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Em Roma o Latim vulgar era a língua falada por classes menos cultas, na Itália e nas províncias. Esta língua foi aprendida pelos povos conquistados e exerceu influência na formação de vocábulos da língua portuguesa.
Silva (2007, p.23) salienta que:
Foi o latim vulgar dos soldados, colonos e mercadores o que se propagou à comunidade romana. Dele possuímos hoje menos documentos do que do latim clássico. Encontramos restos nas comédias de Plauto e Terêncio, no Satyricon de Petrônio, na Silviae vel potius Aetheriea peregrinatio ad loca santa, atribuída a uma freira da Península Ibérica, na Mulomedicina Chironis, de Cláudio Hermério, no Appendix Probi, lista de erros compilados por um gramático, nas inscrições, nas várias glosas, de Silos, de Cassel, de Reichenau etc.
O latim vulgar se tornou a popular do latim, sendo denominada de sermo vulgaris, denominação. Conforme Basseto (2005, p. 92) a denominação correta é sermo plebeius e assim a definida como "norma da grande massa popular menos favorecida, analfabeta. Foi metodicamente ignorada pelos gramáticos e escritores romanos, mas era viva e real; apresenta variantes, sobretudo no léxico, segundo o modo de vida dos falantes, distinguindo-se o sermo rusticus, o castrensis e o peregrinus.
Em conclusão, o latim vulgar não pode ser apenas o latim falado em Roma, mas a língua falada pela plebe romana, instrumento de comunicação que se havia transformado na "koine" do vasto Império em todo o Ocidente, desde o Tejo até o Danúbio (MAUER, 1962, p.152).
O latim vulgar sermo vulgaris foi típico das classes inferiores da sociedade romana, entretanto não somente as pessoas incultas e vulgares que usavam a norma popular do latim, pois com o passar do tempo, passou a ser utilizado por todo o Império Romano. Esta norma era um meio de comunicação no cotidiano. Contudo, devido às correções gramaticais, uma vez que havia esforço para se escrever no latim literário (COUTINHO, 1976).
O latim literário era o latim erudito, que tem grande valor e que é conhecido nos dias atuais através das obras de grandes escritores como César, Cícero, Virgílio, Horácio e outros. O latim vulgar por sua vez, foi menos utilizado em escritos, pois não apresentava regras rígidas e por possuir características da vida dos latinos foi sendo levada à várias regiões que estavam sob o domínio dos romanos, diferenciando-se com o passar do tempo e também devido à ação dos substratos e superstratos linguísticos. Isto resultou no surgimento das línguas neolatinas a partir do século IX D.C., dentre elas o português.
A língua portuguesa deriva da língua românica do latim vulgar trazido pelos romanos para a Lusitânia e que foi modificado ou mais propriamente passou por uma evolução desse latim. Os romanos vieram para a Península no século III a.C., os mais antigos testemunhos históricos da luta deste povo com os lusitanos datam do ano de 193 a.C.
Desenvolvimento
A língua tem seu caráter social, portanto, evolui e se transforma historicamente. Como tal, a língua latina foi influenciada por outras línguas, devido ao desenvolvimento de relações culturais que se estabeleceram ao longo dos séculos (TERRA, 1997).
A língua latina deu origem à língua portuguesa, sendo que existe uma profunda relação entre ambas. Embora com o passar dos anos a língua portuguesa tenha ganhado novos contornos e formas, a sua estrutura é fundada na língua latina (CEREJA; MAGALHAES, 1999).
A língua portuguesa tem suas raízes na língua latina o latim, e como sofreu várias influências por parte de outras culturas, ainda mantém aspectos gramaticais que não são achados em outras línguas românicas (TERRA, 1997). De acordo com Façanha (2014, p.36):
A Língua Portuguesa resultou da fusão do latim com o galego, principal língua falada na região do Condado Portucalense, que corresponde a atual região de Portugal, sendo um dos idiomas derivados que mais demorou a se compor, motivo pelo qual a língua portuguesa é tão semelhante ao latim.
Desta forma o latim é necessário nos estudos de gramática da língua portuguesa, uma vez que é necessário compreender o significado das palavras em sua origem e terminologia, e a partir disto melhor compreende também os significados do sistema linguístico cultural brasileiro (SILVA, 2009).
.O português falado no Brasil sofreu influências em sua evolução, pela mistura de diversos falares, sendo estes: o indígena, negro e o norte-americano. O aprofundamento do falar indígena pelos padres jesuítas, fez com que esta língua fosse transmitida de geração a geração e permanecesse até os dias atuais. Desde a época da colonização, ainda que houvesse a obrigatoriedade do ensino da língua portuguesa, a língua tupi continuou sendo muito utilizada. Esta realidade levou a uma fusão da língua indígena com vocábulos lusitanos (SILVA, 2007).
Bagno (2002, p. 158):
Três línguas conviviam no Brasil colônia, e a língua portuguesa não eram a prevalente: ao lado do português trazido pelo colonizador, codificou-se uma língua geral, que cobria as línguas indígenas faladas no território brasileiro (estas, embora várias, provinham, em sua maioria, de um mesmo tronco, o tupi, o que possibilitou que se condensassem em uma língua comum): o latim uma terceira língua, pois nele se fundava todo o ensino secundário e superior dos jesuítas.
Devido a estes contrastes tão latentes em território brasileiro, a língua latina se desenvolveu aqui com modalidade diferente daquela praticada pelo povo lusitano. Portanto, é preciso lembrar que o Brasil é um país com diversidade cultural que reflete em sua língua, e face a isto, é uma língua que embora tenha recebido influenciada língua latina, possui autonomia (GUIMARAES, 2004).
Na atualidade, se verifica que por influência da língua latina, a língua portuguesa apresenta termos e vocábulos latinos, que às vezes fazem com a compreensão do de alguns termos se difícil, por ter uma relação direta com o latim vulgar (FAÇANHA, 2014).
No cotidiano se encontram muitas expressões latinas, tais como: Habeas corpus (que tenhas o teu corpo), curriculum vitae (carreira da vida), post scriptum (depois de escrito), causa mortis (causa da morte), in memoriam (em memória) modus vivendi (modo de viver), lato sensu (em sentido amplo), strictu sensu (em sentido restrito), corpus (corpo) (FAÇANHA, 2014)).
Atualmente a língua portuguesa é resultante do fio condutor proveniente do latim. Contudo, a língua portuguesa apresenta caráter analítico em relação à língua latina, pois, a evolução do latim enriqueceu algumas classes gramaticais, com preposições (SILVA, 2009).
O objetivo deste estudo é analisar a influência do latim na língua portuguesa.
Por meio da revisão de literatura constatou-se que o latim é necessário nos estudos de gramática da língua portuguesa, uma vez que é necessário compreender o significado das palavras em sua origem e terminologia, e a partir disto melhor compreende também os significados do sistema linguístico cultural brasileiro.
Com a realização deste estudo conclui-se que o latim continua presente na língua portuguesa, passando sempre por uma renovação, com o aparecimento e desaparecimento de signos, contribuindo para que o universo lexical da língua portuguesa seja cada vez mais enriquecido.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 13. ed. São Paulo: Loyola, 2004.
BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica: história externa das línguas. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2005
CEREJA, William Roberto; Magalhães, Thereza Cochar. Português: linguagens, literatura, produção de texto e gramática. 3ª ed. São Paulo: Atual, 1999.
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. 7. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976.
FAÇANHA, Josanne Cristina Ribeiro Ferreira. Juridiquês: a influência da língua latina na linguagem jurídica brasileira. Revista Humana Et Al, Paço do Lumiar, v. 1, n. 2, p. 36-50, dez. 2014.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.
GUIMARAES, Eduardo. História da semântica: sujeito, sentido e gramática no Brasil. Campinas: Pontes, 2004.
MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica para o curso de
direito – 2. ed. – São Paulo: Atlas, 2001.
MAURER JR., T. H. O Problema do Latim Vulgar. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1962.
SABBATINI, Renato M.E. As contribuições do idioma italiano ao português: estrangeirismos que ficaram, 2008.disponível em :< http://www.renato.sabbatini.com/papers/italianismos.htm>Acesso em 4 de setembro de 2015.
SILVA, José Pereira da. Elementos de filologia românica de Antenor Nascentes. Rio de Janeiro, 2007.
SILVA, Luis Antônio da Silva. A língua que falamos. Rio de Janeiro: Ed Globo, 2009.
SILVA, Paulo Vítor Mattos. Do latim ao brasileiro: panorama evolutivo da língua portuguesa.Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.Disponível em :< http://www.filologia.org.br/revista/40/DO%20LATIM%20AO%20BRASILEIRO.pdf>Acesso em 12 de setembro de 2015.
TERRA, Ernane. Linguagem,língua e fala.São paulo:Scipione,1997.
Autor:
Ricardo Santos David
ricardosdavid[arroba]hotmail.com
Pós-graduado em linguística aplicada pela Universidade Candido Mendes. Graduado em Letras. Professor de língua portuguesa e inglesa, experiência em lecionar outras disciplinas como ética e cidadania e educação ambiental, todas para a educação infantil e ensino fundamental.
UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Artigo Científico Apresentado à Universidade Candido Mendes – UCAM, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Língua Latina e Filologia Românica.
JAMBEIRO – SP
2015
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