticos, onde sua estrutura conceitual fica comprometida e duvidosa. Ás vezes, novos descobrimentos ou novas teorias estremecem a base ou fundamentação teórica de uma determinada ciência. Voltando ao assunto da origem, é a partir deste século XX, que começa o tratamento da Didática, como uma ciência particular.
Depois desses períodos de crises, a Didática dá um salto qualitativo no seu desenvolvimento. Como ciência particular, com autonomia científica, está neste momento do século XXI, dando esse salto significativo com grandes aportes à sociedade. Claro que, como toda ciência, enriqueceu seus fundamentos, categorias, conceitos, leis, corolários e princípios a partir da contribuição de cientistas de outras áreas de conhecimento. Mas não existem dúvidas que a Didática já tem sua autonomia.
Uma das problemáticas neste campo de conhecimento é a ambigüidade da terminologia. Claro que ciência não é como os neopositivistas consideraram, "colocar na língua científica o conhecimento popular". Não obstante, o sistema de conhecimento de qualquer ciência está determinado pelas categorias e os termos que descrevem e fundamentam a estrutura base de seu objeto de estudo. E tudo isso se logra com uma adequada utilização da língua científica, em especial sua terminologia.
Uma das complexidades tanto para a Pedagogia, como para a Didática são seus respectivos objetos de estudo, pois qualquer leigo se acha no "direito" de "dissertar" sobre educação ou ensino. Por exemplo. Quem fala sobre Física Quântica? Ou sobre Biologia Molecular? Não é suficiente saber contar para ser matemático! Este fato leva a que existam trabalhos, "resultados de pesquisas" que no conteúdo deles têm uma mistura de conhecimentos acientíficos e anticientíficos que pouco ajudam na prática social e no desenvolvimento destas ciências.
Um exemplo neste contexto é o posicionamento do ilustre Jean Piaget que segundo um dos seus discípulo, Gadotti,M (1988, p. 64) considerava que
Quando a maioria dos institutos de ciências, hoje, ainda se mantêm fechados em pequenas capelas, fechados num linguajar hermético, Piaget sempre concebeu o estudo científico como uma interseção de disciplinas. Não se pode fazer Psicologia sem a física, sem a Matemática, sem as Ciências Sociais.
Aliás, o sucesso das teorias de Piaget sobre desenvolvimento da inteligência nas crianças deve-se, em grande parte, à rigorosa fundamentação físico-matemática e bioquímica. Ele sempre soube escolher, nesse sentido, os melhores pesquisadores das áreas. Era um homem que sabia ouvir.
Piaget não gostava de responder a perguntas sobre educação. Limitava-se a dizer que não havia pesquisado esse campo do saber. Perguntaram num programa de Radio Suisse Romande, por que não investigara a afetividade. Respondeu que não tinha tempo para tratar da inteligência e da afetividade ao mesmo tempo. Preferiu optar pelo estudo da inteligência.
Já pensou que educando, aluno, estudante, discente, criança, escolar, aprendiz, são a mesma coisa? Ao final não são sinônimos? Sim. Essas palavras são sinônimas na utilização do dia-a-dia, mas não na língua científica, pois cada palavra mencionada expressa um conceito distinto. No caso da Pedagogia, educando e escolar, seriam importantes termos dentro do campo de estudo e pesquisa. Já para a Didática referiria melhor os termos de aluno, estudante e discentes, e assim por diante.
A língua científica deve ser objetiva, não deve permitir ambigüidades. Outro exemplo poderia ser o fato que o professor não tem "didática", o que o docente pode e deve ter é competência didática. Quando no dia-a-dia, alguém diz: -"Esse professor tem uma boa didática", na língua científica deve considerar-se que aquele profissional de referência, tem domínio dos aspectos ou dimensões didáticas necessárias que conformam essa competência.
Se importante é a adequada utilização da terminologia de uma ciência, imagine o que acontece quando o assunto em questão é o próprio objeto de estudo? Então, considerando que na língua científica não se admite a sinonímia, se pode dizer, cientificamente "falando", que educação, ensino e instrução não são sinônimos.
O que é educação?
Desde a época de Platão, o termo educação foi centro dos debates. Para ele era dar ao corpo e a alma toda beleza e perfeição que seja possível. Émile Durkheim a considerava a preparação para a vida. Para Pestalozzi, a educação do ser humano deve responder às necessidades de seu destino e ás leis de sua natureza. Para José Martí, é depositar em cada homem toda a obra da humanidade vivida, é preparar o ser humano para a vida.
Segundo o ICCP (1988) se entende por educação o conjunto de influências que exerce a sociedade sobre o indivíduo. Isso implica que o ser humano se educa durante toda a vida.
A educação consiste, ante todo, em um fenômeno social historicamente condicionado e com um marcado caráter classista. Através da educação se garantirá a transmissão de experiências de uma geração à outra. (ICCP, 1988, p.31)
Segundo Lênin, V (apud. ICCP, 1988), a educação é uma categoria geral e eterna, pois é parte inerente da sociedade desde seu surgimento. Também, a educação constitui um elo essencial no sucessivo desenvolvimento dessa sociedade, a ponto de não conceber progresso histórico-social sem sua presença.
Para Martins,J (1990) a educação é um processo de ação da sociedade sobre o educando, visando entregá-lo segundo seus padrões sociais, econômicos, políticos, e seus interesses. Reconhece-se aqui a necessária preparação para a vida, já referida em outras definições e que só se logra a através de convicções fortes e bem definidas de acordo com esses padrões. Por isso é tão importante, mas que uma definição o mais precisa possível, a caracterização deste objeto de estudo e pesquisa da Pedagogia.
Para uns, Educação é processo, para outros é categoria, ou fenômeno social, ou preparação, ou conjunto de influências, e muitos conceitos mais. Ainda seguindo a linha de pensamento de J. Martins, se concorda que:
A educação tem os seguintes caracteres:
Deve-se analisar que a educação, mais que processo, mais que conjunto de influências, e outras, é uma atividade. Como toda atividade tem orientação, por tanto pode ser planejada. É processo, pois está constituída por ações e operações que devem ser executadas no tempo e no espaço concreto. É resultado que expressa ou manifesta uma cultura, como fato sócio-histórico.
Mas, o que é educação? A definição a seguir não pretende ser exaustiva, nem focalizada nessa palavra desde a perspectiva da lingüística textual, onde claramente, o significado sempre estará dependendo de seu contexto. Aqui só se esta definindo a categoria geral e eterna, como objeto de estudo e pesquisa da Pedagogia.
Portanto, a Educação é uma atividade social, política e econômica, que se manifesta de diversas formas e que seu sistema de ações e operações exercem influências na formação de convicções para o desenvolvimento humano do ser social e do ser individual.
Neste último aspecto vale destacar que o ser humano que se pretende construir, desde a óptica como ser social deve ser
Desenvolvido simultaneamente nos planos, físico e intelectual, que tem consciência clara de suas possibilidades e limitações. Um homem munido de uma cultura que lhe permita conhecer, compreender e refletir sobre o mundo. (MARTINS,J 1990, p. 22)
Isso significa que a educação pode ser direcionada, considerando a expressão social que deve refletir na consciência de cada pessoa. Por outro lado, se deve também trabalhar, nessas influências que exerce a sociedade e o estado na formação humana do ser individual, onde:
O homem independente, mas não isolado, que conhecendo suas capacidades físicas, intelectuais e emocionais, e senhor de uma visão crítica da realidade, seja capaz de atuar de forma eficaz e eficiente nessa realidade. (MARTINS,J 1990, p. 22)
Resumindo, a educação, como fenômeno inerente à sociedade, é orientação, é processo e expressão de uma cultura sócio-política. Pois como atividade, está constituída por esses aspectos. Por outro lado, sabe-se que o ser humano se realiza culturalmente em tempo e espaço, e que a complexidade dos fenômenos sociais e a quantidade de cultura emanada de muitas gerações, precisam ser otimizadas no tempo. Por isso, e em busca de seu aperfeiçoamento social e individual, surge o processo pedagógico, que não deve confundir-se com o processo docente, com educação, ou com o processo educativo.
O processo pedagógico, como aspecto consciente dentro do planejamento educacional, surge a partir das mudanças sofridas pela sociedade e com o objetivo de construir determinado protótipo de ser humano. Por isso, um dos meios importante para influir na construção desse novo ser, é através do adequado planejamento educacional. Os programas, planos, e projetos, resultado dessas atividades de gestão educativa, sejam introduzidos e generalizados como forma ideal para orientar, executar e controlar o trabalho educativo.
O que é ensino?
Antes de entrar-se na definição do objeto de estudo e pesquisa da Didática, lembre-se das palavras de J. Martins (1990, p. 23) quando expressou que "desde seu surgimento a palavra didática, significou a ciência de ensinar". Pode ser questionado o termo ciência, mas a idéia fica clara que o objeto é o ensino. Não se deve esquecer que na época que se utiliza o termo, ciência era só as áreas de conhecimentos da natureza. O termo "art" era utilizado para as atividades das atuais e reconhecidas áreas das ciências sociais. Mas, então por que, ainda hoje, é questionada a utilização do termo: ensino, substituindo-o por ensino-aprendizagem? Seria interessante considerar a seguinte analogia que ajudará a entender o ensino, como objeto e não o ensino como categoria, termo ou uma simples palavra.
Quando alguém denomina um homem de pai, utilizando o termo de pai com a significação de pai biológico, é porque esse ser humano masculino, tem, como mínimo um filho. Portanto, qualquer homem não é pai, só aquele que gerou um descendente. Algo parecido, salvando a analogia, sucede com a palavra ensino. Se um determinado professor realiza uma atividade que não gere uma "aprendizagem" objetivada, essa atividade não pode ser denominada de ensino. Por tanto, se não é lógico utilizar a palavra composta pai-filho, para designar um ser humano masculino que gerou um descendente dele, também é ilógico supor que a palavra composta "ensino-aprendizagem", substitua o objeto: ensino.
Segundo Baranov, S.P. et al (1989, p. 75) o ensino é "um processo bilateral de ensino e aprendizagem". Daí, que seja axiomático explicitar que não existe ensino sem "aprendizagem". Seu posicionamento sempre foi muito claro, quando estabeleciam entre ensino e aprendizagem, uma unidade dialética.
Para Neuner, G. et al (1981, p. 254) "a linha fundamental do processo de ensino é a transmissão e apropriação de um sólido sistema de conhecimentos e capacidades duradouras e aplicáveis." Destaca-se, por um lado, neste conceito a menção de "um sólido sistema de conhecimento", e por outro lado, as "capacidades duradouras e aplicáveis". No primeiro caso, referindo-se ao processo de instrução que procura atingir a superação dos discentes e o segundo caso ao treinamento, como forma de desenvolver as capacidades.
O ICCP (1988, p. 31) define "o ensino como o processo de organização da atividade cognoscitiva" processo que se manifesta de uma forma bilateral: a aprendizagem, como assimilação do material estudado ou atividade do aluno, e o ensino como direção deste processo ou atividade do professor.
Considerando estas idéias, fica claro que não é preciso a utilização da composição léxica "ensino-aprendizagem" para destacar a importância da "aprendizagem" neste processo, pois ela é inerente ao ensino. A palavra aprendizagem neste contexto, não esta sendo utilizada desde a perspectiva terminológica que distinguiria semanticamente os termos: aprendência, aprendizado e aprendizagem.
Portanto, o ensino, como objeto de estudo e pesquisa da Didática, é uma atividade direcionada por docentes à formação qualificada dos discentes. Por isso, na implementação do ensino se dão a instrução e o treinamento, como formas de manifestar-se, concretamente, este processo na realidade objetiva.
Diferenciando Educação, de Ensino, seria interessante refletir com as palavras de J.M. Guyau, quando diz que "educar a um homem não é ensinar alguma coisa que não sabia, senão fazer dele o homem que não existia." (GUYAU, J apud. ISÓIS, J. 1976, p. 14)
O que é instrução?
Este é um termo que tem sido utilizado indistintamente para se referir ao que se define como educação, e também tem sido empregado com a denotação dada aqui de ensino. Isso traz consigo um grande dilema. Suma-se a essa ambigüidade do termo, o fato de erros de tradução de um idioma a outro. Mas como o objetivo não é fazer a história das denotações desta palavra, se passa a delimitar sua concepção neste trabalho.
Segundo Baranov, S.P. et al. (1989, p. 22) "a instrução constitui o aspecto da educação que compreende o sistema de valores científicos culturais, acumulados pela humanidade". Nesta perspectiva nota-se a coincidência com o próprio termo de educação. A instrução, não é diretamente um aspecto da educação, mas bem, deve ser considerado como um elemento que aperfeiçoa o processo educativo, o que é diferente. A instrução não é inerente à educação, através da instrução pode-se desenvolver a educação. Se estes autores estiveram certos, não existiriam pessoas bem instruídas, pessoas já formadas, más educadas. Ou também, não existiriam analfabetos, sem alguma instrução, com uma boa educação.
É muito mais preciso, desde a óptica deste trabalho, o conceito de instrução valorado pelos alemães Neuner, G, et al. (1981, p. 112) enfatizando que na literatura pedagógica o conceito de instrução se emprega, na maioria das vezes, com a significação de ministrar e assimilar conhecimentos e habilidades, com a formação de interesses cognoscitivos e talentos, e com a preparação para as atividades profissional.
O ICCP (1988), também valora a instrução com essa mesma perspectiva profissionalizante quando expressa que:
O conceito expressa o resultado da assimilação de conhecimentos, hábitos, e habilidades; se caracteriza pelo nível de desenvolvimento do intelecto e das capacidades criadoras do homem. A instrução pressupõe determinado nível de preparação do individuo para sua participação numa ou outra esfera da atividade social. (ICCP, 1988, p. 32)
Portanto, a instrução não forma parte do conceito de educação, nem existe uma denominada lei de unidade da instrução e a educação. A instrução, como manifestação concreta do ensino, é uma ação didática que desenvolve o intelecto e a criatividade dos seres humanos com conhecimentos e habilidades que os prepara para desenvolver atividades sócio-culturais.
Como se colocou na introdução deste trabalho é possível que uma das causas pela qual a Didática seja considerada uma disciplina da Pedagogia consiste na falsa concepção de que a educação leva implícita dentro de si o processo de ensino. Por tanto, como se expresso anteriormente que na língua científica não admite a sinonímia, Educação, Ensino e Instrução designam realidades diferentes. A Educação se centra na formação do ser humano, especificamente na construção da personalidade, enquanto o Ensino reflete o processo de otimização da aprendizagem, a qual ajuda na formação do ser humano, mas não o define. Já a Instrução é uma forma de manifestar se o ensino, onde se focaliza os aspectos de conhecimentos e saberes da realidade objetiva e subjetiva.
Neste item se abordará os aspectos que demonstram a cientificidade da Pedagogia. Mas antes de referir-se a esses aspectos é bom considerar que a ciência, como atividade universal, não tem verdadeiramente, fronteiras entre as ciências particulares. Essa divisão existe pelas limitações do ser humano em poder abarcar grandes campos do saber, e também, uma forma de avançar em áreas priorizadas. Portanto sempre existirão termos de uma ciência, utilizados em outra. Ainda, uma mesma palavra utilizada em diferentes campos do saber expressa diferentes noções. Pois, em uma ciência, essa palavra pode ser um simples lexema para possibilitar a comunicação científica; enquanto em outra, essa mesma palavra pode ser um termo, formando parte das palavras chaves dessa área de conhecimento: terminologia. Em outra ciência, essa mesma palavra pode ser uma categoria, e em outra pode ser o próprio objeto de estudo.
Ainda, as contribuições de uma ciência, sempre serão bem-vindas em outras, por essa inter-relação dialética que existem entre elas, aqui se tratará sobre o objeto de estudo e de pesquisa que não deve ser objeto de outra ciência. Por isso, a definição do objeto de estudo da Pedagogia, não é a definição de uma simples palavra, que será utilizada como lexemas em outras ciências, senão a delimitação conceitual dessa megacategoria. Depois da definição do objeto, se sustentará, sinteticamente, o sistema de conhecimento científico que fundamenta a Pedagogia como ciência particular, através de suas categorias gerais, leis e princípios. Por último, neste item, se mencionará alguns métodos empregados nas pesquisas pedagógicas. O objeto de estudo, o sistema de conhecimentos científicos e os métodos, nessa ordem, são os três requisitos básicos que a comunidade científica exige para determinar se uma determinada área de conhecimento é uma ciência particular autônoma.
Objeto de estudo e pesquisa da Pedagogia
Para N.A. Konstantinov (apud. ISÒIS, J, 1976), o objeto de estudo da Pedagogia é a educação como fenômeno social. José C. Libâneo é muito mais explicito e direto quando expressa que:
Pedagogia é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação, isto é, do ato educativo, da pratica educativa concreta que se realiza na sociedade como uns dos ingredientes básicos da configuração da atividade humana. (LIBÂNEO, J. C.1999, p. 25)
Portanto fica claro que o objeto de estudo da Pedagogia é a educação. Esta Educação, vista como atividade sócio-cultural, política e econômica, que se manifesta de diversas formas e que seu sistema de ações e operações, exercem influências na formação de convicções para um desenvolvimento humano, consciente do papel do ser social e do ser individual.
Considerar a Educação como atividade, implicará que nela se dêem as orientações, os processos, os resultados, entre outras muitas coisas que são inerentes à atividade. Daí que o objeto seja amplo, onde os diversos processos e os diversos contextos sejam também áreas fronteiriças com outras ciências. Neste ponto, Libâneo é novamente convincente:
...o campo educativo é bastante vasto, porque a educação ocorre na família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos meios de comunicação, na política. Com isso, cumpre distinguir diferentes manifestações e modalidades de prática educativa tais como a educação informal, não formal e formal. (LIBÂNEO, J. C.1999, p. 25)
Segundo Libâneo, J (1999, p.126) "na mentalidade, de muitos educadores, a Pedagogia ainda continua tendo o sentido de metodologia, de organização do ensino". Isto explica, em boa parte, os dilemas enfrentados, ao longo dos anos, pelo reconhecimento oficial, em muitos paises, da independência cognoscitiva e da autonomia da Pedagogia como ciência particular. A Pedagogia é, sem dúvida alguma, a ciência que tem como objeto de estudo e pesquisa a Educação.
Sistema de conhecimentos científicos: categorias da Pedagogia
Toda ciência tem seu sistema de conhecimento científico que constitui a estrutura base para, a partir daí, erguer toda uma produção de novos conhecimentos, como resultado da atividade científica. Essas novas contribuições podem ser de uma mesma ciência, ou de outras a fins, que também colaboram na construção da estrutura sistêmica. Essa estrutura base, sistêmica e sistemática, se sustenta com as categorias gerais, com as leis e os princípios.
Os principais pilares de toda ciência são as categorias gerais dela. A Pedagogia tem quatro categorias gerais que devem, dialeticamente, interagir entre si. São categorias: a escola, a família, a comunidade e a convicção.
Escola
A escola, ao dizer de E.Krieck (apud. ISÒIS, J. 1976), só pode realizar uma parte da educação. Essa parte que se refere é a que se denomina educação escolar. Isso acontece por ser a escola o elo essencial do estado. A escola representa quem tem o poder, quem governa. A escola, ao contrário do que se pensa e se divulgou por muito tempo, não é inerente à educação. Ela, a escola, tem uma natureza social, como a educação, mas se consagrou como privilégios dos que ostentam o poder.
Portanto, a escola surgiu como instituição social, ao longo da história, à medida que a organização das sociedades foi se tornando mais complexa, a tecnologia mais avançada e as aquisições culturais mais vastas e sistematizadas. (HAYDT, R. 1997, p. 12)
A escola como instituição social, é o núcleo básico que o estado tem para poder influenciar na educação da sociedade, na formação de novas gerações de seres humanos.
Família
A família desde uma perspectiva sociológica é vista como a cédula da sociedade, e sem dúvida alguma, o núcleo básico da educação. É um erro histórico, pensar que a escola substitui à família na configuração educativa de seus membros. A escola poderia, e deve ter um papel cada vez mais preponderante nos processos educativos, mas nunca substitui à família, pois é inerente à educação, é o núcleo fundamental. Portanto, desde a perspectiva pedagógica, a família é responsável pela educação de seus membros. Isso é independentemente do sistema sócio-político governando.
Comunidade
Esta categoria, pouco estudada pedagogicamente, é a concretização da sociedade. Neste trabalho é vista como um sistema de seres vivos inter-relacionados que habitam um mesmo lugar. Devem-se destacar com significativa importância os elementos que conformam determinada comunidade. Entre esses aspectos estão:
A comunidade pode subdividir-se em duas: a comunidade externa, que implicará todo contexto que abrange a influencia de uma escola ou várias escolas. Isso significa o espaço sócio-cultural, político e econômico onde a escola ou as escolas estão instaladas, como estrutura físicas. Essa relação da escola com a comunidade implica necessariamente outras relações com instituições, fábricas, hospitais, clínicas, rádio local ou comunitária, etc. que estejam dentro do contexto comunitário. A outra é a comunidade interna. Essa comunidade será vista através da relação de uma escola com os familiares, amigos, conhecidos dos discentes matriculados.
Existe uma unidade indissolúvel entre estas três categorias: escola, família e comunidade. Daí que seja considera uma unidade dialética tripartida. Essa unidade permite a construção social dos sujeitos. Não ver essas relações, não incidir nessas relações é uma das grandes causas do fracasso educacional. Esta concepção é um corolário da primeira lei pedagógica: relação dinâmico-participativa entre o estado, a educação e a sociedade. Quando essas relações são estimuladas e controladas conscientemente, com a intervenção de todos os envolvidos, resulta na construção de convicções bem definidas e duradouras. Daí que a convicção seja uma categoria essencial e determinante de uma educação real, objetiva e verdadeira.
Convicção
Ainda que a filosofia estude a convicção, não é filosofando que a mesma se forma. Só se forma uma convicção, a partir da educação. Constrói-se uma convicção quando, nela se dão os elementos que a conformam: valor, sentimento, qualidade do caráter, formas da conduta segundo o temperamento, ideologia, e atitude. Quando não se tem convicção de algo, ante esse algo se atua intuitivamente, só pelo instinto. Por isso, se é através das convicções que o sujeito se humaniza, e o objetivo da educação sempre refere à formação da personalidade, essa personalidade deve estar convicta de seus atos e pensamentos. Então, neste contexto, convicção é a certeza adquirida por fatos ou razões, como resultado do processo educativo de uma determinada sociedade.
Sistema de conhecimentos científicos: leis pedagógicas
A lei, desde a perspectiva científica, é considerada a relação básica, constante e necessária entre os fenômenos dentro do objeto de estudo e pesquisa de uma determinada ciência. No caso especifico das leis pedagógicas se estabelecem essas relações, ou se manifestam através das relações de causas e efeitos dos processos educacionais e dos processos educativos. Ainda existem trabalhos que abordam esta temática, Alvarez,C (1995), ICCP (1988), entre outros, aqui se enfatiza a presencia na Pedagogia, de três leis gerais que referem à relação entre estado, educação e sociedade; uma segunda lei que refere à autonomia educativa e sua influência diversificada; e uma terceira que refere às condições socioculturais e genética sobre o desenvolvimento social e individual.
1.- Lei da relação dinâmico-participativa entre o estado, a educação e a sociedade.
A dinâmica, nesta lei, parte da sociedade que determina o tipo de estado a se formar; por sua vez, o estado determinará o tipo de educação que se aplicará, enquanto a educação determinará o tipo de sociedade que se constrói. Essa relação cíclica estabelece sua forma de concretizar-se, através da relação comunidade, escola e família; onde cada um, respectivamente, refere aos componentes básicos desta lei.
Sendo assim, para que essa lei se cumpra, é a comunidade quem deve determinar o tipo de escola que deseja ter no seu contexto. A escola deveria desenvolver um profundo trabalho educativo com as famílias, para determinar o tipo de família que deveria ter, e então a família, genericamente falando, deveria influir na comunidade, para configurar o tipo de comunidade a se construir.
Infelizmente, esta é a primeira lei pedagógica, e é também, geralmente, a primeira a ser violentada. Esta é a principal causa do grande problema social que existe nos paises que não consideram esta importante lei. Pior ainda, são as poucas perspectivas que têm esses paises para resolver essas inúmeras situações sociais de calamidade. Pois, sem aplicação conseqüente desta lei não será possível reverter essas situações. Já existe uma resposta bem enérgica da natureza aos erros do ser humano às constantes violações das leis da natureza: Suname, El Nino, Desertificação, entre muitas outras respostas. E a sociedade? Será que já se está aproximando sua resposta? Será tão enérgica que conduza a sua própria autodestruição?
2. Lei da autonomia educativa e suas influências diversificadas na formação da consciência.
Para a existência de uma convicção, se deve ter consciência do fato ou da razão em questão. Neste sentido, se devem observar quais são as influências que melhor configuram uma determinada pessoa, ou uma determinada comunidade. As influências na construção do ser humano se manifestam em diversos contextos e em diversas modalidades. A educação, a formação de convicções, se desenvolve não só na escola, mas também no lar, na rua, na igreja, na fábrica, no bar, nos meios de comunicação, e outros lugares. Dentro das influências que se devem observar e propiciar estão: educação física & mental, educação ético & laboral, educação moral & axiológica, educação política & ideológica, educação artística & estética e educação intelectual & criativa.
Quando não se observam os aspectos que configuram a regularidade desta lei, o resultado educativo é, geralmente, um caos. Esta lei se relaciona com a primeira. É necessário seguir bem de perto o desenvolvimento dessa inter-relação. Pois, a família, por natureza, é responsabilizada com a educação de seus membros; contudo, caberia ao estado, através da escola, preparar a família nos conhecimentos sobre os diversos tipos de educação que existem, naturalmente, de uma forma prática. Não é só com a pretendida educação intelectual através do processo de "ensino-aprendizagem", no contexto escolar, que se logra uma educação consciente. Precisa-se da chamada "escola da vida".
Para desenvolver uma educação consciente, integral e dinâmico-participativa, é fundamental criar as condições sócio-culturais que beneficiem a formação de convicções. Para isso, devem-se observar os princípios e corolários desta segunda lei, que está interligada à primeira e à terceira, ainda preservando sua autonomia educativa e suas influências diversificadas. É importante que sempre que seja possível estejam presentes pessoas observadoras dessas influências para verificar os efeitos em cada educando. Pois, uma influência pode ter resultados diferentes, segundo a diversidade do público alvo.
3. Lei das condições sócio-culturais e genéticas sobre o desenvolvimento social e individual.
O desenvolvimento humano, expressado na sociedade ou nos indivíduos, dependerá das condições sócio-culturais; que à sua vez deverá considerar os aspectos genéticos para modificar ou transformar esse contexto social e cultural, que permita as vias adequadas para melhor configurar uma nova sociedade, com indivíduos cada vez mais humanos, menos egoístas, e pensando sempre no aperfeiçoamento da sociedade por encima dos interesses individuais.
Também, essa sociedade deverá ser, cada dia, mais respeitosa com as diversidades e com os interesses de seus membros. Deve-se estabelecer um balanço entre os interesses sociais e os interesses individuais. Só se logrará, sem violência, quando a escola, como gestora da tríade, exerça sua influência maior nas famílias e nas comunidades. Daí a importância cardinal de que os projetos pedagógicos das escolas incluam, independentemente da participação das famílias e das representações comunitárias, projetos de escolas melhores desenhadas arquitetonicamente, com variadas infra-estruturas e respeitando seu contexto meio ambientalista.
Sistema de conhecimentos científicos: princípios pedagógicos
O princípio científico é uma doutrina que emerge de uma ou várias leis. A teoria sobre educação permite uma estruturação de um sistema de princípios como resultado de pesquisas de diversas ciências e em especial da Pedagogia. Segundo ICCP (1988) estes princípios têm sua base nas leis do materialismo-dialético e histórico. São idéias verificadas cientificamente a partir do papel da prática na formação da personalidade, a influência do homem sobre a natureza, a relação da educação com a prática social e a função do coletivo na formação das qualidades da personalidade.
Os princípios pedagógicos orientam a definição dos objetivos educativos que a sua vez determinam o conteúdo e a forma (direção) da educação de uma sociedade.
1. Unidade indissolúvel entre escola, família e comunidade como via natural de formar convicções.
2. Papel diretor da escola na relação tripartida.
3. Relação entre as modalidades de educação: informal, não-formal e formal.
4. Relação das influências diversificadas com a tipologia educacional: educação física & mental, educação ético & laboral, educação moral & axiológica, educação política & ideológica, educação artística & estética e educação intelectual & criativa.
5. Instruir e treinar, otimizam a formação de convicções, mas não a determinam.
6. Determinação das condições sócio-culturais e de relações econômicas na formação da personalidade.
7. Caráter dominante dos grupos e coletivos sobre os indivíduos.
8. Respeito ao indivíduo na formação do ser social.
9. Vinculação, da formação de convicções com a vida, o meio social e o trabalho.
10. O conhecimento, por si só, não determina a formação de uma convicção.
11. Influências subliminares, intuitivas, só serão dominadas por convicção.
Métodos de Pesquisa Pedagógica
Neste contexto, método científico é a forma racional ordenada, objetiva e social de desenvolver uma atividade, que estabelece o caminho, através de técnicas, procedimentos, e passos com marcado nível de probabilidades de verificação científica para atingir um objetivo definido.
As formas concretas de realizar as ações do método científico constituem-se nas técnicas científicas desse método. Por outro lado, as operações concretizar-se-ão nos passos que dão lugar ao procedimento. Ficando a relação de implicação de passos forma o procedimento, procedimento forma a técnica e esta técnica forma o método.
Considerando as técnicas segundo este sentido específico, a relação existente entre método científico e técnica científica parece clara. Sua natureza é a mesma. Ambos são procedimentos, formas de atuação científica. Sua diferenciação consiste na abrangência do método, além disso, a relação filosófica do geral e o particular entre estes dois termos. A seguir, se expõem métodos e técnicas de pesquisa desde as perspectivas práticas e das teóricas que se empregam com sucesso na Pedagogia.
Os métodos práticos que mais se aplicam são: a observação, a experimentação e a sondagem (levantamento). A observação é o método de recopilação de informação educacional primária mediante a percepção direta dos elementos do objeto estudado ou pesquisado. Consiste no registro sistemático, válido e confiável de comportamentos ou condutas manifestas. O experimento é o método onde se cria uma situação, já no laboratório, já no contexto escolar, já na sociedade ou natureza, com a finalidade de observar, sob controle, a relação que existe entre os fenômenos educacionais. A sondagem, também conhecida como, levantamento, é o método onde a informação requerida procura-se através da respostas a perguntas orais, escritas no momento da pesquisa ou já recolhida com anterioridade. Existem três técnicas deste método: fonte bibliográfica, questionário e entrevista.
Os métodos teóricos permitem revelar as relações essenciais do objeto de pesquisa, não observáveis diretamente. Os métodos teóricos cumprem uma função epistemológica importante, já que possibilitam as condições para ir além das características superficiais da realidade objetiva. Também permitem explicar os fatos e aprofundar nas relações essenciais e qualidades dos processos, fatos e fenômenos educacionais. Os métodos mais usados são:
A seguir se explicita uma série de aspectos que fazem da Didática uma ciência particular, com autonomia, expressado na grande produção de conhecimentos científicos que existem no ensino. Dessa forma se obtém base teórica sólida, e bem sustentada, que permitirá se situar dentro do contexto didático, facilitando o entendimento de sua estrutura base.
A Didática, como toda ciência particular, tributa conhecimentos científicos à tecnologia, que atende a essa demanda, e que através da interface recria outros produtos e serviços a serem aplicados no contexto social. A Didática não é uma tecnologia, mas nela existe uma tecnologia didática.
Por que se pode afirmar categoricamente que a Didática é uma ciência particular? Será que ela tem seu próprio objeto de estudo? Existe nesse objeto, toda uma estrutura base organizada com conhecimentos científicos que a sustentem como tal? Existem métodos e técnicas com um alto teor científico que fundamente e verifique os resultados das pesquisas nesta área com suficiente credibilidade para toda uma comunidade científica?
Objeto de estudo e pesquisa da Didática
Ainda existem autores, geralmente autodidatas, que escrevem sobre o objeto da Didática como a práxis pedagógica ou como o normativo das atividades escolares. Também têm outros que consideram a Didática como o estudo da teoria geral da instrução, ou como a arte de ensinar, ou como o processo de ensino-aprendizagem, ou como o conhecimento, ou como o processo docente-educativo, entre muitas outras concepções. Não obstante, existe um consenso, desde sua origem: a Didática estuda o ensino.
Portanto, se o objeto de estudo e pesquisa da Didática é o ensino, e se o ensino é entendido como atividade direcionada por docente na formação qualificada dos discentes, é lógico que se reflita sobre o que e como se deve ensinar. As respostas, ao que ensinar, são estudadas e pesquisadas pela parte da Didática, denominada Desenho Curricular, também conhecida, simplesmente, como currículo. As respostas ao como ensinar, ficam na responsabilidade da Dinâmica do Ensino, a outra parte em que se divide esta ciência.
Sistema de conhecimentos científicos: categorias da Didática
Depois de delimitar o objeto de estudo e pesquisa da Didática, o ensino, é fundamental explicitar os aspectos que conformam a estrutura base desta ciência particular. Sobre o ensino existe toda uma estrutura sistemática e sistematizada de conhecimentos científicos que permitem a independência dela. Esta ciência tem suas próprias categorias, suas leis e seus princípios que a sustentam.
Muitos manuais de Didática abordam o objetivo, conteúdo, método, meio, avaliação entre outros elementos do processo de ensino, como categorias didáticas. Ainda elas sejam tratadas como categorias, poderiam ser mais bem denominadas como componentes didáticos da aula. Pois elas não são categorias gerais, senão categorias elementares da aula. As três categorias gerais da Didática são: a docência, a aula, e a aprendência. Dentro da estrutura de cada categoria geral existem outras categorias menores. Naturalmente, existe uma importante inter-relação entre elas. Isso fundamenta a dialética da dinâmica do processo ensinante.
Docência: ação estruturada na concretização do processo de ensino, com ativa participação dos docentes e discentes. Não deve confundir-se com outros processos que acontecem na escola, mas que não configuram totalmente dentro da docência: processo extra-escolar, processo extra-docente e processo docente-educativo. Seus componentes básicos são o processo docente, o docente e o discente. "A docência é uma prática educativa, mas nem toda prática educativa é docência, por ex. relações familiares."(I ENCUP,2007).
Aula: operação docente celular aonde se concretiza o desenho curricular e a dinâmica do ensino. É uma operação docente, pois forma parte da ação docência, que a sua vez forma parte da atividade ensino. É celular, pois como cédula fundamental do processo de ensino se configura a partir de uma determinada unidade de tempo, num marco delimitado de espaço. Sua aplicação prática deverá permitir, com seus componentes, a consecução dos princípios didáticos. Formam parte da estrutura de uma aula os seguintes componentes: objetivo, conteúdo, tática (método, forma e meio), e controle (avaliação).
Aprendência: interação entre ensinante e aprendente que permite ao aprendente ser autor de seu próprio desempenho. É o processo mediante o qual volitivamente se leva à cognição, provocando mudança no aprendente produzido pelo aprendizado. São componentes da aprendência o desempenho, autoria e aprendizado.
Sistema de conhecimentos científicos: leis didáticas
Segundo o ICCP (1988, p. 185) "o ensino é um processo complexo e contraditório regido por leis objetivas, assim como pelas contradições fundamentais que possibilitam sua concreção". A lei, neste contexto segue a linha desses autores, e considerada como o reflexo do essencial na dinâmica didática, onde se expressam as relações mais gerais necessárias, reiteradas e relativamente constantes da realidade objetiva. Tem vários autores que consideram uma grande amálgama de leis, que na verdade constituem princípios ou corolários destas que se mencionam aqui.
1.- Lei das contradições dicotômicas internas do processo docente.
A complexidade do processo de ensino reside, fundamentalmente, pelas suas contradições internas. É precisamente essa, uma das características que permitem diferenciar esta atividade, das muitas outras atividades que realiza o ser humano. Para o sucesso do processo docente devem-se conhecer as principais contradições dicotômicas, entre elas: ensinar-aprender, grupo-indivíduo, cultura universal-currículo, teoria-prática, material-racional, discente-docente, ensinante-aprendente, instrução-superação, treinamento-capacitação, formação-qualificação.
2.- Lei da otimização educativa do ensino.
O ensino, como atividade preparada, organizada e planejada, permite a otimização do processo educativo. Daí que surge o processo docente-educativo. Pois não existe uma unidade dialética entre essas atividades, não são inerentes entre si, mas constituem a forma ideal de aperfeiçoar o processo. Isto será possível, quando se concretizem, adequadamente, todos os processos básicos do ensino: instrução, treinamento e formação qualificada, e que no currículo, sempre estejam colocados os aspectos pedagógicos necessários para configurar as convicções que conformam parte do modelo de personalidade que se deseja construir.
3.- Lei da aula como núcleo da atividade docente.
Qualquer atividade, ação ou operação desenvolvida pelo professor, por si só, não constitui uma aula. Para que uma determinada ação seja considerada com tal, deve permitir que os componentes que a conformam interajam possibilitando o cumprimento de seus princípios didáticos. Por tanto, uma atividade sem objetivo definido, ou sem um conteúdo que refere a esse objetivo, ou sem métodos determinados pelo conteúdo, ou sem um meio que expresse as condições sócio-culturais que permita a aplicação dos métodos selecionados, ou sem recursos didáticos configurando o conteúdo selecionado, ou sem um controle da consecução do objetivo proposto, essa atividade não pode ser reconhecida como aula.
A aula, como núcleo da atividade docente, deve possibilitar o cumprimento dos princípios didáticos. Entre maior coesão entre os componentes da aula, maiores serão as possibilidades de sucesso da docência.
Sistema de conhecimentos científicos: princípios didáticos
Os princípios didáticos constituem os fundamentos essências no planejamento didático e em seu desenvolvimento. É a base para selecionar os meios de ensino, atribuir tarefas e avaliar aprendizagens. Sem o cumprimento deles uma determinada ação desenvolvida pelo docente perde a consideração de ser uma aula. Como também acontecem com as categorias e as leis, diversos autores consideram uma grande variedade de princípios que, de certa forma, convergem nestes sete principais princípios didáticos.
1.- Princípio da tecno-cientificidade: consiste em que todo conteúdo do ensino deve ter um caráter tecnológico, artístico ou científico, apoiado na realidade objetiva. Deve ser sistêmico e, como reflexo dessa realidade deve ficar vinculado à prática social, como critério da verdade.
2.- Princípio holístico do currículo: cada uma das matérias, disciplinas ou temas de qualquer etapa docente deve abordar, como mínimo, conhecimentos previamente estruturados e planejados, de maneira que o discente os integre como parte de um todo: transdisciplinaridade.
3.- Princípio da otimização docente: inter-relação dos processos mentais. Este consiste na necessidade de vincular os fatos reais, concretos, com as abstrações e generalizações, através de operações planejadas que levem à cognição: apropriação dos conteúdos pelos discentes.
4.- Princípio da metacognição: é o que diz respeito ao caráter consciente e à atividade independente dos discentes, através da direção de um docente que viabilize estratégias e táticas para condicionar o aprendizado. (aprender a aprender).
5.- Princípio da acessibilidade: constitui a exigência de que o conteúdo do ensino seja compreensível e possível de acordo com as características individuais do discente. Consiste em conhecer o nível intelectual e acadêmico do alvo do ensino ou da media do grupo para o planejamento didático seja objetivo.
6.- Princípio da vinculação do individual com o coletivo, e vice-versa: deve unir os interesses do grupo e os de cada um de seus membros, com a finalidade de lograr os objetivos propostos nas tarefas planejadas. Não se deve dinamizar a aula para um discente, e sim para todos os membros do grupo. Converter os grupos em coletivos, observando as características individuais. Deve permitir o atendimento diferenciado.
7.- Princípio da solidez dos conteúdos: consiste no trabalho sistemático e consciente durante o processo docente, no qual o discente deve assimilar os conhecimentos, as habilidades, os hábitos e os valores, interiorizá-los, guardá-los na memória e utilizá-los a longo prazo.
Métodos de pesquisas didáticas
Nas pesquisas didáticas, o método científico é a forma racional, ordenada e objetiva que estabelece o caminho, através de técnicas com marcado nível de probabilidades de verificação científica para atingir o objetivo definido. As vias para realizar as ações do método da pesquisas científicas constituem-se nas técnicas desse método. A seguir, se expõem métodos e técnicas de pesquisas desde as perspectivas práticas e teóricas que se empregam com sucesso na Didática. Os métodos que se empregam na Pedagogia e em outras ciências particulares são muito parecidos, a principal diferença está nas técnicas desses métodos.
A natureza do método e da técnica é a mesma: ambos são procedimentos, formas de atuação científica. Mas existe, entre eles, uma grande diferença. Sua diferenciação consiste na abrangência do método, que refere ao geral, enquanto a técnica refere ao particular. Por isso, se tem, em alguns casos, um mesmo método, com diversas técnicas. A seguir se expõem métodos e técnicas de pesquisa, desde as perspectivas práticas e das teóricas que se empregam com sucesso na Didática.
Os métodos práticos com maior freqüência de uso na Didática, como acontecem nas ciências sociais, são: a observação, a experimentação e a sondagem (levantamento). A observação é o método de recopilação de informação docente mediante a percepção direta, principalmente, através da observação de aulas, as denominadas Visitas Técnicas, como uma técnica de observar os elementos do campo de ação do objeto estudado ou pesquisado. Outra técnica específica da Observação Didática consiste no registro sistemático, válido e confiável de comportamentos ou condutas manifestadas nas aulas metodológicas: instrutivas, demonstrativas e abertas.
Outro método prático, para as pesquisas didáticas, menos utilizado que o anterior, é o experimento. A prática experimental é o método onde se cria uma situação, já no laboratório, no contexto escolar, na sociedade ou natureza, com a finalidade de observar, sob controle, a relação que existe entre os fenômenos que configuram o objeto estudado. Outra técnica deste mesmo método é a experimentação, onde se desenvolvem atividades sem os estreitos controles das variáveis. Nesta técnica não se utiliza a comparação entre os grupos de controle e o grupo experimental. Centra-se mais no controle de variáveis semânticas ou significativas do próprio campo de ação da pesquisa.
O terceiro e último método prático é muito utilizado nas pesquisas didáticas, ainda que não supere o primeiro, é a sondagem, também conhecido como, levantamento. A sondagem é o método onde a informação requerida procura-se através das respostas a perguntas orais, escritas no momento da pesquisa ou já recolhida com anterioridade. Existem três técnicas deste método prático: sondagem por fonte bibliográfica, questionário e entrevista.
Uma das grandes dificuldades das pesquisas didáticas está na inadequada utilização dos métodos teóricos, deixando-se de fazer uma maior contribuição à ciência. Essa inadequada utilização, também cria uma série de questionamentos e dúvidas da cientificidade dos resultados. Não obstante, esses métodos são muito importantes, já que permitem revelar as relações essenciais do ensino, não observáveis diretamente ou a simples olhares.
Os métodos teóricos didáticos cumprem uma função epistemológica importante, pois possibilitam ir além das características fenomênicas ou superficiais da realidade. Também permitem explicar os fatos e aprofundar nas relações essenciais e qualidades dos processos, fatos e fenômenos docentes. Os métodos mais usados são: o analítico, o sintético, o abstrato, o concreto, o indutivo, o dedutivo, o histórico, o modelativo, o sistêmico e o comparativo.
Referente às origens destas ciências particulares analisadas neste trabalho pode se concluir que a Pedagogia surgiu primeiro que a Didática. A Pedagogia nasce no século XIX e teve seu grande desenvolvimento no século XX. No caso da Didática, surgiu no final do século XX, e talvez por isso, ainda neste século XXI, em alguns paises, institucionalmente, não é considerada como tal. Daí que não receba o apoio governamental, e seu desenvolvimento fica comprometido, só a expensas dos trabalhos e esforços individuais de cientistas didáticos.
Por outro lado, é significativo ressaltar que a Pedagogia, igualmente à Didática, não estabelecem normas, diretrizes, ou quaisquer outras considerações ao respeito. Elas, como qualquer outra ciência particular, estudam e pesquisam o objeto delas, e dentro desse objeto, o campo de ação, que corresponde aos problemas científicos que solucionam através da atividade investigativa. Logo, o resultado divulgado como um novo conhecimento científico entrará no processo de interface, para converter esse novo saber, num produto ou serviço, norma ou diretriz que será aplicado na prática, através dos processos de introdução e generalização dos resultados científico-tecnológicos. Esses resultados na prática social provocarão uma inquestionável melhoria ao processo de construção do ser humano (formação da personalidade), no caso da Pedagogia e ao processo docente, no caso da Didática.
Independentemente da necessária aplicação de resultados científicos e tecnológicos, a educação, sendo uma atividade sócio-cultural, política e econômica, pode e deve ser desenvolvida através da inter-relação entre escola, família e comunidade, onde a escola exerça seu papel mediador, sem tomar a responsabilidade e obrigatoriedade que tem a família sobre a educação de seus membros. Para isso, a escola deve assumir maior autonomia, através da participação da família e a comunidade na gestão educacional.
Reconhecer as diferenças entre educação e ensino, possibilitará fazer um melhor planejamento, e de fato, um melhor trabalho educativo, complementando os objetivos instrutivos das disciplinas com os objetivos educativos. É "lutar" para que o desenho curricular seja concebido transdisciplinarmente. É propiciar no planejamento educacional e no planejamento didático, a possibilidade de educar ensinando e de ensinar educando.
Não deve existir uma unidade forçada entre educação e ensino. Por isso Haydt, R (1997, p.12) expressa que "enquanto a educação pode se processar tanto de forma sistemática, como assistemática, o ensino é uma ação deliberada e organizada" Para que exista educação no processo de ensino se deve desenhar um currículo que inclua os aspectos educativos desejados. Por isso, aspectos de cidadania, tais como etiqueta, educação ambiental, educação no trânsito, ética, moral, legislação, entre muitos outros, devem ser inseridos no processo docente, desde bem cedo na escola. Portanto, não existe uma unidade, como lei ou princípio, entre educação e ensino, e si uma "relação necessária" ao dizer de J. Araújo. (ARAUJO, J. 2002, p. 92).
Se a escola cria as condições sócio-culturais, tomando em consideração as condições genéticas dos educandos, se a escola permite a participação dinâmico-participativa da família e a comunidade na sua gestão didático-pedagógica, essa escola estará construindo um ser humano convencido de seu papel protagônico na sociedade. Neste sentido, será um ser humano menos egoísta, menos individualista, menos agressivo, e pensará e dará maior valor aos aspectos do coletivo. Estará construindo um ser humano superior em todos os sentidos sociais.
ÁLVAREZ ZAYAS, C. La escuela en la vida. La Habana: Pueblo y Educación, 1995.
ARAUJO, J. As intencionalidades como diretrizes da prática pedagógicas. Em Pedagogia Universitária São Paulo: Papirus, 2002.
BARANOV, S.P. et al. Pedagogía. La Habana: Pueblo y Educación, 1989.
GADOTTI,M. Educação e Compromisso. 3.ed. Campnas: Papirus, 1988
GARCIA, R O fazer e pensar dos supervisores e orientadores educacionais. 9 ed. São
Paulo: Loyola, 2004
HAYDT, R. Curso de didática Geral. 3.ed. São Paulo: Ática, 1997.
HOFF, S. Fundamentos filosóficos dos livros didáticos elaborados por Ratke, no século XVII. Em Revista Brasileira de Educação pág. 147. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ rbedu/n25/n25a12.pdf . Acesso em: 18/11/2007.
ICCP. Pedagogía. La Habana: Pueblo y Educación, 1988.
I ENCUP. I Encontro Nacional de Coordenadores das Universidades Públicas Brasileiras. Disponível em: http://ced.ufsc.br/nova/encontro_reforma_pedagogia/GT2.htm. Acesso em 30/11/2007
ISÓIS, J. Pedagogia Rimada. Ciudad de México: NGMPM, 1976.
LIBÂNEO, J. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 1999.
_______ et al. Pedagogia, ciência da educação? 3.ed. São Paulo: Cortez, 2001.
LUAIZA, B.A. Pedagogia e Didática: duas ciências autônomas. Imperatriz: BeniRos, 2008
MARTINS, J Didática Geral. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1990
NASSIF, R. Pedagogia General. Buenos Aires: Kapelusz,1958.
NEUNER,G. et al, Pedagogía. La Habana: libros para la educación,1981.
* Este é um trabalho que sintetiza as principais idéias da obra: Pedagogia e Didática: duas ciências autônomas, resultados de mais de 10 anos de pesquisas. Enviado a Monografia.com nesta data: 12/01/2008.
**Prof DrC. Benito Almaguer Luaiza, é atualmente o Diretor-Presidente do Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento Humano – CEPEDH. Foi membro do Comitê Científico do IV Encontro de Pesquisas na Educação do Curso de Mestrado em Educação da UFPI (2006); Assessor Acadêmico e Professor-pesquisador em várias Instituições de Ensino Superior em vários paises. Professor do Mestrado em Ciências da Educação. Convênio–IPLAC/UEMA; Autor de livros e artigos científicos publicados em Argentina, Haiti, Inglaterra, Cuba e Brasil.
Prof. Dr C. Benito Almaguer Luaiza
Diretor-Presidente do CEPEDH
Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
|
|