Este trabalho teve por objetivo realizar um levantamento das espécies de abelhas indígenas sem ferrão criadas em meliponários no estado do Rio Grande do Norte, bem como fazer um estudo sobre sua distribuição geográfica no estado. A pesquisa foi dimensionada a 104 meliponicultores em cidades onde se sabia haver maior concentração de criadores de abelhas indígenas no estado do Rio Grande do Norte. Foram investigadas as espécies de abelhas sem ferrão de 104 meliponários distribuídos em 29 municípios do território potiguar. Constatou-se que a abelha sem ferrão M. subnitida, com uma freqüência de 86%, é a espécie meliponínea com melhor distribuição geográfica no estado do Rio Grande do Norte, predominando em todos os meliponários visitados. A espécie P. mosquito respondeu pela freqüência de 4,9%. A presença desta espécie não foi constatada em todas as áreas estudadas, o mesmo ocorreu com as espécies M. asilvae com uma freqüência de 4,3%, M. scutellaris com uma freqüência de 1,4% e P. cupira, Frieseomelitta spp e F. varia, que juntas responderam pela freqüência de 3,4% em todo estado.
Palavras-Chave: meliponídeos, meliponários, Agreste Potiguar.
ABSTRACT
This work had for objective to carry through a survey of the species of aboriginal bees without sting created in meliponiaries in Rio Grande do Norte state, as well as making a study on its geographic distribution in the state. The research was directed to 104 meliponiculturists in cities where it had greater concentration of creators of aboriginal bees in Rio Grande do Norte state. The species of bees without sting of 104 meliponiaries distributed in 29 cities of the potiguar territory had been investigated. It evidenced that the bee without sting M. subnitida, with 86% of frequency, is the meliponinea species with better geographic distribution in the Rio Grande do Norte state, predominating in all the visited meliponiaries. The Species P. mosquito answered with 4,9% of frequency. The presence of this species was not evidenced in all the studied areas, the same occurred with species M. asilvae with 4,3% of frequency, M. scutellaris with a frequency of 1,4% and P. cupira, Frieseomelitta spp and F. varia, that together they had answered with frequency of 3,4% in all state.
Keywords: meliponideos, meliponaries, Pontiguar.
O Nordeste do Brasil é rico em espécies de abelhas sociais nativas, conhecidas como abelhas indígenas sem ferrão, ou meliponíneos (CÂMARA et al., 2004). Sua criação racional, conhecida popularmente como meliponicultura, desenvolve-se principalmente no nordeste brasileiro, onde as abelhas jandaíra e a uruçú são manejadas há bastante tempo com técnicas já consagradas popularmente, porém muitas espécies de abelhas indígenas sem ferrão estão seriamente ameaçadas de extinção em conseqüência das alterações de seus ambientes, causados principalmente pelo desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxico e pela ação predatória de meleiros (KEER et al., 1996).
A criação dessas abelhas e a sua exploração racional podem contribuir para a preservação das espécies e dar ao meliponicultor oportunidade de obter mel. Esta atividade vem sendo desenvolvida há bastante tempo em diversas regiões do país, especialmente no Norte e Nordeste, havendo meliponicultores que possuem grande número de colméias de uma única espécie, como é o caso da tiúba (Melípona compressipes Fabricius) no Maranhão ou a jandaíra (Melipona subnitida Ducke) no Ceará e Rio Grande do Norte. Existem, ainda, muitos meliponicultores que criam abelhas indígenas como passatempo, explorando o mel apenas esporadicamente (CAMPOS, 2003).
Estudos indicam que o estado do Rio Grande do Norte apresenta elevado potencial para a exploração econômica da Apicultura e Meliponicultura. Estas atividades contribuem para a conservação das abelhas e de seus hábitats, com isso, sendo considerada sustentável, pois inclui a restauração ambiental através da preservação e plantio de árvores que servem de locais de nidificação, além da atuação das abelhas na polinização da flora nativa. Tendo como principais produtos de interesse comercial o mel, que tem alto valor comercial e de ótima qualidade (sabor, cheiro, cor, nutricional, terapêutico, etc.), sendo bastante apreciado pelas populações nativas (Vilela, S.L.O. e Pereira F.M. 2002).
As abelhas brasileiras sem ferrão são responsáveis por 40 a 90% da polinização das árvores nativas. As 60 a 10% restantes são polinizadas pelas abelhas solitárias, borboletas, coleópteros, morcegos, aves, alguns mamíferos, água, vento, e, recentemente, pelas abelhas africanizadas. O interesse pela criação de abelhas sem ferrão é justificado na maioria dos casos pelo uso nutricional e terapêutico do mel e pelo fato da sua comercialização promover um aumento da renda familiar, além da atividade servir como fonte de lazer. Do ponto de vista biológico, a criação de abelhas também é importante porque esses insetos, ao coletarem pólen e néctar de flor em flor, promovem a polinização e, conseqüentemente, asseguram a perpetuação de milhares de plantas nativas e das exóticas cultivadas (KERR et al., 1996).
Portanto, este trabalho teve por objetivo realizar um levantamento das espécies de abelhas indígenas sem ferrão criadas em meliponários no estado do Rio Grande do Norte, bem como fazer um estudo sobre sua distribuição geográfica no estado.
2.1. Considerações gerais sobre as abelhas indígenas sem ferrão
2.1.1. Taxonomia
Os meliponídeos, como são chamadas as espécies da tribo Meliponini, são abelhas sociais encontradas tipicamente nas regiões tropicais e subtropicais do planeta, e são caracterizadas por apresentarem um ferrão atrofiado que não serve para defesa; daí a designação sem ferrão (KEER et al., 1996).
As abelhas sem ferrão nativas do Brasil pertencem à superfamília Apoidea que é subdividida em 8 famílias: Colletidae, Andrenidae, Oxaeidae, Halictidae, Melittidae, Megachilidae, Anthophoridae e Apidae. Os Apidae se subdividem em quatro subfamílias: Apinae, Meliponinae, Bombinae e Euglossinae. Os Meliponinae se dividem em duas tribos: Meliponini e Trigonini (KERR et al., 1996). A tribo Meliponini possui um único gênero, Melipona com mais ou menos 20 espécies, enquanto a tribo Trigonini possui, na região neotropical, dez gêneros num total de mais ou menos 120 espécies (SAKAGAMI, 1982).
Conforme KERR et al (1996), a classificação zoológica completa destas abelhas é a seguinte:
Reino |
Animália |
Filo |
Arthropoda |
Classe |
Insecta |
Ordem |
Hymenoptera |
Subordem |
Aprocrita |
Superfamília |
Apoidea |
Família |
Apidae |
Subfamília |
Meliponinae |
Tribos |
Meliponini e Trigonini |
Entre os meliponíneos nativos do Nordeste Brasileiro, a abelha jandaíra (Melipona subnitida Ducke) é uma das espécies mais indicadas para criação racional com fins lucrativos, na região semi-árida da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Além de produzir mel de exelente qualidade organoléptica, o que mo torna bastante procurado na região (Bruening, 1990; Freitas et al. 2002).
No entanto, devido a baixa produtividade de mel de M. subnitida, pessoas que exploram o comércio desse produto preferem colhe-lo de ninhos silvestres ao invés de manter colônias em cativeiro. Dessa maneira, a espécie antes encontrada em toda a região nordeste, apresenta-se hoje bem menos freqüente e com populações desequilibradas, já que o extrativismo predatório e o desmatamento tem diminuído consideravelmente o número de colônias silvestres dessa espécie, ameaçando-a de desaparecer do seu habitat natural (Gonsalves, 1973; Zanella, 1999).
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