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Viajem ao vale do Douro (Portugal) (página 2)

José Alberto Afonso Alexandre

Entre as rochas do conjunto, os xistos e quartzitos ocupam a maior extensão, seguido pelos granitos. Consoante a sua dureza, os diferentes materiais podem originar formas de relevo características, salvo quando as consequências da tectónica ainda são visíveis. Entre os materiais que podem originar relevos de dureza temos os quartzitos, as variedades de xistos mais duros, como os xistos ardosíferos e ainda os xistos submetidos a forte metamorfização, originando materiais mais duros, como é o caso das corneanas e dos xistos luzentes. Os outros materiais - granitos e xistos argilosos - são mais facilmente desagregáveis e, por isso as cotas respectivas são mais baixas.

Pela sua extensão e importância, e pelas nítidas diferenças de comportamento, as manchas de granito e de xisto determinam estilos de paisagem diferentes. O granito, cortado por uma rede apertada de diáclases, coberto por um manto de alteração in situ, é muito mais permeável que os xistos. Estes cobrem-se de uma cabeleira de sulcos por onde correm as águas das chuvas; a rocha parte-se e esfolheia-se, reduz-se a fragmentos ínfimos evacuados pela escorrência difusa e pelo escoamento torrencial. Todas as escarpas se esbatem, todas as superfícies se degradam. Onde a surreição ou o encaixe da rede hidrográfica principal colocou as plataformas muito acima do nível de base, elas resolvem-se num mar de cabeços, separados por sulcos escavados a todas as alturas, topografia a um tempo confusa e monótona, que tem sido comparada a montículos de toupeiras ou às tendas de um imenso acampamento de nómadas. A rede de drenagem, normalmente, é mais irregular e fortemente meandrizada.

No granito, a alteração penetra profundamente na rocha sem modificar as formas da superfície; a arenização conserva, ou até exagera, uma topografia de maturidade, com vales escancarados, fundos largos e vertentes esbatidas; mas mantêm-se ao mesmo tempo indefinidamente vigorosas as formas de todos os desníveis. Escarpas de falha ou vertentes íngremes produzidas pelo encaixe dos cursos de água recuam paralelamente a si mesmas, isto é, retrocedem sem se degradarem. Como a decomposição dos elementos do granito não se faz ao mesmo tempo, os pendores talhados nesta rocha dão blocos, os fragmentos sãos, ou saibro de alteração: portanto fragmentos finos ou grosseiros, faltando a gama de dimensões intermédias que, pelo contrário, constitui a regra nos taludes das vertentes de xisto.

Estamos assim perante a coexistência de dois processos de formação dos vales, por um lado a existência ou não de uma antiga linha de fractura, de seguida, devido às características de degradação do granito essa linha de fractura poderá sofrer alterações conservando sempre a forma original, por outro lado se não houver falha a linha de água vai-se localizar num determinado local, primeiro por escorrência difusa, de seguida devido à erosão vertical do granito ir-se-á formar um vale com características próprias, de fundo largo e vertentes íngremes, que darão a ideia ilusória de ser motivado por um abatimento tectónico.

Os vales de fractura são um traço fundamental do modelado do norte do país, especialmente conservados no granito, reconhecem-se pelo traçado rígido da rede hidrográfica, pelo paralelismo dos alinhamentos dos rios, por troços de cursos de água que seguem a mesma direcção, ora convergindo para o mesmo ponto de confluência, ora opondo as cabeceiras separadas por altas portelas.

Alguns dos largos vales da bacia do Távora, cujo impressionante paralelismo sugere origem tectónica, cortados por deslocamentos transversais onde as portelas dos interflúvios se abaixam, serão assim, como se viu, formas mais evoluídas do mesmo tipo inicial. As íngremes vertentes não são escarpas de falha nem os fundos planos fragmentos abatidos: o aprofundamento dos vales que inicialmente foi provocado pela erosão vertical tem agora origem num alargamento dos mesmos sem esbatimento.

Estamos assim perante a coexistência de dois processos de formação dos vales, por um lado a existência ou não de uma antiga linha de fractura, de seguida, devido às características de degradação do granito essa linha de fractura poderá sofrer alterações conservando sempre a forma original, por outro lado se não houver falha a linha de água vai-se localizar num determinado local, primeiro por escorrência difusa, de seguida devido à erosão vertical do granito ir-se-á formar um vale com características próprias, de fundo largo e vertentes íngremes, que darão a ideia ilusória de ser motivado por um abatimento tectónico.

Paleogeografia

A evolução paleogeográfica da região enquadra-se no conjunto das terras do noroeste peninsular, cuja formação se iniciou em tempos muito remotos.

Os terrenos mais antigos são os do complexo xisto-grauváquico ante-Ordovícico, tiveram origem no fundo do mar que antes ou no limiar do Paleozóico cobriu toda esta região. A presença de leitos conglomeráticos e as características que possuem, permitem supor a existência de um litoral próximo e, portanto, de terras emersas, mais antigas, de cuja erosão provieram os materiais que os originaram.

Formadas as rochas aludidas, houve um movimento de regressão e de emersão que coincidiu com os primeiros tempos do Paleozóico.

Deu-se, seguidamente, a transgressão do inicio do Ordovicico, testemunhada pelo espesso conglomerado de base, a que sucederam depósitos arenosos, de que resultaram os quartzitos que acompanham os conglomerados.

No final do Ordovicico as condições de sedimentação modificaram-se, os sedimentos tornaram-se mais finos e assim se originam os xistos do Landeiliano correlativos de um transporte mais longo, de declive mais suave.

O domínio marinho manteve-se durante o Silúrico, mesmo no actual interior, tendo-se depositado não só sedimentos de que derivaram xistos e grauvaques, mas houve também episódios de sedimentação vasosa, com muita matéria orgânica, de que resultaram os xistos amplitosos, intercalados nas rochas antes referidas. Contêm frequentemente fosseis de graptolitos. A discordância entre as formações Ordovicico-Silúricas e os terrenos mais antigos, subjacentes, põe a claro a acção de movimentos orogénicos que tiveram origem no inicio do Paleozóico.

O mar conservou-se durante o Devónico inferior, forte movimento orogénico atingiu o conjunto dos sedimentos formados, dobrou-os e deslocou-os.

Em relação com os movimentos referidos acima, houve fenómenos de granitização. A granitização Hercinica, que teve lugar durante o Carbónico, originou não só os granitos de variadas texturas e composições que ocupam a região, como provocou a metamorfização das rochas xistentas anteriormente formadas, tendo-se originado corneanas, xistos luzentes, etc.

É provável que estas tenham sido mais extensas, mas, a erosão a que a área esteve sujeita ao longo de vários milhões de anos reduziu-as pouco a pouco.

Após se consolidar o maciço granítico, este sofreu acções orogénicas no final do Paleozóico e inicio do Mesozoico que provocou imensas fracturas. Devido à orogenia alpina, as formas de relevo antigas foram rejuvenescidas com novas fracturas.

No Quaternário, instalada a rede de drenagem actual, os cursos e linhas de água foram aprofundando e alargando os vales em que correm. Grandes falhas, compartimentaram a região, tendo facilitado a efectivação de movimentos de reajustamento de grandes blocos. Do jogo de tais movimentos, actualmente lentos, e da erosão resultou a morfologia actual da região.

Aspectos climáticos

Em termos climáticos, a descida da humidade é significativa (em Sandim chovia), pois a própria disposição dos vales limita a deslocação das massas de ar para o interior do Alto Douro, fazendo com que o ar húmido do Atlântico não penetre para além da barreira montanhosa constituída pela serra de Montemuro. Em altitudes mais elevadas ainda é possível a ocorrência de precipitação como nas cercanias de Sandim.

A precipitação média ocorrida é mais intensa no Sul do que no Norte da bacia hidrográfica do Távora (variando consoante a altitude, a direcção dos ventos predominantes, a orientação das montanhas, pois a existência de altas altitudes a oeste não deixa passar os ventos húmidos do Oceano e, com menor importância a latitude) onde as altitudes são mais elevadas e todos os factores se combinam. No entanto, a variabilidade interanual é grande.

Assim, do ponto de vista climático, a bacia do Távora é caracterizada por fraca precipitação anual, bem como pela irregularidade dos quantitativos anuais, com maior número de dias de precipitação de Outubro a Maio e um número insignificante de Junho a Setembro.

De uma forma muito geral, a humidade na bacia do rio Távora aumenta de norte para sul, à medida que a altitude aumenta. No Verão o clima é quente e seco, no Inverno é ameno quando chove e frio e seco quando o céu está descoberto com o vento de norte.

O regime do rio Távora está directamente relacionado com as características climáticas, apresentando duas estações hidrológicas bem distintas, águas altas no Inverno e baixas no Verão.

A variabilidade e irregularidade das precipitações reflecte-se logo no regime do Távora, pois com base nas características das rochas existentes no conjunto da bacia, conclui-se que estas possuem pouca permeabilidade, predominando assim o escoamento superficial dependente das precipitações.

As precipitações concentradas fundamentalmente no Inverno, deixam o Verão praticamente seco, tendo-se registado alguns casos, em que num ou dois meses de Verão não se regista qualquer precipitação, contudo aconteceram casos pontuais que foram excepções à regra, de modo que, os meses secos também apareceram no Inverno.

A precipitação, ao encontrar a superfície topográfica, ou se evapora, regressando à atmosfera, ou se infiltra, passando a integrar o escoamento subterrâneo, ou escorre à superfície, dando origem ao escoamento superficial. Este escoamento, conjugado com aquele que aflora através das nascentes, acaba por se concentrar nas linhas de água, gerando o escoamento fluvial.

O regime fluvial da bacia hidrográfica do Távora caracteriza-se por uma irregularidade interanual e estacional, variando o seu ritmo de mês para mês e de ano para ano. No Verão o seu caudal é diminuto, chegando às vezes quase a secar, enquanto que no Inverno, com o seu grande volume de águas provenientes da precipitação o poder da erosão é enorme.

No entanto, face ao aspecto dos vales, não podem atribuir-se a processos erosivos desenrolados somente sob a influência de um tipo climático de características semelhantes ao da actualidade, mas sim de um clima muito mais húmido, originando grandes caudais que ao longo do tempo foram escavando os vales encaixados na superfície do Planalto da Nave.

O ritmo estacional dos caudais constitui o critério mais cómodo para definir os regimes fluviais. De uma forma genérica, os regimes estacionais comportam um certo grau de regularidade com uma distribuição de águas altas no final de Outono e Inverno e de águas baixas no Verão, o que não impede que haja irregularidades interanuais.

Normalmente, estas variações analisam-se através da altura das águas e do volume dos caudais. Havendo dois meses que se destacam de todos os outros, são eles Janeiro e Fevereiro, em que o volume das águas e por conseguinte a sua altura é muito superior à dos outros meses, a situação diametralmente oposta ocorre nos meses de Agosto, Setembro e Outubro. Isto não quer dizer que seja nestes meses que ocorra menos precipitação, mas sim deve-se ao escorrimento das águas subterrâneas que se faz sentir no fim da Primavera, fazendo com que o caudal não chegue a secar logo nos primeiros tempos do estio, mas sim já no final do Verão. Em Setembro e Outubro, embora ocorra alguma precipitação, esta é logo absorvida pelo solo ressequido, não chegando para alimentar as mais simples linhas de água.

Assim, o regime do rio Távora comporta duas épocas bem nítidas, com características opostas. Uma de abundância, ocorre no período de precipitação mais elevada, enquanto a outra de escassez, coincide com a de quase ausência de precipitação. Neste período, a substancial diminuição da precipitação e o grande incremento da evapotranspiração são suficientes para eliminar quase por completo o escoamento, pois as águas subterrâneas são escassas e isto deve-se à fraca permeabilidade das rochas constituintes da bacia, tais como os xistos e os granitos.

Aspectos fitogeográficos

Relativamente à fitogeografia (ou distribuição da vegetação), se o domínio climácico atlântico se faz sentir nas montanhas de maior altitude, paradoxalmente nos vales profundos do Alto Douro é o domínio mediterrânico o mais visível, pois abundam as azinheiras, sobreiros (oliveiras, figueiras, amendoeiras), enquanto que nas áreas de altitude superior abundam o carvalho, o freixo, o loureiro, etc., próprios do domínio atlântico.

Outro aspecto importante (introduzido pelo Homem) é o cultivo da vinha. Pois, as áreas mais indicadas para o cultivo do vinho do Porto é toda a área envolvente do Douro, a montante da Régua até Barca de Alva, mas prolongando-se mais para norte na margem direita, pois as vertentes são soalheiras, enquanto que as da margem esquerda são sombrias, limitando, assim, em extensão a área demarcada. Mesmo em termos de temperatura, a diferença é notória, pois quem viaje de Lamego para Vila Real, verificará, ao fim duma tarde soalheira de Inverno, uma diferença de 2 a 4 ºC de temperatura, antes e depois da Régua.

Ao longo do Douro

Chegámos à Régua, com o propósito de aqui tomarmos o comboio com destino ao Pocinho. O comboio chegou com o habitual atraso e, subindo o Douro fomos desfrutando daquela aprazível paisagem, que poucas há comparáveis em beleza e em encanto. Pena foi que esta viagem tivesse de se realizar no início do Inverno, porém seja em que altura do ano for, esta micro-região tem sempre o seu encanto, nem que seja pelo contraste com as áreas envolventes. Além de que um rio tem sempre algo de místico, pois o que seria de Coimbra sem o Mondego?

O Douro, o segundo maior rio peninsular em comprimento e o primeiro em área drenada, depois de ter corrido num vale largo, através da bacia Terciária de Castilla y Léon, começa a encaixar-se a juzante de Zamora nos terrenos do Maciço Antigo. Ao entrar na fronteira, na confluência da ribeira de Castro Ladrón, junto de Paradela, abandona a direcção Este-Oeste, passando a correr de Nordeste para Sudoeste, até que ao terminar a fronteira, na confluência com o Águeda, em Barca de Alva, retoma a anterior direcção.

A comparação do vale em Zamora e na fronteira acusa uma mudança brusca no perfil. O rio corre além, a 630 metros de altitude, com um declive fraco, à superfície do planalto terciário, recoberto de aluviões antigos e recentes. Ou seja, a hidrografia mostra um carácter de maturidade: o vale pertence ao ciclo dos planaltos.

A juzante de Zamora, o Douro penetra nos granitos e formações paleozóicas, mergulhando profundamente no planalto. O declive aumenta, as águas precipitam-se com violência, o perfil transversal toma a forma de um V agudo. Ao longo da fronteira o rio apresenta um perfil de transição entre o ciclo dos planaltos e o ciclo actual.

Em Miranda do Douro, o talvegue fica a um nível 200 metros inferior ao rebordo do planalto, formando um cañon profundo. De igual forma os declives do seu percurso são acentuados e irregulares, caracterizando uma fase de juventude, pois a regularização do leito está, ainda, muito atrasada.

Mas, ao que se deve tal perfil?

Pelo levantamento progressivo do território, o rio teve de reajustar o seu curso a um nível de base cada vez mais baixo, mergulhando profundamente no planalto. A erosão, muito activa, foi aprofundando o leito e atacando os flancos até abrir a garganta, de paredes quase verticais, por onde corre a água.

A partir de Barca de Alva a regularização do perfil está numa fase mais adiantada e por isso o declive do seu perfil longitudinal é inferior.

Porém, se o vinho do Porto é um dos principais produtos de exportação de Portugal, a área da sua produção está um tanto ou quanto esvaziada de gentes. Pois só existe algum bulício na altura dos trabalhos relacionados com o cultivo das vinhas, recorrendo, em grande parte, à mão-de-obra exógena; ou num ou noutro fim de semana em que os turistas britânicos, ou alguns viajantes nacionais, aí recorrem para passarem um ou dois dias. Fora isso, toda esta região não foge à regra, daquilo que está a acontecer a Portugal, fenómeno que se iniciou nos anos 60 e que ainda está longe de terminar: a desertificação de todo o interior do país e a concentração de pessoas e actividades nas áreas envolventes de Lisboa e do Porto, levando, assim, à bipolarização do país.

Ao longo do Tua

No Pocinho toma-se o comboio para Mirandela. Esta linha, em via estreita, é das poucas, ainda em funcionamento, pois ainda não foi desmantelada pela REFER. De facto, se toda esta área já tem os seus problemas de isolamento, tal tem-se vindo a agravar com o desmantelamento das linhas que subiam até ao coração de Trás-os-Montes.

Segundo políticas que se baseiam em dados estatísticos, tais linhas não davam lucro. Mas, enfim, também nunca foram completadas as suas redes de forma a servirem melhor as populações. Outro aspecto, será necessário dar lucro para não se proceder ao seu desmantelamento, arrancando os carris? Sabendo que o proprietário é uma empresa pública. Não poderiam ser aproveitadas para fins turísticos, tal como acontece em muitas regiões dos Alpes? É esta visão de curto prazo que evita o desenvolvimento harmonioso do nosso país.

A linha em causa sobe pelo vale do Tua até Mirandela.

O Tua é formado pela junção do Tuela e do Rabaçal. O primeiro corta por um vale estreito e profundo a região montanhosa da Coroa, mantendo-se encaixado na maior parte do seu percurso; o vale torna-se mais largo na região de Mirandela. O Rabaçal corre desde a fronteira num vale profundo cujas vertentes alargam após a travessia da região granítica que se estende até sul de Valpaços.

A norte de Mirandela, o Tuela e o Rabaçal reúnem-se, dando origem ao Tua. O vale é largo e regular, estando coberto por olivais, desde a confluência até Frechas, numa extensão de 13 km. Mais a sul, o rio corre encaixado, cortando os blocos graníticos dos planaltos de Alijó e Carrazeda de Anciães.

As formações do complexo précâmbrico-arcaico ocupam toda a área envolvente de Mirandela. São essencialmente formações xistosas em que predominam os xistos luzentes.

O solo vegetal varia consoante a dureza e facilidade de decomposição das rochas. Nas áreas de altitudes mais elevadas e nas encostas, o solo é delgado, mal recobrindo a rocha. Mas, como as partículas finas em que se decompõem os xistos são arrastadas pelas águas para os vales, onde constituem um solo compacto e rico quando a água abunda.

Nas encostas pouco inclinadas, o solo distribui-se duma maneira uniforme e é facilmente atacado pela erosão, resultando daí uma paisagem de relevos arredondados, estendendo-se até ao infinito.

Mais a sul, as intrusões graníticas ocupam uma área considerável. A região a ocidente do Tua estabelece a transição dos terrenos xistosos, para os granitos que constituem a maior parte do território do Minho. A oriente do Tua, os granitos são raros.

A influência do granito na topografia traduz-se na formação de algumas áreas planálticas mais regulares. É flagrante o contraste com a topografia das regiões xistosas. Nestas últimas, o relevo é mais movimentado, composto por um conjunto de montanhas e colinas de declive suave. Nas áreas graníticas, a regularidade é maior, quebrada apenas pelos afloramentos de grandes penedias de formas variadas. Onde a rocha aparece a descoberto, a água circula à superfície, pois não existe infiltração. Como a erosão é mais intensa no fundo do que no flanco dos vales, os cursos de água correm, frequentemente, em gargantas profundas, de margens íngremes, como sucede com o vale inferior do Tua nas imediações da sua confluência com o Douro.

Todo o interior de Trás-os-Montes é constituído por uma série de planaltos, que são o traço dominante da topografia desta região. Basta subir a um ponto mais elevado para se descobrir um largo horizonte a perder de vista. Somos como que levados a imaginar cada curso de água separado do vizinho por uma superfície regular. Porém, na bacia média do Tua os planaltos deram origem a áreas de paisagem mais variada, porventura, devido à convergência de vários cursos de água e ao predomínio de rochas menos resistentes.

Do Pocinho a Mirandela, os contrastes são grandes, ou seja, é a passagem para uma situação retratada no início da nossa viagem, só que mais intensa.

Os efeitos da continentalidade são marcantes no clima. Em termos sócio-culturais é a viagem ao Portugal profundo e genuíno. Aquele Portugal que ainda sofreu ao de leve as mutações originadas pela influência sócio-económica externa.

Mirandela é uma cidade que surge quase no meio de nenhures, é o contraste, é o crescimento moderado de uma pequena povoação que por influência da sua boa localização, no cruzamento de várias vias de comunicação, cresceu à custa das aldeias que a rodeiam.

É o exemplo de que o interior também se pode desenvolver aproveitando os seus recursos endógenos. Pelo menos, pela iniciativa dos seus autarcas, é uma cidade que se quer afirmar, aproveitando o antigo troço da linha férrea, foi a segunda cidade do país a ter metropolitano (de superfície)!

Embora o seu património histórico e arquitectónico seja escasso sabem aproveitá-los de forma a promover o turismo, aliando-os ao património gastronómico. Ora, o mais importante é criar actividades económicas duradouras e não dependentes de flutuações externas, como seja, a fixação de indústrias, tendo sido conseguido. Outro aspecto positivo a salientar, em termos educativos, é a localização de um pólo do Instituto Politécnico. Assim, Mirandela, tem todas as condições para vingar como pólo aglomerador e influente de toda a região envolvente.

Anoitece, é altura do regresso.

BIBLIOGRAFIA

FERREIRA, A. Brum - Planaltos e Montanhas do Norte da Beira. Lisboa, CEG, 1981.

 

Dados do Autor:

José Alberto Afonso Alexandre

jaaalexandre[arroba]gmail.com

jaaalexandre[arroba]hotmail.com

Mestre em Inovação e Políticas de Desenvolvimento (Universidade de Aveiro)

Licenciado em Geografia (Universidade de Coimbra)

Publicação em «monografias.com» de:

«O planeamento estratégico como instrumento de desenvolvimento de cidades de média dimensão», (https://www.monografias.com/pt/trabalhos/planeamento-cidades/planeamento-cidades.shtml);

«Rumo à sustentabilidade: o planeamento urbano participativo», (https://www.monografias.com/pt/trabalhos2/sustentabilidade-urbana/sustentabilidade-urbana.shtml);

O turismo em Portugal: evolução e distribuição, (https://www.monografias.com/pt/trabalhos2/turismo-portugal/turismo-portugal.shtml).

(1999)



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