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- Subescala de sintomas: está relacionada aos sintomas, comportamento e dieta; aqueles que têm pontuação entre 10 e 19 sugerem comportamento pouco usual, porém o paciente não preenche todos os critérios para o diagnóstico de bulimia; aqueles com mais de 19 pontos apresentam alto grau de desordem alimentar, com presença de episódios bulímicos e grande probabilidade de apresentar diagnóstico de bulimia nervosa.
- Subescala de severidade: mede a severidade do comportamento em função de sua freqüência; aqueles com pontuação igual ou superior a 5 têm um escore significativo, e os que têm uma pontuação acima de 9 apresentam um alto grau de severidade.
Teste de Imagem Corporal28: são apresentadas ao indivíduo várias figuras esquemáticas, que vão do corpo magro ao corpo obeso. É solicitada a escolha de uma dentre várias figuras: aquela que se parece mais com o seu corpo; em seguida, solicita-se que assinale a figura que gostaria de ter. A discrepância entre as duas figuras é o índice do nível de insatisfação corporal. O teste de imagem corporal usado nesta pesquisa é composto de cinco figuras esquemáticas. Além de o estudante poder optar entre as cinco figuras, ele pode também escolher figuras imaginárias que se encontrem entre as existentes, totalizando nove opções.
Os dados colhidos no questionário foram codificados e armazenados em programa estatístico (Epi Info 6.04). A análise estatística básica e a interpretação foram feitas no mesmo programa.
Quanto aos aspectos éticos, os questionários não tinham nenhum dado que identificasse o aluno. Foram obtidos o consentimento verbal dos participantes e a autorização das escolas para a realização do estudo.
Dos 1.807 escolares entrevistados, 887 (49,1%) eram do sexo masculino e 920 (50,9%) do sexo feminino, com idade entre 7 e 19 anos, média de idade 12,7±2,5 anos. A amostra final ficou distribuída entre as cidades da seguinte forma: Ipoema com 494 alunos (27,3%), Bom Jesus com 488 alunos (27%), Dionísio com 347 alunos (19,2%), Nossa Senhora do Carmo com 263 alunos (14,6%) e Inhaúma com 215 alunos (11,9%).
Com relação ao Teste de Atitudes Alimentares (EAT), encontramos 241 alunos (13,3%) com escore igual ou maior que 20, ou seja, alunos que apresentam possíveis transtornos alimentares, provavelmente quadros subclínicos, com um predomínio significativo do sexo feminino (p = 0,003) (Tabela 1). Desses 241 alunos, apenas 43 (17,8%) fazem uso de métodos purgativos, o que mostra que esses métodos realmente são significativamente (p = 0,000) mais freqüentes nos possíveis casos de bulimia nervosa (74%).
O BITE revelou 19 alunos (1,1%) com pontuação igual ou superior a 25, o que corresponde a um possível diagnóstico de bulimia, sendo sete (36,8%) do sexo masculino e 12 (63,2%) do sexo feminino, todos acima de 10 anos de idade. De acordo com a subescala de sintomas do BITE, 296 alunos (16,4%) tiveram um escore médio (10 a 19 pontos), apresentando um padrão alimentar pouco usual, e 10 estudantes (0,6%) tiveram um escore alto (acima de 19 pontos), o que indica provável diagnóstico de bulimia nervosa. Houve predomínio, embora não significativo, do sexo feminino tanto no escore médio (p = 0,06) como no alto (p = 0,79). Em relação à subescala de severidade do BITE, 188 alunos (11,8%) atingiram o ponto de corte (> 5 pontos), não havendo aqui praticamente nenhum predomínio de sexos (Tabela 1).
Encontramos 1.059 alunos (59%) insatisfeitos com sua imagem corporal, sendo que 511 (48%) gostariam de parecer mais magros e 548 alunos (52%) gostariam de parecer mais gordos. Dos alunos que gostariam de parecer mais magros, 69% pertencem ao sexo feminino e 31% ao sexo masculino (p = 0,000). Entre os alunos que gostariam de parecer mais gordos, há uma predominância significativa do sexo masculino (p = 0,000). Encontramos, ainda, 731 alunos (40%) alunos que têm o hábito de fazer algum tipo de dieta, com predomínio significativo do sexo feminino (p = 0,000). Desses 731 alunos, somente 118 (16%) fazem dieta freqüente; os demais o fazem de maneira esporádica. Outro comportamento utilizado para perda de peso é a atividade física. Em nossa amostra, encontramos 1.014 alunos (56%) que fazem exercícios com a finalidade de emagrecer, com predomínio significativo do sexo feminino (p = 0,000). Cerca de 12% dos alunos apresentam episódios bulímicos, com predomínio mais uma vez do sexo feminino (p = 0,003), e 10% utilizam métodos purgativos para perder peso (Tabela 2).
Este estudo apresentou uma taxa de prevalência semelhante à de outros estudos realizados em diferentes países, de acordo com as escalas EAT e BITE. Na maioria dos estudos, a taxa de prevalência da escala BITE está em torno de 1 a 1,5%22,27; em nosso estudo, a taxa encontrada foi de 1,1%. O mesmo acontece com a escala EAT, cuja taxa encontrada nos vários estudos realizados até hoje fica entre 6 e 13%29-31; encontramos em nosso estudo uma taxa de 13,3%. Apesar de a presença dos transtornos de alimentação ter sido significativamente maior nas mulheres, encontramos uma alta prevalência no sexo masculino; isso mostra que esses transtornos têm de fato aumentado em homens nos últimos anos1,2,9,10.
Entre os alunos que tinham um possível diagnóstico de bulimia, foi bastante comum o uso abusivo de laxantes, vômitos, comprimidos e diuréticos para auxiliar na perda de peso; a indução do vômito foi o método mais utilizado, sendo encontrado em 73,3% (11 alunos) dos alunos com possível diagnóstico de bulimia nervosa. Já entre os alunos com alto risco de anorexia, apenas 13% faziam uso de algum tipo de método purgativo para auxiliar no emagrecimento, mostrando uma coerência com os estudos clínicos que mostram que esses métodos são muito mais freqüentes na bulimia nervosa.
Em relação à idade, o pico de prevalência entre os escolares com escore correspondente a algum grau de desordem alimentar ficou na faixa etária de 11-16 anos (adolescência precoce e início da média32), o que está de acordo com outros trabalhos que relatam uma maior prevalência desses distúrbios em adolescentes33.
Acreditamos que a importância deste trabalho consiste no fato de ser uma das primeiras publicações envolvendo transtornos alimentares em crianças e adolescentes brasileiros, principalmente por ter sido realizado em comunidades do interior de Minas Gerais, onde esperávamos encontrar uma taxa de prevalência menor devido à crença de que os fatores socioculturais regionais poderiam ainda estar mais preservados, constituindo um possível mecanismo de proteção pela maior interação social e familiar. No entanto, encontramos taxas tão altas quanto à de outros estudos, contrariando alguns trabalhos, como o de Hoek34, que acredita que a prevalência desses transtornos pode variar de acordo com o nível de urbanização da região estudada, sendo menor em regiões menos desenvolvidas (principalmente a bulimia). Na medida em que a globalização avança nos dias de hoje, é possível que venha contribuir para influenciar negativamente os hábitos das populações e que os transtornos da alimentação se tornem mais freqüentes.
Agradecimentos
Aos acadêmicos da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais: Leandro L. Ticle, Fabricio L. S. Coutinho, Flávio J. Reis, Gustavo O. Ribeiro, Júlio S. Vasconcelos, Paulo R. Carvalho e Marcos L. P. Ferreira.
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João E. M. VilelaI; Joel A. LamounierII; Marcos A. Dellaretti FilhoIII; José R. Barros NetoIV; Gustavo M. HortaIII - jalamo[arroba]medicina.ufmg.br
IDoutorando do Curso de Pós-graduação em Pediatria, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
IIDoutor. Professor adjunto, Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina, UFMG
IIIAcadêmicos da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais
IVAcadêmico bolsista de Iniciação Científica, Faculdade de Medicina, UFMG
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