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Embora saibamos da existência de sentimentos agressivos em nós mesmos e nos outros, isso não nos agrada e inconscientemente subestimamos sua importância. A maior fonte do sentimento de perda e sofrimento que está ligado a sentimentos hostis, é um desejo insatisfeito que, se for suficientemente forte provoca uma sensação de perda e sofrimento despertando agressividade da mesma forma que um ataque externo faria. Há uma situação na vida que deve ser realçada por que nela todos se sentem dependentes, é representada por relacionamentos amorosos. Neles o desejo sempre nos prende a outra pessoa. Ainda segundo Joan Riviere, "Nossa dependência dos outros é obviamente uma condição de nossa vida sob todos os seus aspectos: de autopreservação sexual ou de busca de prazer. E isto significa que, na vida, é necessário uma certa dose de participação, de espera, de desprendimento. Entretanto, embora significando uma conquista para a segurança coletiva, isto pode representar também uma perda da segurança individual. Portanto, esses relacionamentos dependentes tendem, por si mesmos a despertar resistência e emoções agressivas"

A origem dessa ansiedade e dependência está, como demonstrou a psicanálise, em situações primitivas como a do bebê que mama. Ele é totalmente dependente de sua mãe, cujo seio é para ele uma extensão de si mesmo. No caso do bebê não poder sugar o seio, ele adquire conhecimento de sua dependência e automaticamente surgem sentimentos de ódio e um ardente desejo de agredir. Se experimenta vazio e solidão, isto pode dar origem a uma cólera agressiva que leva à dor e sensações corporais explosivas que por sua vez ocasiona sentimentos adicionais de privação, dor e apreensão.

O bebê não distingue entre o eu e o não eu, quando está com frio, faminto ou solitário, é como se as coisas mais importantes do mundo tivessem desaparecido, e quando torturado pelo desejo ou pela ira, todo o seu mundo é de sofrimento. Esta é a primeira experiência de algo como a morte, o reconhecimento de uma perda essencial tanto para nós quanto para os outros. Esta experiência provoca um conhecimento do amor sob a forma do desejo e um reconhecimento de dependência sob a forma de necessidade ligados a sentimentos e sensações incontroláveis de dor e ameaça de destruição interna e externa.

A reação a este estado de coisas é a tentativa do bebê reconquistar e preservar um pouco da segurança que desfrutava antes que sentisse a falta e que impulsos de destruição surgissem. Desenvolve-se uma profunda necessidade de segurança e proteção, e a tarefa, que durará toda vida de tentar garantir a nossa autopreservação e os nossos prazeres com o mínimo risco possível de despertar em nós aquelas forças capazes de destruir a nós e aos outros. O ódio e a agressividade, a inveja, o ciúme e a voracidade dos adultos são todos derivados, em geral de forma bastante complexa dessa experiência original como da necessidade de superá-la se pretendemos sobreviver e retirar da vida algum prazer.

Retomando a situação emocional do bebê, Melanie Klein lembra que as gratificações proporcionadas pela mãe como o alívio da sensação de fome e o prazer sensual do sugar o seio, são a expressão inicial da sexualidade da criança. Quando esses desejos não são gratificados, ou quando sente dor ou desconforto físico, o ódio e os sentimentos agressivos são despertados e surge o desejo de destruir a própria mãe. O meio imediato e primário de aliviar num bebê esses estados dolorosos é a satisfação de seus desejos pela mãe. Tanto no bebê quanto no adulto, essa sensação de segurança passa a ser um importante elemento da satisfação quando alguém recebe amor. Melenie Klein dá o exemplo de uma mulher aparentemente distante de sua mãe que inconscientemente busca algum dos aspectos do seu relacionamento primitivo com ela no seu relacionamento com o marido ou com o homem a quem ama. O pai também desempenha na vida emocional da criança seus relacionamentos amorosos posteriores, mas o primeiro relacionamento do bebê com ele, como figura gratificadora amiga e protetora depende do relacionamento com a mãe.

O bebê começa a corresponder às gratificações e aos cuidados maternos através de sentimentos de amor para com a pessoa da mãe, mas esse primeiro amor convive e luta com impulsos destrutivos, permanecendo nesse estado toda vida de uma pessoa. Por outro lado, esses impulsos primários são acompanhados de fantasias e de pensamentos imaginativos, como imaginar a sensação que a mãe lhe dá quando ela está ausente. Há também fantasias destrutivas, por exemplo, de que morde e despedaça a mãe e seus seios. Essas fantasias destrutivas equivalem a desejos de morte, mas o bebê encontra um amparo através de outras fantasias como as de que está juntando os pedaços e restaurando sua mãe, mas elas não dissipam completamente o medo de haver destruído completamente ela.

Nessas relações primárias desenvolvem-se sentimentos de culpa quando surgem impulsos de ódio para com a pessoa que amamos. Isto está associado a "complexos de inferioridade" e explica porque algumas pessoas precisam tanto de elogio e aprovação dos outros, de que são dignas de amor, o que é a contraface do medo inconsciente de não amar outras pessoas de modo verdadeiro o suficiente ou de não serem capazes de dominar impulsos agressivos para com os outros.

Assim, como assinalam Klein, "A luta entre amor e ódio, com todos os conflitos que desencadeia, instala-se, como procurei demonstrar na tenra infância, mantendo-se ativa ao longo de toda vida. Ela tem início com o relacionamento de amamentar-se na mãe, já se acham presentes sensações orais que se expressam nas agradáveis sensações orais relacionadas com o processo de sugar. Não tarda que as sensações genitais entrem em cena, diminuindo o desejo pelo seio materno. Esse desejo não desaparece totalmente porém permanecendo ativo na mente inconsciente e em parte também na mente consciente."

No caso da menina pequena, a preocupação com o mamilo materno transforma-se num interesse inconsciente pelo genital do pai, que se transforma no objeto de desejo e fantasias. Surge a fantasia de tomar o lugar da mãe, a menina mostra-se ciumenta dos filhos que a mãe possui, e deseja que o pai lhe dê bebês só seus. Tudo isso provoca rivalidade, agressividade e ódio contra a mãe, que se somam à primitiva agressividade. Ao lado do amor aos pais há sentimentos de rivalidade e essa mescla de sentimentos passa para os irmãos e irmãs. Os desejos e fantasias ligados à mãe e irmãs formam a base de relacionamentos homossexuais ou de sentimentos homossexuais manifestados como amizade e afeição entre mulheres. Normalmente esses desejos são desviados e sublimados e predominam relacionamentos heterossexuais.

O menino pequeno, por sua vez, experimenta desejos genitais para com a mãe e sentimentos de ódio em relação ao pai, considerado como um rival. Os desejos genitais com relação ao pai estão nas raízes da homossexualidade masculina. Essas situações originam um sem número de conflitos, pois o ódio e o amor se misturam na criança em relação aos seus pais. Ela também revela um intenso ciúme para com irmãos e irmãs, e percebe como rivais no amor dos pais, embora também os ame. Essa é uma situação que leva a sentimentos de culpa e a desejos de fazer o bem. É importante notar que os relacionamentos com as pessoas em geral são marcados por esses sentimentos primitivos, a nossa atitude social e os sentimentos de amor e de culpa, bem como o desejo de fazer o bem mais tarde na vida, estão ligados a esses sentimentos.

Esses sentimentos primitivos envolvendo a criança e seus pais e que se estende para seus irmãos foi denominado, como se sabe, Complexo de Édipo. Nesse situação, a criança modela, em grande parte, sua psique, lidando com sentimentos profundos, ambivalentes e poderosos. Na resolução desse complexo ao longo dos primeiros anos da criança, moldam-se os sentimentos de amor, agressividade, culpa, desejos de fazer o bem.

É possível dizer que aí se acha envolvido, em última instância, a agressividade que as pessoas exercem e experimentam em relação aos seus semelhantes. Uma importante observação a ser feita é que os primeiros trabalhos envolvendo essa problemática remontam a Freud, que faleceu em 1940 e que, os trabalhos mais especificamente dedicados a criança ligados a Melanie Klein e Joan Riviere são da década de 30, aproximadamente, voltando-se para uma família nuclear em que a mãe praticamente se voltava para o recinto doméstico e as relações familiares, em grande medida, eram distintas das que existem hoje. A família nuclear da atualidade convive com uma miríade de formas de sexualidade, relacionamentos, modos de ganhar a vida e assim por diante.

Esses novos tipos de relacionamento são poeticamente ligados à pobreza e exclusão em Nem Tudo Começa com um Beijo, livro de um jornalista nascido em Cabo Verde, Jorge Araújo, e de outro nascido em Angola, Pedro Sousa Pereira. O livro é inspirado na história das crianças que vivem nos esgotos de Luanda, e trata de uma trama de amor entre dois mundos separados pela injustiça social. Essa separação se expressa na Cave que é o subterrâneo, o buraco de esgoto em que vivem Fio Maravilha, Gelatina, Molécula, Armando Pantera e outros meninos, bem como no Sótão, a grande cidade com casas e prédios com diversas funções, relações impessoais, e os latões de lixo onde as crianças da Cave buscam alimento. Aí vive Nuvem Maria, que é amada por Fio Maravilha, um amor aparentemente sem futuro.

O contexto familiar original de Fio Maravilha pode ser visto numa conversa que ele tem com Nuvem Maria: "Fio Maravilha já se sentia tão confortável que abriu o coração. Disse-lhe que não conhecia os pais verdadeiros, só sabia que a mãe o tinha abandonado à porta do hospital, não tinha condições de me criar, sublinhou, que foi adotado por uma família rica porque a mulher não conseguia ter filhos, ela era muito carinhosa, mas tinha uma saúde débil, recordou, e que tudo mudou quando ela morreu e o pai adotivo resolveu casar-se de novo. / _ O que aconteceu? – Nuvem Maria perguntou./ Fio Maravilha falou-lhe então da madrasta, das punições que ela lhe infligia, das humilhações a que o sujeitava. E contou-lhe o dia em que, farto de tanto sofrer, resolveu abandonar a casa e refugiar-se na Cave."

O contexto familiar de Nuvem Maria é bem diverso: "Nuvem Maria começou a falar do seu prédio com vista para a solidão. Dos vizinhos que se cruzam nos elevadores mas não se conhecem, dos pais ausentes que logo que chegam em casa correm para ligar a televisão, da vez que fugiu mas ninguém percebeu, do horrível cheiro de refogado que empesta o ambiente."

Portanto, a distância social e os diferentes contextos familiares, a pobreza e o bem estar, são todos marcados pela solidão dos jovens e sua distância em relação aos pais. Isso leva a uma identificação entre ambos e ao início do seu relacionamento amoroso: "Por breves instantes, ficaram olhando um para o outro. Depois ela se aproximou ainda mais, o seu perfume cheirava a lavanda, soltou a sua farta cabeleira loura. Fio Maravilha era capaz de jurar que cada fio do seu cabelo era uma filigrana de ouro, colou os lábios aos seus ouvidos. Antes que ele dissesse alguma coisa, ela colocou-lhe a palma das mãos sobre a boca, depois o beijou com os olhos, a língua, sobretudo com o coração. Foi um beijo prolongado de cortar a respiração, um beijo sentido ou então guardado. Com sabor de chiclete."

Além desse amor, das experiências afetivas frustrantes, há uma distância social que impede a vida comum dos dois namorados. Por outro lado, tanto na organização familiar de Fio Maravilha como na de Nuvem Maria, existe agressividade que é imputada à existência dessa distância social. O livro "resolve" essa situação com um terremoto que nivela Cave e Sótão, soterrando a agressividade e permitindo o amor, representado pelo amor dos dois personagens. Até que ponto esta é uma solução adequada para psicanálise? Fica em aberto. Existiria alguma organização social ou alguma organização familiar que evitasse a trama de emoções que vive um bebê?

O romance Partículas Elementares é uma utopia voltada de modo algo delirante para esse problema. O ponto de partida do texto são as possibilidades abertas aos seres humanos para controlar sua reprodução biológica de forma radical. Essas possibilidades estão resumidas neste parágrafo do livro Filosofia Política Contemporânea, organizado por Manfredo Oliveira, Odílio Alves Aguiar e Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd, Editora Vozes, 2003: "A diferença radical, para H. Jonas em relação ao contexto em que se situavam as filosofias ética e política antigas, é que a ação e as instituições humanas, tecnicamente potencializadas, podem hoje danificar irreversivelmente a natureza e o próprio ser humano: a intervenção tecnológica altera a própria natureza do agir humano e de suas instituições que assim não só a biosfera do planeta, mas a natureza como um todo, passa a ser implicada na esfera do agir humano e, portanto, de sua responsabilidade. Aumenta cada vez mais a desproporção entre o poder de dominação técnica e os critérios ético- políticos capazes de reger a nova civilização daí decorrente, que coloca cada ser humano, cada nação, cada cultura face ao desafio de assumir as possibilidades e os riscos dos efeitos de suas ações e de suas instituições sociais. No plano da vida humana isto se manifesta, por exemplo, como possibilidade de interferir nos processos químicos que determinam o envelhecimento orgânico e se faz possível o controle do comportamento humano através de agentes químicos. A mais espetacular de todas estas novas possibilidades é a manipulação tecnológica dos processos genéticos, tornando realidade o sonho de planificação e produção em laboratório da vida humana de tal modo que o homem contemporâneo tem a sensação de que afinal tomou seu destino em suas mãos e se fez sujeito de um agir coletivo capaz de submeter toda a natureza a seus fins assim que a técnica, neste projeto de emancipação tecnocrática da modernidade, de meio se transformou no fim fundamental da vida humana."

É precisamente de um projeto de emancipação tecnocrática da modernidade, como diz o parágrafo acima, que trata o romance. Sem resumi-lo, vamos observar suas linhas principais. O pano de fundo cobre um período que começa no pós-guerra e termina em 2009, quando falece o último dos grandes personagens, Djerzinski. Esse período é avaliado por movimentos como a sociedade de bem estar, a liberação sexual, o movimento hippie e outros que permitem, teoricamente, uma melhor expressão da personalidade humana. Todavia, no romance, esses movimentos acabam num caos em que as pessoas não conseguem construir-se positivamente e em que o sexo se torna compulsivo e maníaco, exercido de forma crescentemente irresponsável e sado-masoquista. Há inclusive a idéia de que a liberação sexual leva a fenômenos como Charles Manson.

A mãe dos personagens principais, Bruno e Michel, conquista a independência financeira com seu marido montando, no início desse período, clínicas de estética e cirurgia plástica. Posteriormente se separa e vive confortavelmente junto com amigos ligados ao movimento hippie. Os dois personagens, Bruno e Djerzinski (ou Michel), têm pais diversos, e personalidade muito diferente. Bruno acaba se tornando maníaco por sexo de uma forma crescentemente violenta e descontrolada. Sua última parceira termina paralítica por esse motivo. Bruno acaba enlouquecendo e falece sem remissão. Por sua vez, Michel é biólogo molecular e estuda a reprodução humana. É uma pessoa equilibrada e racional, que quer contrariar o caos que percebe à sua volta.

Michel, depois da morte da mãe, se isola na Península de Clifden, na Irlanda, desenvolvendo um conjunto de trabalhos que levariam à descoberta de que "Todo código genético, de qualquer complexidade, podia ser reescrito sob uma forma standart, estruturalmente estável, inacessível às perturbações e às mutações. Toda célula podia, portanto, ser dotada de uma capacidade infinita de replicações sucessivas. Toda espécie animal, por mais evoluída que fosse, podia ser transformada numa espécie aparentada, reprodutível por clonagem e imortal."

Outro pesquisador continuou o trabalho chegando à uma proposição radical de que a humanidade desapareceria, dando origem a uma nove espécie, assexuada e imortal, ultrapassando a individualidade, a separação e o devir. Apesar de combatido pelo judaísmo, cristianismo e islamismo, e por todos os partidários tradicionais do humanismo, essas objeções basearam-se nos conceitos arbitrários e confusos de liberdade individual, dignidade humana e progresso. No período em que esses conceitos surgem e se desenvolvem, do século XV ao século XX, se observa uma era de dissolução e desagregação progressivas. Por outro lado, no fim do século XX, o New Age se mostrava com um autêntico imoralismo, individualismo, seu aspecto libertário e anti-social.

A revolução técnica em biologia permite a criação do primeiro ser inteligente produzido pelo homem "a sua imagem e semelhança". A avaliação que narrador do livro faz dessa experiência é a seguinte: "Rompido o vínculo derradeiro com a humanidade, vivemos. Pela avaliação dos homens, vivemos felizes. É verdade que soubemos vencer os poderes, insuperáveis para eles, do egoísmo, da crueldade e da cólera; vivemos, de toda maneira, uma vida diferente. A ciência e a arte continuam existindo em nossa sociedade, mas a busca do Verdadeiro e do Belo, menos estimulada pelo aguilhão da vaidade individual, tornou-se menos urgente. Para os humanos da antiga raça, nosso mundo parece um paraíso, acontece-nos, as vezes, de modo claro, ligeiramente humorístico, de qualificarmo-nos como ‘deuses’ tomando de empréstimo esse nome que tanto os fez sonhar."

O livro é dedicado ao homem, o que mostra sua extrema argúcia e ironia. A psicanalista Osny Marcondes pensa o livro como um relato de tendências ainda em curso na humanidade. Concordando com ela, creio que num livro tão breve não podem ser discutidos problemas de índole econômica e política, e que o livro se circunscreve demasiadamente a uma crônica de costumes. Ao mesmo tempo que um manifesto irônico, uma anti-utopia, o livro é também pensado para ser um best-seller. De qualquer modo, há um grão de verdade em sua narrativa.

Fechando este artigo, a idéia de que se pode enfrentar problemas como a agressividade humana com uma reprodução assexuada no mínimo levanta outros problemas, e não é claro o fim da agressividade. Além disso, a agressividade não explica a violência que vigora nas relações interpessoais e políticas do nosso mundo. Esse é um problema histórico que vai muito além do complexo de Édipo. O livro Partículas Elementares sugere uma nova sociedade, em que seja possível ligar os seres humanos por laços de amor, retomando idéias de Augusto Comte. Esse é um sonho de todas as religiões e muitas filosofias. Entretanto, dentro de certos limites, a agressividade é um fator crucial em quase toda atividade humana, e se acha mesclada com o amor. É possível pensar ambos separados?

Concluímos este texto lembrando que, após um longo hiato de paz entre as principais nações no século XIX, tivemos o horror da revolução espanhola, a guerra civil na Rússia, as duas grandes guerras mundiais, o totalitarismo alemão e soviético, e mais tarde as guerras de descolonização, inúmeros exemplos de regimes totalitários na Ásia e depois na América Latina. Tivemos também o apertheid na África do Sul, do qual também tivemos e ainda temos exemplos nos Estados Unidos, a perseguição a palestinos e judeus e outras minorias, o terror da guerra em Kosovo.

Longe de esgotar essa lista, ela poderia ser estendida pela violência sobre o trabalho que toma inúmeras formas até se constituir, em algumas regiões, um núcleo de seguridade pessoal. No Brasil isso só se inicia com Vargas. Entretanto continua uma luta bastante acirrada no campo brasileiro e em toda América Latina. A violência que nós vemos hoje nas grandes cidades como o Rio e São Paulo, e mesmo menores, às vezes muito menores, e que se expressa nas elevadas taxas de morte por causas externas, tem a ver com a ampliação no narcotráfico mas também com a desestruturação do mercado de trabalho, bem como com uma proletarização que pode ser vista pelos elevados índices de desemprego e heterogeneidade nunca vista na classe média, no encolhimento do Estado e de seus serviços. Todos esses são fenômenos dos últimos trinta anos, quando muda radicalmente a regulamentação do capitalismo brasileiro. Portanto, a meu ver, a violência atual tem componentes complexos e muito distintos do apanhado pelo livro Partículas Elementares, como a liberação sexual ou a alteração nos costumes.

Embora se possa e deva discutir nossa chamada pós-modernidade, também não caiamos na tentação de um conservadorismo que elogie a família tradicional e as crianças e as mulheres aterrorizadas do nosso passado.

Curtitiba, 29 de junho de 2007

Obras citadas no texto:

1- Filosofia Política Contemporânea, organizadores Manfredo Oliveira, Odílio Alves Aguiar, Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd, Editora Vozes, 2003

2- Partículas Elementares, Michel Houellebecq, Editora Sulina, 1999

3- Nem Tudo Começa com um Beijo, Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira, Editora Agir, 2006

4- Amor, Ódio e Reparação, Melanie Klein e Joan Riviere, Imago Editora, Editora da Usp, 1975

 

Igor Zanoni Constant Carneiro Leão

igorzaleao[arroba]yahoo.com.br



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