A Inteligência Coletiva

Enviado por Rogério da Costa


  1. Abstract
  2. O jogo das preferências individuais
  3. A cartografia da Inteligência Coletiva
  4. Compreendendo as mentes coletivas virtuais
  5. Conclusão: As redes digitais ou o capital tecnológico
  6. Bibliografía
  7. Notas

Cartografando as redes sociais no ciberespaço

ABSTRACT

Temas como "inteligência emergente" (Steven Johnson), "coletivos inteligentes" (Howard Rheingold), "cérebro global" (Francis Heylighen), "sociedade da mente" (Marvin Minsk), "inteligência conectiva" (Derrick de Kerckhove), "redes inteligentes" (Albert Barabasi), "inteligência coletiva" (Pierre Lévy) são cada vez mais recorrentes entre teóricos reconhecidos. Todos eles apontam para uma mesma situação: estamos em rede, interconectados com um número cada vez maior de pontos e com uma freqüência que só faz crescer. A partir disso, torna-se claro que podemos hoje compreender muito melhor a atividade de uma coletividade, a forma como comportamentos e idéias se propagam.

O jogo das preferências individuais

Temas como "inteligência emergente" (Steven Johnson), "coletivos inteligentes" (Howard Rheingold), "cérebro global" (Francis Heylighen), "sociedade da mente" (Marvin Minsk), "inteligência conectiva" (Derrick de Kerckhove), "redes inteligentes" (Albert Barabasi), "inteligência coletiva" (Pierre Lévy) são cada vez mais recorrentes entre teóricos reconhecidos. Todos eles apontam para uma mesma situação: estamos em rede, interconectados com um número cada vez maior de pontos e com uma freqüência que só faz crescer. A partir disso, torna-se claro que podemos hoje compreender muito melhor a atividade de uma coletividade, a forma como comportamentos e idéias se propagam, o modo como notícias afluem de um ponto a outro do planeta etc.

Essa interconexão generalizada entre as pessoas tem chamado a atenção de muitos teóricos sobre seus efeitos no quadro de decisões individuais e igualmente na forma como os coletivos se comportam quando se constituem como redes de alta densidade (Rheingold, 2002; Lévy, 2001; Johnson, 2001). Decisões individuais e coletivas parecem estar chamando a atenção não apenas dos interessados de sempre – os que trabalham com marketing – mas também dos estudiosos de redes sociais, dos sociólogos, antropólogos do virtual, dos ciberteóricos, dos especialistas em gestão do conhecimento e da informação, enfim, de todos aqueles que pressentem que há algo de novo a ser investigado, que a interação coletiva pode ser compreendida dentro de uma certa lógica, dentro de certos padrões.

É importante salientar que todo tipo de grupo, comunidade, sociedade é fruto de uma árdua e constante negociação entre preferências individuais (Arrow, 1970). Exatamente por isso, o fato de estarmos cada vez mais interconectados uns aos outros implica que tenhamos, de algum modo, que nos confrontar com nossas próprias preferências e sua relação com aquelas de outras pessoas. E não podemos esquecer que tal negociação não é nem evidente nem tampouco fácil. Além disso, essa discussão não deixa de envolver outros aspectos que hoje mobilizam os teóricos do ciberespaço como, por exemplo, o problema da captação da atenção dos usuários em rede (Davenport & Beck, 2001; Costa, 2002), a técnica de sugestões dos agentes inteligentes (Maes, 1997; Bradshaw, 1997) ou das comunidades virtuais (Rheingold, 1996), o problema da decisão ou da escolha (Stefik, 1999), e os riscos que isso muitas vezes implica. Todos esses aspectos parecem ter como pano de fundo a negociação das preferências individuais e sua posição no coletivo. Lembrando que, via de regra, as preferências ditas "individuais" são na verdade fruto de uma autêntica construção coletiva, num jogo constante de sugestões e induções que constitui a própria dinâmica da sociedade.

A cartografia da Inteligência Coletiva

É nessa perspectiva que nos perguntamos a respeito da inteligência coletiva e de seu papel nas reflexões sobre comunidades e grupos, tanto virtuais quanto locais. Cabe salientar que o sentido que atribuímos aqui à inteligência coletiva é o de potencial de uma população, sua disponibilidade para a ação coletiva. A cartografia dessa inteligência ou disposição seria a fotografia simultanea do potencial de interação de um grupo ou comunidade e de seu respectivo ecossistema de idéias. E se a inteligência individual requer certas condições para fluir em cada um de nós (como, por exemplo, a saúde física, criação familiar e situação afetiva), também a inteligência coletiva deve requerer outras condições para afluir entre os indivíduos. Como sugere Pierre Lévy (Lévy, 2004), essas condições poderiam ser dadas pela situação do capital social, cultural e tecnológico de uma coletividade. Nesse sentido, o potencial de interação entre os indivíduos (capital social) constituiria um dos índices de referência para se compreender a forma de propagação das idéias (capital cultural) através de uma infraestrutura de comunicação (capital tecnológico) no interior de uma comunidade, e seu conseqüente desdobramento ou não em ações coletivas inteligentes.

Por outro lado, devemos lembrar que as inteligências individuais parecem não se prolongar naturalmente numa inteligência coletiva. O fato de indivíduos estarem em grupo não significa que haverá entre eles uma tal sinergia de idéias que resulte numa ação conjunta. Essa é a razão de nosso interesse específico no campo da ação coletiva, pois ela é a expressão genuína de uma inteligência afluente, que também chamamos de ação coletiva inteligente. Howard Rheingold, por exemplo, narra em seu último livro, Smart Mobs, como o recente movimento social nas Filipinas, que depôs o então presidente Estrada, resultou da inteligência afluente da população. No dia do julgamento do processo de impeachment do presidente, mensagens enviadas através de celulares conseguiram mobilizar em questão de minutos mais de um milhão de cidadãos diante do Congresso. É válido dizer que esse movimento de confluência de pessoas numa direção física foi também acompanhado por um fluxo de inteligência afluente, que se traduziu na percepção pública da força de uma idéia, capaz de mobilizar a tantos de forma consciente (1). A inteligência afluente é aquela que permite ao coletivo lidar com o imprevisto, que lhe dá flexibilidade na ação. Mas qual o potencial de inteligência de um determinado grupo, comunidade, nação? Seria possível mensurar essa disposição para a ação inteligente em conjunto?

Esses são apenas alguns dos aspectos que apontam para uma espécie de assimetria entre a dimensão do indivíduo (com suas preferências, interesses, inteligência) e aquela do coletivo, onde os indivíduos são convocados a agir, decidir, adotar comportamentos não apenas em função de si mesmos, mas também conjuntamente. Conhecer uma delas não necessariamente nos garante compreender a outra. Vencer essa distância é o que deve mobilizar parte de nossos esforços para entender e atuar em projetos que envolvam redes sociais e que dependem, portanto, do engajamento efetivo das pessoas.


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