Foram utilizadas 16 novilhas ½ Holandês/Indubrasil, com peso vivo médio de 230 kg, alojadas em baias individuais cobertas, distribuídas em um delineamento inteiramente casualisado, com quatro tratamentos e quatro repetições, definidos conforme a alimentação: T1 - Bagaço sem tratamento (controle); T2 - Bagaço tratado com 2,5% de Na2S; T3 - Bagaço tratado com 4% de NH3 e T4 - Bagaço tratado com 2,5% de Na2S + 4% de NH3. Todos tratamentos foram feitos com base na matéria seca do bagaço. O bagaço de cana-de-açúcar ficou armazenado por 10 meses e, após a abertura dos silos, foi fornecido aos animais ad libitum, pela manhã (7 h), para obter sobras em torno de 10%, e todos animais receberam 3,5 kg/cabeça/dia de concentrado contendo 19% de proteína bruta. Verificou-se efeito para ganho de peso diário e total, observando-se ganhos maiores para os tratamentos com NH3. Os valores médios encontrados para ganho de peso diário foram 702, 684, 1026 e 1005 g/cab, respectivamente, para o bagaço sem tratamento, tratado com Na2S, tratado com NH3 e tratado com NH3 mais Na2S. O consumo de MS, em função do peso vivo, variou de 1,92 (controle) a 2,46% PV (NH3), enquanto o consumo de FDN variou de 0,84 (controle) a 1,14% PV (NH3).
Palavras-chave: amonização, bagaço, resíduo
Sixteen ½ Holstein/Indubrasil heifers, averaging 230 kg of live weight, housed in individual boxes, were allotted to a completely randomized design, with four treatments and four replicates, according to the following treatments: T1 - bagasse without treatment (control); T2 - bagasse treated with 2.5% Na2S; T3 - bagasse treated with 4% NH3 and T4 - bagasse treated with 2.5% Na2S + 4% NH3. All treatments were based on bagasse dry matter. Sugarcane bagasse was stored for 10 months e, after silo opening, animals were ad libitum fed, in the morning (7 a.m.), to obtain orts of approximately 10%, and all animals were fed 3.5 kg/head /day of concentrate with 19% crude protein. It was verified effect for daily and total weight gain, and the higher gains were observed for the treatments with NH3. The average values observed for daily weight gain were of 702, 684, 1026, and 1005 g/head, respectively, for the bagasse without treatment, treated with Na2S, treated with NH3 and treated with NH3 plus Na2S. DM intake, as a function of live weight, ranged form 1.92 (control) to 2.46% LW (NH3) and NDF intake ranged from 0.84 (control) to 1.14% LW (NH3).
Key Words: ammoniation, bagasse, residue
Subprodutos agro-industriais, resíduos de culturas anuais de inverno e verão, fenos de plantas colhidas no estádio de maturação avançado e forragens resultantes da colheita de sementes de gramíneas e leguminosas podem ser considerados alternativas para a suplementação animal no período de escassez de forragens.
Deve-se considerar que esses volumosos são de baixa qualidade, pois apresentam alto conteúdo de parede celular (acima de 60%), elevado teor de fibra em detergente ácido (acima de 40%) e reduzidos conteúdos de proteína bruta (abaixo de 6%), além da baixa digestibilidade da matéria seca (40 a 50%), o que resulta em baixos níveis de consumo voluntário (Reis & Rodrigues, 1993).
Entre os vários subprodutos existentes no momento, o bagaço de cana-de-açúcar merece destaque, em razão de serem produzidas, anualmente no país, cerca de 75 milhões de toneladas por ano (Bürgi, 1995). Este bagaço proveniente de usinas de açúcar, álcool ou aguardente constitui um problema, por ser pouco utilizado, sendo muitas vezes queimado ao ar livre, enquanto poderia ser usado na alimentação de ruminantes.
A amônia anidra é o nome químico dado ao composto que apresenta um átomo de nitrogênio e três de hidrogênio (NH3). Possui elevado teor de nitrogênio (82%) e, normalmente, é obtida no estado líquido sob baixas temperaturas ou pressões relativamente altas. A uréia (NH2CONH2), que, por sua vez, possui, em média, 44% de nitrogênio, é encontrada na forma sólida e necessita de umidade e presença da enzima urease para que possa produzir 2NH3 + CO2, para cada molécula de uréia.
Um dos efeitos da ação da amônia sobre a forragem é a desestruturação no complexo formado pelos componentes da fibra (celulose, hemicelulose e lignina), oferecendo aos microrganismos maior área de exposição e, conseqüentemente, aumentando o grau de utilização das diferentes frações da fibra. Outro efeito marcante da amonização é o incremento no teor dos compostos nitrogenados, que, normalmente, é baixo, o que limita o crescimento dos microrganismos do rúmen (Garcia & Neiva, 1994).
Trabalhos têm mostrado que melhores resultados com amonização têm sido relatados em forragens com baixa qualidade, ou seja, menos de 6% de proteína bruta (PB) e 48% de nutrientes digestíveis totais (NDT), valores encontrados na maioria dos subprodutos agro-industriais e restos de culturas (Castrillo, et al., 1995; Fike, et al., 1995; Oliveira, et al., 1994).
Goonewardene et al. (1998), utilizando cevada (planta toda) amonizada ou não (1% base MS) na alimentação de novilhos com peso médio de 284 kg, não observaram diferenças no ganho de peso diário e na ingestão de matéria seca para os tratamentos. O ganho médio diário foi de 1,11 e 1,18 kg/dia e a ingestão diária, de 8,5 e 8,3 kg/dia, respectivamente, para a cevada não-amonizada e amonizada. Cabe ressaltar que a dose utilizada de amônia (1% base MS), normalmente, não é suficiente para alterar o valor nutritivo de forragens, principalmente em forragens que já possuem bom valor nutritivo.
Em um estudo utilizando cabras em lactação recebendo dietas à base de palha de Schizachyrium exile sem tratamento, ou tratada com uréia (5 kg de uréia em 50 L de água para 100 kg de palha), e palha sem tratamento mais 400 g de caroço de algodão, Djibrillou et al. (1998) verificaram maior produção de leite nos animais que receberam palha tratada (443 g/dia) e palha sem tratamento mais suplementação (447 g/dia), enquanto as cabras do tratamento controle apresentaram 389 g/dia.
Neiva et al. (1998), avaliando o desempenho de novilhos de corte alimentados com dietas à base de silagens de milho (contendo 35 e 45% de MS) tratadas com 1,2% de NH3 (base da MS) e rolão de milho tratado com 2,4% de NH3 (base da MS), não observaram diferença no consumo de matéria seca, em função do peso metabólico e do peso vivo. Apesar de não encontrarem diferença (P>0,05), observaram tendência de maior ganho de peso para os animais que consumiram silagem de milho com 35% de MS (1,167 kg/dia, quando não-amonizada, e 1,045 kg/dia, quando amonizada), seguida da silagem com 45% de MS (0,945 kg/dia, quando não-amonizada, e 0,900 kg/dia, quando amonizada) e, por último, do rolão de milho (0,727 kg/dia, quando não-amonizado, e 0,950 kg/dia, quando amonizado). Estes resultados podem ser atribuídos aos baixos níveis de amônia anidra adicionada às silagens (1,2%) e ao bom valor nutritivo.
Fike et al. (1995) utilizaram palhada de trigo amonizada (3% de NH3 base MS) como volumoso para vacas de corte, e suplementação concentrada com os seguintes tratamentos: controle (sem suplementação), suplementação com 2,0 kg de concentrado contendo 12% de PB, suplementação com 2,0 kg de concentrado contendo 20,1% de PB e suplementação com 2,0 kg de concentrado contendo 31,7% de PB. Verificaram crescente ganho de peso e melhor condição corporal, à medida que se aumentou a proteína do concentrado. Todavia, não foi observada perda de peso para os animais sem suplementação concentrada recebendo apenas palha de trigo amonizada. Os autores relataram ainda que o peso médio de bezerros ao nascimento e o peso à desmama não foram afetados pelos tratamentos, o que também foi observado para taxa de prenhez durante a estação de monta.
Aumento no consumo de MS total de 30,2 para 50,6 gMS/kg0,75, respectivamente, para o material sem tratamento e o tratado com amônia, e acréscimo no consumo de palha (551 e 858 g/dia, respectivamente) foram relatados por Castrillo et al. (1995), em um experimento com ovinos alimentados com palha de cevada sem tratamento ou tratada com amônia anidra (3% base MS).
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