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CAPITULO I
Nesse capítulo irei tratar como se procedeu a transformação e a organização da produção ao longo dos séculos, compreendidos do período feudal ao capitalismo industrial. Veremos como o sistema produtivo foi evoluindo até que tomou o formato como conhecemos nos dias atuais. Abordarei os principais conceitos desse período, perpassando pelo feudalismo, mercantilismo e capitalismo.
1.2 - A organização do sistema produtivo na idade média
A sociedade feudal está realizada em sua forma acabada no século XI: no âmbito do senhorio se efetua a organização da produção (servidão, trabalho forçado, corvéia) e extorsão dos sobretrabalho... Do qual se beneficia o senhor proprietário eminente e detentor das prerrogativas políticas e jurisdicionais (Beaud, Michel, 1935, p. 18.)
A sociedade feudal, por assim dizendo, era auto-suficiente. Conforme Leo Huberman[1]havia nesse sistema uma economia voltada para o consumo interno do feudo (um feudo é a terra outorgada por um suserano ao vassalo, em troca de fidelidade e ajuda militar. Essa prática desenvolveu-se na Idade Média). Como o servo e família produziam tudo que necessitavam, desde alimentos a utensílios domésticos, os senhores feudais cooptavam servos que demonstrassem habilidades artífices para seus domínios.
Não se pode negar que existiam, nesse sistema, intercâmbio de mercadorias. Contudo, nos primórdios feudais, não havia uma procura por mercadorias que justificassem a produção de excedente, com objetivo comercial, devido a inúmeras variáveis, tais como: trabalho, transporte, estradas e etc.
1.2.1 – O Trabalho
A sociedade, na idade média, se articulava em torno de três grupos distintos: o que governava, os reis; os que guerreavam, os cavaleiros; e os que pregavam/rezavam, clérigos e padres. Todavia, de uma forma ou outra, esses grupos tinham necessidades básicas que deveriam ser atendidas, tais como alimentos, vestuários, confecção de armaduras, para os guerreiros, dentre outras. Para suprir essas necessidades, entra em cena outro grupo cuja importância, para a época, era subjugada, os trabalhadores.
Como não existia um sistema industrial, como veremos logo adiante, o trabalho era basicamente o cultivo da terra e a guarda do rebanho, para uso de lã na confecção dos vestuários. Sendo assim, o grosso da mão de obra se concentrava na agricultura.
Num feudo, a terra arável era dividida em duas partes, sendo uma destinada ao senhor feudal e a outra era arrendada aos servos. Devido às condições impostas pela cultura da época, o camponês tinha uma vida miserável. Viviam em uma choça[2]e conseguia cultivar somente o suficiente para sua precária sobrevivência.
O tipo de trabalho era serviu. No entanto, não seria uma servidão escrava, nos moldes que conhecemos. Embora o termo servo denominado a maioria dos arrendatários tenha origem na palavra latina servus, cujo significado é escravo, não seria uma escravidão clássica.
A diferença reinante nas formas de servidão que conhecemos e a praticada na idade média estão configuradas na espécie de relação existente entre o servo e o senhor feudal. No modelo de servidão convencional, por exemplo, do escravo negro, não existia a concepção de família nem tampouco a sensação de segurança para os servos. Os escravos negros eram vendidos em família, em lote, ou por unidade, de acordo com a escolha e conveniência do comprador. Já com relação ao servo feudal, não poderia ser vendido fora dos domínios do feudo. Se o seu senhor transferisse a posse da propriedade para outro, o servo permanecia com suas condições anteriores, mudando apenas de senhor.
Após compreendermos como se relacionava os membros dessa sociedade voltaremos para a questão do trabalho. Nesse quesito, o que fica latente é a prioridade dos servos para com os afazeres do senhor. No cultivo os servos trabalhavam suas terras e a do senhor. Durante a semana, duas ou três vezes seriam dedicados, também, as terras do senhor. Nas épocas de colheita, primeiro colhiam-se as plantações do senhor. Se houvesse ameaça de perda na lavoura, a primeira a ser salva seria a do senhor. Dessa forma, tudo que dependesse de mão de obra, o servo deveria satisfazer primeiro as necessidades do senhor feudal e, se sobrassem forças, cuidariam dos seus afazeres. Essa relação, servo-senhor, dominou as relações e organização do trabalho na idade média.
1.2.2 - A manufatura e os artesões
No seio do sistema feudal, os camponeses que demonstravam alguma habilidade numa arte ou outra forma de manufatura, eram dispensados do trabalho na lavoura e dedicavam-se em se especializar nessa atividade, as quais possuíam vantagens em habilidade - tecelagem, trabalho na madeira ou na funilaria. Contudo, essas atividades não tinham cunho comercial, eram, simplesmente, para uso doméstico do feudo e, geralmente, confeccionado em suas casas.
Conforme foram progredindo as Cidades, e o dinheiro foi se tornando mais usual, os artesãos começaram a viver de seus ofícios - açougueiro, padeiro e o fabricante de velas -, deslocaram-se para as Cidades e abriram pequenas oficinas. Agora a produção não era apenas para atender suas necessidades, ganha contornos comerciais e se propõe a atender uma demanda de mercado, pequeno, mas em franco crescimento.
O artesão perde o cunho amador e passa a se profissionalizar. Com o aumento da procura - entende-se por demanda por produtos - há uma necessidade de expansão e, por conseguinte, a contratação de ajudantes. Desse modo, para atender essa demanda por mão de obra, surge a figura do aprendiz, jovem que vivia e trabalhava com o artesão. O período de aprendizado variava de um a doze anos, e essa condição de tornar-se aprendiz era levada muito a sério, pois era um acordo entre aprendiz, pais e mestre artesão.
Após esta fase, o aprendiz que recebia aprovação tinha dois destinos. Os que tinham recursos poderiam abrir sua própria oficina, doutro que não os possuía, tornava-se jornaleiro - uma espécie de trabalhador assalariado. É importante ressaltar que, na idade média, o que se conhecia como unidade industrial eram essas pequenas oficinas sendo o mestre artesão o empregador, empresário produtor. Muitas oficinas também eram unidades comerciais, onde por uma janela disposta para a rua se penduravam os artigos que se desejava vender.
1.2.3 - As cruzadas e o comércio
A atividade comercial tinha, nesse período, inúmeros obstáculos que o tornava desestimulantes. O dinheiro era escasso e as moedas variavam bastante de um feudo para outro, bem como as unidades de peso e medidas. Contribuindo, também, para a falta de estimulo as atividades de comércio, têm-se as péssimas condições de transporte das mercadorias. Nas poucas vielas que havia, as caravanas dos mercadores eram constantemente saqueadas, quer fossem pelos salteadores ou pelos senhores feudais que exigiam taxas para que trafegassem em suas propriedades. Contudo, o comércio ganha novos contornos com o advento das cruzadas, e isso afetará toda a vida na idade média.
Com o sonho de tomar dos muçulmanos a terra prometida, dezenas de milhares de pessoas atravessam o continente. Para que se dedicassem a essa causa, necessitavam de provisões durante o trajeto, quer fosse por terra ou mar. Ainda assim, aqueles cruzados que regressavam das suas jornadas traziam, consigo, o gosto e a admiração pelas roupas e comidas requintadas que outrora experimentaram, criando assim uma demanda por tais coisas mercadorias.
A cruzada atendia aos anseios de diversas camadas da sociedade feudal. A igreja, por sua vez, estava desejosa para restringir o avanço dos muçulmanos e tomar a terra prometida desses; os despossuídos viam nas cruzadas a oportunidade de transformar sua realidade; os nobres e cavaleiros desejosos de sangue queriam liquidar dividas pendente e adquirir terras e fortunas; e havia as Cidades italianas, que sentiam nas cruzadas uma oportunidade de obter vantagens comerciais.
Se analisado pelo ponto de vista religioso, pouco proveito teve as cruzadas[3]Contudo, pela ótica comercial os resultados foram de importância impa. Além de espalharem sacerdotes, guerreiros e trabalhadores, despertaram uma crescente classe comercial por todo continente.
1.2.4 - O crescimento do comércio e das cidades aumenta a influência dos mercadores
Sem sombra de dúvidas, conforme Huberman (1986), o efeito mais contundente para o aumento do comércio é o crescimento das Cidades. Decerto que havia Cidades antes do aumento do comércio. Contudo, as cidades que adotaram postura mais comercial, bem como as novas que se desenvolveram com a intensificação do comércio, tinham status diferenciados. Elas cresceram em regiões onde o comércio poderia ser praticado em condições adequadas. Por conseguinte, à medida que o comércio se expande, surgem novas Cidades e o ciclo vai se ampliado. Geralmente estes pólos desenvolvem-se em cruzamentos de duas ou mais ruas, ou em embocadura[4]de um rio.
Fazendo um retrospecto do que foi visto até aqui, percebemos que a expansão do comércio e crescimento das Cidades confere um dilema na percepção de vida dos mercadores e os senhores feudais, causando, então, um choque de interesses. Toda atmosfera feudal conduzia ao pensamento de prisão e submissão. Em sentido oposto a essa lógica, vinha o novo paradigma de que o ar da Cidade era um ar que inspirava liberdade.
Durante suas jornadas, os mercadores, aprenderam a se unirem na defesa dos seus interesses. Organizaram-se, e agora se defrontam com as restrições típicas do pensamento feudal. Asfixiados, buscaram em associações a liberdade necessária a expansão continua para suas Cidades. Quando não conseguiam passivamente seus intentos, lutavam bravamente por ele.
Como dizia um velho provérbio Alemão, aplicável a toda Europa, Stadtluft Machet Frei (o ar da Cidade torna um homem livre), expressa de forma clara o desejo dos cidadãos da época. No mais, o que queriam a população das Cidades era desatar-se das amarras feudais e tornar-se livre. Ou seja, seu desejo era de liberdade completa, das terras onde se situavam as Cidades. Dessa forma, poderiam, eles mesmo, fixar suas próprias regras e empreender negócios sem restrições de qualquer espécie.
Não podemos confundir as lutas dos cidadãos feudais com algum tipo de ação revolucionária que conhecemos. As lutas eram dirigidas pelas associações de mercadores e não tinham como objetivo a derrubada, puramente, dos seus senhores. O desejo latente era apenas fazê-los abandonarem práticas feudais desgastadas pelo tempo. Só queriam, de fato, se libertarem dos obstáculos a sua expansão, o que conseguiram após alguns séculos. Contudo, o grau de liberdade variava de um lugar para outro. Havia Cidades totalmente independentes e outras que apenas superficialmente conseguiram alguns privilégios.
Como a liberdade dos cidadãos devia, por assim dizendo, da organização dos mercadores, esse ganhava status e influência muito grande na constituição organizacional dessas. Por fim, não se pode negar que os direitos que mercadores e cidadãos conquistaram só refletem a importância do comércio como fonte de riqueza.
O desenvolvimento do comércio nos faz refletir em como se mede a riqueza, bem como ela é vista a partir daí. No início do sistema feudal a terra era tida como a maior fonte de riqueza do homem. No entanto, a expansão do comércio traz a figura do dinheiro como mensurador da riqueza. Decerto que no início o dinheiro era tido como inerte/inativo, ao contrário do que passa a ser - ativo, vivo e com alta fluidez. O extremo da classe social no período feudal eram os camponeses, os sacerdotes e os guerreiros proprietários de terras. Agora, no entanto, surge uma nova classe social a classe média burguesa, vivendo do comércio. Como a posse da terra, no período feudal, concedia o poder de governar para o clero e nobreza, agora a outra forma de riqueza, dinheiro, dita uma nova partilha do governo para a burguesia emergente.
1.3 - A expansão do mercado e seus sistemas de produção
Conforme Huberman, a expansão comercial significava a chave para a compreensão do sistema industrial capitalista, tal como conhecemos.
No início, a atividade comercial se restringia aos domínios das Cidades, através das feiras semanais e anuais. Nesse formato a produção local, por meio das oficinas dos artesãos, conseguia atender plenamente essa demanda. Porém, o comércio extrapolou as fronteiras citadas e ganhou proporções internacionais. A ampliação do mercado criou uma nova figura nesse processo, o intermediário. O artesão, no comércio local, era quem fazia todas as etapas do comércio, desde a compra da matéria prima para utilização na produção até a venda da mercadoria produzida. Todavia, com o aparecimento do intermediário o artesão concentrava-se primordialmente na produção. O intermediário provia o artesão de matéria prima e comercializava seu produto acabado. O método, no qual o intermediário empregava certo número de artesãos na produção de sua matéria prima, denominava-se "sistema de produção doméstica". O intermediário não teve, em seu papel, a modificação das técnicas de produção. Embora, tenha de alguma forma organizado o sistema para aumentar a produtividade, praticando especialização.
Apesar da importância do papel do intermediário na expansão dos mercados, as associações de mercadores se colocavam contra suas atividades, devido ao fato de tais corporações serem, de certa forma, monopolistas e os intermediários ousavam em introduzir modificações que comprometia os seus tradicionais processos.
No princípio do século XVI, um dos intermediários, conforme descrito por Leo Huberman ergueu um edifício com mais de 200 teares, no qual trabalhavam cerca de 600 pessoas. Esse foi o que se pode chamar de embrião do sistema capitalista fabril.
Na economia urbana das Cidades, o capitalismo tinha um papel insignificante. No entanto, com o sistema de produção doméstica o capital toma corpo e ganha importância. As matérias primas, no sistema anterior, não dependiam de grande monta, devido ao fato de atender a uma demanda local. Contudo, no novo sistema de produção doméstica, se consumia mais matéria prima, mais dinheiro e se empregavam mais trabalhadores para que a produção fosse majorada, devido ao fato de atenderem um mercado em franco crescimento.
1.4 - A revolução industrial e o pensamento capitalista
O capitalismo se forma no seio de sociedades mercantis e monetárias da Europa ocidental. Mas inúmeras sociedades mercantis e monetárias funcionaram no mundo sem que nelas se desenvolvessem essa nova forma, dotada de uma excepcional capacidade criativa e destrutiva, o capitalismo. (BEAUD, M. p. 18)
Como mencionado acima pelo autor, podemos entender a origem do capitalismo por volta dos séculos XII e XIII em meio às sociedades mercantis e monetárias, ou seja, o mercantilismo. Contudo, por Huberman, o mercantilismo não era um sistema no sentido da palavra, mas um imbricado de teorias econômicas aplicadas pelo Estado, num momento ou outro, com o objetivo de adquirir riqueza e poder. Sendo assim, a pergunta que se fazia nesse momento era o que tornava rico um país?
Sendo a Espanha, na época, o país mais rico e poderoso julgavam os intelectuais, que tal fonte de poder advinha dos tesouros extraídos das suas colônias, ouro e prata. Decerto que tudo que se pensava em torno de poder e riqueza se referia à quantidade de ouro e prata disponível para adquirir o que se necessitava - contratação de exércitos, compra de madeira para construir navios, a defesa e conquista de novos territórios e etc -. Devido a isto, as conclusões em que os estudiosos da época chegaram era de que para um país ser rico e poderoso necessitaria de uma boa quantidade desses metais.
Pois bem, a questão de como um país poderia ser rico, estava por demais respondida. Contudo, outros questionamentos surgiram. Os países que podiam desfrutar de minas desses metais estariam em vantagem de condições perante aqueles que não foram agraciados com tal dádiva. E agora, como ser rico e poderoso se não tem recurso a explorar? Muitos países baixaram leis proibindo a saída de tais metais das suas fronteiras, quer fossem em forma de moeda ou utensílios domésticos - tais como bandejas de prata ou talheres de ouro. Como os governos acreditavam que essa fosse à única solução disponível, puniam com rigor aqueles que violassem seus ordenamentos.
Contudo, para os países que não possuíam as condições necessárias de produção ou extração de ouro e prata, os mercantilistas ofertaram uma solução chamada balança de comércio favorável. Com esse mecanismo, entendia-se que uma forma de atrair ouro e prata para seus domínios, um país deveria fazer com que grande quantidade de suas mercadorias chegasse aos países possuidores do viu metal. Tal condição implicava mandar para além-mar a maior parte de sua produção, e que comprasse somente o necessário para sua manutenção. Sendo assim, os países poderiam aumentar suas reservas de prata e ouro somente se dedicando ao comércio exterior; é claro que com cautela necessária de exportar mais do que importar. No entanto, para que o negócio fosse lucrativo necessitava, portanto, exportarem mercadorias de valor agregado, o que significava estimular suas indústrias.
1.4.1 - A indústria
Sabendo que para alcançar o tão sonhado acumulo de ouro e prata, precisavam reorganizar suas indústrias, tornando-as mais produtivas. Os países buscaram formas de ajudar as velhas estruturas em sua organização, bem como se voltaram para estimular a criação de novas. Muitos criavam comissões especiais de notáveis que em dias fixos da semana se reuniam para discutirem e deliberarem a respeito dos fatos relacionados ao aumento da produtividade e do comércio entre nações. Algumas comissões criaram prêmios como forma de incentivo aos produtos manufaturados destinados a exportação. Também, como formas de incentivo foram criadas tarifas protetoras para as indústrias nascentes, tais como vemos nos dias atuais em algumas regiões do nosso país. Além desses estímulos, no tocante aos industriários, várias foram as tentativas de atração a trabalhadores estrangeiros com capacidade de introduzir, no país de destino, novos ofícios ou técnicas inovadoras. As gratificações oferecidas a esses trabalhadores eram: moradia gratuita, isenção de impostos e empréstimo para aquisição de equipamentos dos quais necessitassem para seus ofícios.
Muitos governos despendiam do próprio capital para ajudar quem se propusesse a fundar uma fábrica. A explicação para determinada benevolência figurava no pensamento de que com a criação dessas indústrias viriam a reboque a geração de empregos para seus concidadãos. Tendo em vista que os mendigos e desempregados, nessa época, representavam um problema e uma crescente despesa em assistência social, sua argumentação em defesa dos privilégios ganhava eco na multidão.
Em síntese, vimos ao longo desse capitulo a transformação e a organização da produção ao longo dos séculos compreendidos entre o feudalismo ao capitalismo industrial. O intuito dessa viagem pela história destina-se a visualizar como se comportou cada fase desse sistema e suas implicações nas relações sociais e ambientais. No próximo capitulo passaremos por conceitos bem distantes dessa realidade que vimos até agora, e poderemos perceber, a partir daí, como o sistema de produção capitalista veio se moldando. O principio do capitalismo parte, como vimos, de um verdadeiro descaso das relações social e ambientas até as mais modernas praticas de responsabilidade socioambiental.
CAPITULO II
No capitulo anterior, discorremos pela história do feudalismo ao capitalismo industrial com o objetivo de verificarmos como se deu o processo de produção e as relações sociais e ambientais dessa sociedade.
Nesse capítulo, procuraremos mostrar os impactos dessa transformação e como novos conceitos e práticas foram surgindo de forma a suavizar os efeitos danosos a essa relação conturbada.
Vimos anteriormente que o consumo de recursos naturais era restrito aos feudos tendo, desse modo, pouco impacto negativo ao equilíbrio das coisas. Contudo, com o surgimento e expansão das Cidades as comunidades passaram a produzir além de suas necessidades de consumo originando, por conseguinte, o fenômeno do comércio e a sistematização do trabalho.
Com o implemento da indústria os impactos, antes mínimo, ganham proporções gigantescas ocasionados por modificações na forma de produzir - substituição das ferramentas manuais por máquinas, utilização de energia motorizada a vapor e substituição das pequenas oficinas por fábricas.
Diante de tudo isso, não é difícil concluir que tais mudanças potencializaram a exploração dos bens naturais, bem como a concentração de trabalhadores ao redor das indústrias. Muito embora a primeira revolução industrial tenha causado mudanças significativas, veremos que no século XIX, com a segunda revolução industrial as relações socioambientais ficam muito mais debilitadas devido ao fato da utilização de novas tecnologias - utilização de energia elétrica e do motor de combustão interna - que aumentou consideravelmente a produtividade. Devido a esse aumento na escala de consumo surge um novo conceito que ditará à lógica do comportamento social que será, mais tarde, combatido em nome da sustentabilidade, a sociedade do consumo.
2.1 - Trajetória do desenvolvimento sustentável e a construção do conceito de sustentabilidade
A capacidade do ser humano em perceber as inter-relações dos diversos fenômenos e processos ganha um conceito chamado de complexidade. Tal complexidade se fundamenta numa estrutura conceitual capaz de integrar diversas dimensões da vida biológica, cognitiva e social.
A partir desse conceito percebe-se porque o modelo de crescimento econômico que tem orientado decisões e ações da sociedade tradicional aponta inúmeras evidências de profunda crise. Tal fato nos leva a crer que a idéia de progresso não pode e não deve ser conduzida nos moldes de destruição dos ambientes naturais, na exclusão social, na concentração de rendas nem nos dilemas socioculturais. Contudo, um alento se processa quando diversos setores sociais, em especial as empresas, vêm se reestruturando para tornar realidade os princípios e práticas do desenvolvimento sustentável, isto devido ao fato de nas ultimas décadas terem, as empresas, seus negócios bastante afetados pelas questões socioambientais.
O pontapé inicial para esse novo paradigma surge na década de setenta. Um grupo de estudiosos, integrantes do clube de Roma (1968), consolidou os estudos de diversas variáveis - tecnologia, população, alimentos, recursos naturais e o meio ambiente - com o objetivo de apontar caminhos que evitasse o colapso do planeta, supostamente em 2000. Esse trabalho ficou conhecido como "os limites do crescimento" (The Limits to growth). Dessa forma o documento coloca em destaque as condições restritas dos recursos naturais do planeta.
Apesar de ser considerado um marco histórico nos debates socioambientais, tal teoria[5]não foi aceita por nenhuma nação, por ser considerada irreal e inviável. Esse comportamento era de se esperar, vez que o modelo capitalista vigente pregava justamente o contrário, seu paradigma de recursos infinitos. Contudo, em 1972, em Estocolmo (Suécia), Tem-se a primeira conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que lança a pedra fundamental concernente as preocupações das instituições com as relações entre ambiente e desenvolvimento, colocando o meio ambiente no foco das preocupações. Este evento estabeleceu, por conseguinte, como a sociedade deveria se organizar para conquistar um desenvolvimento que não comprometesse as bases ecológicas humana, a declaração de Estocolmo e seus princípios. Teremos nesses princípios o primeiro conjunto de leis internacionais, apenas intencionais, para questões ambientais. Por recomendação da conferencia, ainda em 1972, cria-se o programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNEUMAM/UNEP), com o objetivo de coordenar, prover lideranças e encorajar parceiros no cuidado com o ambiente.
Como visto, lidar com temas de pobreza e meio ambiente será, a partir daí, de extrema importância nos debates políticos mundiais. Teremos ainda, com base nos acontecimentos, a primeira publicação com dados sobre a medição do tamanho do buraco da camada de ozônio, por pesquisadores britânicos. Esse fato causou grande surpresa para políticos e cientistas. Tendo, notadamente, verificado a interdependência entre o meio ambiente e o desenvolvimento, a Assembléia Geral das Nações Unidas adota a Carta Mundial da Natureza (World Charter of Nature), objetivando despertar atenção dos valores intrínseco das espécies e do ecossistema (ONU, 1986). Ainda dentro desse pensamento, temos que pós a conferência de Estocolmo, a Estratégia de Conservação Mundial[6]foi um dos documentos de maior importância que ajudou a redefinir o ambientalismo.
O conceito de desenvolvimento sustentável surge como resultado da Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU), no relatório Nosso Futuro Comum (Our Commo Future). Esse conceito permanece até os dias atuais e é definido como: O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem as suas. A sustentabilidade, por assim dizendo, implica numa severa mudança nas relações sociais, políticas, econômicas ecológicas e culturais. Ou seja, é a segunda maior metamorfose por qual passa o modelo capitalista de ser, a primeira foi à perda da liberdade, laissez faire[7]na década de 30.
2.2 - Integração das visões de sustentabilidade
Até a década de noventa, crescimento e desenvolvimento eram encarados como indissoluvelmente conectados, não sendo considerada a possibilidade de se desenvolver sem crescer. Contudo, enquanto, para as economias do Norte do planeta, essa equação vinha sendo administrada pela cartilha da ortodoxia neoclássica, segundo a qual a regulação da economia é tarefa do equilíbrio entre a oferta e a demanda, nos países do Sul, o estado de pobreza crônica da população requereu a criação de instrumentos econômicos e institucionais para sua recuperação[8]
Conforme mencionado pela autora, o problema crescimento verso desenvolvimento não estava sendo debatido de forma clara, estando apenas implícitos nos debates empresariais sobre responsabilidade social. Algumas empresas passaram a discutir esse cenário de forma um pouco mais intenso, motivados à priori pela urgência em minimizar os efeitos das emissões de gases na atmosfera e seus impactos na mudança climática. Contudo, existem inúmeras definições e correntes teóricas sobre desenvolvimento sustentável, bem como visões distintas no meio empresarial. Alguns empresários, como o notório Stephan Schmidheiny (Empresário suíço fundador do WBCSD[9]essa convenção tem sido responsável pela deflagração de novos valores morais e éticos, no sentido de humanizar as empresas frente a sociedade, por outro lado tem-se pensadores como KOTLER[10]que apregoa a estas ações apenas uma jogada de marketing comercial.
É fato, que a forma de compreensão das empresas sobre o desenvolvimento sustentável está bastante ampliada. O meio ambiente adquiriu prestigio, principalmente entre as multinacionais, e tem sido apoiado pelas funções centrais das empresas, tais como Departamento de pesquisa, relações públicas, marketing e financeiro, merecendo em muitos casos uma gerencia ou diretoria. Contudo, o diálogo entre as organizações ambientais e o setor produtivo apenas recentemente vem adquirindo caráter de parceria, conceitual e operacional. É comum a empresa cumprir apenas o que determina a legislação ficando no que se denomina pejorativamente de esverdeamento. O ideal seria extrapolar o marco regulatório, desenvolvendo procedimentos destinados a facilitar a interação social, consolidando uma nova modalidade de gestão empresarial baseada em princípios de responsabilidade socioambiental. Isto posto, essa nova realidade empresaria terá, no gerenciamento, das relações com a sociedade e o meio ambiente sua principal fonte de vantagem competitiva, pressupondo que a instituição e uma organização dinâmica e que está sempre aprendendo PORTER (1999) [11]e que tem uma compulsão estrutural ao crescimento.
No processo de conversão à sustentabilidade, são desenvolvidas duas fases marcantes: a que disseminava o conceito de eco-eficiência[12]e a da institucionalização das mudanças organizacionais provocadas pela aplicação de tecnologias sustentáveis, tanto no plano da produção quanto na relação com os stakeholders[13]Contudo, o principal obstáculo à adoção a gestão ambiental estava na concepção dominante de que meio ambiente e lucro andavam em lados opostos. Tinham em mente que implementando gestão ambiental reduzia lucro e obrigava a
repassar custos para os consumidores finais, elevando o preço dos produtos. Tal fato devia-se ao elevado custo das tecnologias ambientais em virtude de não estarem tão disponível. No entanto, ficou evidente que as tecnologias ambientais tinha um potencial de reduzir custos através de uma melhor racionalização dos processos produtivos, em especial o a redução dos desperdícios. Portanto, é presumível que a ecoeficiência se traduz como o uso mais eficiente de materiais e energia, a fim de reduzir os custos econômicos e os impactos ambientais.
2.3 - Sustentabilidade no mundo dos negócios
Ao longo da década de oitenta, o que determinava quão êxito teve a administração de um negócio era só olhar o balanço patrimonial desse. Ou seja, tinha-se um retrato estático do que gerava valor para os acionistas da empresa. Sendo assim, o único público relevante para a gestão de uma empresa eram os acionistas e clientes, não contemplavam a estratégia da visão de stankeholdrs.
Na década seguinte, diversos fatores levaram as empresas a constatarem que aspectos como educação e bem estar social da sua força de trabalho, antes responsabilidade do Estado, não seria administrado de forma a garantir seu crescimento sem sua participação mais efetiva. Juntamente a essa discussão expande cada vez mais a consciência ambiental, devido à redução de recursos naturais disponíveis, o que aflora uma demanda crescente por transparência com relação aos impactos causados pelo mundo empresarial e, conseqüentemente, por medidas minimizadoras desses impactos.
A noção de cidadania e os direitos coletivos, por sua vez, são redefinidos e ganham novas formas de expressão. Com isso a sociedade civil organizada, por meio de mobilização, adquire novos direitos que as empresas têm que cumprir por força de lei. A junção desses novos elementos, o social e o ambiental, faz com que evolua naturalmente vez que potenciais riscos ambientais podem representar ameaças diretas ao ecossistema e as comunidades que dele dependem. Isto, por conseguinte, gerará novos riscos legais, econômicos e de imagem para a empresa. Nesse contexto, surge o conceito formal de Responsabilidade Empresaria, que inclui em seus públicos de relacionamento os funcionários, os prestadores de serviço, os fornecedores, a comunidade, o governo e o meio ambiente; além dos já existentes anteriormente, acionistas e administradores. Sendo assim, essa nova visão exige repensar todo o planejamento estratégico da empresa, direcionando parte do valor agregado para esses públicos.
No novo contexto, a busca de excelência precisa objetivar a qualidade das relações e a sustentabilidade nos negócios sob os aspectos econômicos, social e ambiental. Dessa forma, chegamos ao conceito de Responsabilidade Socioambiental (RSA), também denominado pelo instituto Ethos (2007) como responsabilidade social empresarial. (RSE):
É a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis como desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais[14]
Não podemos confundir filantropia empresarial com responsabilidade empresarial. A filantropia é basicamente uma ação social externa da empresa, e seu objetivo é beneficiar a comunidade a sua volta de diversas formas (conselhos comunitários, paisagismo de praças, associações comunitárias, etc.). No entanto, a responsabilidade socioambiental se distingue por ser um conceito mais amplo, e está focado na cadeia de negócios da empresa e o público de maior relacionamento. Em síntese, a filantropia está compreendida na relação entre a empresa e a comunidade que a envolve. Por sua vez, a responsabilidade socioambiental, além da comunidade, também diz respeito a uma relação ética da empresa com funcionários, fornecedores, acionistas, clientes, concorrentes, dentre outros.
Como pontos fundamentais[15]para atuação de uma empresa socioambientalmente responsáveis temos:
Zelar para que seus produtos e serviços, além de atender às expectativas dos clientes, dos colaboradores e dos acionistas, não agridam o meio ambiente ou a saúde de seus consumidores;
Evitar, em sua produção, o consumo descontrolado e exagerado de recursos naturais e a exploração de mão de obra infantil;
Valorizar seus trabalhadores e colaboradores, inclusive com políticas de equidade de gênero e inclusão de pessoas com deficiência no mundo do trabalho;
Incentivar parceiros e fornecedores a assumirem compromissos socioambientais;
Relacionar-se com a concorrência tendo sempre presente a lealdade na competição.
Desse modo a organização desperta para a necessidade de se engajar com os demais atores sociais - sociedade civil, governos, outras empresas -, na busca de soluções para o desenvolvimento sustentável.
Dentro dessa ótica, a responsabilidade socioambiental torna-se de tal relevância que exige mudança de postura das empresas tradicionais. Visto que, nos grandes centros econômicos do mundo se formam organismos que começam a mensurar a integração dos fatores econômicos, sociais e ambientais. Uma dessas organizações é o índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI), o primeiro a considerar a performance socioambiental das empresas. Logo em seguida teremos as normas e certificações e Selos, sendo, em alguns países, pré-requisitos para que um produto ou serviços entre em seus domínios.
2.3.1 - Aliança entre Governo, Empresas e Sociedade Civil
Como mencionado anteriormente, para se cumprir as estratégias na busca de uma realidade mundial sustentável, é percebido que tal intento não se dará de forma isolada, solitária. É necessário um esforço coletivo todos os atores desse processo, ou seja, as três esferas de governo - Federal, Estadual e municipal - bem como as empresas e a sociedade civil. Principalmente porque nessa luta todos são beneficiários das mudanças de padrão econômico. O que se deve ter em mente nessa orquestração é que se estabeleça os papéis de cada participação sem se limitar a busca de hierarquia entre os envolvidos.
Sendo muitos os desafios, cabe ao Estado destacar-se no papel de articulador e propulsor dos projetos. O meio empresarial deve ampliar seu capital de forma a criar maiores condições para investimentos provados nos serviços essenciais e se articulando com as esferas de governo. A sociedade civil organizada caberia as ações básicas de promoção e efetivação dos projetos.
Tomando como exemplo a educação, o desafio seria a prioridade na elevação do capital humano. Essa proposta impõe a ação conjunta da sociedade complementando o papel do Estado. A sociedade civil teria o campo de atuação as ações de erradicação do analfabetismo de jovens e adultos, a complementação escolar e a capacitação de formadores e agentes. Ao setor empresarial caberá criar estímulos e contribuições tributárias favoráveis para o aporte de recursos.
A nova relação tem como destaque o papel do setor empresarial, tendo em vista o fato de que sempre se mostraram avessos as questões socioambientais. A mudança desse perfil, que vai além da responsabilidade social, prevê o crescimento do potencial empresarial, propicia grandes transformações favoráveis ao meio ambiente e cria oportunidades de negócios. Tal como os investimentos nos processos de reciclagem e limpeza, engenharia de tecnologias limpas e a indústria de medição e controle.
Em consonância com esse novo paradigma, o mercado financeiro defronta-se com um novo tipo de investimento, o socialmente responsável. Uma alternativa de aplicação que leva em consideração aspectos sociais e ambientais no processo de tomada de decisões. Ou seja, o modelo de gestão, os métodos de produção e os próprios produtos desenvolvidos devem seguir o modelo da sustentabilidade sem, contudo, comprometer os rendimentos da empresa.
2.3.2 - As instituições financeiras e a responsabilidade socioambiental
A princípio, a única preocupação das instituições financeiras com a questão ambiental se restringia a evitar responsabilidade legal a danos causados ao meio ambiente por bens recebidos em garantia de empréstimos. Contudo, nos moldes atuais, a administração de riscos como essência no negócio financeiro, passa a incorporar a análise socioambiental como redução de incertezas dentro das instituições. As que mais avançaram nesse processo foram as seguradoras multinacionais. A lógica dessa mudança reside no fato de aumento da incidência de desastres naturais, boa parte devido a mudanças climáticas globais, ter impactado financeiro direto para elas.
Os bancos comerciais, no entanto, o processo de incorporação do pensamento sustentável foi, em grande parte, por pressão da sociedade e por perdas oriundas de questões associadas a problemas advindos de demandas socioambientais. Dessa forma, os riscos ligados a esses assuntos passaram a ser determinantes nos negócios, devido ao fato de que a gestão inadequada pode causar perdas financeiras e de imagens permanentes. Contudo, os bancos passaram a acreditar que o que é bom para o social e o meio ambiente pode ser muito bom para os negócios.
Em meio a essa metamorfose, são estabelecidos princípios que nortearão os grandes investimentos, os princípios do Equador. Tais conjuntos de compromissos tem caráter voluntário, e segue os parâmetros do International Finance Corporation[16]- IFC. Apesar do caráter voluntário o conjunto de compromisso se mostra como uma ferramenta importante na implantação de melhores práticas, despertando interesse por parte dos bancos mundiais em termos de incorporação de novas tecnologias e engajamento socioambiental, fazendo com que o financiamento de grandes projetos seja desenvolvido de forma a refletirem boas práticas na gestão das relações socioambientais.
Vemos atualmente, que a discussão em torno das finanças sustentáveis tomou um movimento que busca a atuação do sistema financeiro com uma visão mais ampla constituído o tripé da sustentabilidade, os investimentos devem ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correta. Essa visão repercute tanto no que se refere aos impactos diretos de sua atuação direta - relacionamentos com público interno e criação de códigos de conduta - como de indireta - gestão de impactos potenciais de seus clientes e oportunidade de inovação.
Os desafios das instituições financeiras para consolidação do movimento de finanças sustentáveis são:
Inclusão bancária, bancarização através de microfinanças;
Desenvolvimento de políticas de credito socioambientais, tal qual os project Finance;
Inovação de serviços e produtos que atendam a sociedade e o meio ambiente;
Capacitação do público interno fomentando o engajamento de todos.
Os principais bancos brasileiros são signatários de diversos princípios e práticas relativo ao pensamento de finanças sustentáveis. Os bancos oficiais - Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Estado da Amazônia, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste e Banco Central do Brasil - firmam o protocolo verde, uma carta de princípios para o desenvolvimento sustentável, incluindo a apreciação da variável ambiente no deferimento de credito. O Banco do Brasil passa a divulgar seu Balanço Social. O Banco do Brasil apóia o seguimento de alimentos orgânico no Brasil, com o programa BB Produção Orgânica. A corretora do Unibanco lança um serviço de pesquisa para investimentos socialmente responsáveis (fundos SRI). As instituições financeiras brasileiras aderem ao principio do Equador e o Banco do Brasil torna-se membro do Comitê Brasileiro do Pacto Global. O banco Itaú lança o Fundo Itaú de Excelência Social. Acontece o lançamento do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).
Como visto as instituições financeiras passaram de vez para o lado social e ambiental. Muita coisa já está sendo feita, mas há muito que se fazer. Os próximos desafios dessas instituições não são poucas, e para que possa ampliar melhores práticas e garantir que esse processo traga bons negócios, a indústria financeira precisa manter os investimentos e o foco.
2.3.3 - Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS)
O conceito de desenvolvimento ainda é tratado como sinônimo de crescimento, inclusive por órgãos governamentais. Entretanto, nas ultimas décadas o conceito vem sendo relacionado mais as questões de sustentabilidade e desenvolvimento humano.
Atualmente, um dos principais indicadores de medição de desenvolvimento de um lugar PE o seu PIB – Refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico de um país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços.[17].
Com a evolução do conceito temos que a sociedade organizada - empresas, governos e sociedade civil – vêm se conscientizando de que para que o crescimento econômico possa representar efetivamente desenvolvimento, deve vir acompanhado de melhorias na qualidade de vida das pessoas, com redução de desigualdades sociais e maior respeito ao meio ambiente.
Para autores como Sérgio Buarque (2002), o desenvolvimento sustentável é um processo que leva a um contínuo aumento da qualidade de vida, combinado com a conservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Para Tânia Zapata (2007), o desenvolvimento regional representa uma estratégia intencional dos atores de uma localidade no sentido de promover mudanças para melhorar a qualidade de vida da população. Objetiva construir um modelo de desenvolvimento com mais participação, eqüidade social e sustentabilidade ambiental, a partir das potencialidades e vocações produtivas locais.
Em síntese, uma região não pode ser classificada como desenvolvida somente porque produz muita riqueza. Para se mensurar desenvolvimento, atualmente, utiliza-se os índices de desenvolvimento humano (IDH) ou o índice de Gini.
O IDH passou a ser adotado pela ONU em 1993, como parâmetro de classificação dos países membros, obedecendo os seguintes critérios:
De 0 até 0,4999, é considerado como baixo desenvolvimento;
De 0,5 até 0,799, é considerado médio desenvolvimento;
De 0,8 até 1,00, é considerado alto desenvolvimento.
O Coeficiente de Gini é utilizado para calcular a desigualdade na distribuição de renda de uma região, desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini. Sua escala também varia de zero a um. A diferença principal entre esse índice e o IDH, e que quanto mais próximo de zero estiver o Coeficiente de Gini melhor estará a situação da região, ou seja, sua distribuição da renda.
O desenvolvimento sustentável possui caráter estratégico, com perspectiva de médio e longo prazo. Trabalha com a estruturação de atividades produtivas, com a visão de cadeia de valor, ou seja, pressupõe constante retroalimentação em seus processos de desenvolvimento sustentável. Ou seja, todo processo de implantação da estratégia negocial DRS, baseia-se em cinco visões: negocial, de futuro, de abrangência, de cadeia de valor e participativa.
Falar em desenvolvimento sustentável no meio empresarial é falar na geração de negócios num mundo cada vez mais exigente, onde se observa um nível crescente de conscientização pela conservação do planeta, pelo aumento da justiça social e pelo respeito à diversidade cultural. Sendo assim, a estratégia DRS tem este desafio: estruturar cadeias produtivas de forma a torná-las economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas, respeitando e valorizando a cultura local.
No capitalismo moderno a acumulação de riquezas é a base para o seu funcionamento. No entanto, esse funcionamento, dito sistema de produção, sofre mutações por não ser estático. Ao perpassar pelas literaturas econômicas até aqui discriminadas, fica fácil perceber tais circunstâncias, vez que muitas são as argumentações teóricas que formam o arcabouço da história do pensamento econômico. Contudo, buscamos na confecção desse trabalho entender as mudanças dos paradigmas do capitalismo e sua constante metamorfose.
Vimos no primeiro capitulo que o sistema produtivo na era medieval tinha uma relação social e ambiental característica. Não dá para afirmar que era melhor nem pior do que encontrado nos dias atuais, o que se pode afirmar é que foi diferente. A relação de trabalho era de escravatura, mesmo sendo um escravo que não necessitava de castigos nos troncos. Contudo, não se tinha noticias de fome nem degradação acentuada da natureza, até mesmo porque não se verificou um tratamento de descaso, ao contrário, percebeu-se que existia uma dependência do camponês em relação as coisas naturais, pois sua alimentação tinha uma relação direta com o plantar/colher. Evoluindo para o capitalismo industrial, começamos o processo de exploração capitalista, e a intensificação do uso dos recursos humanos e naturais. A princípio se pensava em recursos naturais infinitos. De certo que a abundância de terras inabitadas e florestas virgens contribuíam para esse pensamento. O crescimento das Cidades foi um dos fatores, que segundo Leo Huberman, trouxe uma liberdade ilusória para o camponês. Acreditava que se tornando assalariados nas pequenas oficinas seriam livres, doce ilusão.
O progresso das Cidades contribui de forma contundente para o pensamento capitalista clássico. Como boa parte da população se desloca para um lugar que não tem campo para plantar, não tem riacho para pescar lhes propiciariam o desenvolvimento do comércio. Para atender a essa demanda as oficinas viram fabricas, e com isso os recursos para a produção crescem de maneira vertiginosa e, por conseguinte, a degradação das relações sociais e ambientais.
Nas revoluções industriais do século XVIII e XIX, os meios de produção ganham novas tecnologias e tem-se em mente o aumento de produtividade como forma de atender a uma demanda cada vez mais crescente, imposta pela sociedade do consumo. Com a evolução tecnológica e aumento da produtividade temos, nas relações sociais e ambientais, dois movimentos distintos. Com o uso das máquinas se necessitava cada vez menos de mão de obra humana, rendendo para os trabalhadores o legado do desemprego piora na sua condição de vida e a fome. Em sentido oposto, o meio ambiente passa a sofrer um desgaste mais acentuado devido à crescente utilização de recursos naturais, as máquinas processam maior quantidade de matéria prima e em maior velocidade.
O capitalista está cada vez mais rico. Contudo, seu descaso com as variáveis sociais e ambientas começa a lhe trazer transtornos. Os desempregados se aglomeram em grandes bolsões de pobreza, ganham a marginalidade e aprisionam os capitalistas em suas mansões, ou seja, os marginais andam livremente por aí enquanto os capitalistas são reféns do seu próprio capital, não tendo o mesmo direito de locomoção. Não é raro nos deparamos com construções de condomínios fechados para se protegerem das mazelas que eles mesmo criaram, ou mesmo terem que saírem cercados de seguranças, tentando se protegerem das pessoas que eles desprezam e relegam a condições sub-humana. Da mesma forma o meio ambiente começa lhe cobrar a falta de cuidado. O ar que se respira não é mais o mesmo, aquela frescura de outrora ganha componentes químicos pesados que vai direto para os pulmões, quer seja do capitalista ou do desvalido. Os dias ficam mais quentes. A camada de ozônio não filtra mais os raios ultravioletas, e isso causa câncer de pele. O calor mata aqueles que não se acostuma com essa nova realidade, e isso não é privilégio de pobre.
No entanto o capitalismo não aceita barreiras(Kalleki) ao seu crescimento. Quando se depara com situações em que coloca em xeque a sua existência, busca formas rápidas de se adaptar. Essa capacidade de se metamorfosear que transforma esse sistema cada vez mais duradouro e mais complexo.
Ao término desse trabalho fica a reflexão de qual o papel que temos nesse emaranhado de coisas. Também nos leva a pensar; para onde caminha a humanidade? E qual o planeta que queremos? O que deixaremos para os nossos filhos e netos? Bem como que atitudes devemos ter para tornar o mundo habitável por mais tempo?...
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Autores:
Amelia Terezinha Soibert
Jerry Furtado Sarmento De Oliveira
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇAO DE AFONSO CLÁUDIO
VITÓRIA/ES
2011
Monografia apresentada ao Instituto Superior de educação de Afonso Cláudio, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão Ambiental.
Profª Orientadora Maurizete Pimentel Loureiro Duarte
[1] HUBERMAN , Leo . História da Riqueza do Homem . RJ. : LTC Editora , 1986.
[2] Segundo o dicionário aulete digital, choça é uma espécie de cabana, casa pequena e simples, feita de ramos de árvores ou de colmo - caule típico de gramíneas.
[3] Isto posto devido ao fato dos muçulmanos, logo em seguida, terem retomado o reino de Jerusalém.
[4] A foz de um rio.
[5] A teoria desenvolvida pelo clube de Roma chamava-se teoria do crescimento zero, e defendia o pensamento de que os países parassem de crescer e voltasse ás atenções para a resolução dos impactos ecológicos causados pelo desenvolvimento.
[6] Esse documento reconheceu que a abordagem dos problemas ambientais demandaria um esforço em longo prazo e a integração dos objetivos ambientais com aqueles relacionados com o desenvolvimento.
[7] Representa um princípio defendido pelos economistas mais liberais e que defende que o Estado deve interferir o menos possível na atividade econômica e deixar que os mecanismos de mercado funcionem livremente. Na opinião dos economistas clássicos, entre os quais Adam Smith o papel do Estado na economia devia limitar-se á manutenção da lei e da ordem, á defesa nacional e á oferta de determinados bens públicos que o sector privado não estaria interessado (saúde pública, saneamento básico, educação, infra-estruturas de transporte, etc) (Sandroni, Paulo, dicionário de economia.).
[8] (VINHA, Valéria da. MBA executivo de finanças COPPEAD -UFRJ. 2010. Apostila da disciplina Responsabilidade Socioambiental oferecido pelo COPPEAD - UFRJ.
[9] WBCSD - World Business Council for Sustainable Development ( Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável).
[10] (KOTLER, P. Administração de Marketing. 10ª ed. São Paulo: Pearson. 2000.)
[11] (PORTER, Michael E. Competição: Estratégias Competitivas Essenciais. Tradução por Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro. Campus. 1999)
[12] O termo eco-eficiência foi introduzido em 1992 por WBCSD - World Business Council for Sustainable Development (Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável) e sua estratégia baseia-se no que se convencionou chamar de 3Rs: Reduzir (escolher o que é essencial para a minha vida e diminuir o consumo), Reutilizar (usar um produto de várias maneiras e várias vezes) e Reciclar (transformar, criar e renovar). Disponível em
[13] Em português significa as partes interessadas, é um termo muito utilizado nas áreas de administração, gestão estratégica e governança corporativa. Foi utilizado pela primeira vez pelo filósofo Robert Edward Freeman.
[14] INSTITUTO ETHOS de Responsabilidade Social Empresaria. Disponível em:
[15] Esses pontos fundamentais estão em consonância com os princípios no pacto global - Uma iniciativa voluntária de cidadania empresarial - , lançado pela ONU em janeiro de 1999.
[16] é uma organização internacional vinculada ao Banco Mundial. Sua missão é promover investimentos sustentáveis do setor privado nos países em desenvolvimento, ajudando a reduzir a pobreza e a melhorar a vida das pessoas. (disponível em
[17] SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de economia. [S.I.] : Best Seller, 1999.
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