Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
5. Aditivos
O demais aditivos (acidulante, regulador de acidez, antiespumante, antioxidante, aromatizante, corante, conservador, emulsificante, espessante, estabilizante, realçador de sabor, espumante, umectante, seqüestrante, antiumectante, antiaglutinante obedecem a Resolução nº 389, de 05 de agosto de 1999, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, um Regulamento Técnico que aprova o uso de aditivos alimentares, estabelecendo suas funções e seus limites máximos para a Categoria de Alimentos 16: Bebidas - Subcategoria 16.2.2. Bebidas não Alcoólicas Gaseificadas e Não Gaseificadas.
Dentre os componentes dos refrigerantes, a cafeína das bebidas tipo cola mereceu maior atenção da literatura. O objetivo da adição da cafeína em refrigerantes é o de aumentar o sabor ou paladar. Apesar de que no mercado norte-americano existam vários refrigerantes com opção de não possuírem cafeína na composição, a quantidade média da mesma em um refrigerante do tipo cola é de aproximadamente 35 mg/lata de 350 ml. Devemos lembrar que um cafezinho (xícara de 50 ml) contém aproximadamente 100 mg de cafeína.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.
** Ingestão diária aceitável
*** quantum satis
A metanálise foi usada em resultados de diferentes estudos do efeito da cafeína sobre eventos da gestação humana, particularmente peso ao nascer e duração da gestação. Essa metanálise(6) mostrou que os efeitos do consumo de cafeína durante a gestação, sobre o peso e a idade gestacional ao nascimento, são quantitativamente muito inconsistentes para daí se derivar um resumo estimado válido. Dos resultados obtidos, ficou evidente que a informação disponível sobre o efeito da cafeína nos eventos da gestação é incompleta e permanece controversa e que a medida da exposição à cafeína é um assunto que requer abordagem mais profunda em pesquisa futura.
Os possíveis efeitos ergogênicos da cafeína sobre a performance do exercício têm recebido grande número de estudos. Entretanto, ainda há controvérsias a respeito das condições sob as quais a cafeína é capaz de modificar a performance, bem como seus possíveis mecanismos de ação, em função da falta de padronização entre os vários procedimentos experimentais. Além disso, a ação da cafeína depende do tipo, intensidade e duração do exercício, do estado nutricional e do treinamento, da dose de cafeína, das condições ambientais e das variações individuais(7,8).
Um dos estudos relata que o efeito ergogênico da cafeína (5 mg/kg peso corporal) sobre o tempo de resistência ocorre quando o exercício é realizado abaixo do limiar anaeróbio (intensidade em watts correspondente à concentração de 4 mM de lactato). Neste caso, a cafeína aumentaria o triacilglicerol intramuscular e/ou ácidos graxos livres extramusculares, podendo haver economia de glicogênio (efeito Randle), o que retardaria o início da exaustão(9). Para exercícios realizados acima do limiar anaeróbio, o aumento de suprimento de ácidos graxos livres causado pela cafeína provavelmente não acarreta nenhum benefício ergogênico, porque a utilização desse substrato a esta intensidade é pequena(10). Além disso, a exaustão não parece ocorrer por causa da depleção das fontes de glicogênio. Alguns estudos relataram economia de glicogênio muscular, durante exercício de resistência, após ingestão de cafeína(11,12).
Outro mecanismo de ação proposto é que o efeito ergogênico da cafeína acontece devido ao aumento da função neuromuscular. Essa modificação pode ocorrer com níveis plasmáticos de cafeína relativamente pequenos, 100 mM, os quais são alcançados após ingestão de somente 1-3 xícaras de café (100 a 300 mg de cafeína)(8). Esta hipótese é baseada em estudos, no Sistema Nervoso Central - SNC, que demonstraram uma reversão da depressão da transmissão sináptica adenosina-induzida pela cafeína(13). Além disso, alguns estudos têm apontado que a cafeína pode reduzir o limiar de excitação de neurônios no SNC(14). Desse modo, é possível que esses efeitos no SNC facilitem o recrutamento de unidades motoras e/ou diminuam a percepção de fadiga durante o exercício. Essas modificações podem ser responsáveis pela menor taxa de percepção do esforço, relatada na literatura(15). Como a cafeína foi capaz de diminuir essa taxa somente durante exercício realizado abaixo do limiar anaeróbio, é possível que o aumento no tempo de resistência ocorra devido à redução da taxa de percepção do esforço(9).
Resumindo, não há dúvida de que a cafeína exerce efeito ergogênico sobre a performance do exercício, embora não se tenha certeza, ainda, de qual seria o seu mecanismo de ação, dentre os vários propostos na literatura. Nota da ADA - Associação Dietética Americana, mantém o conceito de que a cafeína consumida com moderação é considerada segura para o ser humano(16).
1. Refrigerante de cola
A literatura registra uma pesquisa do efeito do consumo de uma carga aguda de cola (sem mencionar qual a quantidade) sobre os fatores de risco da urolitíase por oxalato de cálcio em homens e mulheres(17). A comparação da urina de 24 horas antes e após o consumo de refrigerante de cola mostrou aumento da excreção de oxalato em ambos os sexos; todas as outras alterações, tanto favoráveis quanto desfavoráveis para urolitíase, ocorreram unicamente em homens ou mulheres isoladamente e nunca para ambos os sexos.
O autor também especula quais dos componentes dos refrigerantes de cola poderiam estar aumentando fatores de risco urinário, em particular a hiperoxalúria. Um candidato óbvio é a sacarose. Entretanto, embora tenha sido relatado que a sacarose aumenta a excreção de cálcio e de oxalato(18), dois estudos mais recentes mostraram que a oxalúria aumenta após uma carga oral de glicose e diminui após ingestão de frutose(19), mas que nenhuma mudança ocorre após ingestão de sacarose(20). Assim, a estrutura química do açúcar parece ter influência sobre o nível de oxalúria que ele induz. Dessa forma, independente da sua composição, o consumo dessa bebida mostrou, neste estudo, causar hiperoxalúria. O autor conclui que os pacientes devem ser avisados para evitar o consumo de grandes volumes desse refrigerante quando estiverem implementando a estratégia universal de aumento de ingestão de líquidos, na vigência de litíase renal.
Inúmeros trabalhos, realizados especialmente nos países desenvolvidos, têm demonstrado aumento de consumo de energia em todas as faixas etárias, associado ao aumento exponencial da obesidade. Apesar de que não existem fatos comprovando o incremento dos índices de obesidade ao excesso de consumo de um determinado tipo de alimento, vários estudos têm trabalhado hipóteses de que o hábito de consumo de carboidratos, gorduras, energia total ou mesmo de produtos isolados, possa determinar a grande prevalência de excesso de peso em várias regiões do mundo. Sendo a obesidade uma enfermidade ou uma síndrome de origem multicausal, é extremamente difícil estabelecer um padrão claro de causa e efeito. Assim, o hábito alimentar, o aumento do sedentarismo, a excessiva inatividade derivada da modernização podem levar a riscos elevados de excesso de peso, aumento dos índices de diabetes, pressão arterial inadequada e concentrações de lipídios acima dos esperados. Estes fatores de risco estão associados a aumento de doenças cardiovasculares, a maior causa agrupada de morbidade e mortalidade nos países desenvolvidos(21).
Porém, dados de várias outras áreas e regiões menos desenvolvidas no mundo, com índices alarmantes de pobreza, mostram também aumento da incidência do excesso de peso, obesidade e risco cardiovascular, mesmo não havendo modificações substanciais no consumo de alimentos considerados de risco, como excesso de gordura e carboidratos, provenientes do consumo de fast foods (lanches rápidos). Os principais períodos de risco associados ao incremento agudo de consumo de lanches, alimentos gordurosos e refrigerantes são a infância, especialmente nos escolares e a adolescência. No entanto, refrigerantes são consumidos em todas as faixas etárias em todo o mundo, sendo que a porcentagem do consumo varia com a idade e o sexo. Dados do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos apontam que 33% do consumo de açúcar provém de refrigerantes(22).
Estatísticas analisando o consumo alimentar de adolescentes ao longo de várias décadas, em estudo realizado com apoio de uma indústria multinacional produtora de leites e derivados(23), mostram que no período compreendido entre 1989-1991 e 1994-1996 o consumo global de energia aumentou em 9%, revertendo uma tendência de queda dos últimos 30 anos. Este aumento de consumo era resultante do aumento percentual de gorduras. Em termos proporcionais, o consumo protéico e de carboidratos estava dentro das recomendações nutricionais. Estudos analisando tendências de consumo mostram que o padrão de ingestão de fibras, cálcio e folato estão abaixo do esperado para o crescimento e desenvolvimento. Baseados nestes dados, estudiosos conhecidos como o grupo liderado por Willet(24), em Boston, recomendam a suplementação vitamínica e de cálcio como uma forma segura de se adequar a necessidades nutricionais, impossíveis de serem conseguidas com uma alimentação rotineira, em determinados grupos resistentes a mudanças alimentares.
Um estudo realizado em crianças de 1 a 19 anos de idade, com inquéritos dietéticos de 14 dias, analisando diferentes grupos de 1987 até 1998, mostra o consumo médio de bebidas nos Estados Unidos, com valores de aproximadamente 1,5 litro/dia, sem modificações ao longo dos anos. O grupo preferencial de consumo foi o leite (32%), seguido pelas bebidas carbonatadas (refrigerantes) com 29% e sucos e bebidas à base de frutas (21%).Este mesmo estudo mostra que em crianças norte-americanas de um a cinco anos, o consumo de leite aumentou significativamente na última década, com diminuição do consumo de refrigerantes de 17% para 11% e aumento de seis pontos percentuais para as bebidas a base de frutas. Já para crianças maiores e para os adolescentes, o consumo de leite permanece estável, com aumento de três pontos percentuais para as bebidas à base de frutas. O consumo de refrigerantes sobe dois pontos percentuais(25).
Um dos aspectos mais notadamente descritos na literatura internacional, sem uma adequada comprovação por meio de estudos controlados, é o de que o decréscimo no consumo de alimentos-fonte de cálcio esteja sendo compensado pelo aumento de bebidas carbonatadas. Vários programas e sites da Internet repetem este fato, baseados em um único estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, que recomenda a diminuição do açúcar agregado a alimentos com o objetivo de diminuir o aumento de peso observado na população norte-americana nas últimas décadas. No entanto, este estudo apresenta uma série de recomendações que não são divulgadas com a mesma desenvoltura; assim, o aumento da atividade física, a restrição a produtos gordurosos, a diminuição de ingestão de doces e salgados, alimentos com excessiva distribuição de gorduras saturadas, são pouco citados.
Interessante estudo de Forshee e Storey, da Universidade de Georgetown, Washington, em 2001(26), mostra que, apesar de que os refrigerantes contribuírem com aproximadamente um terço do consumo energético médio dos norte-americanos, não existe qualquer associação clinicamente comprovada entre o aumento da quantidade de açúcares agregados a modificações no consumo de outros nutrientes. No entanto, crianças que consomem maiores quantidades de refrigerantes não diet consomem, também, maiores quantidades de grãos, carne vermelha e ferro. Por outro lado, elas ingerem menor quantidade de produtos lácteos, vitamina A, folato e cálcio. Os adolescentes deste estudo, com maior ingestão de açúcar agregado, ingerem maiores quantidades de grãos, ferro e vitamina C, ingerindo menos frutas.
Cremos que, se estes dados podem ser válidos para uma população típica norte-americana, com alto consumo de alimentos gordurosos, enormes porções de gordura animal e mesmo de leite e derivados, não necessariamente se aplicam a de outras populações com diferentes heranças culturais e alimentares. Não podemos, no entanto, esquecer que o consumo de alimentos vem aumentando com a chegada de multinacionais da diversão, como cinemas e parques. Assim, o tamanho da porção de batatas fritas, sacos de pipoca, salgadinhos e refrigerantes tem seguido a tendência de origem norte-americana.
Analisar que o aumento de consumo de um determinado alimento ou bebida acontece em detrimento de outro é fruto de especulação, baseada em conceitos de risco. Não é possível isolar variáveis como o tamanho da porção, o volume ingerido, a quantidade de gelo colocada em um copo de bebida e características populacionais, como o número de crianças, adolescentes e adultos que apresentam algum grau de intolerância à lactose. O consumo de alimentos lácteos e derivados, provavelmente, tem muito mais a ver com o hábito familiar do grupo populacional e da dificuldade individual de cada ser, do que com o aumento de consumo de outros grupos alimentares. Não vimos qualquer estudo que relacionasse diretamente, em perguntas direcionadas ao público-alvo, qual o motivo da não ingestão de alimentos ricos em cálcio.
A controvérsia entre diferentes autores é bastante grande. Mattes(27), em 1996, avalia por metanálise que estudos de compensação energética em resposta a modificações de energia com alimentos líquidos ou sólidos mostram que os alimentos líquidos, como os refrigerantes, podem levar a um maior valor energético, por maior dificuldade de controle dos mecanismos de compensação neste tipo de alimento. Dois estudos de 1995, publicados no American Journal of Clinical Nutrition, de Anderson(28) e de Hill e Prentice(29), não mostram qualquer relação entre aumento de peso, adição de açúcares ou consumo de refrigerantes.
Vários trabalhos têm demonstrado que a ingestão de refrigerantes poderia estar associada à ingestão diminuída de cálcio, levando posteriormente a maior risco de osteopenia, osteoporose e fraturas ósseas. Como já discutimos anteriormente, existem poucas evidências que demonstrem a relação direta entre o consumo de refrigerantes e a ocorrência de diminuição do conteúdo de cálcio nos ossos. Em trabalho realizado em uma escola secundária norte-americana, Wyshak, em 2000(30), analisa a relação entre o consumo de bebidas carbonatadas em 460 adolescentes e a ocorrência de fraturas ósseas, de maneira retrospectiva. Independentemente da atividade física, foi verificada maior associação entre fraturas e o consumo de refrigerantes. No entanto, não há qualquer comparação entre o estado nutricional, tipo de atividade desenvolvida e características clínicas do grupo estudado. Além disso, mais de 80% das escolares tomavam refrigerantes, sem distinção entre o tipo de esporte e programa físico. Não existem relatos consistentes avaliando a densidade mineral óssea determinada por densitometria. Em um estudo publicado em 1999(31), descreve-se que o consumo de uma ou mais garrafas diárias de bebidas do tipo cola, estava associado com hipocalcemia. Não houve avaliação densitométrica e os autores associam a ocorrência da hipocalcemia ao conteúdo de acido fosfórico das bebidas.
Em artigo publicado em outubro de 2001, pela International Food Information Council (IFIC)(32), os autores referem que o consumo de cafeína provoca uma pequena elevação dos níveis de excreção do cálcio, que é revertida em poucas horas. No entanto, comentam também que a maioria dos artigos científicos falha, ao tentar comprovar esta hipótese. Isto indica que a saúde óssea não será afetada, se a ingestão de cálcio for adequada. Além disso, confirmam o fato de que a Teoria do Deslocamento, em que alguns autores referem que o consumo de cálcio em bebidas fica diminuído pelo consumo de refrigerantes, não está comprovada. Assim, recomendam que o consumo de refrigerantes seja mantido em doses moderadas, como parte de uma dieta que favoreça a saúde óssea, de tal maneira que alimentos construtores e nutrientes que favoreçam a síntese óssea sejam também ingeridos (sites: http://ific.org; www.usda.gov/cnpp; www.nof.org e www.osteo.org).
Nos últimos 20 anos, praticamente todos os países em desenvolvimento passaram por um fenômeno conhecido por transição nutricional. Assim, regiões com alta prevalência de desnutrição protéico energética, com a melhora das condições sanitárias e das ações básicas de saúde, mostram progressiva diminuição da desnutrição aguda. No entanto, esta diminuição é acompanhada pelo aumento das seqüelas de longa duração, como a baixa estatura, carências nutricionais específicas e uma constante elevação do Índice de Massa Corpórea. Em países desenvolvidos, o aumento das doenças cardiovasculares tem sido, claramente, a maior causa de mortalidade em adultos. Em países pobres, o aumento da obesidade tem sido associado a índices de morbimortalidade para doenças antes restritas às classes privilegiadas. Este fato foi confirmado em recente encontro realizado pela Organização Pan-Americana de Saúde em Havana, Cuba.
Não há dúvida de que, para prevenir o aumento constante da obesidade e do excesso de peso, deve haver redução da ingestão e/ou o aumento do gasto metabólico. A realização desta tarefa por parte da população, não é algo simples, de acordo com a maioria dos estudiosos. O estudo de Kuczmarski et al.(33), do ano 2000, publicado no JAMA, resume algumas destas condições, como o aumento do consumo de alimentos fora do ambiente domiciliar, o conhecimento inadequado ou a falta de consciência sobre a quantidade de alimentos consumidos e os níveis insuficientes de atividade física ou sedentarismo. Talvez a atividade física seja a medida mais consistente a ser modificada, a curto prazo. Daí a importância de programas de incentivo a atividade física diária, como o Agita São Paulo, transformado recentemente em Agita Mundo, primeiramente concebido pelo grupo do Celafiscs de São Caetano do Sul, em São Paulo, chefiado por Matsudo e adotado pela Organização Mundial da Saúde.
Trabalho anterior, realizado em 1995 por Troiano et al.(34), mostra que as alterações no balanço energético de adolescentes podem ser responsáveis pelo aumento constante da obesidade nesta faixa etária. No entanto, não há como avaliar de maneira eficaz este fato em estudos populacionais. Dados dos programas nacionais de saúde norte-americanos, não conseguem explicar que o valor energético, de maneira isolada, possa explicar o aumento médio de peso. Adolescentes apresentam alto consumo de alimentos fritos e lanches com altos conteúdos de gordura; porém, dados epidemiológicos mostram que o consumo de energia derivada de gordura saturada tem caído consistentemente nas últimas décadas, porém não atingiu, ainda, o valor recomendado. O Departamento de Agricultura norte-americano propõe que o programa de alimentação escolar adote regras para diminuição do conteúdo de gorduras do desjejum, de lanches e de almoços servidos em escolas, para desenvolver hábitos alimentares mais saudáveis. No Canadá, a regulamentação sobre anúncios direcionados a crianças e propagandas em televisão, sofre contínua vigilância. Não se permite a venda de alimentos considerados inadequados em cantinas escolares.
Todos os trabalhos de grupos de estudiosos da obesidade, no entanto, têm mostrado que o principal aspecto a ser modificado é o incremento da atividade física.
Uma das principais dificuldades relacionadas à obesidade e ao consumo de refrigerantes talvez tenha sido destacado pela análise de um estudo publicado pelo grupo liderado por Ludwig, de Harvard(35). Neste projeto, os autores avaliam o consumo de refrigerantes por adolescentes, determinando que as chances de uma criança ficar obesa aumentava 1,6 vez, para cada lata ou copo de refrigerante açucarado, consumido acima da média diária do grupo (236 ml). Recomendam, portanto, que pais fiquem atentos ao acesso irrestrito de crianças ao estoque de refrigerantes dentro de casa e às compras em cantinas escolares
No entanto, Dietz, do Center for Disease Control (CDC) de Atlanta, em entrevista concedida a um site da Internet (weightlosscontrol.com), discute que o trabalho de Harvard não permite avaliar quais os números da obesidade devido ao aumento do consumo de refrigerantes, ou a qualquer outro fator determinante. Não se pode esquecer que a obesidade, sendo multifatorial, apresenta inúmeros aspectos derivados do hábito de vida em geral, fatores genéticos e outros. Em comentários publicados na revista Lancet, alguns autores criticam o estudo de Harvard, por inadequada escolha de faixa etária e por concluírem que as crianças que ganhavam peso ingeriam alimentos pobres em gordura(36). Este fato contraria vários outros trabalhos conhecidos, como o CFFII, que mostra associação positiva de obesidade com a ingestão isolada de gordura. Outro comentário, na mesma revista, em fascículo posterior, refere que o ganho de peso destas crianças pode ter sido justificado por uma incapacidade de regulação energética e não pelo consumo de refrigerantes.
Estudo apresentado por Weaver et al.(37), em congresso de Biologia,em 2000, nos Estados Unidos, mostra que o consumo de refrigerantes por obesos e não obesos não diferia de maneira significativa, sendo a diferença ao redor de 60 gramas. Seguramente, crianças obesas ingerem mais refrigerantes que os não obesos, mas a quantidade alimentar também é superior. O recado é claro: moderação e consumo limitado não levam a problemas de excesso de peso. No entanto, o que determina um grande consumo de alimentos por parte dos pacientes obesos é algo ainda a ser estudado.
Harnack et al.(38) mostram que, apesar de adolescentes consumirem grandes quantidades de refrigerantes, e com isto, apresentarem menor consumo de alguns nutrientes, não há possibilidade de se relacionar o aumento desta ingestão com o aumento de peso. O mesmo artigo sugere que o consumo de refrigerantes não pode ser coibido, mas cabe aos pais ou responsáveis o controle de quantidades exageradas e o incentivo paralelo do consumo de alimentos variados.
Krebs-Smith(39), em 2001, publicou artigo em que relaciona o consumo de alimentos adicionados de açúcar com as recomendações energéticas. Uma das principais dificuldades de analisar o conteúdo de açúcar dos alimentos está na diferença entre o conteúdo natural e o adicionado. Além disso, não é simples, inclusive, a avaliação de rótulos. Alguns trabalhos, realizados em diferentes países, mostram erros em embalagens, em quantidades avaliadas, em informações veiculadas e no entendimento pelo consumidor.
Estudo de French, Harnack e Jeffery(40), analisando mulheres em programas de prevenção de obesidade, demonstrou que o consumo de refrigerantes era de aproximadamente 7,6 porções diárias em usuários freqüentes de redes de fastfood, em contraste com o consumo médio de 4,1 porções para usuários com menor freqüência. No entanto, o consumo de outros alimentos, como hambúrgueres e batata frita, foi muito superior no grupo de freqüentadores intensivos e isto poderia contribuir de maneira mais efetiva com o aumento do peso.
Em editorial da Associação Dietética Americana (ADA), denominado "Fatos diretos relacionados a escolhas de bebidas"(16), estabelece-se que o consumo exagerado de calorias e o gasto inadequado levam ao aumento de peso. Claramente, o uso de refrigerantes sem açúcar, que praticamente não contêm calorias, não deveria contribuir para a obesidade.
Quando se atribui, isoladamente, ao consumo de refrigerantes, sucos ou açúcar, a maior incidência de obesidade, pode-se incorrer em erros de interpretação, já que esta hipótese contraria a maior parte dos estudos populacionais, que mostram que a obesidade está associada apenas ao aumento da ingestão de gordura.
Bebidas são importantes para a manutenção da qualidade de vida, em um programa mínimo de atividade física de pelo menos 30 minutos diários. Manter um adequado estado de hidratação antes, durante e depois de atividade física é um hábito a ser seguido. De outra maneira, a desidratação pode levar à fadiga, cefaléias, aumento da temperatura corporal e dos ritmos respiratório e pressórico.
Nota da ADA diz que bebidas carbonatadas ou refrigerantes podem ser importantes na hidratação de pessoas que dificilmente conseguem ingerir líquidos em quantidades adequadas. Especialmente crianças e adolescentes, que não têm o hábito de ingerir líquidos, podem aumentar esta ingestão sob a forma de refrigerantes(16).
Refrigerantes e cárie dentária
Inúmeros trabalhos ao longo dos últimos anos têm tentado avaliar a importância de determinados nutrientes e a ocorrência da cárie dentária. O açúcar em alimentos pode ser um fator de risco, especialmente se agregado a produtos que aderem ao dente (consistência pastosa ou tipo toffee). Se não utilizado no período noturno, em mamadeiras, ou em condições de higiene dental inadequada, o açúcar do refrigerante não contribui de maneira significativa para a ocorrência da cárie. Inúmeros trabalhos, em todo o mundo, mostram que, o melhor conhecimento do metabolismo da placa bacteriana, a melhora global da higiene bucal, o cuidado preventivo com a fluoretação da água e o uso tópico de flúor têm diminuído a incidência de cáries em todas as faixas de idade. Porém, concomitantemente, houve aumento no consumo de refrigerantes em todo o mundo, o que anula a hipótese cariogênica do açúcar destas bebidas. Vários estudos sugerem ausência de relação da cárie com a quantidade de açúcar ingerido, mas forte relação com a freqüência do seu consumo e com hábitos inadequados de higiene.
Outro aspecto importante, no estudo dos refrigerantes e da saúde humana, consiste na hipótese de que a bebida carbonatada poderia levar à diminuição do apetite, pelo seu conteúdo em gás. No entanto, a água mineral é utilizada em todo o mundo sem qualquer restrição. Com exceção de pacientes portadores de problemas gastrointestinais, com refluxo gastroesofágico, esofagite, hérnia hiatal, úlceras e gastrites, não há restrição ao uso de bebidas carbonatadas, na literatura.
A ingestão insuficiente de vitaminas e minerais, decorrente de baixo consumo de frutas e verduras, é muitas vezes apontada como conseqüência de alto consumo de refrigerantes. Entretanto, estudo recente mostra que um consumo adequado de frutas e hortaliças pode ser adquirido, sem a necessidade de alterar outros componentes da dieta(41).
Outro problema que é repetido, na sabedoria ou na falta de sabedoria popular, é que o uso de refrigerantes, principalmente do tipo cola, pode estar associado ao aparecimento ou agravamento da celulite subcutânea. Em revisão de literatura, nos sistemas Medline, Lilacs e Scielo, não se encontra qualquer artigo que associe esta situação ao uso de refrigerantes.
Inúmeros outros aspectos têm sido sistematicamente repetidos, de maneira anedótica ou com intenções desconhecidas, relacionando o uso de refrigerantes, açúcares, adoçantes ou outros alimentos com diferentes aspectos da saúde humana. Devemos ater-nos a fatos; o folclore pode ser importante para a história de uma região ou de um povo, mas não para o estudo de nutrientes, alimentos e produtos que serão avalizados, analisados e prescritos ou proscritos por profissionais que orientam pacientes e pessoas, no dia-a-dia de seus consultórios, ambulatórios e lares.
Sites para busca de informações sobre refrigerantes:
· www.barc.usda.gov/bhnrc/foodsurvey/home.htm
· www.cnn.com/health - feb 15th, 2001 e nov 3rd, 2000
· www.cocacola.com e www.cocacola.com.br
· www.refrigerantesxereta.com.br
· www.ohioaap.org/softdrinks.htm
· www.whocollab.od.mah.se/expl/sweets.html
· www.softdrink.org.au/html/Policies/dietary choice and softdrinks/dietary choice and softdrinks.html
· http://www.geocities.com/Napa Valley/1585/softdrink.htm
1. Brasil. Presidência da República. Decreto nº 2314, de 4 de setembro de 1997.
2. Brasil. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa nº 30, de 27 de setembro de 1999.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução - RDC nº 3, de 2 de janeiro de 2001.
4. World Health Organization. Principles for the safety assessment of food additives and contaminants in food. Environmental Health Criteria, n0 70. Geneva: WHO; 1987.
5. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 389, de 5 de agosto de 1999.
6. Santos IS, Victora CG, Huttly S, Morris S. Caffeine intake and pregnancy outcomes: a meta-analytic review. Cad Saúde Pública 1998; 14(3):82-103.
7. Graham TE, Rush JWE, Soeren MH. Caffeine and exercise: metabolism and performance. Can J Appl Physiol 1994; 19:111-38.
8. Nehlig A, Debry G. Caffeine and sports activity: a review. Int J Sports Med 1994; 15:215-23.
9. Denadai BS, Dessadai MLDR. Effects of caffeine on time to extrustion in exercise performed below and above the anaerobic threshold. Brazilian J Med Biol Res 1998; 31(4): 581-5.
10. O'Brien MJ, Viguie CA, Mazzeo RS, Brooks GA. Carbohydrate dependence during marathon running. Med Sci Sports Exerc 1993; 25:1009-17.
11. Hermansen L, Hultman E, Saltin B. Muscle glycogen use during prolonged severe exercise. Acta Physiol Scand 1967; 71:129-39.
12. Spriet LL, Maclean DA, Dyck DJ, Hultman E, Caderblad G, Graham TE. Caffeine ingestion and muscle metabolism during exercise in humans. Am J Physiol 1992; 262:891-98.
13. Phillis JW, Wu PH. The role of adenosine and its nucleotides in central synaptic transmission. Progress Neurosci 1981; 16:187-239.
14. Waldeck B. Sensitization by caffeine of central catecholamine receptors. J Neural Transm 1973; 34:61-72.
15. Castill DL, Dalsky GP, Fink WJ. Effects of caffeine ingestion on metabolism and exercise performance. Med Sci Sports Exerc 1978; 10:155-8.
16. American Dietetic Association Statement. In: USDA Center for Nutrition Policy and Promotion. Food Guide Pyramid and Dietary Guideline. Disponível em: URL:http://www.USDA.gov/cnpp.
17. Rodgers A.Effect of cola consumption on urinary biochemical and physicochemical risk factors associated with calcium urolithiasis. Urol Res 1999; 27:77-81.
18. Lemann J, Piering WR, Lennon EJ. Possible role of carbohydrate-induced calciuria in calcium oxalate kidney stone formation. N Engl J Med 1969; 280:232-9.
19. Nguyen NU, Damoulin G, Wolf JP, Berthelay S. Urinary calcium and oxalate excretion during oral fructose or glucose load in man. Horm Metab Res 1989; 21:96-105.
20. Nguyen NU, Henriet MT, Damoulin G, Widmer A, Regnard J. Increase in calciuria and oxaluria after a single chocolat bar load. Horm Metab Res 1994; 26:383-90.
21. Bellisle F, Roland-Cachera MF. How sugar-containing drinks might increase adiposity in children. Lancet 2001, 357:490-91.
22. Fishbein L. Causes of obesity. Lancet 2001, 357:1977-80.
23. Cavadini C, Siega-Riz AM, Popkin BM. US adolescent food intake trends from 1965 to 1996. Arch Dis Child 2000, 83:18-24.
24. Willet WC. Is dietary fat a major determinant of body fat? Am J Clin Nutr 1998; 67 Suppl:556-62.
25. Song W. Children's beverage consumption trends in the past decades. Annals of Experimental Biology 2000, San Diego, California, 17 th april 2000.
26. Forshee RA, Storey ML. The role of added sugars in the diet quality of children and adolescents. J Am Coll Nutr 2001, 2032-43.
27. Mattes RD. Dietary compensation by humans for supplemental energy provided as ethanol or carbohydrates in fluids. Physiol Behav 1996;59:179-87.
28. Anderson GH. Sugar, sweetness and food intake. Am J Clin Nutr 1995; 62 Suppl 1:195-202.
29. Hill JO, Prentice AM. Sugar and body weight regulation. Am J Clin Nutr 1995; 62 Suppl 1:264-74.
30. Wyshak G. Teenaged girls, carbonated beverage consumption, and bone fractures. Arch Ped Adol Med 2000, 154:610-13.
31. Guerrero-Romero F, Rodriguez-Moran M, Reyes E. Consumption of soft drinks with phosphoric acid as a risk factor for the development of hypocalcemia in postmenopausal womem. J Clin Epidemiol 1999, 52:1007-1010.
32. International Food Information Council Foundation. Curent topics in food safety and nutrition. Food Insight, 2001.
33. Kuczmarski RJ, Flegal KM, Campbell SM, Johnson CL. Increasing prevalence of overweight among US adults. The National Health and Nutrition Examination Surveys, 1960 to 1991. JAMA 1994, 272:205-211.
34. Troiano RP, Flegal KM, Kuczmarski RJ, Campbell SM, Johnson CL. Overweight prevalence and trends for children and adolescents. Arch Ped Adolesc Med 1995, 149:1085-1091.
35. Ludwig DS, Peterson KE, Gortmaker SL. Relation between consumption of sugar-sweetened drinks and childhood obesity: a prospective, observational analysis. Lancet 2001, 357:505-8.
36. Study finds increased consumption of sugar-sweetened beverages promotes childhood obesity. Children are consuming more soft drinks as availability and school access increase. Harvard School of Public Health - Press Release.
37. Weaver AR., Storey ML, Forshee RA, Woo RY, Clark KL. Beverage consumption among elementary and high school children. Faseb J 2000; 14:A534.
38. Harnack L, Stang J, Story M. Soft drink consumption among US children and adolescents: nutritional consequences. J Am Diet Assoc 1999, 99:436-41.
39. Krebs-Smith SM. Choose beverages and foods to moderate your intake of sugars: measurement requires quantification. J Nutr 2001, 131:S527-35.
40. French AS, Harnack L, Jeffery RW. Fast food restaurant use among women in the Pound of Prevention Study: dietary, behavioral and demographic correlates. Int J Obes 2000, 24:1353-9.
41. Billson H, Pryer JA, Nichols R. Variation in fruit and vegetable consumption among adults in Britain. An analysis from the dietary and nutritional survey of British adults. Eur J Clin Nutr 1999, 53:946-52.
Mauro Fisberg1, Olga Maria Silvério Amâncio2, Ana Maria Pitta Lottenberg3 - fisberg[arroba]uol.com.br
1Prof. adjunto doutor. Médico pediatra. Chefe do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo. Diretor do Centro de Pesquisas Aplicadas a Saúde (Cepas) da Universidade São Marcos
2Profa. adjunto doutora. Nutricionista. Chefe do Laboratório de Pesquisa da Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria. Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas a Pediatria da Universidade Federal de São Paulo
3Profa. dra. nutricionista do Grupo de Lípides da Universidade de São Paulo. Coordenadora da Área de Nutrição da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso). Diretora da Condieta
Página anterior | Voltar ao início do trabalho | Página seguinte |
|
|