Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
Por meio das descobertas e da criatividade, a criança pode expressar-se, criticar e transformar a realidade. Para que a ludicidade avance na educação é preciso fazer-se uma reflexão sobre o processo de ensinar e aprender.
De acordo com Winnicott (1975) e Piaget (1975), conceitos como brinquedo, jogo e brincadeira são formados ao longo de nossa vida. É a forma peculiar que cada criança define suas brincadeiras como fonte de divertimento.
Uma criança sem brinquedo pode ficar apática, triste e sem vida. O brinquedo está para a criança, assim como a água está para o peixe. O ato de brincar dá a criança mais uma oportunidade de ser feliz.
Para a criança, brincar é viver. De acordo com Santos (1999), a história da humanidade tem nos mostrado que as crianças sempre brincaram e, certamente, continuarão brincando. Brincar faz parte da essência da criança e quando isso não acontece algo pode não estar bem.
Podemos verificar que o brincar está presente em todas as dimensões do ser humano e, de modo especial na vida das crianças. A criança aprende a brincar brincando e brinca aprendendo.
Segundo Chateau (1987, p.14) de "Uma criança que não sabe brincar, uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá pensar". Para manter-se em harmonia consigo mesma, com seus semelhantes e com o mundo que a cerca, a criança precisa brincar; precisa inventar e reinventar o mundo.
Brincar é genético na criança e é fundamental para o seu desenvolvimento psicossocial. Através da interpelação da criança com os brinquedos ela desenvolve o raciocínio, a criatividade e a compreensão do mundo. A escritora Wajskop (1995, p.68) afirma: "Brincar é a fase mais importante da infância – do desenvolvimento humano neste período – por ser a autoativa representação do interno – a representação de necessidades e impulsos internos". Com a brincadeira a criança aumenta sua sensibilidade visual e auditiva, desenvolve habilidades motoras e cognitivas.
2.1 A CRIANÇA E O LÚDICO
Brincar não é perda de tempo. A criança que não brinca é como um peixe fora da água. Os brinquedos possibilitam o desenvolvimento integral da criança porque ela se envolve efetivamente e socialmente; tudo isso acontece de maneira envolvente, onde a criança cria e recria normas e constrói alternativas para resolver entraves que surgem no ato do brincar.
O ato de brincar é muito mais um processo do que um produto. O brinquedo facilita a apreensão da realidade. Brincar é atividade e experiência: exige movimentação física. O brincar requer da criança participação completa.
O brinquedo é essencialmente dinâmico e possibilita o surgimento de comportamentos espontâneos; padrões e normas podem ser criados: há liberdade para se tomar decisões. A essência da infância é o brinquedo; ele é o transporte para o crescimento, é também um meio muito natural que permite à criança explorar o mundo, possibilitando-lhe descobrir-se, conhecer seus sentimentos e sua forma de agir e reagir.
Por meio das atividades lúdicas, a criança forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas e, assim, segue se socializando. Muitos seres vivos brincam: gatos, cachorros, ursos; mas somente os seres humanos organizam brincadeiras em forma de jogos.
A capacidade de jogar surgiu nas mais antigas civilizações em todos os lugares do mundo. Os brinquedos desempenham papéis relevantes para o desenvolvimento das crianças bem como para a transmissão da cultura de uma geração para a outra.
De acordo com estudiosos da Educação Infantil que estudam o comportamento do brincar das crianças, o brinquedo é influenciado pela idade, sexo, presença de companheiros, surpresa, portanto, cabe ao professor valorizar o brinquedo para encorajá-los nos educandos, sem achar que está perdendo tempo.
As habilidades sociais reforçadas pelo brinquedo são muitas: cooperação, comunicação eficiente, competição honesta e redução da agressividade. As crianças progridem com os brinquedos.
Com as brincadeiras, as crianças desenvolvem a expressão corporal, gestos e postura. A relação que se estabelece entre o corpo, a mente da criança e o seu ambiente tem uma enorme importância para seu desenvolvimento.
2.2 O LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL.
Vygotsky (1984) atribui relevante papel ao ato de brincar na constituição do pensamento infantil. É brincando, jogando que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e de entrar em uma relação cognitiva com o mundo de eventos, pessoas, coisas e símbolos.
A criança, por meio da brincadeira, reproduz o discurso externo e o internaliza, construindo seu próprio pensamento. A linguagem, segundo Vygotsky (1984), tem importante papel no desenvolvimento cognitivo da criança à medida que sistematiza suas experiências e ainda colabora na organização dos processos em andamento. De acordo com Vygotsky (1984, p.97),
A brincadeira cria para as crianças uma "zona de desenvolvimento proximal" que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível atual de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz.
Por meio das atividades lúdicas, a criança reduz muitas situações vividas em seu cotidiano, as quais, pela imaginação e pelo faz-de-conta, são reelaboradas. Esta representação do cotidiano se dá por meio da combinação entre experiências passadas e novas possibilidades de interpretações e reproduções do real de acordo com suas afeições, necessidades, desejos e paixões. Estas ações são fundamentais para a atividade criadora do homem.
Tanto para Vygotsky (1984) como para Piaget (1975), o desenvolvimento não é linear, mas evolutivo e, nesse trajeto, a imigração se desenvolve. Uma vez que a criança brinca e desenvolve a capacidade para determinado tipo de conhecimento, ela dificilmente perde esta capacidade. É com a formação de conceitos que se dá a verdadeira aprendizagem e é no brincar que está um dos maiores espaços para a formação de conceitos. Negrine (1994, p.19) sustenta que as contribuições das atividades lúdicas no desenvolvimento integral indicam que elas contribuem poderosamente no desenvolvimento global da criança e que todas as dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a inteligência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade. Essas qualidades são inseparáveis: sendo a afetividade a que constitui a energia necessária para a progressão psíquica, moral, intelectual e motriz da criança.
Brincar é sinônimo de aprender, pois o brincar e o jogar geram um espaço para pensar, sendo que a criança avança no raciocínio, desenvolve o pensamento, estabelece contratos sociais, compreende o meio, satisfaz desejos, desenvolve habilidades, conhecimentos e criatividade. As integrações que o brincar e o jogo oportunizam favorecem a superação do egocentrismo, desenvolvendo a solidariedade e a empatia, e introduzem, especialmente no compartilhamento de jogos e brinquedos, novos sentidos para a posse e o consumo.
2.3 A LUDICIDADE NA EDUCAÇAO INFANTIL
A educação traz muitos desafios aos que nela trabalham e aos que se dedicam a sua causa. Muito já se pesquisou, escreveu-se e se discutiu sobre a educação, mas o tema é sempre atual e indispensável, pois seu foco principal é o ser humano. Então, pensar em educação é pensar no ser humano, em sua totalidade, em seu corpo, em seu meio ambiente, nas suas preferências, nos seus gostos, nos seus prazeres, enfim, em suas relações vivenciadas.
A maioria das escolas de hoje está preparando seus alunos para um mundo que já não existe. As aulas tradicionais deverão ser substituídas por orientar a aprendizagem do aluno na construção do seu próprio conhecer, como preconiza o construtivismo, o sócio interacionismo, porque, afinal, ou aluno e professor estão mobilizados e engajados no processo, ou não há ensino possível. Ninguém ensina a quem não quer aprender, pois Ausubel, citado por Barreto (1998), alerta para o fato de que a verdadeira aprendizagem é sempre significativa. Se entendermos o conhecimento como uma representação mental, devemos saber que ensinar é um convite à exploração, à descoberta, e não uma pobre transmissão de informações e técnicas desprovidas de significado.
Aprender a pensar sobre diferentes assuntos é muito mais importante do que memorizar fatos e dados a respeito dos assuntos. A própria criança nos aponta o caminho no momento em que não utiliza suas energias de forma vã. Do mesmo modo a escola deve educar: de forma inteligente e divertida.
O homem é um ser em constante mudança; logo, não é uma realidade acabada. Por esse motivo, a educação não pode arvorar-se do direito de reproduzir modelos e, muito menos, de colocar freios às possibilidades criativas das crianças.
Sneyders (1996) comenta que a pedagogia, ao invés de manter-se como sinônimo de teoria de como ensinar e de como aprender, deveria transformar a educação em desafio, em que a missão do mestre é propor situações que estimulem a atividade de reequilibrador do aluno, construtor do seu próprio conhecimento.
A escola deve compreender que ela mesma, por um determinado tempo da história pedagógica, foi um dos instrumentos da imobilização da vida, e que esse tempo já terminou. A evolução do próprio conceito de aprendizagem sugere que educar passe a ser facilitar a criatividade e, deve-se abandonar de vez, a ideia de que apreender significa a mesma coisa que acumular conhecimentos sobre fatos, dados e informações isoladas numa autêntica sobrecarga da memória. De acordo com o Referencial Curricular da Educação Infantil (1998, p.23),
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.
Entende-se que educar ludicamente não é jogar lições empacotadas para o educando consumir passivamente. Educar é um ato consciente e planejado, é tornar o indivíduo consciente, engajado e feliz no mundo. É seduzir os seres humanos para o prazer de conhecer. É resgatar o verdadeiro sentido da palavra "escola", local de alegria, prazer intelectual, satisfação e desenvolvimento.
Para atingir esse fim, é preciso que os educadores repensem o conteúdo e a sua prática pedagógica, substituindo a rigidez e a passividade pela vida, por alegria, por entusiasmo de aprender, pela maneira de ver, pensar, compreender e reconstruir o conhecimento. Almeida (1995, p.41) ressalta:
A educação lúdica contribui e influencia na formação da criança, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto espírito democrático enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. A sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio.
A escola necessita repensar quem ela está educando, considerando a vivência, o repertório e a individualidade do aluno, caso contrário, dificilmente estará contribuindo para mudança e produtividade de seus educandos.
Sabemos que é impossível construir uma argumentação eficiente sem o respaldo de teorias especializadas. Nosso trabalho é embasado por autores que nos ajudam a entender o lúdico na educação infantil.
Nosso artigo tem como fundamentação autores como Piaget, Vygotsky, Negrine, Santos, Wajskop, Sneyders, Winnicott, Chateau e Marcellino.
O presente artigo científico procura conceituar o lúdico, demonstrar sua importância no desenvolvimento infantil. Na educação, o lúdico é uma ferramenta que pode dar mais vida e prazer ao processo de ensino-aprendizagem.
Neste artigo, procuramos mostrar a importância da atividade lúdica no desenvolvimento educacional da criança. A ludicidade é de extrema relevância para o crescimento integral dos pequenos.
É importante que o educador "coloque para fora" a criança que há dentro de si, assim ele poderá sentir prazer no brincar juntamente com suas crianças.
O lúdico fornece à criança um desenvolvimento sadio e harmonioso. Ao brincar, a criança aumenta sua autoestima e independência; estimula sua sensibilidade visual e auditiva.
Nosso trabalho nos permitiu compreender como o lúdico é significativo para a criança, porque através dele, a criança pode conhecer, compreender e construir seus conhecimentos, tornando-se cidadã deste mundo.
Através do lúdico na educação, conseguiremos uma escola melhor e mais atraente para as crianças. É preciso saber como adentrar ao mundo da criança; no seu sonho, no seu jogo e, a partir daí, jogar com ela.
Nosso desejo para os educadores infantis é que eles transformem o brincar em atividade pedagógica para que como mediadores, experimentem o verdadeiro significado da aprendizagem com desejo e prazer.
Nós - enquanto educadores - devemos recuperar a ludicidade das nossas crianças, ajudando-as a encontrar um sentido para suas vidas. As crianças aprendem muito ao brincar; adquirem não só conhecimentos escolares, mas também sobre a vida.
O professor deve valorizar o lúdico na educação infantil visto que o brincar facilita a aprendizagem nos seus mais diversos campos, como a afetividade, a psicomotricidade, a sociabilidade, a solidariedade e a cognição.
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola, 1995.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional par a educação infantil. Brasília, 1998. V. 2.
CHATEAU, Jean. O jogo e a criança. São Paulo: Summus, 1997.
MARCELIIINO, Nelson Carvalho. Pedagogia da animação. São Paulo: Papirus, 1990.
NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Propil, 1994.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
SANTOS, Santa Marli pires dos. Brinquedo e infância: um guia para pais e educadores. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
SNEYDERS, Georges. Alunos felizes. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. São Paulo: Cortez, 1995.
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
Autor:
Josuel Oliveira Dos Santos
josuel_gato39[arroba]hotmail.com
Artigo apresentado a UNICID como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Educação Infantil.
Orientadora: Profa. Siderly do Carmo Dahle de Almeida
MACEIÓ
2011
Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
|
|