Validade da aferição da acuidade visual realizada pelo professor em escolares de 1a à 4a série de primeiro grau de uma escola pública



(do município de São Paulo, Brasil)

1. Resumo

Trata-se de avaliação da medida da acuidade visual pelo professor, comparativamente àquela efetuada pelo médico-oftalmologista, utilizando-se ambos da tabela optométrica de Snellen. Éste estudo foi realizado em decorrência do Plano de Oftalmologia Sanitária Escolar (POSE), em desenvolvimento no Estado de São Paulo, que atinge escolares de 1ª série, classe especial e pré-primário das escolas estaduais de 1º grau, onde a atuação dos professores constitui fator básico da programação, principalmente no seu aspecto educativo e na verificação da acuidade visual. Foram testados 1.352 escolares de 1ª a 4ª série de 1º grau de um estabelecimento de ensino do município de São Paulo (SP) em 1975. Encontrou-se uma concordância de resultados em 80,86% dos casos. Com a diferença de 2 linhas entre os resultados do professor e do médico, constataram-se 122 casos (9,02%) e, com a diferença de 3 linhas, 54 casos (3,99%). À medida em que se consideravam diferenças maiores, decrescia progressivamente o número de casos discordantes encontrados. Observou-se que, à medida em que aumentava a desigualdade de aferição entre o professor e o oftalmologista, isto se verificava em ambos os olhos, o que evidencia uma dificuldade de interpretação daquelas crianças para responder o teste. Considerou-se altamente válida a aplicação do teste de acuidade visual pelo professor devidamente treinado, com a finalidade de triagem a nível de escola, como um dos aspectos para identificar alunos necessitados de exame médico-oftalmológico.

Unitermos: Oftalmologia sanitária. Acuidade visual, teste e medida. Saúde Escolar.

2. Abstract

The Sanitary Ophthalmology School Plan is in process in the State of S. Paulo, Brazil. It includes 1st grade primary school children, special classes and kindergarten of the government schools. The teachers play an important part in the programme as to the educational aspect and the visual acuity screening. This report presents an evaluation of the visual acuity test done by the teacher in comparison with the one carried out by the ophthalmologist. Both of them make use of the Snellen optometrical table. 1352 first to fourth-grade children from a primary school in the county of S. Paulo in 1975 were tested. Results were concordant in 80.86% of the cases. In 122 cases (9.02%) there was a difference of 2 lines in the results obtained by the teacher and the eye doctor; in 54 cases (3.99%) there was a difference of 3 lines. As greater differences were checked, the number of cases progressively decreased. This fact occurred as regards both eyes, showing a failure of those children in responding to the test, probably due to their difficulty of interpretation. The application of the visual acuity screening by a well-trained teacher is valid, as one of the ways of detecting school children who need eye examination.

Uniterms: Sanitary ophthalmology. Visual acuity, screening and test. School Health.

3. Introdução

A importância dos problemas visuais como causa de dificuldades no rendimento escolar levou, há mais de 30 anos, ao estabelecimento de programas de testagem de acuidade visual nas escolas americanas (Sloane8, 1960).

Toda criança deveria passar por um exame oftalmológico ao ingressar na escola; na impossibilidade disto, cabe à escola tentar, com o melhor material ao seu alcance, detectar possíveis problemas oculares e comunicá-los aos pais (Scobee7, 1950).

No Estado de Michigan, USA, desde 1968, é obrigatório, por lei, a toda criança um exame oftalmológico quando do ingresso a qualquer escola pública, privada ou paroquial; além dos atestados de vacina, deve ser apresentado no ato da matrícula o atestado de exame ocular. Além disso, foi criado um comitê com participação de oftalmologistas para funcionar como assessoria ao Secretário de Saúde no desenvolvimento dos programas de oftalmologia sanitária (Henderson3, 1969).

Os métodos para a triagem de acuidade visual devem ser tais que possam ser efetuados por pessoas não especialistas, sendo breve, simples, econômico e eficaz, objetivando indicar a necessidade de cuidado oftalmológico especializado. Todas as crianças que apresentem dificuldade de leitura, defeitos oculares óbvios ou sintomas sugerindo desconforto ocular, devem ser encaminhadas para exame especializado, independentemente do resultado do teste de acuidade visual (Sloane8, 1960). Destaca ainda o mesmo autor que a eficiência do método só pode ser medida por comparação de seus resultados com os obtidos pelo oftalmologista examinando o mesmo grupo de crianças.

Encontra-se em desenvolvimento desde 1973 no Estado de São Paulo, o Plano de Oftalmologia Sanitária Escolar (POSE), atingindo escolares de 1a série do 1o grau, de pré-primário e de classe especial da rede de ensino oficial estadual. Esta programação de saúde escolar tem como um dos elementos-chaves o professor, tanto no desenvolvimento dos aspectos educativos, como na aplicação do teste de acuidade visual (TAV) nos escolares.

O POSE6 propõe que esta tarefa seja executada pelo professor, por ser o profissional que se encontra em contato direto com a criança, numa organização institucional sistematizada, como é a escola, portanto, de mais fácil aglutinação para treinamento e orientação. A posição do professor reveste-se de capital importância junto a faixa etária escolar, quer na identificação de possíveis problemas oculares, quer na sua atuação educativa junto ao aluno e à família.

O Serviço de Saúde Escolar (atual Departamento de Assistência ao Escolar), desde a sua criação, procurava realizar o atendimento de problemas oftalmológicos dos escolares das quatro primeiras séries, dos estabelecimentos de ensino da rede estadual.

Entendendo o professor como elemento-chave na detecção de problemas visuais do escolar, a partir de 1960, o Serviço de Saúde Escolar, através dos seus educadores sanitários, incrementou a orientação de professores da rede estadual de ensino, quanto à testagem de acuidade visual dos escolares, encaminhamento a exame oftalmológico dos casos suspeitos e controle dos casos detectados.

A partir de 1973 este trabalho foi sistematizado através do POSE6, dando-se maior ênfase aos aspectos educativos de prevenção e estabelecendo-se critérios de encaminhamento do aluno para exame médico-oftalmológico.

O presente trabalho se propõe a avaliar a eficácia da medida da acuidade visual pelo professor, a nível de escola, uma vez que isto vem sendo realizado sistematicamente na rede de ensino estadual oficial do Estado de São Paulo, conforme recomendação do POSE6.

4. Material e métodos

Para verificar a concordância ou não dos resultados da aplicação do teste de acuidade visual obtidos pelo professor, devidamente treinado, e pelo oftalmologista, foi pesquisada uma população escolar de 1400 alunos, na faixa etária de 6 a 15 anos, de pré-primário, classe especial e de 1a a 4a série de 1o grau da Escola Estadual de 1o Grau Cel. Domingos Quirino Ferreira, no municipio de São Paulo. Nessa escola os professores aplicam, anualmente, como rotina o teste em seus alunos, como preconiza o POSE6*.

Toda a população de escolares já havia sido testada e retestada pelos professores na ocasião do sorteio da unidade escolar.

Para a execução da presente pesquisa, foi constituída uma equipe de quatro oftalmologistas e duas educadoras sanitárias. Foi elaborada uma ficha para registro de todos os dados necessários.

A atuação das educadoras sanitárias dirigiu-se para o esclarecimento sobre o trabalho às autoridades de ensino da região e da escola, orientação aos professores quanto à natureza do exame, ao fichamento dos alunos, ao preparo dos alunos e pais, e providências relativas à organização funcional da escola, visando a não interrupção das atividades escolares normais.

Os escolares foram testados e retestados pelos oftalmologistas, dentro da própria escola, utilizando-se estes, da mesma forma que os professores, da técnica de aplicação do teste de acuidade visual preconizada pelo POSE6.

A população escolar pesquisada reduziu-se a 1352 escolares, devido à falta de registro de dados da acuidade visual pelo professor, em 48 casos, o que impedia a comparação de resultados.

Considerou-se como não significativa a diferença de uma linha, na tabela optométrica de Snellen, entre os resultados obtidos pelo professor e pelo oftalmologista, porque se considera como normal a diferença de uma linha quando há mudança de aplicador.


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