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A interação família/escola e sua influência no cognitivo-emocional da criança entre 5 a 7 anos (página 2)


O professor precisa ter uma postura firme, que represente autoridade, mas que ao mesmo tempo traga segurança à criança; diminuindo problemas causados pelo temperamento, comportamento imprevisível ou por educação má administrada pelos pais ou responsáveis.

Desta forma, o trabalho ficou assim elaborado: apresentação do trabalho; a família e escola- em busca do papel perdido; aprendizagem- interação família/escola; aprendizagem- processo interativo; considerações finais e referências bibliográficas.

2 A FAMÍLIA E ESCOLA- EM BUSCA DO PAPEL PERDIDO

Desde tempos remotos considera-se o núcleo familiar como geradora da sociedade. Porém, retomando a história social da infância e da família, o caráter histórico e cultural do modelo de família nuclear, dizendo que esta "emergiu como socializadora das crianças apenas a partir do século XVIII", pois até então a criança era considerada um adulto em miniatura. ARIÈS (apud Alves (2008)

Alves (2008) declara que a partir da Revolução Industrial, as mães enfrentando a necessidade de saírem de casa para trabalhar fora, a fim de ajudar no sustento da casa, por causa de seus maridos e filhos mutilados, doentes mentalmente e enfraquecidos psicologicamente no pós-guerra, raramente tinham a oportunidade de se dedicar inteiramente aos filhos. A escola, que até então tinha o papel de preparar o educando para o mundo do trabalho, passa a exercer também a função de educar para a vida, incluindo em seu currículo ensinamentos de filosofia e sociologia; conceitos que eram ensinados antes pela família.

A escola foi tomando uma posição socializadora da criança, se esta fosse considerada como boa cabia à escola impedir que fosse influenciada por más companhias e se tornasse um adulto mal, e se sua natureza fosse de desobediência e rebeldia, deveria ser educadora para ser um cidadão de bem, que respondesse socialmente e culturalmente ao esperado dela.

Desde então o papel de quem educa vem se confundindo. Pois quem primeiro aprende, deve ser o primeiro a ensinar, ou pelo menos, precisa ser respeitado o que já sabe, partindo como pressuposto para novas aberturas de aprendizagens.

O aluno chega à escola com uma fonte inesgotável de experiências, é por muitas vezes, senão todas, ignorado, voltando-se o ensino apenas para o modelo tradicional e secular, se já sabe ler ou contar mentalmente, tem que "esperar a hora de aprender", "a hora que a professora quer", "esperar pelos colegas", "obedecer ao currículo interno ou pré-estabelecido".

É indiscutível que os laços e pontes familiares forjam a base do comportamento infantil, como mostram bebes ainda bem pequenos, nas imitações espontâneas de conhecidos próximos, pais ou cuidadores. Se os pais educam ou resolvem conflitos entre si com gritos, ela pode aprender a reagir da mesma forma quando ficar com raiva. Se os familiares são agitados e ansiosos na resolução de problemas diários, tal comportamento expandir-se-á a ponto de fazer-se parecer com a figura espelhada.

Ensinar parece dar a ideia de "acompanhar alguém na aprendizagem", "aprender junto", "conduzir no caminho", insistir até que haja modificação do comportamento cognitivo e comportamental anterior ao ensino. Só pode-se dizer que houve aprendizagem quando o ensino é colocado em prática pelo aprendiz. A nosso ver, pais e professores que se propõem a tal prática devem estar preparados para o cargo, encargo e o desencargo deste trabalho, levando-se em conta que estão trabalhando com um ser humano total, com todas as possibilidades, competências e habilidades a serem desenvolvidas.

Ensinar não é privilégio ou propriedade somente da escola, pois educador é todo aquele que interage e se envolve no processo de ensino e aprendizagem em qualquer área do desenvolvimento cognitivo humano.

Desde a concepção a criança já é um ser social e como cria e recria, participa, organiza, influencia, transforma e é transformado pelo meio interativo e social em que está inserido. O processo de aprendizagem se dá bem cedo e pode ser observado nas primeiras tentativas de "fazer sozinho", por exemplo, segurar a mamadeira, outros exemplos são isto as primeiras palavras, gestos e ações, e até mesmo o choro usado para ter acesso a uma saciedade de desejo e manipulação da presença da pessoa querida. A própria criança interage com o meio, criando suas próprias estratégias.

Mauricio (2010) ressalta que quando a criança começa a frequentar a escola, espera-se que se modifique paulatinamente, aumentando seu conhecimento e formas de expressão e linguagem; no entanto ensaia os seus primeiros passos para a aprendizagem secular dentro de uma sala de aula, são grandes as chances do papel do educador ser confundido com papéis já estabelecidos dentro da família (pai, mãe, tia).

A princípio, os papéis, tanto por parte da criança e professor, quanto para a família são muito bem definidos: família é família, escola é escola e inserido nela, o professor. No decorrer do processo os papéis se confundem.

O impacto positivo do ambiente escolar sobre o desempenho da escola depende de dois fatores: experiências ativas de aprendizagem que promovem competência cognitivas e um contexto social que oferece autoconfiança e interesse ativo em aprender (MAURICIO, 2010, p.70)

A ansiedade de ver o filho lendo, escrevendo e resolvendo problemas matemáticos, levam os pais a forçarem a criança a estudar, ler, reler, executar lições que não foram pedidas pelo professor, pensando que estão ajudando, mas muitas vezes esta cobrança paternal causa sentimento de incompetência na criança e desconfiança, pois fica sem referência de quem realmente ensina e a quem deve obedecer nesse item. Nessa confusão de papéis, quem mais sofre é a criança, pressionada pela escola ineficiente muitas vezes em exercer sua função, e por outro lado pelos pais, (em maior proporção a mãe) ansiosos e longe da prática escolar, portanto sem preparo para ensinar sistematicamente.

Negrine (1994) relata que em estudos realizados sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil observou-se que "quando a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas vivências, grande parte delas através da atividade lúdica".  Segundo esse autor, é fundamental que os professores tenham conhecimento do saber que a criança construiu na interação com o ambiente familiar e sociocultural, para formular sua proposta pedagógica.

Pode-se deduzir que o professor juntamente com a supervisão e orientação escolar deve utilizar da erudição para intervir no processo terapêutico de apoio a criança com dificuldade de aprendizagem ou a família envolvida, precisa antes de tudo, conhecer os aspectos que envolvem e desenvolvem tal evento em particular, ter algum conhecimento de biologia, antropologia, aspectos sociais, econômicos, físicos, culturais e valores nos quais seus alunos estão inseridos.

Pode-se ensinar qualquer coisa a qualquer pessoa, seja criança ou adulto, quando se utiliza dos meios necessários para alcançar o aprendiz, estratégias iniciais que podem ser as experiências vividas no espaço interativo familiar ou sociocultural. O que esperamos dos nossos alunos ou filhos vai determinar em grande parte no desenvolvimento e sucesso na aprendizagem. Segundo Wilkinson: "a "lei da expectativa" [...] revela aquilo que aquilo que você pensa possui uma força tremenda e inegável sobre todos que conhece, tanto dentro como fora de sala de aula" (WILKINSON, 1998, p.66).

Negrine (1994) ainda defende que a educação que vem antes da escola, aquela herdada da família é que vai definir a personalidade do indivíduo no contexto escolar.

Silva (2009) declara que a atuação da família é de suma importância para ajudar a criança na superação dos sintomas e aproveitamento na aprendizagem, a intensidade do desconforto trazido para a família pode ser manejada através de formas específicas de lidar com essas crianças, "quanto mais informações e educação acerca do transtorno, melhor para a criança e a família, [...] os familiares recebem informações de como proceder em situações específicas" (SILVA, 2009, p. 69); isto não quer dizer que deva assumir o papel do professor, mas apenas dar de mão com ele, para o bem de uma só pessoa: o aluno.

APRENDIZAGEM- INTERAÇAO FAMILIA/ESCOLA

Segundo Silva (2009), ao ingressarem na escola, as crianças, muitas vezes, demonstram dificuldades de adaptação, não se mostram a vontade no ambiente escolar, negam-se a fazer amizades, ficam isolados, pois no âmbito escolar a criança não contará mais com o apoio dos pais ou cuidadores. Será que isto pode ser uma conseqüência direta ou indireta de conflitos e crises de um sistema familiar ineficiente, somado a um ambiente escolar inadequado e professores despreparados?

Qual a maneira mais harmoniosa de trabalharem juntos, família e escola? Tiba (2006) aconselha que esta parceria deve acontecer desde os primeiros passos da criança, pois se a criança apresentar problemas pode superar as dificuldades e a que assimilar bem o ensino pode melhorar ainda mais.

Ainda sobre este assunto, o autor esclarece: "O que pode ser praticado é a "educação a seis mãos", uma medida de educação escolar, envolvendo escola, pai e mãe. [...]. Nessa conversa, a escola participa aos pais o comportamento não-natural da criança" [...]. (TIBA, 2006, p.150).

O professor atual que persiste no modelo tradicional acaba por "isolar o conhecimento prático que vem da vida social, cultural e política do aluno" (BATISTA, 2010. 76) e ao invés de manter um diálogo direto com os pais, pune a criança sem se questionar conscientemente quais as consequências estas atitudes trarão para o futuro destas crianças como cidadãos, aprendizes, participantes e produtores de sua história e conhecimento.

Nesse modelo salta aos olhos a falta de iniciativa, a dinamicidade de pensamento por parte do professor para aliar conteúdos programáticos aos aspectos da vida cotidiana dos estudantes. Esse professor carece de preparo para o trabalho com projeto pedagógicos que ora trazem a realidade social para dentro da sala de aula, e ora levam os estudantes para as experiências práticas e vivencias na comunidade que insere a escola. Segundo Batista (2010, p. 76)

A aprendizagem só se torna significativa para o aprendiz quando este a associa com alguma coisa que já domina. O termo aprendizagem nos dias atuais nos leva a reflexão e até mesmo numa busca de intervenções e sugestões viáveis para solução de pseudo-problemas de aprendizagem.

Crianças em idade pré-escolar, já mostram sinais de desânimo, sem desejo de aprender, desmotivados, indisciplinados e muitas vezes rotulados como hiperativos e portadores de distúrbios de aprendizagem, pois tem a impressão que não estão "pegando" a matéria e que somente elas não sabem, que são burras. Isto quer dizer que lhe faltam ancoragem, associação com o que já sabe, vindo por consequência a dificuldade de aprender algo solto.

Para Libâneo (apud Batista (2010, p. 81), "as capacidades cognoscitivas que se destacam são os exercícios dos sentidos, o observar, o ato perceptivo, a busca de compreender o universo ao redor, o raciocinar, a capacidade de memorizar, a forma de linguagem, a automotivação, e a vontade que vai além do próprio desejo".

Pode-se falar de motivação interna de aprendizagem, ou ato de apreender, ou até mesmo aprender a aprender, pois primeiro vem a vontade, para isso é preciso uma compreensão do porquê, depois vem o desejo, acompanhado de perto pelo insigt.

Desde o início do período escolar, a criança começa a fazer descobertas interessantes, fora de seu campo familiar: os grupos, valores, regras, leis, senso de justiça, respeito. Este ambiente de aprendizagem deve fornecer tranquilidade e segurança, como podemos observar nas palavras de (HARRIS, 1975)

As duas grandes necessidades da criança em crescimento, [...], são sentir confiança em que está viva, apta a criar, e sentir que é suficientemente forte para cuidar das pessoas e coisas que ama, tal como são no mundo exterior e como existem em sua mente. (HARRIS, 1975, p.44)

A criança gosta de sentir que pode resolver problemas e ajudar, pensa que já é grande o bastante para conseguir realizar proezas, resolver problemas, entender o que se pede, executar sem ser repreendida e cuidar dos pais e colegas se necessário. Não se pode negar que diferenças serão notáveis de criança para criança, afinal, cada pessoa tem um desenvolvimento particular e isso vai depender em grande parte de motivações internas e externas.

Uma família que é representada pelo pai, mãe, filho ou filhos, e que a mãe tenha um tempo disponível para atender às demandas emocionais, cognitivas e psicológicas desta criança, mesmo que tenha conflitos em casa e que a criança os reproduza na sala de aula, uma conversa franca e aberta entre os pais, escola e professor pode lograr êxito no processo ensino/aprendizagem.

Uma estrutura familiar na qual a mãe e o pai são figuras masculinas; ambos são mulheres; desacordo sobre ordens dadas entre os pais; pais divorciados ou a criança é educada pela avó e passa um fim de semana com a mãe e outro com o pai; um dos pais tem filhos fora do casamento e outros fatores relevantes; estes não podem de maneira alguma passar despercebidos. Estas vivências devem ser levadas em conta quanto à agressividade da criança em relação aos colegas, rebeldia diante das ordens dadas, indisciplina, desobediência extrema, hiperatividade (que pode ser confundida com falta de educação), problemas psicossociais e psicossomáticos.

3.1 Aprendizagem- processo interativo

Segundo Vigotsky (1998) o aprendizado só se concretiza na relação com o outro, nos diversos setores e circunstâncias em que se mostra. O autor vê a inteligência "como habilidade para aprender", mas se a criança não consegue responder ao tradicional modelo escolar – ausência de erro, como manifestação de aprendizagem – então recebe o rótulo de criança com problemas ou dificuldades de aprendizagem. "Os que conseguem seguir os modelos recebem prêmios (medalhas, distinções, quadro de honra) e os que não conseguem devem ser castigados" (FARIA, 2010, p. 64,65).

Segundo a autora citada, não se ensina os alunos a cooperação, mas a competição. Este procedimento nos dá a impressão de não haver quem se declare disposto a enfrentar o problema a que estão todos expostos; o professor se preocupa em ensinar, os pais se dão por satisfeitos por enviarem seus filhos à escola (já estão fazendo sua obrigação).

Segundo Francke (1988) quando existe a impossibilidade de enfrentar o verdadeiro âmago do problema, então se procura um culpado da dificuldade de assimilação do ensino, o professor passa a bola para a supervisão, que cai nas mãos dos pais e volta para a criança, carregando toda a carga de culpa, sendo então submetida a exames, medicações, e por fim na sala de aula ás vezes é exposta a situações constrangedoras, sendo muitas vezes chamada atenção ou ignorada, até que na adolescência não consegue mais disfarçar o horror que sente e desiste de aprender, de saber, de produzir algo; no entanto o desgosto e desprazer que apresenta não são necessariamente pelo espaço escolar, mas pelo próprio processo de aprendizagem e as exigências incompreensíveis, longe de seu alcance, como alguns adolescentes expressam: "eu gosto dos meus colegas, dos professores, do recreio, da merenda, da escola e até da diretora, eu não sou chegado é em aprender... também eles ensinam umas coisas que a gente não entende e nunca vai usar na vida!".

Nos dias atuais a criança tem acesso à escola bem mais cedo que os pais, e assim que começa a estudar a mesma ainda não tem conhecimento do que é o ambiente escolar e todo o espaço que a completa. Como pode então rejeitar o desconhecido? As conversas em casa, sobre a rigidez das regras, sobre o diretor da escola, da ordem de não poder sair de dentro da sala ou da escola, a falta de liberdade e então vem o choro... Interpretado como se queira: é o medo que o filho tem de enfrentar o novo, o desconhecido ou resposta à dor da separação estampada no rosto da mãe?

A ansiedade da separação nos primeiros dias de aula traz sofrimento primeiro para a mãe, que transmite para a criança, pois a primeira sofre com a insegurança da perda e o segundo com o medo de desapontar a mãe.

Segundo Salgado (2012), a ansiedade da separação da criança e mãe é provavelmente o transtorno mais comum em crianças. A característica essencial do transtorno de ansiedade de separação é a ansiedade excessiva envolvendo o afastamento de casa ou de pessoas com forte vínculo afetivo, normalmente a mãe.

Até aquele momento, a mãe era a que fazia tudo para a criança e esta dependia dela, pedia ajuda e era atendida, os choros eram ouvidos e os reclames observados. Segundo Vigotsky (1988), esta interação é importante, o adulto é considerado como um mediador no processo de desenvolvimento da criança e oferece instrumentos para a apropriação do conhecimento; porém a internalização da aprendizagem ocorre de forma individual, variando de uma criança para outra. A participação dos pais ou adultos próximos não pode ultrapassar as possibilidades da criança, impedindo-a de progredir e criar ela própria seus meios e estratégias de aprendizagem.

Vigotsky (1988) ainda afirma que a aprendizagem é um fator social e interativo, desta forma quando a criança recebe uma atenção mediada dos pais, levando-a à busca de sua própria autonomia, logo ela demonstrará capacidade para resolução de problemas e desenvolvimento cognitivo para realização de tarefas antes conseguidas apenas com apoio.

A partir do momento em que a criança entra na escola, passa a criar um campo de apreensão de conhecimentos subjetivos, porém a esse respeito, deve-se ter em mente que a alfabetização, escolaridade, a aprendizagem efetiva por assim dizer, devem ser estudados e encarados como fenômenos que não devem ser tomados isoladamente, pois como campo multidimensional que é; nenhum fator por si só pode explicar o desempenho ou fracasso dos alunos.

Segundo Goleman (1995), alguns comportamentos dos pais podem influenciar no desenvolvimento social e na personalidade da criança, alguns mais outros menos, se os tais forem emocionalmente saudáveis e seguros, os filhos o serão da mesma forma, corajosos e ousados, pois são discípulos em potencial e conectadas com todo o contexto familiar.

[...] recentemente dados concretos mostraram que o fato de ter pais emocionalmente inteligentes é em si de enorme proveito para a criança. A maneira como um casal lida com os conflitos, passa poderosas lições a elas, que são aprendizes astutas, sintonizadas com os mais sutis intercâmbios emocionais na família. (GOLEMAN, 1995, p.258).

Goleman (1995) ainda ressalta que nem todas as crianças são igualmente hábeis na interpretação das emoções e intenções dos outros, observando-se com muito cuidado que a inteligência emocional independe do desenvolvimento cognitivo, daí, parece-nos ser inadmissível dizer que uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, baseando-se no fato de estar apresentar-se tímida ou pouco interativa em sala de aula.

Podem-se encontrar e até mesmo classificar os pais nas seguintes categorias: autoritários, os que manifestam altos níveis de controle, exigências incabíveis, acompanhados de baixos níveis de comunicação e falta de demonstrações de afeto. Os filhos tendem a ser obedientes, ordeiros e pouco agressivos, em contrapartida são tímidos, temerosos e pouco persistentes no momento de perseguir metas, sentem medo diante dos desafios.

Pais permissivos têm pouco controle, mas se comunicam mais com os filhos e oferecem mais afeto; costumam consultar os filhos por ocasião de tomada de decisões que envolvem a família, porém não exigem dos filhos responsabilidade e ordem; estes tendem a ter problemas no controle de impulsos, dificuldade no momento de assumir responsabilidade; são imaturos e não gostam de responder pelos erros, sempre culpando o colega, outra pessoa ou situação.

Pais democráticos apresentam níveis relevantes tanto de comunicação e afeto, como de controle e exigência de amadurecimento; são pais afetuosos, reforçam com freqüência o bom comportamento da criança e tentam evitar o castigo físico; correspondem às solicitações de atenção da criança, antes que isto se torne um fator de manipulação e troca. Os filhos tendem a ter mais autocontrole e boa auto-estima, capacidade para enfrentar situações novas e persistência nas tarefas que iniciam; geralmente são interativos, independentes e carinhosos.

Celidonio (1998) afirma que muitas crianças que poderiam ter um relacionamento sadio, ou seja, potencialidades e possibilidades a apresentar, e que não são valorizadas e muitas vezes até são desprezadas porque diferem daquilo que delas esperavam seus pais, como consequência apresentam comportamentos negativos, pois ficam na dúvida sobre o que realmente os pais e adultos a seu redor esperam dela.

A aprendizagem recebe boa carga dessa desordem emocional que vem dos relacionamentos familiares então aprendiz começa a "desaprender" e a partir daí começam a surgir os rótulos, primeiro vindo dos próprios genitores: "esse menino é burro como o pai", "eu nunca aprendi, ele puxou a mim", seguido pela conivência dos professores: "você não tem jeito, menino", fazendo aumentar sentimentos de decepção e fracasso diante da inutilidade de "tanto esforço". Desta forma vários pensamentos de angústia e ansiedade assaltam a criança e a impede de progredir no processo de aprendizagem, levando à defasagem ou não-aprendizagem, por falta de estímulos internos e externos.

Esse sentimento de incapacidade de aprender segue-a no decorrer do processo de aprendizagem, e fatores emocionais e psicológicos podem agravar o problema, juntando-se a isso o ambiente escolar inadequado e ineficiente, ou profissionais despreparados. A esperança então se torna o professor e a forma como acolhe esse aprendiz na sala de aula.

Francke (1988) relata que os envolvidos no núcleo familiar são influenciados por uma série de fatores determinantes de seu funcionamento, por exemplo, situação socioeconômica dos pais, escolaridade e conflitos nos relacionamentos (divórcio, vícios) e até mesmo discórdia na forma de encarar a educação e estabelecer limites aos filhos.

A autora citada ainda relata como a experiência dolorosa da família desfragmentada influencia na escolaridade dos filhos, tendo o índice de divórcios aumentado, a escola, por sua vez é pressionada a atuar como pais substitutos para estas crianças. Durante o processo de separação dos pais o aproveitamento escolar das crianças pode ser anulado, independente do esforço feito pelo educador.

As crianças mais novas manifestam mais abertamente os seus problemas na sala de aula, não tendo idade suficiente para diferenciar os mundos distintos da casa e da escola. As crianças em idade pré-escolar tendem muitas vezes a se tornar regressivamente confusas, esquecendo-se de nomes e funções de objetos familiares. [...] relatórios de professores sobre as crianças em idade pré-escolar, cujos pais se separaram, incluíam comportamento inibidor de atividades escolares, com muita inquietação, muita distração, muito medo e fracasso, excessivo sonho acordado, e apego aos professores. (FRANCKE, 1988, p. 258)

A partir do ponto de vista observado pela autora o fracasso escolar da criança em idade pré-escolar deve ser observado por vários ângulos, como um processo multidisciplinar e multifatorial, mesmo porque as situações que afetam o ser humano não apresentam uma só causa atual e nem localizada, deve ser considerado como um problema social, cultural e histórico, além de ser dinâmico, que pode ou não ser controlado ou até piorar com o decorrer das ações exercidas sobre ele.

Uma pesquisa publicada por Bencini (2000, p. 18), num artigo da Revista nova escola, respondendo o questionamento: Quem é o responsável pelo fracasso? Observam-se as respostas na Veja On-line, num total de 1125 respostas, o sistema escolar ficou em 1º lugar com 58 por cento dos votos e a família veio em 3º lugar com 11 por cento dos votos. Na pesquisa da Nova Escola On-line, 2 583 respostas, o sistema escolar também entrou como vilão do fracasso escolar com 55 por cento dos votos e a família com a parcela de 10 por cento.

O sistema escolar nos dias atuais, em muitas pesquisas representa grande parte do fracasso escolar. Parece-nos mais que a família quer se esquivar da responsabilidade, deixando sobre a escola a obrigação de ensinar e educar ao mesmo tempo; no entanto a família parece contribuir significativamente para a determinação desses problemas.

Os pais, principalmente os que mais fazem cobranças sem acompanhamento do professor, não tem tempo para participar das reuniões propostas pela escola, nem eventos sociais que envolvam os filhos na vida secular, e muitas vezes querem respostas nas notas, mas nem conhecem o professor.

Estes podem sem o saber, destas e de diversas maneiras, favorecer ou prejudicar o processo de aprendizagem de seus filhos, dependendo da intenção implícita de seu interesse, pois as crianças fazem leitura das emoções e sentimentos "entre linhas".

Polity (apud Mauricio (2010, p. 71) pontua que a dificuldade de aprendizagem não é apenas um fator inserido na escola, ou da criança, mas pode ser considerado um sintoma psicossocial relacionado a três fatores importantes e relacionados: a criança, a família e a escola.

Maurício afirma que "a inclusão do suporte familiar no atendimento psicopedagógico da criança na atualidade constitui um recurso valioso que pode auxiliar as dificuldades encontradas por toda a família"

Vale ressaltar que a escola deve priorizar a participação da família na educação da criança, buscando meios para que esta seja participativa, independente da classe social ou se a criança apresenta problemas ou não. O mais importante disso tudo não é tratar a dificuldade, mas dar apoio ao aluno, e neste caso ao pequeno aprendiz.

Segundo Batista (2010) a escola precisa do apoio dos pais, mas estes devem avisar aos filhos das normas estabelecidas pela escola e a importância de obedecer aos professores, supervisores, diretores, funcionários, bem como o respeito aos colegas e ao espaço escolar (grifo nosso).

A autora ainda ressalta que "o que tem ocorrido entre a escola e as famílias é uma inversão de papéis" (BATISTA, 2010, p. 112). Os pais negligenciam ordens aos filhos e esperam que a escola exerça este papel de autoridade e ainda restaure sua autoridade paternal.

Ao ingressarem na escola, as crianças, muitas vezes, demonstram dificuldades de adaptação, não se mostram a vontade no ambiente escolar, negam-se a fazer amizades, ficam isolados. Será que isto pode ser uma consequência direta ou indireta de conflitos e crises de um sistema familiar ineficiente, somado a um ambiente escolar inadequado e professores despreparados?

Shaffer (2009) apresenta o behaviorismo de Watson que consiste na teoria de que a criança é um ser moldável e que os pais ou seus pares podem fazê-la se tornar inteligente, criativa, corajosa ou temerosa, dependendo de como é tratada em seu ambiente social e de como as pessoas a sua volta se relacionam com ela. "A crença de Watson de que as crianças são moldadas pelo ambiente em que estão inseridas carrega uma forte mensagem para os pais: eles são amplamente responsáveis pelo que seus filhos se tornarão. (SHAFFER, 2009, p. 45)

Acredita-se que a estrutura familiar saudável, estável e afetivo, pode contribuir positivamente para o bom desempenho da criança na escola, no entanto este fator não é garantia de sucesso em todas as áreas da aprendizagem, uma vez que esta depende também de outros fatores alheios aos familiares.

Na interação entre familiares e escola como: contribuição nas tarefas escolares, trocas de informações, ideias, sugestões, contribuições e opiniões relacionadas à dinâmica do ensino no âmbito escolar e fora dele, podem apontar resultados no desenvolvimento de aprendizagem e no ambiente escolar, e ainda de alguma forma interferir no desenvolvimento da inteligência e competência emocional e na formação cognitiva da criança em idade pré-escolar positivamente.

Afinal, a relação família/escola no processo ensino aprendizagem da criança em idade pré-escola é possível, sem que isso traga mais traumas que lucros? A comunidade escolar pode colaborar no processo quando momentos difíceis no seio familiar afetam o desempenho cognitivo da criança em idade pré-escolar?

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve como objetivo colaborar com os diversos setores da educação, especialmente professores, os quais enfrentam o desafio de construir experiências significativas para alunos em seus primeiros dias de aula e experiências cognoscitivas.

Ressalta-se a importância de conhecer, ouvir, saber utilizar os métodos de intervenção e a importância do envolvimento de todos os que estão em contato com o aprendiz, partindo do pressuposto de que a educação eficaz se faz em interação família/escola, visando ao sucesso do processo ensino aprendizagem.

Os educadores no exercício de aprendizagem em sala de aula devem ter conhecimento sobre os aspectos da aprendizagem e o aluno como ser integral, que cria e recria seu mundo, a fim de que possa discernir entre falta de disciplina, ausência de figura de autoridade, dificuldades de aprendizagem e distúrbios, e aprender a discriminar os tipos de problema que afetam o aprendiz e os fatores multidisciplinares que envolvem o processo.

O professor precisa ter uma postura firme, que represente autoridade, mas que ao mesmo tempo traga segurança à criança; diminuindo problemas causados pelo temperamento, comportamento imprevisível ou por educação má administrada pelos pais ou responsáveis, a criança necessita reconhecer uma figura de autoridade em algum setor educacional de sua vida, melhor que fossem em todos, senão, que a instituição escolar proporcione esse ambiente ao aprendiz, que inclusive pode levar para casa e apresentar mudanças significativas diante dos pais, escolhendo obedecer, mesmo que isto não lhe pareça tão claro.

Os objetivos da educação devem ser dar apoio à criança, ser pensada em âmbitos futuros, a médio e longo prazo, trabalhar em conjunto com os pais e apoio do orientador, gestor e supervisor escolar, a fim de desenvolver e melhorar as habilidades, perspectivas e potencialidades da criança.

Essas equipes de trabalho educativo devem deixar os envolvidos (pais e responsáveis) muito a vontade para que se sintam inseridas, acolhidas e valorizadas.

Outras sugestões para pesquisas futuras são os temas: a criança que não tem suporte afetivo familiar pode apresenta dificuldades de aprendizagem? Como os aspectos sócio afetivos e emocionais afetam o processo ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIAS

ALVES, Ricardo de Andrade: Interação família e escola: contribuições para a formação da criança. 2008. Monografia. 38 páginas. Ciências Biológicas. Faculdade de Ciências Aplicadas "Sagrado Coração". Linhares. 2008. In www.artigos.com consultado em 7 de novembro de 2011.

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HARRIS, M. Personalidade. In: SEARS, Robert R.; FELDMAN, Shirley S. As sete idades do homem um estudo do Desenvolvimento Humano: Corpo, Personalidade, Capacidades. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

MAURÍCIO, Aline Cristina Lofrese. Psicologia da Aprendizagem. São Paulo: Know how, 2010.

NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Prodil, 1994.

SALGADO, Elisabeth. Artigo- Ansiedade de separação na infância. Disponível no site http://www.elisabethsalgadoencontrandovoce.com acesso em 22 de junho de 2012.

SHAFFER, DAVID. R. Teorias do Desenvolvimento Humano. São Paulo: Cengage Learning, 2009.

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VIGOTSKY, Lev Semyonovich. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

WILKINSON, Bruce Dr. AS 7 LEIS DO APRENDIZADO- Como ensinar quase tudo a praticamente qualquer pessoa. MG: Betânia, 1998.

 

Autor:

Rosana Lucia Santos de Oliveira

rosanadivi[arroba]hotmail.com

Graduada em Pedagogia- UEG- Goianésia (2002), Especializada em Transtornos de Aprendizagem; Pós- graduada- Lato sensu em coordenação, Inspeção e Supervisão Escolar; Pós- graduada- Lato sensu- Psicopedagogia; Psicologia- Cursando (10º período)



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