Esse artigo pretende analisar alguns aspectos de como o medo era encarado na Idade Média. Iremos analisar o conceito de medo, a formação do Tribunal do Santo Ofício, além de estudar de que forma o homem do medievo encarava a idéia da presença do Demônio, a crença em seres fantásticos como vampiros, lobisomens e, em um nível, diferente de bruxas.
Palavras-chave: Medo, Idade Média, Bruxaria
"Não acredito em bruxas, mas que elas existem,existem".
Ditado popular escocês
A crença no diabo, nas bruxas e nos males que podem nos causar, e em outros seres fantásticos, fundamenta-se através das escrituras sagradas para o Cristianismo – a Bíblia. O livro sagrado do Cristianismo esta repleto de "ordens" para destruir os magos e os encantadores. Esses relatos seguem dando vazão as crenças de que as bruxas existem e que podem ocasionar malefícios – e/ou benefícios – para a humanidade.
O pecado da heresia era considerado grave e a simples interpretação da Bíblia podia considerá-lo como tal. Bastava interpretá-la de forma diferente (as interpretações do Clero) era considerado herege, ou se apenas pensasse o contrario sobre os pensamentos e dogmas da Igreja eram considerados hereges.
A demonologia foi um tema muito presente no medievo, pois afirmavam que havia relações sexuais entre demônios (Íncubus e Súcubus) e os humanos, a ponto de ser dito que de um destes atos sexuais, surgiria o anticristo bíblico. Várias personalidades acreditavam na existência destes seres mitológicos: Alberto Magno (1193-1280), Tomás de Aquino (1225-1274), Roger Bacon (1214-1294), etc.
As origens destes seres causadores de medo no medievo eram geralmente relacionadas a entidades religiosas de culturas pagãs. Culturas estas que foram se exaurindo a partir dos Dogmas impostos pela Igreja.
Segundo Jean Delumeau: "O distante, a novidade e a alteridade provocavam medo. Mas temia-se do mesmo modo o próximo, isto é, o vizinho." (DELUMEAU, 2009. p. 82). O medo era cotidiano, era algo que permanecia na mente de cada um, desde a hora do despertar a hora de dormir. O medo estava ao lado ou estava à frente, estava no vizinho, no forasteiro, nas estrelas, no desconhecido, no vento... O medo estava engendrado em cada ser, o medo de si próprio. Medo de se tornar um agente do Diabo, o medo da ira de Deus, o medo do pecado, e o medo do Fogo Inferno.
Definir conceitualmente a palavra medo é uma tarefa complexa. Em primeiro lugar porque existe uma grande diferença entre o medo individual e os chamados medos coletivos. O medievalista Jean Delumeau dedicou todo um livro a estudar essa questão, o clássico História do Medo no Ocidente. Para Delumeau, a primeira forma de se compreender medo é por sua definição "científica". O medo individual é "uma emoção choque, frequentemente precedida de surpresa, provocada pela tomada de consciência de um perigo presente e urgente que ameaça, cremos nós, nossa conservação" (DELUMEAU, 2009 p.30). Contudo, para muito além desse pavor por fatos isolados, pouco usuais, os agentes causadores de medo no medievo eram, sobretudo, entidades que, segundo o imaginário popular, estavam de algum modo sempre presentes, ainda que visualmente ausentes. Essa dialética gerou na prática a crença na ação de maus espíritos, demônios, seres sobrenaturais etc. Não importavam se eram muito ou pouco vistos. O fato é que não se colocava em dúvida sua existência. Portanto, uma definição de medo na Idade Média é o medo do que pode surgir a qualquer momento, mesmo que não surgisse nunca.
Boa parte dos agentes de medo no medievo foi herança do mundo antigo romano. Não se pode afirmar categoricamente que eles foram, mesmo hoje, superados, mas os últimos séculos da Idade Média e o advento da Idade Moderna construíram novas formas de lidar com eles. A partir do momento em que começa a aparecer o elemento Burguês na sociedade ocidental – séculos XIV-XVI – junto se levanta uma série de valores influenciadores, encorajada pela nobreza em queda, e uma literatura épica que exalta, sem a mínima preocupação, a astúcia e a audácia (entenda-se ausência de medo). E esse estereótipo do cavaleiro sem medo, sempre associado à nobreza e aos príncipes é "constantemente realçado pelo contraste com uma massa considerada sem coragem". (DELUMEAU, 2009. p. 15). Delumeau nos mostra que a literatura que surgiu na época fazia referencia a um nobre, seja ele de sangue real ou pertencente à nobreza, os representa de forma indestrutível e com a total ausência de medo, "A literatura das crônicas é igualmente inesgotável no que diz respeito ao heroísmo da nobreza e dos príncipes. (...)" DELUMEAU, 2009. p.15)
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