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O consumo do luxo: o espaço social da louça inglesa na sociedade maranhense oitocentista (página 3)


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Criada com intuito de introduzir escravos negros, substituindo a mão-de-obra indígena predominante no Maranhão por longos anos[12]a companhia teve o monopólio das rotas comerciais negreiras entre São Luís, Belém, Bissau, Cacheu e Ilhas de Cabo Verde, possibilitando que uma quantidade maciça de escravos africanos fosse trazida para trabalhar nas grandes lavouras (COSTA, 2009).

Enquanto principal produto agrícola exportado para a Europa, destaca-se o algodão (1760 – 1870), cujo aumento da produtividade dependeu exclusivamente da expansão da área plantada e do incremento quantitativo da força de trabalho utilizada (FEITOSA, 1998).

Assim, influenciado por uma demanda externa em franca expansão, aquela economia cresceu consideravelmente ao longo do último decênio do século XVIII e dos primeiros do século seguinte, atingindo a chamada idade do ouro da lavoura maranhense (CAMPOS, 2010, p.106).

Essa conjuntura transformou profundamente o perfil social da província com a integração do Maranhão na divisão internacional do trabalho - na posição periférica - centrada na grande propriedade, mão de obra escrava africana, na produção de gênero alimentar (arroz) e matéria prima (algodão) em longa escala para exportar para Portugal e Inglaterra, criando uma classe de senhores ricos proprietários de terra e comerciantes. Nas palavras de Mário Meireles (2009), uma elite fundiária, uma nobreza rural, que o algodão financiou constituindo tradicionais famílias, que se afidalgaram com os títulos nobiliárquicos, ampliando e abrindo não somente a lavoura como o comércio.

O viajante inglês Henry Koster (Apud. CALDEIRA, 1991, p.32) de passagem por São Luís em 1811 observou as transformações trazidas pelo algodão na época.

A importância da província aumenta com rapidez. Há sessenta anos não exportavam algodão e eu soube que, quando a primeira carga estava em ponto de ser embarcada veio uma petição de muitos moradores á Câmara da Municipalidade, querendo que a exportação fosse proibida por pensarem que o artigo fizesse falta ao consumo local. Não foram atendidos e hoje o número de sacos exportados anualmente é entre quarenta e cinquenta mil, pesado, na média, 180 libras cada um.

Progressivamente foram ocorrendo transformações profundas na capital São Luís, traduzindo "no enriquecimento material e no aprimoramento intelectual da sociedade" (MEIRELES, 2001, p.256), incidindo no aumento censitário que se deu de forma rápida e contínua. Entre os anos de 1819 a 1822, Bernardino Pereira do Lago levantou o Mapa Geral da população de São Luís, fazendo a distribuição dos habitantes por freguesias, a de Nossa Senhora da Vitória contava com 1.458 fogos e 11.713 almas; enquanto a freguesia de Nossa Senhora da Conceição possuía 1.256 fogos e 7.808 almas. Na estatística realizada pelo frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres (1872, p.140) para o início do século XIX, relativo apenas ao número de escravos, diz que só no ano de 1817 vieram para o Maranhão 8.000 escravos. "Se não morreram tantos como morrem todos os anos (uma grande parte por causa dos maus tratos e da triste lembrança de se verem separados para sempre de sua pátria e parentes) existia agora na Província extraordinário número deles".

O lavrador Raimundo Gaioso (1970, p. 115), escritor contemporâneo, afirmava que por volta de 1813 contava São Luís com aproximadamente trinta mil habitantes. "A povoação da cidade conforme as notícias que tenho dos últimos numeramentos feitos pelo róes da desobriga, não chegava a trinta mil almas; mas no ano de 1808 para diante, ella tem acrescido, talvez que hoje complete esse numero". O historiador Ribeiro do Amaral (2003, p. 65) contabilizou para o ano de 1821 um total de 19.611 pessoas, deste número 7.808 escravos. O autor completa que por volta de 1836 a 1837, baseado nos dados do Tesouro do Estado, havia em São Luís 2.199 casas habitadas e uma população de 25.000 pessoas, acentuando a grande maça de negros e mestiços livres que chegavam a 50,95%.

Segundo os viajantes Spix e Martius (Apud. CALDEIRA, 1991, p.12) em 1819 "a capital possuía 14,7% da população maranhense total. A maior parte da população habitando o campo mostrava a importância da atividade agrícola no Maranhão". Sem dúvida a vinda de africanos de forma maciça, principalmente com a criação da Companhia de Comércio Grão-Pará Maranhão incidiu sobre o censo populacional da Província.

Este modelo agroexportador que nasceu e extrapolou o período da Companhia Geral de Comércio,

quando foi extinta, ficou, em seguida, essa atividade, basicamente nas mãos dos chamados comissários que se limitam a receber os artigos europeus remetidos pelos comitentes e a enviar para a Metrópole os gêneros que lhe pediam. Recebia, em contrapartida, uma comissão sobre as mercadorias vendidas. Extintas as restrições monopolistas na relação Colônia \ Metrópole, a partir de 1808, o Capital comercial inglês, concretizado em 14(quatorze) firmas, estabeleceu – se em São Luís, centro urbano, razoavelmente estruturado, e que servia de entreposto comercial. (VIVEIROS, 1964, p.63).

Durante as duas primeiras décadas do século XIX o preço do algodão ainda se manteve alto, "representando o item de mais peso nas exportações brasileiras para a Inglaterra" (CAMPOS, 2010, p.111).

Em 1812 já operavam mais de 12 estabelecimentos comerciais ingleses em São Luís. A maioria se estabelecia com créditos do mercado londrino. Em pouco tempo, lograram dominar o de importação e exportação. Em 1812, 56% da exportação maranhenses já iam diretamente para a Inglaterra e 45% das importações provinham deste país. Em números absolutos, o valor das importações inglesas não chegou, no período 1812-1821, a alcançar o das exportações maranhenses. O Maranhão constituía assim uma província atípica no Império brasileiro e mesmo na América Latina: aqui os negociantes ingleses compravam mais do que vendiam (ASSUNÇAO. In. CARVALHO, 2010, p.149).

Além dos ingleses[13]havia as casas de exportações portuguesas. "Dedicavam igual – se essas firmas, à comercialização do algodão além de prestarem assistência financeira à produção agrícola" (VIVEIROS, 1964, p.72). Por vezes o capital agrário se confundia com o capital comercial, separados apenas juridicamente. É neste período que começaram a emergir casarões e sobrados azulejados, onde os ricos fazendeiros e os faustos comerciantes residiam, pondo à mostra a pujança econômica de então (RIBEIRO JÚNIOR, 2001).

O arquiteto Olavo Pereira Lima (Apud. FERREIRA, 2006, p.24) denomina a arquitetura dos sobrados de São Luis do período como luso-brasileira, por achar que "na mesma época em que o centro de Lisboa foi devastado por terremoto, maremotos e incêndios, sendo logo após lançado o programa pombalino de reconstrução, acredita-se que as mesmas técnicas de construção utilizadas na reconstrução de Lisboa, foram utilizadas na construção de antigas casas de São Luís".

[...] Em 1780, quando a Praia Grande torna-se o bairro portuário por excelência, o governo português ordenou a criação de uma "praça regular" em frente ao mar, à maneira das praças régias da época das luzes, com o nome de Praça do Comércio. Pode-se hoje ver ainda no prédio que a denomina uma enorme pintura mural (200 x 80 cm), recentemente redescoberta e restaurada, que representa a famosa Praça do Comércio pombalina de Lisboa de 1756, que, do outro lado do mar, fecha a sua perspectiva- como se São Luís fosse o espelho colonial da capital metropolitana (ANDRÉS. Apud. FERREIRA, 2006, p.27).

Além de portuário, o bairro da Praia Grande torna-se o espaço comercial da cidade. Em 1805 "foi construída uma praça pública com barracas para a venda de produtos a qual foi chamado de celeiro público, barracão, curro, tulha" (PRAZERES, 1872, p.32), ficando conhecida como Praça do Comércio.

Nesse mesmo período, de acordo com Viveiros (1964, p.175), contava São Luís com destacado setor comercial. Formado12 comerciantes matriculados, 37 escritórios comerciais, 48 armazéns, 51 lojas de fazenda, 6 tipografias, 185 quitandas, 29 barracas, 12 boticas, 6 lojas de ferragens, 3 lojas de vidros, 3 botequins e bilhar, 18 açougueiros de carne de vaca, 8 ditos de carne de porco e 1 casa de pasto, 2 corretoras e dois cambistas, 9 padarias, 4 refinações de açúcar, 23 alfaiates, 6 chapeleiros, 24 sapateiros, 13 ourives, 4 relojoeiros, 18 marceneiros, 6 funileiros, 3 armeiros, 2 caldeireiros, 2 charuteiros 1 picheleiro.

Além do algodão e arroz eram exportados outros produtos primários como azeite de carrapato, aguardente da terra, carne seca, couro salgado, chifre do boi, farinha de mandioca, feijão, fumo de corda, gengibre amarelo, sal paneiro, madeira nobre, sabão da terra, cacau, madeira para navio, âmbar, tartaruga, cravo, peça de lona de algodão, sola, anil e etc[14]

Quanto às indústrias locais, o engenheiro-mor Antônio Bernardino Pereira do Lago (2001), as descreveu como, em geral, domésticas, de tão primárias era preciso se utilizar da força-braçal escrava. "A força motriz de todas é só a resultante de muitos braços de escravos, parecendo àquelas fábricas mais uma masmorra d"África, que interessante e agradável edifício de indústria". Mesmo com o alvará de 5 de janeiro de 1785 proibindo a existência de fábricas na colônia, o autor relata o funcionamento de fábricas de curtimenta, de telhas, de tijolo, de cal, inclusive de louças em São Luís.

Em uma nota encontrada no Jornal Scientifico e Literario da Associação Litteraria Maranhense, de 28 de fevereiro de 1846, ao noticiar a fábrica de sabão que estava por ser inaugurada, nos revela o caráter incipiente dessa atividade industrial na província.

Está finalmente montada e propta para começar os seus trabalhos a fabrica de stearina e sabão do Sr. Luiz Bottentuitt e C& esperamos que não tenha este estabelecimento a mesmo sorte de todos os outros estabelecimentos industriaes, que aqui tem apparecido, pois tudo devemos esperar do zelo, aptidão e actividade do Sr. Bottentuitt, que deverá com sua fábrica fazer importante serviço à Provincia, visto consumir nella bastante substancias de summa utilidade que tem por nós até hoje despresadas.

Nessa conjuntura, iniciada pela Companhia de Comércio Grão – Pará Maranhão, os estrangeiros a muito circulavam por aqui, devido a favorável situação econômica da colônia.

Segundo o historiador Jerônimo de Viveiros (1964, p.28), "gastávamos, portanto, nossas reservas no conforto e no luxo, a que nos íamos habituando com o convívio dos ingleses e franceses". Esta afirmação se baseia nos relatos dos contemporâneos e viajantes como Spix e Martius, que em 1813 ao chegarem a São Luís encontraram "numerosas firmas comerciais inglesas e francesas", e, mesmo em 1841, Daniel. P. Kidder (Apud. CALDEIRA, 1991, p.32) de passagem pela cidade, observou "numerosos ingleses e franceses que se ocupavam da atividade comercial". Também em 1841, George Gardner (Apud. CALDEIRA, 1991, p.33) relata que "ao chegar ao Maranhão fui bondosamente recebido pelos ingleses lá residentes, que tinham ouvido falar a meu respeito quando estive em Oeiras e fui convidado a me hospedar em casa do Dr. Arbuckle".

Os ingleses aqui auferiam muitos lucros com a exportação do algodão, além da importação de tecido, louça, ferragem e uma infinidade de coisas (VIVEIROS, 2004). Esse movimento comercial pode ser observado nos manifestos das cargas de embarcações vindas de Liverpool, ou a saída de barcas carregadas de algodão consignadas a empreendimentos ingleses, na Folha Comercial da Província do Maranhão, de 3 de fevereiro de 1851.

Sahida Barca Inglesa Duanttes para Liverpool, cap. Mathaeas Jothm, consignado a Moon e Cia, com 20 pessoas na tripulação carga algodão

Aos portugueses cabia a exportação de arroz, couro e o empréstimo de dinheiro para financiar produção de algodão. Nos jornais da época é muito comum encontrar manifesto de carga de barcas portuguesas oferecendo bacalhau, vinho, azeite, louças, móveis, madeira e pedras usados na construção civil, como a cantaria, mármore. A Barca Linda, vinda do Porto, trazia bacalhau, vinho, 100 cadeiras ordinárias, hum dito louças de barro, azeite, 220 taboas de pinho, segundo anúncio encontrado no Jornal O Globo, de 4 de março de 1852. A Barca nova Aurora, aportada em São Luis em 5 de abril de 1852, manifestou a sua carga[15]contendo os seguintes produtos: 1 pia de pedra, 6 ditos de louça, faqueiro de prata, bacalhau, vinho, móveis, pedras de mármore.

E aos franceses "o comércio de jóias e bijoux et toutes sorte de nouveautés" (VIVEIROS, 1964, p.67). Havia o comércio com outros países, como a compra de escravos diretamente da África; a cachaça dos Estados Unidos e de outras regiões do Brasil; aguardente de Pernambuco; alcatrão sueco; brim da Rússia; cabos de linho do Cairo; lona da Rússia; toucinho de Santos.

A própria movimentação dos portos levantada nos jornais comerciais da época nos dá conta da entrada, principalmente, de embarcações de Liverpool, Parnahiba, Antuerpia, Porto, Barcelona, New York, Ceará e Pará. Em 22 de Abril de 1845 o Correio D" Annuncios e Seminário Commercial da Província do Maranhão traz o resumo da carga do Brigue Escuma Northumberland vindo de New-York, que continha dentre muitos produtos farinha de trigo, bacalhão, bolachas, manteiga, oleo, pregos, medicamentos, bolachinhas, doce, fazenda d`algodão, chá, fogos da china, cadeiras,bandeira,4 caixões, pimenta, papel d" embrulho, vergontas de pinho, ou da Pataca Espanhola, por nome Encantadora vinda de Barcelona que no anúncio de manifesto da carga encontrado no jornal O Globo, de 23 de maio de 1852, trazia alfazema,chumbo,vinho,balas de papel pardo, pipas, meia ditas de erva- doce, azeite.

Como pólo-centralizador, os ingleses criaram muita antipatia, principalmente referente aos seus hábitos. Viveiros (1964, p.32) se refere a bairros e vilas separados do resto da cidade construídos para residirem, como é o caso das residências soerguidas no chamado Caminho Grande. "Na sua presunção, aqui viveram e conviveram isolados da vida social do Estado e da cidade de São Luís, até quando puderam auferir bons lucros do comércio do algodão e dos seus importados manufaturados".

Essa distinção evidenciava uma forma oposta de morar, enquanto os portugueses e seus descendentes no Brasil escolheram como elegantes sobrados construídos um ao lado do outro, sem arborização, no Centro das cidades, aos ingleses coube a preferência pelas chácaras, arborizadas, nas zonas rurais e subúrbios das cidades[16]o que a princípio trouxera muita desconfiança a população local.

Esse comportamento na forma de residir será mais comum na segunda metade do século XIX, e influenciará as elites que lentamente se deslocarão dos sobrados situados no Centro, "para subúrbios que passam a ser elegantes, tornando-se deselegante para o burguês fino e rico residir no centro comercial" (FREYRE, 2000, p.187). Nas pesquisas de jornais anteriores à década de 40 não foi possível encontrar, ao menos em grande proporção, anúncios de chácaras ou sítios para alugar, mas posterior a essa data torna-se comum a oferta desses imóveis, como nos seguintes anúncios:

Vende-se hum sítio no Rio Bacanga na Paragem Piranhenga, com caza para família, senzallas para escravos, forno e toda de mandioca; água em abundância e arvores fructiferas: Tratar na Rua Grande, caza nº 61 (Folha Comercial da Província do Maranhão, de 3 de fevereiro de 1851).

Quem pretender arrendar um sítio a margem do rio Bacanga com muitas boa caza de sobrado, exellente pedreira, grandes plantações de arvora fructiferas, uma grande baixa para horta, um tanque de muita boa agoa corrente, queira dirigir-se a rua das Violas nº52 (Jornal O Globo, de 20 de abril de 1852).

Vende-se ou arrenda-se o sítio denominado Estiva, á margem do Rio Mosquito, com boas mattas, um exellente laranjal e outras muitas arvores fructiferas. A tractar na rua do Trapiche, casa nº 5 (Jornal O Globo, de 19 de maio de 1852).

Sendo considerados de temperamento frio e egoísta, o distanciamento dos ingleses era tamanho que o atendimento médico somente era prestado por um médico inglês, e mesmo na hora de sepultar os seus mortos, criaram um espaço próprio. "Os ingleses também têm um cemitério arrumado com gosto, onde também se imunam protestantes de diversas nacionalidades" (KIDDER. Apud. CALDEIRA, 1991, p.26). A posição privilegiada inglesa ia além, a ponto de tentarem se colocar acima das leis brasileiras.

Mesmo depois proclamado a independência brasileira, de promulgado pelo novo Império um código criminal, de instituído um sistema judiciário próprio, o governo britânico ter inflexivelmente recusado a reconhecer como satisfatórios os juízes consagrados pela Constituição do Império, mantendo aqui os seus especialíssimos "juízes conservadores": um privilégio extraterritorial que só desapareceria de todo em 1844 (FREYRE, 2000, p.180).

Essa superioridade inglesa mostrava-se também na forma como monopolizavam o comércio. "Não obstante quando em vez os azares da balança comercial, as altas e baixas do algodão, não raro provocados pelo trust inglês que o explorava e monopolizava, causassem algum pânico à praça e arrastasse um ou outro fazendeiro ou comerciante nacional" (MEIRELES, 2001, p.258).

Os ingleses moravam em locais afastados, mas instalavam os seus empreendimentos nas melhores paragens, ao contrário do costume local, de alojarem suas barracas comerciais nas ruas decadentes. Freyre (2000) ressalta que pagavam alugueis caros em edifícios grandes, de espaços valorizados e com a boa exposição das suas mercadorias, em prédios que se adaptassem a fazendas, ferragens, vidro, louça, cutelarias, manteigas inglesas, chá, cerveja, relógios, munição, pregos, pedra de amolar, foices, folhas de flandres, tintas, papel, genebra, ladrilho, louças, chapéus de sol, carvão, selas, arreios, baetas, lãs, bacalhau, móveis, pianos e até tintura para as barbas ou suíças. É possível observar esta boa localização pelo anúncio encontrado no Correio D" Annuncios e Semanário Commercial da Província do Maranhão ,de 15 de abril de 1845, onde ingleses se estabelecessem em uma das principais ruas de comércio da época. .

Avisos

Kalkamann e Rosenmundavizão que nesta dacta tem entregado a liquidação da sua caza aos Srs. Jõao Clark e Cia. Os mesmos alugão os dous armazéns da caza na rua da Estrella n18.

Os armazéns ingleses poderiam "suprir qualquer grande burguês ou aristocrata brasileiro daqueles dias do essencial - dentre artigos de ferro, de cobre, de aço, de madeira, de couro – a renovação do interior de sua casa: desde a sala de visita ou da sala de jantar á cozinha e à cocheira ou estribaria; desde a capela ao jardim" (FREYRE, 2000, p.241).

É importante ressaltar que "das primeiras relações comerciais da Grã-Bretanha com o Brasil depois de 1808, é que as importações mais consideráveis de procedência inglesa no Brasil - eram o ferro, vidro e louça doméstica" (FREYRE, 2000, p.323). No arrolamento das cargas na Alfândega da Província do Maranhão, é quase que obrigatório a presença desses elementos, como foi possível constatar nos anúncios publicados no Correios D" Annuncios e Semanário Commercial da Província do Maranhão de 24 de agosto de 1845.

Liverpool, Barca Ingleza Hopewel

50 barris de manteiga, 10 ditos d" alcatrão, 10 ditos de pixe, 2 barricas d"alvaiade, 1 dita com tijolos, 3ditas e 2 cestos e 1 caixa com ferragens, 2 ditas com tintas, 14 caixas e 12 fardos com fazenda de algodão, 3 ditas com fazenda de lã, 3 ditas com chá, 580 caixote com sabão, 1 dito com drogas, 1 embrulho com laçar, 26 feixes de verguinha, 2gigo de louça, 1 pipa d" óleo, 3 rollos de chumbo em pasta, 1400 panellas de ferro, 350 toneladas de carvão (grifo meu).

Ancorada juntamente com outra barca inglesa por nome Thereza Jane, que dentre diversos produtos também trouxera vidro, pólvora, chumbo, tinta, garrafa de vinho, ferragem, fardos de fazenda de algodão, meias linhas, suspensórios, cobre, sabão, toneladas de carvão, 6.000 panelas de ferro e 5 barricas com louças.Em 1851 prosseguem os anúncios de manifesto de carga como da Barraca Inglesa Renown vinda de Liverpool, encontrado na Folha Comercial da Província do Maranhão, que dentre o seu imenso carregamento encontramos sabão, cerveja, ferragem, barris de alcatrão, 10 ditos de Breu, sedam, soda, vidro, drogas, presunto, 2 barricas com louças, torneiras de metalpás (grifo meu).

Quanto aos remédios, nas palavras de Freyre (2000), não foi um comércio em que os ingleses se salientaram tanto quanto os franceses no Brasil na primeira metade do século XIX, mas havia algumas referências incontestáveis como Magnésia, os Calomelanos para disenteria e o Ungüento, com suas muitas utilidades, elixir poderoso no combate dos mais variados males, assim como, os médicos de procedência francesa eram mais comuns. Lacroix (2002, p.52) nos fala de descendentes ou mesmo franceses que vieram exercer a profissão de Hipócrates, no Maranhão. "Médicos das famílias Alric, Bottentuit, Jauffret, Pierrelevée, Saulnier atuaram na Província, conforme os ensinamentos recebidos em Paris, em Montpellier, ou outras faculdades".

Quanto à saúde bucal, nas pesquisas em jornais, é majoritária a presença de cirurgiões dentistas ingleses oferecendo os seus serviços, como o encontrado na Folha Commercial da Província do Maranhão, de 10 de fevereiro de 1851.

Goodman Descomb

Avisa ao respaeitavel Publico que mudou a sua rezidencia para a mesma rua de Santo Antonio casa n. 36; onde acharão sempre prompto a desempenhar à arte que até agora tem exercido, de tirar, limpar, chumbar, e apartar dentes, para cujo fim tem ouro, e prata fina, platina e collombina; assim como sangrar; deitar ventozas; e outros mais serviços pertencentes a cirurgia.

Aos franceses coube "as lojas de fazenda e de moda, cabeleireiros, casas de floristas e charutarias [que] introduziram as vitrines... chamadas vidraças[17](grandes armários revestidos de vidros) em substituição ao hábito que existia de exibir as fazendas e demais mercadorias em cordéis estendidos nas fachadas e ombreiras de portas das casas comerciais" (FREYRE, 2000, p.177).

Em São Luís, a Loja Brasil, a Casa Paris e a Bon Maché, nas primeiras décadas do século XIX, "continuaram a tradição de firmas francesas, vendendo perfumes, rendas, tecidos de sedas, toile de soie,(...) rouge, dentre outros artigos, tout três chic"(LACROIX, 2002, p.57).

E, de fato, os franceses ditaram moda, principalmente entre o público feminino. Lacroix (2002, p.53) descreve as transformações das vestimentas das ludovicense, anteriormente marcada por "saias de seda, as camisas de cambraia e o xale de lã foram substituídos pelas saias de balão e corpetes de pafos com talas de madeira". Nas palavras de Brancante (1981, p. 478),

qualquer dama da corte ou das capitais das Províncias acompanhava a risca o risco das costureiras de Paris, como recebia regularmente do Havre, figurinistas franceses como o "Bon-Ton" no dizer de Sergio Buarque de Holanda, a França ainda nos exportava modistas e balconistas – "Foullet" – "Caprice" – "Courrierdes Dames" – "Farovides Dames", etc.

Quanto aos homens, também abandonaram a seda e adotaram a casaca e a sobrecasaca, mas ao que parece ao menos na primeira metade do século XIX, a moda londrina prevaleceu.

Os jornais de época, nós dão conta da presença comercial francesa no Maranhão, propagandeando, em grande número padarias, lojas com artigos de luxo, moda e boticas, ou no manifesto de cargas de navios ancorados, como o da Galera Francesa Industrie do Havre, que em fevereiro de 1851, na Folha Commercial da Província do Maranhão oferecia: quadros de lithographia, carteiras e cartas de visita, perfumaria, obreias, chapeos de pelo de seda, caixes de metal para rapé, pelles, papel, penas de escrever, garrafas com vinho.

O Correio D" Annuncios e Semanário Commercial da Província do Maranhão, de 22 de abril de 1845, trazia propaganda de produtos alimentícios.

Na padaria Franceza na Rua Grande casa n 20 acha-se a venda os seguintes gêneros manteiga da primeira qualidade, quejo inglez, farinha de milho e de arroz.

Já em 24 de junho de 1831 era anunciada uma Botica Francesa no O Progresso, Jornal Politico, Litterario e Commercial:

Massa e Xarope peitoral aduçantes de gomma d"angico, preparado por Luiz Bottentuit & C. no Maranhão

Quanto ao francês Luis Bottentuit, é interessante ressaltar que foi um "boticário muito anunciado em jornais", e de acordo com Lacroix (2002) os "descendestes ainda residem em São Luís" [18]

Na pesquisa foram encontrados anúncios de leilões de produtos franceses, como o do Correio D" Annuncios e Semanário Commercial da Província do Maranhão, de 09 de junho de 1845, a ser realizado pelo corretor João Antonio de Lemos Guimarães:

Fará leilão em casa do Snr. Francisco Joaquim de Souza, de hum variado sortimento de Fazendas, vidros, porcelana. E outros differentes objetos chegados ultimamente de França pela barca Taparica. Principiará às 10horas

Os estabelecimentos franceses chegavam a ser referência para os demais estabelecimentos comerciais, como se observa no Caboclo Maranhense, de 24 de agosto de 1842, ao anunciar a Botica do Arcipreste

na rua do Sol, de fronte a botica franceza, acha-se à venda e por preço commodo- grande sortimento de ajudas de água forte cantáridas e de cebo de excelente qualidade d aquarella com que foi há tempo curado o negro do senr. Antonio do Porto (grifo meu).

Nos anúncios dos jornais observa-se que nos artigos de luxo, a predominância é francesa. No entanto, nos arrolamentos de cargas das embarcações estrangeiras atracadas em águas maranhenses, os produtos ingleses são ampla maioria.

Segundo Viveiros (1992, p. 372), existe uma ausência de anúncios de casas comerciais inglesas nos jornais da primeira metade do século XIX, diferente do que faziam em outras cidades. A explicação dada era que o monopólio que exerciam no negócio de importação de tecidos, ferragens e louças era tão grande que dispensavam a propaganda, pois sabiam que os fregueses lhes viriam á porta de qualquer maneira.

Quanto aos portugueses, além de oferecerem os seus produtos tradicionais, já descritos, os anúncios mais comuns são os de armazéns de secos e molhados, e na venda de móveis, que ao longo da primeira metade do XIX vão sofrendo influências inglesas, assim como as louças, que nas descrições de cargas estrangeiras mantém o nome genérico, sem a especificação da pasta, com exceção das louças francesas, que sempre são anunciadas como porcelana.

Depois de transferida a Corte de Portugal para o Brasil, quase todo o comércio brasileiro ficou nas mãos dos ingleses. Só eles tinham o direito de trazer suas mercadorias manufaturadas, sobre as quais pagavam apenas 15% de taxa, enquanto os comerciantes de outras nações tinham de pagar 24%. Mas depois, a competição dos industriais franceses conquistou o mercado em todas as questões de moda; e no decorrer dos últimos seis anos, as mulheres portuguesas e brasileiras abandonaram a preferência pelo gosto inglês, preferindo a moda parisiense, que enfeita o belo sexo local. (...) o desejo de outras mercadorias francesas cresceu. Porcelana, artigos de fantasia e até mobiliário é importado diretamente da França. A maior parte dos navios que chega aos portos brasileiros é inglesa. Durante o ano de 1820, cerca de trezentos navios, com a bandeira inglesa, entraram nos portos. Os ingleses tentaram reduzir o comércio português para o Brasil. Via de regras, só trazem mercadorias de fabricação inglesa, como tecidos de algodão e lã, vidro, cerâmica, armas de fogo, cristais e pólvora. Entre as provisões comestíveis, trazem carne salgada, peixe seco, manteiga, queijo, presunto, cerveja, batata, cebola, alho, etc. (BELLINGSHAUSEN, 1827. In. LEITE, 1984, p. 112).

5. OS ATORES SOCIAIS – os consumidores do luxo em São Luís na primeira metade do século XIX

Ao falar da constituição das elites em São Luís na primeira metade do século XIX, os viajantes naturalistas alemães Spix e Martius (Apud. CALDEIRA, 1999, p.24) classificaram em dois grupos, os portugueses natos, vindo do reino, responsáveis pelas atividades comerciais e altas funções administrativas, e o segundo formado por nacionais.

Nascidos da fartura das necessidades físicas, criados entre os escravos domésticos de pouca educação, e na segunda posse de bens herdados, mais inclinados ao gozo do que à atividade, reconhecem a supremacia do imigrado, e abandonaram-lhe, com certa timidez, a atividade comercial que enriquece, preferindo retirar-se para suas fazendas e gozar sua prosperidade. Nota-se, entre estes, relativamente muitos descendentes, sem mistura, de portugueses.

Desta forma, em São Luís, os grupos dominantes eram formados por pessoas de "cor branca" de origem europeia, ou descendente destes, como descreveu, em 1819, o Frei Nossa Senhora dos Prazeres (1970, p.143). Dizia ele: "os brancos uns são filhos do paiz, outros Europeos, Portuguezes e alguns estrangeiros". Quanto ao grupo formado por portugueses natos, em geral, vinham das ilhas dos Açores ou de Lisboa e a maioria casava-se com filhas do país[19]Já o segundo grupo, formado pelos descendentes dos filhos do reino, viviam dos bens herdados e do trabalho escravo, "consumindo o ócio". O lavrador Raimundo José de Sousa Gaioso (1970, p. 116) atribui esse ócio, "a impossibilidade de occupar aquelles empregos principaes, abatem nelles de tal sorte toda a actividade, que a maior parte delles vive retirada huma grande porção do anno nas suas fazendas".

Mas o ócio não fora apenas privilégios dos homens, ao menos na visão dos viajantes estrangeiros que estiveram no Brasil. Dizia Chantal (Apud. MALERBA, 2000, p.151) acerca das mulheres da elite que "passavam os dias a flanar, no compasso lento do ócio, largadas sobre as marquesas entre a criadagem cúmplice", relato compartilhado por Adéle Toussaint-Samson (Apud. LEITE, 1981, p.44), que, em 1815, contava que a brasileira "não faz nada por si mesma, mas manda fazer; põe o maior empenho em não ser vista nunca em ocupação qualquer. Entretanto, quem for admitido à intimidade, acha-la-à pela manhã de tamancas, sem meias, com um penteador de cassa por vestido".

Os relatos dos viajantes que por aqui passaram nesse período destacam unanimemente a condição reclusa da mulher brasileira, que raramente aparecia para pessoas de fora, sobretudo no interior. Enclausurada na parte íntima da casa, vivia vestida com total desmazelo, mal calçada e despenteada (LIMA, 1997, p.135).

A associação da mulher com a casa não é uma invenção moderna, porém, as condições materiais da sociedade moderna permitiam "que as mulheres se definissem exclusivamente por ela" (HUNT. In. PERROT, 2006, p. 31), tornando essa associação especialmente forte, pois "tinha demonstrado os resultados possíveis (e o perigo para o homem) de uma inversão da ordem natural", criando-se um sistema que aprisionava a mulher ao âmbito privado e de lá somente saiam acompanhadas.

Desta forma, cabia às mulheres da elite a supervisão das tarefas domésticas, principalmente as refeições à mesa. "Os manuais de condutas insistem muito sobre o papel da senhora do lar, que sabe criar a felicidade em volta da mesa familiar" (MARTIN-FUGIER. In. PERROT, 2006, p.205 e 206). Afinal, "fazer uma refeição não é apenas comer, é se encontrar em família, devem-se fazê-las para o esposo, para civilizar o interior". Sendo de responsabilidade da mulher "fazer funcionar a vida privada tanto na intimidade familiar – cerimônias cotidianas das refeições – quanto nas relações da família com o mundo exterior – organização da sociabilidade, visitas, recepções e serões".

Como tão bem destacou Bernardino Pereira do Lago (2001, p.71), ao descrever as senhoras da elite em São Luís, verdadeiras "burguesas" que cuidavam do lar para que transcorresse tudo bem quanto aos afazeres domésticos, "elas descansam seus maridos em mil serviços, talvez superiores a delicadeza de seu sexo. " Essas qualidades das senhoras no "lar" também foram destacadas por Gaioso (1970, p.11), ao dizer que "no governo doméstico as senhoras são muito superiores aos homens. [...] Em geral são muito laboriosas, e industriosas".

Quanto às refeições, o historiador Jurandir Malerba (2000, p.152-159) afirma que no Brasil por muito tempo prevaleceram as influências portuguesas (do Antigo Regime) à mesa, de preferir a quantidade à qualidade. "Satisfazendo-se muito bem, mesmo os mais abastados, com sardinhas fritas regadas a vinho ordinário ou mesmo água". Por esse tempo, virada para o século XIX, as refeições ainda eram servidas na varanda do fundo da casa, muitas vezes os conviveis acomodavam-se em esteiras ao chão, "somente os homens usavam facas; mulheres e crianças se servem dos dedos. As escravas comem ao mesmo tempo, em pontos diversos da sala, sendo que por vezes suas senhoras lhes dão um bocado com as próprias mãos".

Com a adoção do modelo de vida europeia, influenciado pela corte portuguesa no Brasil, os hábitos à mesa foram se alterando progressivamente, tornando-se aceitáveis até mesmo para um francês. Em sua estadia em uma fazenda do interior do Rio de Janeiro, em 1853, Charles Expilly (2000, p. 182), descreve de forma elogiosa a composição da mesa posta.

A mesa estava com bom aspecto. Um apetitoso leitão, manjar apreciadíssimo dos brasileiros, atraiu-me a atenção. Expunha-se em uma grande travessa oval, entre uma galinha sem cabeça (também é uso no Brasil) e a feijoada nacional. (...) uma salada ornada de rodelas de cebola, vinho do Porto e de Lisboa, farinha de mandioca em elegantes farinheiras encarnadas, água fresca em moringas de formas bizarras completavam o cardápio.

O aparelho de louças nesse almoço descrito pelo viajante "era de faiança azul, de fabricação inglesa, tão divulgada na América do Sul" (EXPILLY, 2000, p.182), acompanhado por pequenos guardanapos franjados que estavam colocados sobre os pratos, e sob a mesa havia dois belos jarros com flores formando um conjunto de uma mesa bem posta. Enquanto os serviçais eram compostos por um copeiro "de boa aparência, ocupava o seu posto a direita do senhor", e duas mucamas "de corpos seminus, cada qual com a sua linda rosa metida entre os cabelos, postavam-se atrás da senhora", concluindo o autor que "decididamente o fazendeiro estava na altura do século, visto como em sua casa não faltava copos, nem talheres".

Essas mudanças no costume, também se deve a absorção dos manuais de etiqueta e civilidade, que passaram a ser amplamente consumidos. No Brasil, o manual mais antigo em circulação foi o do cônego português conhecido por Roquette, e o mais absorvido pelas elites foi o de Porta Siqueira, escrito no último quartel do século XVIII e que recebera uma edição em 1814 (MALERBA, 2000). "Desse modo, tornam-se obrigatórios as boas maneiras à mesa - incluindo o uso correto dos talheres -, os cuidados com a higiene, o refinamento dos gostos e a adequação e a distinção dos trajes, com a adoção de vestimentas que respeitassem a ocasião, hora do dia, estado civil e faixa etária, tal".

Normas que regulamentavam até mesmo as visitas, uma vez que a casa burguesa trouxera de forma clara a separação entre o público/privado. A partir de 1830 até 1914, as damas da sociedade na Europa tinham um dia de recepção. No começo da temporada mundana, enviavam seu cartão com as seguintes palavras impressas: "Será em sua casa em tal dia da semana, de tal a tal hora". Quando somente da presença feminina, era escolhido à hora do chá (entre ás 15h), quando da participação masculina a recepção acontecia na hora do jantar (entre as 17 e 18h). Os termos para definir os horários das refeições variavam do interior para capital.

No interior, "janta-se" ao meio-dia e "ceia-se" ao entardecer. Em Paris, a ceia é uma refeição fria que se faz após os bailes e os grandes saraus, á uma ou duas horas da manhã. A terminologia se uniformizou a partir da capital, mas ainda hoje, no interior, há quem chame o almoço de "jantar" e o jantar de "ceia" (MARTIN-FUGIER. In. PERROT, 2006, p.202).

No Brasil, devido o caráter recluso das mulheres, as visitas eram regulamentadas e nunca sem a companhia de um homem, desta forma, as festas religiosas passaram a ser uma oportunidade única para as damas da sociedade de saírem de casa. Em São Luís, a festa de Nª. Senhora dos Remédios emprestava essa importância. O contemporâneo João Francisco Lisboa (1991, p.307), morador de São Luís, descreveu os preparativos ansiosos para os festejos:

Já um mês ou mais antes do dia da milagrosa Senhora, começa a azáfama da sua festa; as belas e os elegantes perdem o sono, imaginando nos meios de melhor ataviar-se. Que receios, sobressaltos e angústias neste amável classe de consumidores, e, sobretudo na classe embezerrada dos fornecedores, pela so demora de alguns dias na chagada dos navios que trazem no seu bojo os chapéus, as luvas, os vestidos, as quinzenas, as cassas, as sedas, as plumas, as rendas, as fitas, as flores, as pomadas, os cheiros, e todos os mais gêneros enfim que dão vida e saúde às lojas.

 

Quanto aos homens, "visitavam-se com ou sem cerimônia, de acordo com o grau de intimidade" (MALERBA, 2000, p.177-178). O manual de Porto Siqueira instruía da seguinte forma:

Que sempre a visita se fizesse acompanhar por um ou dois criados, que, ao chegar, eram que verificar se havia gente em casa. Em não havendo, deixar-se-ia um bilhete sob a porta. Sendo recebido, ia-se ter imediatamente com o dono da casa á sala de visitas, tomando-se alguns cuidados, como o de procurar nunca o melhor assento e evitar as visitas demoradas e enfadonhas. Devia-se recusar-se sem insistência que o dono da casa acompanhasse até a porta, e a despedida deveria ser sem cortesia (Apud. MALERBA, 2000, p.178).

Na realidade, como destaca o historiador Jurandir Malerba (2000), os brasileiros preferiam as sinetas de porta aos assobios, e a recepção ao visitante não era feita pelo dono da casa como instruía o manual de etiqueta, mas por um escravo, sendo que nas casas mais abastadas, até quatro escravos faziam as vezes. Assim, o visitante era conduzido até a sala repleta de enfeites, louças e quadros aonde poderia ficar contemplando enquanto esperavam o anfitrião, e essa mesma informalidade também regia o tempo de permanência da visita, a qual se estendia mais do que o prescrito nos manuais.

A formalidade de fato, talvez só observada nos jantares, que sempre eram marcados pelo requinte. Roger-Henri Guerrand (2006, p.333) afirma que no decorrer do século XIX, esta refeição foi perdendo o seu caráter íntimo, com isso, a sala de jantar passou a ser um local de destaque.

Quando preenche plenamente sua função, revela- se um lugar de maior importância. Aqui a família oferece espetáculos aos seus convidados, instala sua prataria e exibe um centro de mesa fabricado por um ourives da moda. É a mesa que os negócios são tratados, que as ambições são declaradas, que os casamentos são concluídos. E ao mesmo tempo, alagar-se o horizonte da gastronomia: sinal de prestigio e superioridade reveste-se de ares de conquista, instrumentos de poder, penhor do sucesso e da felicidade.

E com o tempo, o próprio chefe da casa passou a fazer questão de cuidar do cardápio, de provar a comida e de escolher as louças a serem servidos. "A sala de jantar constituiu-se em um espaço de exibição masculino, sendo a refeição comandada pelo chefe da casa, (...) preocupado em dispor, nas bem mobiliadas salas de jantar de suas residências urbanas, de uma ampla gama de jogos de jantar, (...) tanto em faianças finas impressas quanto em porcelanas" (SYMANSKI, 2002, p.42). Foi possível encontrar em 1831, no setor de vendas do Jornal dos Annuncios de São Luís, a oferta de serviços de buffet.

João Baptista Orsi & Companhia,

Faz sciente ao respeitável Publico que no dia 19 de Março do presente anno, abrem suas casas de pasto, e promete servir aos que dellas se quizerem utilizar. Tão bem dá jantares e seias fora, o melhor que lhe fô possível, tanto na qualidade dos gêneros, commo na commodidade dos preços.

No século XIX havia uma clara importância das recepções, bailes e saraus no Brasil. Nesses eventos a distração preferida da elite eram as apresentações de piano pela senhora da casa ou algum visitante, mas poderia ser também flauta, violino, afinal "não poucos homens desse tempo tocavam violino ou flauta" (FREYRE, 2008, p.91), acompanhados por recitais de poemas, às vezes eram realizados jogos como o pilha-três. "Os dotes mais apreciados na sociedade são os da dança e do canto, porque permite brilhar nas reuniões. Na alta sociedade exige-se também música, principalmente piano, bem como o conhecimento da língua inglesa e francesa e de desenho" (DEBRET. Apud. LEITE, 1984, p.78).

Em São Luís, Dunshee de Abranches (1992, p. 102), comenta que Dona Martinha, espanhola muito instruída e casada com Garcia de Abranches, gostava de organizar saraus e serões, onde se aprendia música, pintura e belas letras. Nesses encontros entre as damas da sociedade era comum ser servido o chá, sendo uma atividade eminentemente feminina.

O costume do chá era bem europeu, preferencialmente inglês. Na Europa, a anfitriã, tradicionalmente ficava sentada a direita da lareira, com as mãos ocupadas, a fazer qualquer trabalho manual. "Na primeira metade do século, julgava-se conveniente que a mulher que receba esteja com as mãos ocupadas, (...) os pequenos trabalhos com agulha asseguram uma postura graciosa e proporcionam uma ocasião de mostrar gosto e elegância" (MARTIN-FUGIER. In PERROT, 2006, p.205).

Havia uma mesa posta com os mais variados quitutes: bolos, petits fours, sanduíches. "O serviço é feito pelas moças da casa. As visitantes ficavam muito pouco tempo nesses "dias", pois em geral têm vários convites para a mesma tarde. O conveniente é ficar entre quinze minutos e meia hora" (MARTIN-FUGIE. In. PERROT, 2006, p.207). Mesmo sendo uma recepção para senhoras, jamais a dona da casa poderia fazer qualquer atividade sem a presença de seu esposo dentro de casa, mesmo que ele não participasse.

No Brasil, a popularidade manteve-se tão fiel aos costumes europeus, sendo uma atividade eminentemente feminina. Juntamente com os chás, difundiu-se o hábito de comer as bolachinhas doces e o presunto, servidos como aperitivos nos encontros das "damas da sociedade". O jornal O Globo, de 5 de abril de 1852, a firma Smith Irmão & Cia anunciava:

que tudo vendem por preços rasoaveis na Rua do Trapixe. Bolaxinha ingleza em latas de 4Ib, prezuntos inglezes, chadaCaw& Cia pelo commodo e reduzido preço de dois mil réis (2:000 rs).

O Jornal dos Annuncios, de 1º março de 1831, anunciava a venda de chá:

Avisos

Chá Hysson Superior

A 3:200 Rs. A Libra.

Manoel Antonio de Carvalho e Oliveira Sobrinho recebeu de Inglaterra pelo brigue Mary, ultimamente chegado, uma porção de excellente Chá Hysson que vende a 3:200rs. A Libra.

Os valores comerciais dos chás, apesar de bem difundidos eram altos, como foi possível visualizar nos anúncios anteriores. O chá Hisson, um dos melhores da época, por exemplo, chegava aos portos de São Luis valendo 1.800 a 2.000 libras, quando comercializados já estava valendo 3.200 libras. O chá Pérola, mais simples, chegava da Inglaterra valendo 600 libras, e o valor comercial ficava em torno de 1.000 a 1.400 libras. Demonstração clara do valor atribuído a esta prática e a ritualização em torno do chá, como a criação e uso de louças específicas, como as malgas, uma tigelinha muito parecida com as orientais, propícias para o deguste do líquido viçoso, o bule, pratos de vários tamanhos, o infusor, colheres apropriadas e etc.

Foto 15 e 16- Mesa de chá com louças em porcelana inglesa, e um conjunto de chá em faiança fina.

Monografias.com

Monografias.com

Fonte: http://www.multiclassificados.com/ads/jogo-de-jantar-ingles-de-porcelana-antiga, 12/01/2012.

Para absorção de todo esse aparato de instrumentos, formalidades e regras foi necessário, também, o refinamento intelectual. Em meados do século XIX o viajante inglês Henry Koster (Apud. CALDEIRA, 1991, p.26) acusava os maranhenses de possuírem grande amor pelo jogo, que poderia "ser facilmente explicado no pequeno ou nenhum gosto pela leitura, e as grandes somas de dinheiro reunidas e os raros meios de despendê-las". Passados menos de uma década, os viajantes e contemporâneos, passam a destacar a educação ao molde europeu que as primeiras classes recebiam, dada a ambos os sexos, mas desiguais no conteúdo. O próprio Bernardino Pereira do Lago, em elogio tecido ás damas da sociedade maranhense no início do século, destacou que muitas iam estudar em Portugal ou Inglaterra.

Em geral, as mulheres aos oito ou nove anos eram mandadas a internatos religiosos, lá aprendiam as danças da época, música, bordado, orações, literatura, gramática português, francês e às vezes inglês, ou seja, somente o que uma moça precisava aprender. Ficavam internas até os treze ou quatorze anos, de onde saiam prontas para casar (FREYRE, 2008). Na época também eram muito comuns aulas dadas em casa por uma professora, como o encontrado no anúncio do Jornal O Globo de 3 de fevereiro de 1850.

D. Herculana Fermina Vieira de Souza,

Mudou a sua residência para a Rua da Palma casa n. 23 (defronte d`onde mora o Sr. Dr. João Pedro Dias Vieira) onde continua a receber alunas externas para o ensino de Primeiras Letras, Grammatica Portugueza, e cozer; bordado de diversas qualidades, Francez e etc.

- Também se admitem a jantar.

Em São Luís havia o Recolhimento de Nossa Senhora de Anunciação e Remédios, criado em 1751 pelo padre Malagrida. A instituição servia para o amparo de jovens desvalidas, mas também recebia moças das famílias de elite que custeavam a educação das suas filhas nessa instituição.

A distinção social entre as educandas podia ser percebida no vestuário. As recolhidas e educandas pobres usavam o hábito preto, demonstrando que seguiam um "estado de perfeição" e que eram sustentadas e educadas pela instituição. As educandas pertencentes a famílias ricas não eram obrigadas a usar o hábito, mas deviam usar vestidos de cor escura sem ornamentos de jóias (...). As educandas pobres deveriam utilizar os conhecimentos obtidos nas aulas de prendas domésticas para realizar alguma "obra proveitosa" para a instituição. (...) O Recolhimento anunciava que fazia "costuras e bordados de todos as formas e feitios, flores artificiais de penas, pano e papel, hóstias, doce seco e de calda, de todas as qualidades e mui gabados" (ABRANTES, 2001, p. 94-95).

Para a educação dos meninos, contava em São Luís até 12 anos o Colégio das Abranches[20]com curso preparatório para o ingresso dos alunos no Liceu Maranhense. Este estabelecimento fundado em 1844 no Convento das Carmelitas. Kidder (Apud. SILVA, 2004, p.32) em sua visita descreve a instituição: "esse enorme prédio jamais teve aplicação tão proveitosa quanto o presente. As cadeiras aí lecionadas são em número de sete, a saber: latim e grego, inglês e francês, história e geografia, filosofia, geometria, desenho e retórica". Havia outras escolas como o Colégio Perdigão, o Dr. Pedro Nunes Leal, Imaculada Conceição, Colégio do Pires, a Escola Normal, fundada em 1840, de existência efêmera. Nos anúncios do jornal O Progresso - Jornal Politico, Litterario e Commercial, de 4 de janeiro de 1847, encontramos um anúncio do Collegio de N. S. dos Remedios de ensino primário.

 

O Diretor do Collegio de N. S. dos Remedios,

Avisa que estao aberto as matriculas. Com aulas de gramática da língua, analise dos clássicos, latin., grego, frances, inglês, geografia, história, cronologia, aritimetica, álgebra,retórica e poética, filosofia moral e racional, desenho de figuras e paisagem, de musica vocal, piano, violão, flauta, clarinete e dança. Recommendado ser de muita vantagem o matricularem-se em todas as aulas.

Dos quinze aos dezesseis anos os rapazes terminavam os estudos regulares e ingressavam nas escolas superiores, na academia, como se dizia (FREYRE, 2008). Em São Luís "as gerações de 1820 em diante receberam uma formação europeia, coimbrã, britânica ou francesa. A partir de 1832, rapazes menos endinheirados foram estudar na Faculdade de Direito de Olinda/Recife" (LACROIX, 2002, p.52).

Desta forma, a população urbana diferenciou-se não somente em níveis econômicos, mas, sobretudo culturalmente, "com as camadas superiores adotando como sinal distintivo o requinte e a cultura intelectual, (...) chama a atenção para o fato de que foi nesse momento que acentuaram-se as diferenças entre a vida urbana e a vida rural em todos os níveis sociais" (SYMANSKI,2002, p.2).

6- O ESPAÇO SOCIAL DA LOUÇA INGLESA NO ÃMBITO DOMÉSTICO EM SAO LUÍS

O século XVIII havia apurado a distinção entre o público e o privado. O público tinha se desprivatizado até um certo ponto, apresentando-se como a "coisa" do Estado. O privado, antes insignificante e negativo, havia se revalorizado a ponto de se converter em sinônimo de felicidade e espacial, que, no entanto, está longe de se esgotar a diversidade de suas formas de sociabilidade (PERROT. In. PERROT, 2006, p.17).

A casa burguesa nesse contexto das transformações sociais do século XIX representa a "autonomia de uma vida privada e familiar, distinta da vida pública" (PRIORE, 1997, p.260) reservada à mulher e filhos, aonde o homem de negócios vem descansar. O chamado "lar moral, concentrado numa família feliz e protegida, onde se partilhava a oração dominical e uma vida cotidiana bem regrada" (HALL. In. PERROT, 2006, p.85), passando a ser, também, a demonstração clara do patrimônio dos mesmos.

Eis que aparece uma nova arquitetura de interiores de casa, como afirma a historiadora Mary Del Priore (1997), tornando-se lugares de moradia e não mais de produção, reservando-se espaços para receber o visitante, longe do cotidiano familiar. "O princípio se baseava numa rede de relações: não se acolhia ninguém que não fosse pessoalmente conhecido. A vida social se tornou mais seletiva, mais privada, tendo como cenário as casas ricas, sendo recebidos apenas os conhecidos" (HALL. In. PERROT, 2006, p.85).

No Brasil, a Igreja e o Estado colonizador tiveram fundamental importância na configuração da família e no estabelecimento da ideia de lar. A Igreja, em especial, teve uma função definitiva na família, quanto à educação doméstica, por meio da sacramentação do casamento (ALGRANTI, 2002, p.87). "O casamento sacramentado conferia status e segurança aos colonos, tornando- o desejável tanto pelos homens como pelas mulheres (...). A prática de oferecer dotes a moças órfãs e desprotegidas institucionalizou-se na Colônia mediante doações, reveladoras de que o casamento dignificava as pessoas". Na colônia, mesmo entre as classes mais baixas eram muitas as configurações de famílias, e o sentido de "lar" tinha um caráter passageiro, momentâneo, representava aonde o colono encontrava- se no intuito de enriquecer e logo retornar a sua terra de origem.

Com o casamento a configuração se torna outra, é preciso que mais mulheres "brancas" aportem em terras brasileiras - quando se tratando de uma elite –, sendo necessário pensar em uma morada, não mais improvisada. É buscado um conforto mínimo, onde são engendrados mecanismos de autossuficiência, pensando em uma família cada vez mais numerosa, na necessidade de mão-de-obra, e etc., ou seja, tudo que estabelecesse o homem a terra. A casa ainda rural vai se transformando com o tempo, quando se deu uma maior interiorização do colono com a terra e com as transformações produtivas que inseriu o Brasil no comércio-mundo e nas relações de produção capitalista, "se passou a dar maior atenção à decoração dos interiores e ao conforto, e também a tornar a casa mais aconchegante, o que denota a preocupação com o bem-estar e a vontade de criar ambientes mais agradáveis para o convívio familiar e a intimidade" (ALGRANTI, 2002, p.100).

Em fins do século XVIII e início do século XIX, quando a elite brasileira vive a passagem para uma vida mais urbana, Freyre (2002) retrata que sobrados são construídos nas cidades com uma maior preocupação por intimidade, as portas não mais se encontram abertas, disposta a receber os viajantes. Anteriormente, na casa grande era de "mal feito" negar hospedagem a quem pedisse devido "as grandes distâncias e o parco povoamento transformaram a hospitalidade numa característica e necessidade do mundo colonial brasileiro" (ALGRANTI, 2002, p.93).

Na vida citadina o espaço da casa se torna reduzido na horizontalidade, mas cresce na verticalidade, e o próprio significado de sobrado "referia- se ao espaço sobrado ou ganho em virtude de um soalho suspenso, o que, portanto, podia indicar que estavam acima – forros assoalhados – ou embaixo do piso, chegavam a ter dois ou mais andares" (ALGRANTI, 2002, p.101). Logo, o lugar destinado aos criados, por exemplo, é diminuto com relação às senzalas e encontram-se longe dos olhares do visitante, são criadas escadas de serviço que teriam acesso ao sótão ou porão - também conhecido como rés-do-chão -, onde os escravos dormiam nos sobrados do século XVIII e XIX juntamente com os animais criados na residência.

Não era raro em alguns sobrados serem pintadas janelas falsas, pois os moradores não somente estavam preocupados com a padronização estética da construção, mas também "no sentido de limitar os abusos do particular e da casa e de fixar a importância, a dignidade, os direitos da rua (FREYRE, 1977, p. XLIII). Assim como paulatinamente as famosas gelosias ou urupemas foram substituídas pelo vidro inglês, uma quase imposição, no caso de Recife e do Rio de Janeiro houvera decreto proibitivo do uso das "janelas coloniais" para acelerar o processo de substituição. A influência inglesa incidiu nas pinturas das fachadas das casas, das varandas, nas janelas e portas, "conseguindo impressionar os brasileiros com a necessidade ou conveniência de pintarem constantemente as casas" [21]

Os sobrados foram se instalando "nas cidades com a mesma arrogância, da casa de engenho ou de fazenda: fazendo da calçada picadeiro de lenha, atirando para o meio da rua o bicho morto, o resto de comida, a água servida, ás vezes até sujeira do penico" (FREYRE, 1977, XLIII) [22]As ruas eram apenas passagens para casa dos poderosos, que não constava qualquer espécie de preocupação quanto ao seu estado.

Noite de escuro, é que sair de casa, nas cidades brasileiras dos princípios do século XIX, tinha seu quê de aventura. Tudo escuro; becos estreitos; poços de lama; "tigres" estourados no meio da rua. De modo que o prudente era sair – se com um escravo, levando uma luz de azeite de peixe que alumiasse o caminho, a rua esburacada, o beco sujo (FREYRE, 1977, p.40).

Freyre (1977, p.113) ainda ressalta que "própria arquitetura do sobrado se desenvolvera fazendo da rua uma serva: as biqueiras descarregando com toda força sobre o meio da rua as águas da chuva; as portas e os postigos abrindo para rua; as janelas servindo para os homens escarrarem na rua". Por volta de 1813, em São Luís, Raimundo Gaioso (1970, p.113), rico produtor de algodão da época, fazia igual descrição das ruas da cidade.

 

Sofríveis edifícios e com muita comodidade, mas a desigualdade do terreno lhes tira uma parte de sua formosura, e algumas ruas mal calçadas fazem a sua serventia bastante incômoda. A liberdade que cada qual tem de edificar como lhe parece, faz que tudo é irregular[23]

Os viajantes alemães Spix e Martius, em 1819, também descreveram as ruas de São Luís "como irregulares, sendo uma parte delas em ladeiras e mal calçadas ou mesmo sem calçamento" (Apud. CALDEIRA, 1991, p28). Em 1818, Bernardino Pereira do Lago (2001, p.51) atribuía tal descaso a falta de dinheiro no Tesouro da Província, uma vez que a remessa de lucro era toda enviada a metrópole, com isso elo só tinha a lamentar, pois a cidade encontrava-se "intransitável, a ponto que, pelas muitas concavidades nas ruas, nem de dia se andava sem risco".

Passado mais de 20 anos, Daniel Kidder (Apud. SILVA, 2004, p.46), que esteve em São Luís por volta de 1841, descreve melhorias nas ruas das cidades com "traçados remarcadamente regular no que diz respeito à direção. São de boa largura e as ações combinadas dos ventos e das chuvas mantêm- nas rigorosamente limpas, (...) pavimentadas com um aglomerado arenoso[24]Já em 1859, Robert Avé Lallemant (Apud. SILVA, 2004, p. 47) elogia "a boa disposição da rua, seu traçado em linha reta embora com subidas e descidas [que] logo impressionam dum modo sumanamente agradável".

Quanto ao lixo e as fezes, Freyre (2008, p.112) nos fala de um padrão comportamental único para todas as cidades do Império.

a remoção do lixo, das coisas podres, dos excrementos humanos fazia-se de maneira, ao mesmo tempo a mais primitiva e a mais pitoresca. Essas imundícies eram colocadas em pipas ou barris, chamados de tigres, e carregadas às cabeças dos escravos, que os despejavam nos rios, nas praias e nos becos (matos). Algumas vezes, o fundo do barril despregava-se, o seu conteúdo emporcalhava tanto o carregador como a rua.

Como a coleta do lixo e o despejo dos dejetos eram somente realizados após as dez horas, e não havia uma preocupação ou padronização no descarte de ambos, ficavam expostos ao longo do dia e depois, quando do seu recolhimento, carniças, bichos mortos, imundícies eram abandonadas perto das pontes ou nas praias (FREYRE, 2008).

Em São Luís, essas práticas passaram a ser limitas somente com a criação do Código de Postura em 1842 pelo Conselho Geral de Províncias, que determinava normas para edificações.

Art.1ª Nenhuma pessoa poderá edificar nesta Cidade e seus subúrbios confinado com Ruas, Estradas publicas, muro ou caza sem licença da Camara devendo proceder-se antes uma vistoria [...].

Art. 4ª As Ruas, que denovo se abrirem, devem ter a largura de oito braças para poderem conter pelo meio uma ordem de Arvores; e quando por falta de terreno para se edificarem os prédios, ou por estarem já alguns edificados os prédios, se não possa reduzir a Rua a esta largura [...].

Medidas proibitivas com relação à higiene das calçadas e ruas:

Art 5ª Cada morador será obrigado a varrer a sua testada todos os Sabbados pena de ser feita a dilligencia à sua custa e pagar 500 réis para o Conselho por cada falta.

Art 6ª Qualquer pessoa que lançar agoa suja, ou ainda limpa seja à hora que for, de modo que prejudique os viandantes, pagará por cada vez a multa de mil réis [...], lançado immundices, pagará seis mil réis por cada vez [...]

Art 7ª Ninguém consentirá defronte de sua morada algum animal morto pena de mil réis [...].

Enquanto o espaço público de ruas, praças, chafarizes sofria com a falta de atenção dos poderes públicos, as demonstrações dos valores burgueses estavam representados da fachada dos sobrados à porta adentro. Os azulejos, hoje encontrados nas fachadas dos sobrados em São Luis, somente pela segunda metade do século XIX serão adotados (SOUZA, 2011).

Essa concepção – a de que o sobrado ainda patriarcal e já burguês é que representa a melhor ou mais alta civilização brasileira, ao findar o século XVIII e começar o XIX – parece ter sido geral entre os homens esclarecidos da época. Não só brasileiros como europeus do Norte da Europa – estes, quase todos, impregnados até a alma de noções burguesas e urbanas de civilização. Afirmava – se do sobrado de São Luis (sobrados de três andares) que refletiam um contato da parte dos maranhenses da capital com a mais alta civilização européia da época. Um dos característicos da elegância ou da modernidade de vida na capital maranhense – modernidade do ponto de vista de um francês ou de um inglês da cidade (FREYRE, 1977, p.41).

Alguns desses homens esclarecidos da Europa, as quais Freyre referiam-se, seriam Spix e Martius (Apud. CALDEIRA, 1991, p.45) que destacaram essas "casas de dois ou três pavimentos, na maioria construídas de grés de cantaria". Daniel Kidder (Apud. CALDEIRA,2004, p46), em 1841 dizia possuir São Luis "um ar de progresso como raramente se observou em outras cidades do Império" e o mesmo observou que eram "residências de fina construção, estilo elegante e aparência sólida. As paredes são fortes, construídas de pedras britadas e cimento". Robert Avé-Lallemant (Apud.CALDEIRA, 1991, p.45), outro viajante, que esteve em São Luís no ano de 1859, diz ter bastante certeza "que nenhuma cidade no Brasil conta, proporcionalmente ao seu tamanho, tantas casas bonitas, grandes e até apalaçadas, como no Maranhão.

Leila Mezan Algranti (2001) destaca que a morada urbana se manteve fiel à arquitetura portuguesa, pelo menos na aparência, embora não descartasse as influências indígenas e as adaptações dos colonos quanto ao modo de morar. Como já tratado, "nas moradas mais ricas, nota- se uma certa preocupação na preservação da intimidade, com salas e espaços definidos para mulheres, hóspedes e escravos, além de aposentos destinados às atividades específicas, como repouso, lazer, alimentação, oração, trabalho etc." (ALGRANTI, 2001, p.102).

Por isso, nos sobrados os andares térreos funcionavam os escritórios e comércio, e para ter acesso ao segundo andar onde residia a família era necessário subir as escadas que possibilitava um maior controle sobre os estranhos. "Nos imóveis reservados a classe dominante, a escada se impõe à primeira vista. Não é um simples espaço de distribuição, mas um lugar de representação" (GUERRAND. In. PERROT, 2006, p.331). Nas casas mais ricas era possível vislumbrar "rampas entalhadas, as luminárias, as estátuas de diferentes materiais". E quanto ao terceiro andar, em geral era onde funcionava a cozinha.

Desta forma, enquanto integrante do cenário doméstico, a louça ocupa um local específico no interior da casa, vista como uma casa de novos valores.

Que ao adotarem o pudor, a reserva, e, em conseqüência, a defesa cerrada da intimidade, foram incorporados à arquitetura, influenciando fortemente a compartimentação dos espaços domésticos. Funções antes comunitárias, exercidas pública e coletivamente, individualizaram-se, passaram para domínios reservados, privatizando-se e requerendo ambientações adequadas (LIMA, 1995, p. 134).

No seu interior, os sobrados, passaram por transformações para atender a necessidade por "intimidade", remarcando novos espaços.

Os cômodos, antes unidos entre si de tal forma que para se atingir um aposento era necessário passar por dentro de outro, separaram. Surgiram espaços de distribuição e circulação antes inexistentes, intensificando como vestíbulos, ha//s, saguões, antecâmaras e, sobretudo corredores - simultaneamente unindo e isolando os compartimentos, garantindo-lhes total privacidade - bem como escadas, funcionando como corredores verticais (LIMA, 1995, p. 134).

As portas e janelas, também funcionavam do mesmo modo, como barreiras, destinadas a limitar os espaços formais de uso. Quanto aos móveis a situação transformou-se profundamente, pois anterior ao século XIX, as casas possuíam uma "modéstia mobília [...] poucas cadeiras, uma ou duas mesas com seus bancos, além de algumas caixas e baús" (ALGRANTI, 2001, p.104). Era muito comum o uso da rede, catres e jiraus, e mesmo nas casas mais abastadas, a quantidade de cômodos era pequena e há superposição de funções.

(...) o que poderíamos chamar de sala de estar assumiu, à noite, a função de quarto de dormir. Por outro lado, em vez de cama, menciona - se redes de dormir; com sua facilidade de transporte e desmontagem rápida, predominam de forma absoluta até o século XVIII, e eram certamente muito práticas numa época em que um único aposento podia assumir várias funções (ALGRANTI, 2001, p.107).

Em São Luís, ao menos nas duas primeiras décadas do XIX, ainda era possível observar composição semelhante. Henry Koster (Apud. CALDEIRA, 1991, p.27), em 1811, narra a composição de uma residência de "respeitável família", onde permaneceu numa "tolerável sala, ornada com grande leito e três bonitas redes armadas, através do apartamento, em várias direções, e ainda havia no apartamento uma cômoda e diversas cadeiras".

A composição desses sobrados foi se alterando gradativamente. Laura de Souza (2010, p.50) em sua pesquisa monográfica analisou inventários post-mortem das duas primeiras décadas do século XIX em São Luís na busca da cultura material do interior das casas da área do Bairro da Praia Grande. Observou mudanças significativas quando comparado as duas primeiras décadas, e confirmou a observação do viajante Henry Koster, ao dizer que "a descrição do viajante encontra-se consonância com o documentado nos inventários da época: as redes, as cadeiras, as bancas de jogos, inclusive a falta de livro entre os bens arrolados".

Gilberto Freyre em Sobrados e Mucambos (1977) nos relata a composição dos sobrados, mais opulentos, que continham elementos modernos convivendo paralelamente com o ainda colonial, como os quartos, onde as camas eram bem feitas, em geral, de jacarandá (outras madeiras empregadas no fabrico dos móveis eram vinhático, o conduru e o pau-santo), porém, nada modernas. Desses móveis, alguns eram fabricados no Brasil, outros, com madeiras brasileiras, feitos na Europa por artistas requintados de Portugal, Inglaterra e França.

E sobre as camas dos sobrados mais ricos não era raro ver colchas da Índia ou da China. Usava-se muito mosquiteiro. Ao redor da cama, uma variedade de balaios e de baú de couro felpudo completava o quarto, raramente se via um guarda-roupa[25]e era também comum encontrar os oratórios[26]O quarto era o local de guarda e uso dos urinóis, ás vezes disfarçado no interior de algum móvel, como cadeiras que lembram tronos, inserido no contexto privativo que ganhara este espaço íntimo. Nas pesquisas arqueológicas foi encontrada uma quantidade significativa de fragmentos de urinóis tanto em fainça, em geral mais rústicos, quanto em faiança fina.

Figura 17– Fragmentos de um urinol em faiança encontrado na Fábrica Santa Amélia

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Fonte: In. Primeiro relatório de acompanhamento arqueológico no pátio interno do Bem 01 – Unidade de Ensino

Em algum canto dos quartos das famílias mais abastadas, poderia se visualizar as gamelas ou grandes bacias de madeira, para realizarem-se os asseios, uma vez que os banheiros viriam bem depois e ocupando primeiramente um espaço externo ao quarto. Uma herança indígena, o hábito de muitos banhos ao dia, que nos dizeres de Freyre (2008, p. 112), o que "os brasileiros faziam, como indivíduos, livre uso da água realizando em limpeza pessoal o que tão dolorosamente faltava em higiene pública". Assim como era costume, mesmo entre os pobres, lavar as mãos antes e depois das refeições, "trazendo os escravos para os seus senhores, nas casas melhores, bacias de prata e toalhas ricamente bordadas". Como nesse período não existia água encanada,

 

o sistema de suprimento d"água ás populações urbanas [...] eram as fonte pública. Por toda a parte havia constantes encontrões de negros avantajados, carregadores d"água que a levavam para as casas, algumas vezes, ao terceiro e quarto andares, onde ficava localizada a cozinha (FREYRE, 2008, p.112)

 

E quanto aos móveis que compunham estes ambientes, a principio eram influenciados pelo estilo barroco, com formas arredondadas de Portugal, posteriormente, principalmente com influência D. João VI foi introduzido ou adaptado o estilo inglês ao Brasil, conhecido originalmente por:

Formas de significação rigorosamente utilitária, mas delicadas. Superfícies despojadas de ornatos. Os pés das mesas, camas, cômodas e armários prismáticos e troncopiramidais. Nas cadeiras, poltronas e sofás, são também prismáticos, ora retos, ora apresentado, na extensão, uma curvatura de concavidade externa. Espaldar de cadeiras e camas singelo, aberto, composto de duas colunas prismáticas verticais e número variável de transversões perpendiculares (FREYRE, 2000, p.228).

Gilberto Freyre (2000, p.228) nos fala de vários anúncios de jornais do início do século XIX divulgando a venda de móveis ingleses, que já seriam móveis fabricados por artesões locais, mulatos ou franceses, "tendo de inglês apenas o estilo. (...) A Inglaterra modificando-se no Brasil".

E, desta forma, foi criando-se novos cômodos, os pais passaram a dormir separados dos filhos, que passam a ocupar um aposento próprio, criando- se o quarto para criança.

Para atender a funções específicas, como escritórios, gabinetes, bibliotecas, salas de jogos, de fumar, costurar, engomar e principalmente de jantar. Outros foram deslocados-como as áreas de processamento de alimentos e de trabalho doméstico em geral- para os fundos das casas, longe do olhar dos estranhos, assegurando-se, com essas alterações, o isolamento acústico e visual da esfera agora considerada privada (LIMA, 1995, p.134).

No mapeamento da morada, os lugares destinados aos afazeres domésticos, os quartos e salas intimas eram de uso interno, de circulação privada dos moradores da residência, por isso localizavam-se aos fundos, no interior, longe dos olhares curiosos.

A cozinha não teve a mesma importância que nas casas de engenho (FREYRE, 1977), houvera a separação do local de preparo dos alimentos do local de consumo. Segundo a historiadora Algranti (2001, p.101), existiam duas distinções para a cozinha: "limpa" ou "suja". As limpas ficavam dentro de casa, e as sujas fora de casa onde se processava as tarefas mais pesadas e menos higiênicas. "No Brasil, sempre que possível, os fogões e jiraus foram levados para fora e deixado a cargo das escravas, mesmo nas regiões mais frias, como no sul do país. Essa opção arquitetônica pode ser entendida como uma forma de divisão de espaço entre senhores e escravos" (ALGRANTI, 2001, p.103).

Logo, "a superposição das áreas de serviço e de estar passou a ser inconveniente e inadequada. A mesa de comer ganhou um ambiente próprio que lhe foi exclusivamente destinada - a sala de jantar – transformada em cômodo imprescindível na casa burguesa (LIMA, 1995, pág. 136)". O arqueólogo Symanski (2002, p.05) descreve que "até o começo do século XIX, era a tradicional varanda colonial, um local alpendrado nos fundos da casa, espaço íntimo e multifuncional, no qual a família fazia suas refeições e permanecia nos momentos de lazer e de trabalho caseiro." Com essas novas configurações a sala de jantar passa a ocupar a parte dianteira da casa.

Na parte dianteira da casa, eram locais para o exibicionismo, encontrava -se a sala de visita, sala de jantar, salas de jogos, escritório, e etc,

Tornou-se o espaço de sociabilidade por excelência, através do qual o grupo residente se relacionava com o exterior. Formal, destinado ao entretenimento, ao lazer, e, por conseguinte, à representação social, tinha seu acesso permitido aos de fora. Palco para a exibição das posses e boas maneiras dos seus moradores, era por meio dele que os indivíduos negociavam suas posições na estrutura de classe. (LIMA, 1995, p. 134)

Gilberto Freyre (1977, p.222) retrata que nas salas de visita dos sobrados grandes, arrumava-se a mobília com uma simetria rígida: o sofá no meio, de cada lado uma cadeira de braço, e em seguida, várias das cadeiras comum. Ás vezes, uma mesa, com um castiçal grande em cima. Essas cadeiras e esses sofás no século XVIII e nos princípios do XIX eram orientalmente pintados de vermelho e branco, ornamentados com pinturas de ramo de flores, em geral pintadas de cores frescas.

Nas salas das casas mais antigas, viam – se pintadas figuras e arabescos; nas casas novas, a pintura imitava papel pintado. As mesas faziam às vezes das chaminés das casas da Europa: eram nelas que se colocavam os castiçais com as mangas de vidro, as serpentinas, os relógios. Gravuras viam-se às vezes. Os anúncios de jornal dão notícias de várias: as quatro estações, cenas de guerra, retratos de heróis franceses e ingleses. Nas casas mais elegantes rebrilhavam os lustres

Segundo Freyre (1977), ao que parece a moda de arrumar os sofás e as cadeiras hierarquicamente atravessou todo o século XIX. O que desapareceu quase por completo foi a moda de pintar os jacarandás nas casas. Surgiu no século XIX moda de enfeitar de rendas com lacinhos de fita vermelha ou azul, o encosto das cadeiras – moda que chegaria aos fins do século. O autor completa que talvez tivesse as mesmas escarradeiras, horríveis para um inglês. Cuspideiras fidalgas que passavam de uma geração a outra. No ambiente houvera a intrusão de outros elementos "como consolos, aparadores, mesas de mármore, espelhos de moldura dourada, cortinas, tapetes, quadros" (SYMANSKI, 1998, p.81) e o piano, que raramente faltava em alguma casa, muitas vezes mesmo nas mais pobres.

A historiadora Laura de Souza (2011, p.62) em sua pesquisa monográfica identifica nos inventários das duas primeiras décadas do século XIX em São Luís, a constante presença das cadeiras de palhinha e a marquesa, definida "como um canapé largo com assento de palhinha, couro ou madeira, geralmente sem espaldar e com os braços encurvados e altos. Cama de repouso diurno do séc. XIX que substituiu a camilha ou preguiçeiro empregado no século anterior".

Nos jornais de época, os anúncios encontrados refletem a formação interior dessas casas. A Folha Commercial da Província do Maranhão, em fevereiro de 1851, no setor de vendas anuncia:

Gomes e Pereira

Na Rua da Formoza, teem para vender muito lindos papeis para forrar sallas,

Chicaras e pires de porcelana em dúzias, aparelhos completos de dita, Portalicores, galheteiros de 4 vidros

 

O Globo, de 20 de janeiro de 1852, anuncia:

No dia 26 do correute, em leilão judicial pelo Agente de leilões Manuel José Gomes, se há-de proceder à venda de um piano, pertencentes à massa fallida de Moura & Abranches.

O mesmo jornal O Globo, em 18 de março de 1852, anuncia:

Joaquim Jose Nunes, no largo do Palácio vende baratíssimo os objectos abaixo declarados. Cadeiras e sophas; bancas de colluna; ditas redondas;ditas de jantar; mangas de vidro; vidro com aço para espelho, com moldura; e selella; chapas de diversos tamanhos, para quem tiver toucadores, ou molduras com o vidro quebrado, ou falta de aço; corta-os e põe-os no seu lugar;garrafões vazios; só as estrampas ou em quadro;palhinhas para cadeiras; parafuzos para todas as obras, meias commodas e outras muitas qualidades.

O jornal Publicador Maranhense, de 28 de dezembro de 1842, anunciava um leilão que estava por ocorrer oferecendo os objetos do interior da casa.

Há de arrematar na Rua Formoza, nas cazas pertencentes aos herdeiros do finado Bruno José Alves – Huma execellente mobília de caza, sendo trastes de madeira, louça, vidros, e diversos outros objectos o que tudo se há-de vender impeterivelmente por seu dono ter de retirar-se para fora da cidade Maranhão. Principaráas 10 horas. Gomes, corretor.

No Jornal dos Annuncios, de 1831, no setor de vendas, era oferecida variedade de cadeiras:

Partes: 1, 2, 3, 4


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