Este trabalho tem como objetivo encontrar relações entre os achados teóricos coletados em pesquisa bibliográfica sobre as defesas maníacas e a análise do material clínico das sessões de psicoterapia, cujo processo foi realizado na Clínica Psicológica do UniFMU durante o ano de 2006.
Afirma Klein citada por Simon (1986) que a mania é caracterizada por defesas do ego contra a persecutoriedade (angústia paranóide) e o sofrimento decorrente da constatação de ter atacado o objeto bom, do qual é dependente (angústia depressiva), e almeja a reparação deste objeto.
O ego quer se livrar da dependência dos objetos bons, contudo, na posição depressiva já está relativamente desenvolvido e já ocorre uma identificação com eles e uma separação é demasiadamente dolorida. Do outro lado é perseguido pelo objeto mau e o id, e para sair deste meio – perseguição e dependência – recorre às defesas maníacas: sentimento de onipotência, negação da realidade psíquica, domínio e controle sobre os objetos, depreciação e triunfo sobre o objeto; e/ou à reparação maníaca, tentando fugir do sentimento de perda e de culpa.
Tornar-se-á possível verificar estes sentimentos característicos da dinâmica maníaca nas páginas que seguem, viabilizados por meio da análise das sessões à luz do levantamento bibliográfico realizado.
No intuito de contextualizar as defesas maníacas, a dinâmica das suas relações com a posição esquizo-paranóide e com a posição depressiva, propomos aqui, de maneira sintética, relembrar as principais idéias que culminaram nesta conceituação, desde as primeiras impressões de Freud até a visão de autores mais atuais.
Klein em "Sobre a teoria da ansiedade e culpa" (1948) faz alusão inicial ao que Freud escreveu sobre a origem da ansiedade. Este afirmou que a ansiedade seria causada pela excitação libidinal não satisfeita, bem como a sensação de perigo experimentada pelo bebê de que suas necessidades não seriam satisfeitas devido à ausência da mãe.
A referida autora apresenta também os conceitos de Freud com relação à culpa, uma vez que para ele, esta seria oriunda do complexo de Édipo. Porém, demonstra através de suas pesquisas que o autor em alguns momentos pontua a culpa como característica de estágios anteriores, como expressão da ambivalência, um conflito por ele descrito como inato, que surgira da luta entre as tendências de amor e de morte.
Freud diz que a culpa só poderia ser originada da frustração se o fosse de maneira indireta, através da agressividade dirigida contra quem obstaculizou a satisfação. Freud afirma, portanto, que a culpa provém da agressividade – hostilidade dirigida a um objeto amado que frustrou, daí a culpa. Porém, tomando uma concepção de Freud como um todo, fica claro que manteve a hipótese de que a culpa se inicia do complexo de Édipo.
Abraham citado por Klein (Klein, 1948), aponta que o processo de superação dos impulsos canibalescos está intimamente associado a um sentimento de culpa que vem para primeiro plano como um fenômeno inibitório típico, pertencente ao terceiro estágio (primeiro estágio sádico-anal).
As teorias de Abraham corroboraram com o trabalho de Klein e suas descobertas em análises de crianças pequenas. Ao analisar as situações de ansiedades infantis, Klein destacou a importância fundamental das fantasias e impulsos sádicos que se apresentam nos primeiros estágios do desenvolvimento. Destacou os processos iniciais de projeção e introjeção que conduzem ao estabelecimento, dentro do ego, de objetos extremamente "bons", lado a lado com objetos extremamente assustadores e persecutórios. Essas figuras são concebidas à luz de fantasias e impulsos agressivos do próprio bebê; isto é, ele projeta sua própria agressividade nas figuras internas que fazem parte de seu superego arcaico. À ansiedade proveniente dessas fontes acrescenta-se a culpa derivada dos impulsos agressivos do bebê contra seu próprio objeto amado, tanto externo quanto internalizado. Cabe aqui acrescentar que conforme esclarece Simon (1986), a projeção que o bebê faz na posição esquizo-paranóide seria algo como um "para muito distante de mim", uma vez que ainda não se encontra definida a noção de eu e não-eu (e até dentro e fora) no bebê.
Em trabalhos posteriores, Klein conclui que as primeiras defesas do ego se dirigem contra a ansiedade suscitada pelas fantasias e impulsos agressivos. Mais tarde ela, levando em consideração as hipóteses de Freud referente à luta entre as pulsões, propôs a visão de que a ansiedade seria despertada pelo perigo proveniente da pulsão de morte que ameaça o organismo (medo de morte). Freud porém, segundo ela, não considera que exista no inconsciente qualquer conteúdo ao conceito de aniquilamento da vida. Sendo isso considerado análogo ao temor da castração.
Página seguinte |
|
|