Em um país castigado pelo analfabetismo, com deficiências no ensino público e com alto índice de analfabetos funcionais (aqueles que, embora tenham aprendido a decodificar a escrita, não desenvolveram a habilidade de interpretação de texto), projetos de incentivo à leitura são muito mais que bem-vindos: são fundamentais.
O presente trabalho visa traçar um histórico das histórias em quadrinhos e elaborar uma série de estratégias utilizando o recurso dos gibis da Turma da Mônica como elemento de contato inicial para a construção e perpetuação do prazer pela leitura.
Essas oficinas serão realizadas em uma turma multisseriada de 3º e 4º ano do Ensino Fundamental de 9 anos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Rio Grande do Sul. A referida Escola está localizada no município gaúcho de General Câmara, mais precisamente, no distrito de Santo Amaro do Sul, zona rural. O público-alvo está inserido em uma comunidade com baixo poder aquisitivo e que vive basicamente da pesca.
Os alunos desta turma têm contato com a leitura apenas na Escola, visto que muitas de suas famílias não têm condições financeiras de adquirir livros, e mostram-se com pouca ou nenhuma motivação para ler, apresentando problemas na interpretação do que é lido em sala de aula.
Segundo o relatório PISA 2003 – Programa Internacional de Avaliação de Alunos - realizado em 41 países, o Brasil ficou entre os últimos lugares na habilidade leitura.
Leitura no PISA é a capacidade do indivíduo compreender textos escritos, usá-los e refletir sobre eles de forma a alcançar objetivos próprios, desenvolver conhecimentos e o seu potencial, participando ativamente da sociedade. É muito mais que decodificar material escrito e compreendê-lo literalmente, mas olhá-lo sob o ponto de vista crítico.
Magda Soares (2004, p.14) alerta que para formar leitores críticos capazes de interferir na própria realidade é preciso, acima de tudo, ser um leitor experiente, apaixonado, capaz de compreender, também, que a leitura é fator de ascensão social, principalmente, para as classes economicamente desfavorecidas, em que a leitura se torna um instrumento para obtenção de melhores condições de vida.
Os resultados do PISA 2003 apontam para várias questões: a falência do sistema educacional que não consegue, ao longo de anos de trabalho, formar cidadãos críticos, capazes de compreender sua realidade, a exclusão social dos que não conseguem atingir índices satisfatórios para enfrentar o mercado competitivo e a importância de um maior apoio aos docentes.
Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, significa ter acesso a essa escrita, significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já se é.
O ato de ler é um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, podendo utilizar-se de várias linguagens, dentre elas a iconográfica.
Foram escolhidas as histórias em quadrinhos como instrumento para propiciar e motivar o prazer pela leitura nas séries iniciais, pois como Nelly Novaes Coelho (2000, p.17) aponta, em sua obra Literatura Infantil: teoria, análise e didática, um dos pressupostos para um projeto de ensino que tem por objetivo fomentar a leitura é a compreensão da leitura como um diálogo entre leitor e texto, atividade fundamental que estimula o ser em sua globalidade (emoções, intelecto, imaginário etc.) e pode levá-lo da informação imediata (através da "história", "situação" ou "conflito"...) à formação interior, a curto, médio ou longo prazo (pela fruição de emoções e gradativa conscientização dos valores ou desvalores que se defrontam no convívio social).
Apesar de alguns problemas no sistema educacional, a escola ainda é o espaço privilegiado em que devem ser colocados os alicerces do processo de auto-realização vital/cultural que o ser humano inicia na infância e prolonga até a velhice.
Coelho (2000, p.34), ainda sobre as histórias em quadrinhos, destaca que são ideais para os alunos que são público-alvo das oficinas, pois na faixa dos 8/9 anos são leitores-em-processo, segundo tipologia etária criada pela autora. Nesta fase, as crianças já dominam com certa facilidade o mecanismo da leitura e acentua-se o interesse pelos conhecimentos das coisas. Seus pensamentos lógicos organizam-se em forma concretas que permitem operações mentais. Existe a atração pelos desafios e questionamentos de toda a natureza.
A presença do adulto ainda é importante, nesta fase, como motivação, estímulo à leitura, como aplainador de possíveis dificuldades e, evidentemente, como provocador de atividades pós-leitura.
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