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O desenvolvimento profissional dos professores, que paulatinamente se processa ao longo das respectivas carreiras, depende de aspectos contextuais, indissociáveis da sua condição de pessoas, que se afirma e modifica em função do modo como percebem os outros e as relações interpessoais que com eles estabelecem, assim como da representação que têm de si próprios, como pessoas e profissionais (Abraham, 1972).
A formação inicial deve abarcar quatro componentes estruturais: a formação geral para a docência, a formação para a especialidade científica, tecnológica ou artística da docência, a formação pedagógico-didáctica teórica e a formação pedagógica prática, (Patrício, M.).
Relativamente à formação geral para a docência, corresponde, em grande parte, a toda uma atmosfera de mentalização e de criação de atitudes para o desempenho da função docente e que não é propriamente constituída por um conjunto de disciplinas ou de actividades curriculares. Ao longo de toda uma vivência de aprendizagens e de contactos próximos com a realidade desta profissão, o percurso escolar tanto no básico, secundário e universitário levam ao desenvolvimento daquelas;
Em relação à formação da especialidade científica da docência, ela deve ser básica e geral, ordenando-se inequivocamente para o exercício competente da actividade profissional própria do curso;
Relativamente à formação pedagógico-didáctica teórica. Uma licenciatura em ensino não é uma licenciatura em Ciências da Educação. Todavia, não pode ministrar-se ao candidato a professor uma formação pedagógica à partida insuficiente face às exigências actuais do exercício consciente e competente da função docente. O plano de formação deve compreender um maior número de disciplinas ligadas à área das Ciências da Educação como: Pedagogia Geral, Filosofia da Educação, Psicologia Geral da Educação , entre outras;
Quanto à componente de formação pedagógica prática, ela deve apetrechar o futuro professor com o domínio de técnicas de observação do comportamento dos alunos na classe e em outras situações de aprendizagem relevantes e ainda com técnicas de auto-observação e consequente correcção e aperfeiçoamento do seu próprio trabalho educativo
Formação "continua"
A formação não se constrói por acumulação de cursos, de conhecimentos ou de técnicas, mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso, é tão importante "investir na pessoa" e dar um estatuto ao "saber da experiência". Importa valorizar paradigmas de formação que promovam a preparação de professores reflexivos, que assumam a responsabilidade do seu próprio desenvolvimento profissional e que participem como protagonistas na implementação das políticas educativas.
Segundo Simões (1995) torna-se "necessário procurar paradigmas, teorias consistentes e modelos alternativos, que tornem possível colocar, de modo diverso, o problema da formação".
Por isso a formação, tendo como objectivo procurar o desenvolvimento pessoal, social e profissional dos professores, deve ter em conta o atributo "qualidade" que caracteriza a construção de uma escola democrática, contrapondo-se à escola tradicional.
É nesta fase da formação continua, que os professores formados segundo o modelo reflexivo, desenvolvem competências científico-pedagógicas, adquirem uma certa segurança e desembaraço para o exercício das suas funções nas práticas pedagógicas. Este modelo de formação aponta para a utilização de estratégias alternativas em novas práticas pedagógicas facilitadoras da (re)construção de conhecimentos, de actividades de exploração e de desenvolvimento do espírito crítico.
As situações que os professores são obrigados a enfrentar apresentam características "únicas": o profissional competente possui capacidades de autodesenvolvimento reflexivo.
Em suma, não parece que a valorização de uma área do saber em relação às demais possa responder às exigências da profissão docente. O professor precisa conhecer profundamente a disciplina que lecciona, mas precisa igualmente conhecer o meio social dos alunos com os quais trabalha e as características da comunidade em que trabalha, como precisa entender o desenvolvimento psico-motor dos seus alunos e as diferentes concepções de educação. Um professor capaz de ajudar os seus alunos em relação à crise e à dinâmica da mudança precisa de uma formação equilibrada da qual tanto fazem parte os conteúdos específicos como uma sólida cultura e uma adequada preparação metodológica.
Caracterização da Profissão
"O Professor é Pessoa" – com esta afirmação poder-se-á dar início a uma análise desta difícil tarefa que é definir um perfil para o Professor. Sem dúvida que se trata de uma tarefa complexa, pois é resultante de uma diversidade de factores. Pela afirmação acima podemos também complementá-la dizendo que o Professor é um ser único e irrepetível, com sentimentos e emoções, cognições e percepções, motivações e reacções peculiares (in Revista Noesis, 1990).
Àquele grande conjunto de variáveis pode-se acrescentar outros com os quais o professor interage: os alunos, a escola, a comunidade. Continuamente posto à prova, o professor deverá ser capaz de se adaptar à multiplicidade de variáveis e, em função delas, modificar-se (in Revista Noesis, 1990).
A sua personalidade constitui o factor primordial no seu processo de adaptação. Os determinantes da personalidade encontram-se ligados às condições físicas, à maturidade intelectual, social, emocional, aos factores culturais, aos componentes ambientais (sociedade, lar e família) e às experiências e aprendizagens múltiplas...
As qualidades chave e as competências fundamentais dos professores, entre outras, devem ser:
Líderes de aprendizagem e simultaneamente aprendizes durante toda a vida;
Promotores de equipas de aprendizagem;
Líderes de inovação nas escolas e na sociedade;
Flexíveis e adaptáveis a novas situações;
Inovadores, empreendedores e capazes de aceitar positivamente a mudança;
Abertos às necessidades dos alunos dos colegas e da comunidade;
Colaboradores e criadores, conjuntamente com colegas e alunos;
Promotores de um saber mais holístico, pluri, inter e transdisciplinar.
Tudo isto se pode agrupar em quatro dimensões essenciais:
A dimensão motivadora;
A dimensão relacional;
A dimensão ética;
A dimensão construtiva.
A dimensão motivadora do professor abrange vários factores que não só o implicam a ele mas também cada um dos alunos como indivíduos únicos. O professor deve ser capaz de criar nos alunos uma forte motivação que lhes permite uma boa aprendizagem e dar-lhes os meios necessários para os fazer singrar por si próprios.
A dimensão relacional está essencialmente centrada no clima afectivo de uma sala de aula. Uma das características mais importantes do professor será conseguir uma "relação aberta" professor/aluno. A criação de um clima afectuoso na sala de aula respeitando a individualidade de cada aluno, são indispensáveis para uma boa aprendizagem.
A dimensão ética tem por objectivo preparar os jovens para as suas responsabilidades de adultos. Procura-se o desenvolvimento da maturidade moral dos alunos, da formação do seu carácter e clarificação de valores que são essenciais da democracia e de uma harmoniosa vida social.
A dimensão construtiva traduz-se pelo facto de os alunos admirarem, não só a sua habilidade para ensinar, a clareza e a orientação para as tarefas escolares, o controlo da turma, mas também a sua imparcialidade, a sua paciência, a sua compreensão afectuosa, o seu entusiasmo, o seu bom humor e o seu sentido de justiça.
Segundo o psiquiatra Daniel Sampaio: "Um professor deve ter seis características básicas: a primeira é a firmeza – tem de ter convicções e ideias firmes sobre as coisas; a Segunda é ter disponibilidade para ouvir (...); a terceira é o respeito pela privacidade dos alunos (...); a Quarta é saber trabalhar com novas tecnologias, como o vídeo e a internet; a Quinta é falar com os outros docentes para definir estratégias comuns para resolver problemas e evitar assim que cada professor diga coisas diferentes; por fim a Sexta é a capacidade de falar com os pais dos alunos, mas sem permitir nunca que estes dominem a sala de aula".
O Professor de ontem e de hoje
A escola do passado era constituída por uma homogeneidade socio-cultural, tanto dos alunos como dos professores, a escola era reservada para as classes médias e altas, sendo o professor um agente dos valores dessas mesmas classes, "mais do que um profissional, o docente era entendido como um agente espiritual e ideológico", estando o seu prestígio "directamente associado à fraca dinâmica da sociedade (Pardal). A nova realidade é completamente oposta, actualmente verifica-se a massificação do sistema, tanto ao nível dos alunos, como ao nível dos docentes.
O número de oportunidades de trabalho aumentou e começou-se a considerar o ensino como a escola que leva ao sucesso, à promoção social. Esta explicação é comprovada por Ana Benavente no seu estudo sobre a origem social dos professores a partir de 1974, concluindo que os docentes, na sua maioria, provêm da pequena burguesia rural e urbana e de certas camadas do proletariado (Benavente, A.). A escola, anteriormente um sistema homogéneo, passa num escasso período de tempo a um sistema heterogéneo deixando os professores daquele momento não preparados para o novo ensino-aprendizagem, sem formação profissional adequada.
Para muitos pais a ideia de alguém decidir ser professor não se associa com o sentido de vocação, mas antes com a ideia de não ter capacidade para fazer "algo melhor", quer dizer "para dedicar-se a algo que dê mais dinheiro" (Esteve, J., 1992). Isto é comprovado pela grande quantidade de indivíduos que se encontram a leccionar que não são licenciados em ensino que apenas o fazem como um tapa-buracos orçamental.
A profissão docente está de facto em crise: perda de prestígio, de poder e de autoridade junto à instituição e junto à sociedade. A evolução do contexto social exige que o professor desempenhe novas funções e papéis e é neste contexto que começa a luta docente por uma elevada qualificação profissional pois só esta os pode distanciar dos "mercenários do ensino", proporcionar uma melhor remuneração e o consequente prestigio por todos ansiado.
Tarefas do professor
O papel do professor é actualmente mais complexo e exigente do que no tempo em que se pretendia que ele fosse apenas um competente e eficaz transmissor de conhecimentos.
Num mundo cada vez mais condicionado pelos mass-media, que concorrem com a escola na difusão do saber, dos conhecimentos e, até, dos comportamentos, a instituição escolar defronta-se com desafios cada vez mais amplos e fortes. Sem dúvida o professor terá um grande papel na resolução destes desafios.
Nas sociedades modernas os professores têm um estatuto profissional especializado e os seus papéis e responsabilidades são complexos. A sociedade, cada vez mais avançada tecnologicamente necessita que a educação básica em habilidades numéricas e verbais esteja ao dispor de camadas cada vez maiores da população.
O campo de actuação do professor terá que passar pelas seguintes etapas: planificação, gestão e condução.
No caso da planificação, pretende-se que o professor promova a organização da aprendizagem dos conhecimentos, bem como a efectiva participação dos alunos na sala de aula;
Como gestor, o papel do professor deve alicerçar-se na apresentação e explicação sólida e clara de novos conceitos; na criação de oportunidades de intervenção que permitam aos alunos adquirir o hábito de respeitar o ponto de vista de outros colegas e aguardar a sua vez de falar; na selecção de métodos mais eficazes, assim como na avaliação dos resultados obtidos.
Face á heterogeneidade de alunos numa sala de aula, o professor tem de ser condutor e facilitador da aprendizagem, possibilitando a análise e discussão de problemas e organizador de trabalho de grupo, a fim de estimular a aprendizagem pessoal de cada aluno.
Quando nos pedem para caracterizar um antigo professor nosso, normalmente rotulamo-lo de bom ou mau professor dependendo da sua maneira de dar aulas, da sua relação com os alunos e se conseguiu ou não cativar-nos para a sua aula. Um "mau professor" pode ser aquele que tem autoridade a mais, como aquele que tem a menos, no primeiro caso porque assusta os alunos e impede um relacionamento saudável entre ambos, no segundo porque permite a desordem. Um "mau professor" também pode ser aquele que explica mal porque não sabe ou porque não consegue explicar melhor, quer por ignorância, quer por incapacidade de comunicação.
Se são muitas as características de um "mau professor" normalmente as características de um "bom professor" resumem-se a:
Saber explicar bem de forma incisiva e objectiva;
A repetir com paciência;
Saber provocar vontade de trabalhar;
Saber comunicar com os alunos;
Organizar saídas;
Esta é a visão dos alunos que anseiam por uma aprendizagem que não seja apenas trabalho árduo e rotineiro mas aliciante com uma componente de lazer, lúdica.
Assim sendo, o professor dentro da instituição "é chamado a responder às necessidades, potencialidades e desejos da pessoa, do aluno e, por outro, às necessidades e interesses da sociedade" (Esteve, J., 1992). O facto da profissão de docente não conseguir estabelecer uma imagem de si própria, provoca a insegurança, uma consequente inadaptação à realidade exterior e a tendência para o idealismo (Marmoz, Louis). Este mesmo autor definiu três possíveis imagens desta personagem multiforme de que se assume o professor: herói, mártir e cúmplice.
Herói, porque é um "servidor do estado e sacerdote da religião educativa" (Nóvoa, A., 1991), um prestador de serviços comprometido com o bem comum, um lutador ao responder às múltiplas exigências e ao tentar o equilíbrio e a neutralidade ao ponto de se esquecer de si próprio como pessoa com valores, princípios e convicções;
Mártir, porque tem que fazer frente a "um conflito de finalidades: ensinar e seleccionar ao mesmo tempo" (Ranjard, F.), tem que se desdobrar em tarefas cada vez mais numerosas.
Cúmplice, porque sendo o professor o elemento central da Instituição Escola, ele não existe sem o aluno. O aluno é necessário para provar a existência do professor.
"Ser docente é investir no saber a fim de exercer um poder sobre a criança" (Natanson, J.), e este poder só pode ser exercido através da relação que aparece como um elemento central entre o docente e o aluno. Esta relação, para dar fruto, deve proporcionar o nascimento da independência intelectual do aluno, ajudando-o a construir e a dominar conhecimentos.
Concursos
Os concursos podem ser internos ou externos; de provimento ou de afectação
1 - O concurso interno é aberto a pessoal docente pertencente aos quadros de escola ou aos quadros de zona pedagógica
2 - O concurso externo é aberto a indivíduos portadores de qualificação profissional para a docência, certificada pelo Ministério da Educação, podendo a ele candidatar-se em situação de prioridade o pessoal docente a que se refere o número anterior.
3 - Por despacho do Ministro da Educação pode ser autorizada a abertura de concurso externo a indivíduos que não se encontrem nas condições referidas no número anterior, quando a satisfação das necessidades do sistema educativo o exija.
4 - O concurso externo para recrutamento de pessoal docente não se encontra sujeito às restrições vigentes para a admissão de pessoal na função pública.
Artigo 21º: Concurso de provimento ou de afectação
1 - O concurso de provimento visa o preenchimento de lugares em quadros de escola ou de zona pedagógica.
2 - O concurso de afectação visa a colocação de docentes dos quadros de zona pedagógica em escolas dessa zona, para ocorrer a necessidades cuja duração se preveja anual.
Categorias de Professores Não Universitários
Os ganhadores desses salários são pessoas com o mínimo de nível médio e superior de escolaridade. Constituem o grupo salarial menos pago entre os salários vigentes na função publica angolana.
Esses são os vencimentos de professores não universitários. Cobre o Primeiro e Segundo Ciclo. Normalmente são pessoas com o nível superior ou médio de formação, aduzida a formação propriamente psicopedagógica e experiência profissional.
Vencimento base da carreira docente não universitária. Escalões iniciais |
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Professor do II Ciclo de Ensino Secundário Diplomado 8o escalão |
117 969,60 |
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Prof do II Ciclo do ensino secundário diplomado do 1º escalão |
269644,80 |
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Prof do II ciclo do ensino sec. Diplomado do 2º escalão |
252792,00 |
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Professor do II Ciclo de Ensino Secundário Diplomado do 6o escalão |
44 940,80 |
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Professor do Ensino Primário Diplomado do 6o escalão |
44 940,80 |
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Professor do Ensino Primário Auxiliar |
25 34,oo8 |
Concluímos que o trabalho induziu-nos a redimensionar, repensar a condição do professorado. As visões idílicas, etéreas que envolviam esta área profissional num halo de excepcionalidade - palco de prerrogativas múltiplas - foi-se diluindo progressivamente neste clima de igualitarização, equidade, massificação e banalização do próprio processo educativo.
Assim, em confrontação com as constantes vicissitudes de ordem técnica e outras, a escola nem sempre acompanha os reveses da civilização, dado que é promotora da sedimentação, da cristalização de conhecimentos e, consequentemente, da perpetuação dos saberes veiculados pelos seus agentes - os professores.
ARAÚJO, H.C. (1985). Profissionalismo e Ensino in Cadernos de Ciências Sociais, n.º3, Lisboa;
BENAVENTE, A. (1991). Escola, Professores e Processos de Mudança. Lisboa: Livros Horizonte;
CAVACO, M.H. (1993). Ser professor em Portugal, Editorial Teorema, Lisboa;
CORREIA, J.A.. Inovação Pedagógica e Formação de Professores, Colecção Biblioteca Básica de Educação e Ensino;
CUNHA, M.I.(1984). O bom professor e a sua prática, Papirus Editora, Campinas;
ESTEVE, J.M. (1992). O mal estar docente, Lisboa, Escher;
ME/DES (1995). O Professor Aprendiz criar o futuro. Porto: ME/DES;
NETO-MENDES (1995). Profissionalismo docente em debate, in Cadernos de Análise Sócio-Organizacional da Educação, n.º10;
NÓVOA, A. (1989). Os professores: Quem são?, Donde vêm?, Para onde vão?, ISEF, Lisboa;
NÓVOA, A. (1991). Profissão Professor, Colecção Ciências da Educação, Porto Editora;
PARDAL, L.A. (1993). A escola, o currículo e o professor in Cadernos de Análise Sócio-Organizacional da Educação, Universidade de Aveiro;
PARDAL, L.A. (1992). Traços principais do perfil do professor do ano 2000. in Inovação. Lisboa, Vol.2, n.º3;
Autor:
Antónia Sara Java
javaantonia23[arroba]outlook.pt
Docente:
Alfredo Peña Ricardo
MINISTÉRIO DO ENSINO SUPERIOR
INSTITUTO SUPERIOR DE CINCIAS DA EDUCA ÇAO
ISCED-HUÍLA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇAO
REPARTIÇAO DE PEDAGOGIA
4º Ano/Regular
Lubango, Junho de 2014
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