Para o portador de Ciúme Patológico o amor é um sentimento depreciativo e doentio. Este portador é sempre questionado e o medo da perda é continuado. Este também ocorre no Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), no qual há sempre a dúvida patológica com verificações repetidas, mesmo fenômeno que se observa no Ciúme Patológico. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica referente ao Ciúme, especificamente o Ciúme Patológico e sua relação com o Transtorno Obsessivo Compulsivo. Visando este objetivo, foi feita uma decomposição da sintomatologia do TOC e do Ciúme Patológico a fim de verificar como seus sintomas nucleares estão relacionados: se o Ciúme Patológico resulta de uma predisposição do TOC (devido ao núcleo comum de sintomas) ou se o Ciúme Patológico é realmente uma entidade nosológica independente. Assim foi constatado que sintomas apresentados no TOC têm relação com as características do Ciúme Patológico.
Palavras chaves: ciúme, ciúme patológico, transtorno obsessivo compulsivo
Segundo Curti (s/d) o ciúme é um sentimento que tem a idade do homem e Sócrates definiu como a dor da alma. Esse sentimento, por muitas vezes, adquire um furor tão devastador que William Shakespeare o chamou de "monstro dos olhos verdes" e é sobre ele sua obra do século XVII, em que "Otelo – O Mouro de Veneza"; movido por um ciúme doentio do seu melhor amigo com sua esposa, acaba matando a honesta, terna e doce Desdêmona.
Ramos (2000) nos mostra que estudos sobre ciúme foram incrementados enfocando a natureza psicopatológica do ciúme, o que caracteriza a abordagem psiquiátrica do fenômeno. As investigações atentam para as manifestações de ciúme em diferentes transtornos mentais, como na psicose e esquizofrenia paranóides, em abuso de álcool e drogas, distúrbios de humor e de ansiedade, em estados obsessivos compulsivos e psicopatia. Na grande maioria dos trabalhos, segundo White & Mullen (1989) apud Ramos (2000), tem sido relegado ao ciúme um papel de síndrome psiquiátrica rara, ou, tem sido classificado como um sintoma associado a uma variedade de doenças psiquiátricas, não possuindo uma existência independente de outras patologias.
Nas últimas décadas, vem surgindo certo interesse sobre o assunto por diversos pesquisadores, mas raras são as obras conhecidas sobre o tema, como por exemplo, o trabalho de Torres, Ramos –Cerqueira e Dias (1999)- O ciúme enquanto sintoma do transtorno obsessivo-compulsivo.
Em trabalhos que estudam o Ciúme Patológico em geral, uma comparação sintomatológica com o TOC é pouco enfatizada, talvez por não ser um sintoma muito típico. Mas, segundo Ballone (2004), o que podemos perceber é que pode haver uma forte relação do Ciúme Patológico e o TOC, pelo fato de ambos serem manifestações obsessivas (um dos critérios de diagnóstico do TOC). Além disso, o TOC causa sofrimento acentuado e prejuízo significativo (DSM-IV-TR) e ainda, ocorre de forma invasiva na mente da pessoa, gerando muita ansiedade e angústia, assim como se pode verificar no Ciúme Patológico. Os indivíduos com Ciúme Patológico avaliam suas atitudes como inadequadas ou injustificadas teriam mais sentimentos de culpa e depressão, ou apresentariam mais raiva e comportamentos violentos. Os ciumentos estão em constante busca de evidências e confissões que confirmem suas suspeitas, mas, ainda que confirmada pelo(a) companheiro(a), essa inquisição permanente traz mais dúvidas ainda ao invés de paz.
Segundo Rosário-Campos (1999) apesar de o TOC ser considerado o quarto diagnóstico psiquiátrico mais freqüente, ainda é pouco diagnosticado devido à falta de conhecimento sobre suas características, assim como de seu caráter sigiloso, pois os pacientes, em geral, são reservados em relação a sua doença e, por medo ou vergonha, tentam esconder seus sintomas. Como nos diz Monteiro (2003), "assim como a dificuldade de diagnostico apresentada no ciúme devido ao fato de que a pessoa ciumenta não admite ser portadora de tal, e geralmente os casos conhecidos são porque a família não suporta mais tal situação e acaba por procurar ajuda".
Em 1961, Shepherd afirmava que nesta área os limites entre normal e patológico, não-delirante e delirante, nem sempre seriam facilmente demarcáveis, havendo múltiplas variantes clínicas entre reações compreensíveis de ciúme e estados delirantes, incluindo casos de doenças orgânicas cerebrais (senilidade, abuso de álcool e outras substâncias), psicoses funcionais (esquizofrenia, paranóia, psicoses afetivas), distúrbios da personalidade e neuroses. Dentre as últimas, Shepherd descreveu casos com idéias obsessivas claramente irracionais e de caráter compulsivo. Segundo Torres et al (1999) outros autores sugeriram a relação entre Ciúme Patológico e transtorno obsessivo-compulsivo, com abordagens terapêuticas comuns.
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