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Por outro lado, não é por a febre desaparecer que desaparece o mal. E em certas circunstâncias, é arriscado atacá-la, por ela ser o único sintoma controlável da existência do perigo. Mas o que nos interessa, em resumo, frisar, é a necessidade de isolar a realidade social de que o meretrício sintoma. Em que consiste, pois a tal doença de que vimos falando? A resposta parece simples--- falta de dinheiro: ausência de condições materiais e necessidade de obter essas condições. O comércio do amor será, portanto um meio de enriquecimento.
Como o suborno; como a chantagem; como o furto. Qualquer destas actividades é criminosa, porque lesa os interesses fundamentais da sociedade: destrói a confiança, destrói a segurança, destrói a personalidade dos indivíduos. Por isso, qualquer destes meios de enriquecimento—e outros no género são ilicítos. A sua razão de ser encontrar-se-á, portanto, na razão que leva as pessoas a cometer tais actos ilícitos. E essa razão de ser vai descobrir-se na própria PERSONALIDADE daquele que pratica o acto. A prostituição envolve, a nosso ver e preponderantemente, o elemento espiritual. A prática de actos contra natureza, por exemplo, não precisa de ser remunerada para representar uma terrível forma de prostituição --- a mais nojenta e lamentável, porventura. E portanto, numa destruição de elementos que formam a personalidade que vamos encontrar o gérmen da prostituição. O indivíduo desinteressa-se de si próprio; de qualquer ideal pelo qual valha a pena lutar e viver. No que concerne ao meretrício, as necessidades económicas, fazem o resto. Portanto e por um lado, ausência de formação moral consciente; por outro, ausência de qualquer interesse que não seja dirigido à necessidade de assistência material.
Necessidade ( ou ambição) e falta de escrúpulo. A medida que crescemos, vamos sentindo necessidade, cada vez mais premente, de orientar a vida, organizá-la, estabelecê-la, definitivá-la. Para esse fim, fomos instruídos --- estudámos e fomos estudados, incutiram-nos ideias, crenças, mostraram-nos a realidade e fizeram-nos ter superstições. O homem é um conjunto de ideias e sentimentos que a vontade orienta na direcção que lhe parece melhor. Por isso, a educação é necessária e é necessário que seja justamente o melhor. Mas o facto é que a educação--- que já por si é defeituosa e incompleta, tem inimigos tremendos que a combatem e, em grande parte dos combates a vencem. Desses, destacamos dois --- um exterior à pessoa--- o desamparo. Outro íntimo--- a desilusão. Resume-se à constatação de que a vida não é o que nos disseram que devia ser. Muito pelo contrário, ela é geralmente uma soma enorme de contrariedades e desgostos que, afectando a pessoa no que ela tem de mais querido --- as convicções, as crenças e as superstições--- corroem esses elementos, cansam-se de tanto lhes bater, exterminam-nos e fazem da alma um campo de destroços que só uma força sobre-humana poderá recompor. É então que a vontade renuncia --- ou porque a vitória é remotíssima ou porque parece impossível. Perde-se o interesse pela vida, pela realização dos sonhos que já se não tem, pela construção de outros que ocupem o lugar daqueles --- e nada mais resta além da necessidade de subsistência diária, a obter de qualquer forma --- não interessa como. Por isso a educação deveria ser qualquer coisa de muito mais concreto, prático e sério do que é. No mesmo sentido que a educação defeituosa, actua a não educação.
De uma ou de outra maneira, as ilusões nascem e têm por pai o erro na apreciação das circunstâncias em que se vive em determinada época e em determinado país. Por outro lado, como dissemos, actua o desamparo --- que pode manifestar-se de muitas e variadas formas. Para já, interessa frisar que pode verificar-se no seio da família ou no seio da comunidade, entendida esta palavra como todo e qualquer outro aglomerado social de que a pessoa faz parte, desde o simples círculo de amigos, ao Estado. É que um amparo consciente (quer da família, quer do Estado) se é, preventivamente, necessário (sob pena da sua ausência ser responsável pela permanência). O desamparo, portanto, pode verificar-se em dois momentos cruciais da vida do indivíduo: quando necessita de orientação (máxima, orientação profissional) condizente com a sua personalidade --- ou depois, quando já sucumbiu ao desespero e ao abandono. Mais neste caso do que no primeiro falta de amparo ( que se não resolve --- pelo menos, só --- com esmolas ou com sermões ) é o responsável imediato pás ela existência de prostituição em qualquer das suas formas. Em resumo, o quadro das realidades à volta das quais gira o problema do meretrício: Educação (com os aspectos negativos de falta ou deficiência de educação e " contra-educação") e Assistência (preventiva e repressiva).
CONTRIBUTO DE:
Mota Castelbranco
Colectânea de Cultura Geral (1974)
CAPÍTULO 2
2.1- ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Parece-me útil abordar, embora de forma sucinta, aspectos relativos às circunstâncias actuais no campo de ensino e da educação.
1) falhas: São reconhecidas e Sua persistem, apesar dos esforços e das contribuições valiosas das correntes renovadoras citemos factos e opiniões:
a) Os médicos e higienistas acusam o regime educativo vigente de prejudicar o desenvolvimento fisiológico normal, provocando alterações definitivas. São conhecidos os desvios da coluna vertebral dos escolares, em consequência da atitude ou da posição durante a escrita.
b) Os moralistas e os sociólogos apontam a "crise"da educação nos nossos dias, afirmando que o relaxamento dos costumes provém da educação errónea recebida pelas gerações.
c) A falta de harmonia observada nos conflitos políticos e na famosa luta de classes pode ser atribuída ao desacerto da educação.
d) Existe, como todos dos homens às situações criadas pelo progresso técnico. Proclamam, flagrante carência de adaptação
e) Os economistas culpam a educação corrente de não fornecer homens capazes para as empresas e para um trabalho produtivo.
f) Críticas à escola tradicional mostram-se severas e quase universais: "Com a preocupação de adquirir muitos conhecimentos, A escola descuida a função do próprio conhecimento; querendo dar muita cultura não fornece a técnica e os instrumentos para servir-se da mesma"..."A educação actual pretende preparar para a Vida e adianta-se à mesma, sufocando as energias criativas quando elas começam a manifestar-se e no, como acontece ainda hoje, e Escola contra a própria V adianta-se à mesma, sufocando as energias criativas quando elas começam a manifestar-se" –(Mallart Cutó). Recordemos, de passagem, a valiosa opinião de A. Carrel que frisou a necessidade da Escola para a Vida e não, como acontece ainda hoje, a Escola contra a própria vida...
2) A finalidade biológica e os objectivos da Educação: Eis um detalhe importante sobre o qual insiste Mallart Cutó, mostrando que todo o ser vivo almeja e procura, por todos os meios ao seu alcance, um momento de potência vital. No homem existem, como ninguém ignora, os instintos (princípios vitais da nossa existência) dirigido as acções para essa finalidade biológica de uma maneira independente da vontade, algumas vezes até de forma inconsciente e, por outro lado, encontra-se a vontade, servidora dos princípios vitais aludidos e valendo-se de recursos intelectuais para orientação de nossos actos no sentido da mesma finalidade.
É inconcebível, assim um sistema educativo repressivo ou cujo ideal encerra-se a negação da vida.
A educação activa ou nova, pelo contrário, em seus aspectos genéricos, obedece à finalidade biológica, interpretada com todo rigor cientifico e moral, oferecendo um fundamento sólido a todas as outras finalidades parciais que os homens criaram para servir ou satisfazer as diferentes necessidades do temperamento, de casta, de idealismo. (Mallart Cutó).
3) As reacções biológicas e os meios educativos: A Educação Activa deve empregar recursos semelhantes aos usados pela Natureza no desenvolvimento da actividade evolutiva dos seres. Sabemos que o traço característico dos actos humanos é que corresponde às necessidades dos indivíduos. A satisfação destas necessidades vitais conta com o consentimento do próprio individuo. Se além disso, ainda houver o interesse, o entusiasmo, os resultados serão mais proveitosos ao desenvolvimento pessoal. Estas noções aplicam-se, inteiramente, às actividades educativas que deverão procurar a satisfação directa das aspirações vitais, além de que cada exercício convém ter a sua finalidade bem clara e definida, sendo desejada pelo indivíduo
Na infância o estímulo da actividade, por meio de fins concretos bem percebidos pelo indivíduo, deve predominar e além de educar (desenvolver) torna-se imprescindível ensinar (fornecer técnicas para a vida social, económica e cultural).
CAPÍTULO 3
Desde há muito tempo afirma-se que para se aprender é necessário fazer, o que significa: "o menino deve ser prático". Daí a introdução, por exemplo, nas escolas primárias dos "Trabalhos Manuais". Todavia, escapa, frequentemente, o verdadeiro sentido educativo da actividade que não pode ser "obrigatório"e, sim, inteiramente livre ou de acordo com as necessidades e as aspirações individuais.
Importa --- conforme acentua Mallart Cutó--- salientar que a acção possui uma virtude e si, dependendo da atitude que existe no sujeito pela finalidade que este se propõe.
"A acção é um processo para conseguir fins que interessam ao indivíduo, é um meio para satisfazer necessidades. Se a finalidade muda ou desaparece, a acção também varia ou anula-se".
Claraparède já dizia: Todas as coisas que se ensinam devem ser a resposta a uma pergunta feita pelo aluno".
Daí surgir a seguinte alternativa ao educador: Ou fazer sentir a finalidade da actividade que propõe ao aluno, ou deixar de propô-la a buscar outro exercício que responda verdadeiramente a uma necessidade ou a uma aspiração sua". (Mallart Cutó).
Sem dúvida que, diante desse postulado básico, o trabalho do educador mostrar-se árduo, difícil e suscitando várias situações que precisará resolver.
A atitude do educador não há-de ser fazer aprender, queira ou não o aluno, como o vendedor de uma mercadoria não há-de pretender violentamente que esta seja adquirida por quem se aproxime dele. Educador e vendedor devem saber colocar-se no lugar do "outro", despertando o interesse, o desejo, orientando ou guiando o aluno ou freguês...
Assim, na verdadeira educação funcional, viva ou activa, todo o exercício educativo será aproveitado num grau elevado de integridade. Se todas as actividades em que ocupa a criança, de manhã até à noite, respondem aos fins desejados e a problemas seus, serão continuamente a assistência de todas as suas capacidades e aptidões, dando um rendimento educativo que se aproximará do máximo. E --- outra vantagem do sistema--- não haverá necessidade de se usar ameaças, castigos e similares que foram inventados para fazer aprender as matérias de ensino e para conter as explosões naturais da energia juvenil provocadas como um protesto contra a ordem artificial das classes rígidas e sem vida. (Mallart Cutó).
Na prática o problema consiste em buscar actividades que sejam a satisfação das necessidades que possui a criança e estimular na mesma a formação de outras necessidades que sejam motivo de reacções adequadas para os fins educativos. A tarefa do educador torna-se mais espinhosa quando se trata de fazer com que a criança adquira certas noções ou determinados hábitos, evitando-se a imposição das actividades correlatas às suas necessidades.
Os jogos, os trabalhos de aspecto criador, as representações, a música, o canto, as simulações e outros recursos são elementos valiosos.
A criança --- frisa Mallart Cutó--- cuja actividade educativa participou dos elementos de jogo será o homem que colocará no trabalho sério da vida a alegria estimulante que faz da existência um eterno jogo.
Na Educativa Activa todas as actividades oferecidas ao educando devem estar de acordo com suas necessidades internas.
"A Educação Activa é o processo geral para tudo o que signifique desenvolvimento humano, desembaraço de aptidões, formação da personalidade. Fundada sobre princípios biológicos infalíveis, há-de conduzir sempre ao resultado desejado, adaptando-se às condições especiais dos indivíduos".
"Na Educação Activa procura-se sempre servir objectivos e entusiasmar com ideais. As motivações psíquicas são indispensáveis para extensos sectores da actividade educativa. Trata-se de formar para a convivência social, para o universo e o eterno, não sendo aceites as condutas egoístas nem as atitudes ofensivas aos altos valores espirituais."
3.1 --A EDUCAÇÃO ACTIVA NOS DIVERSOS SECTORES:
Ao contrário do que ocorre quando se fala em "Escola Nova ou Activa"propriamente dita, a Educação Activa, apresenta-se muito mais ampla e deverá ser adaptado não apenas na Escola Primária (nas diversas matérias), nas classes dos infra e super-dotados, como nos outros graus de ensino--- médio (secundário), superior, profissional.
Além disso, de acordo com os ensinamentos de Mallart Cutó, a Educação nova necessita de ser introduzida na família, nas associações de jovens, na sociedade, nas empresas.
A educação activa vai-se impondo em todos os campos, despertando o trabalho criador, a actividade plena de entusiasmo. Todos --- crianças e adultos--- poderão, graças aos princípios expostos, desenvolver as suas actividades, movidas por nobres aspirações, pela necessidade da expansão vital e pelos ideais que possuem a força indispensável para suscitar as suas capacidades latentes.
Contributo do DR. ALBERTO A. LOHMANN.....................................................................
Sempre é necessário procurar a verdade, educativa nos homens do pensamento e da ciência, os exploradores do homem do universo e da História, a todos aqueles peregrinos em marcha para a luz verdadeiramente educativa. Aqueles que estavam num bom caminho da arquitectura modelo da educação em várias vertentes, e cansados pararam pelo caminho, fatigados e desiludidos por uma vã pesquisa.
Este trabalho tem uma mensagem e é esta:
Continuai a procurar se desanimar, sem desesperar o ouro polido que a sociedade precisa. Este ouro polido deve ser o homem, na sua maneira de ser, de estar e de fazer. o presente século é exactamente o século de aprofundar os nossos conhecimentos, e saber dar aos outros. Quero aqui dizer que para darmos uma boa educação é preciso pensar. Pensar é coisa grande, é um dever, pensar em prol da educação é uma grande responsabilidade. Assim, o principio básico para os homens da ciência é esforçar-se por pensar rectamente, para que ensinem aos políticos, a sociedade e não só a projectarem bem os seus planos na vertente educativa, afim de renovarem e aprofundarem as suas debilidades e os princípios básicos da arte educativa
-- COLECTÃ,NEA DE CULTURA GERAL
CULTURA--- Revista Portuguesa de Educação Popular LISBOA / 1974
Autor--- JOÃO ALBERTO FRAZÃO DE FARIA.
Pesquisa de BERNARDINO SOARES PEREIRA.
Autor:
Bernardino Soares
bernardinosoarespereira[arroba]yahoo.com.br
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