Objetivo: Determinar o impacto, na manutenção da amamentação além dos 2 meses, de um programa chamado "17 passos", que consiste de 17 estratégias para promoção, apoio e proteção à amamentação, implementados durante 10 meses em um centro de saúde.
Métodos: Ensaio clínico não-aleatorizado, com 147 crianças nascidas de 1º de janeiro de 1999 a 31 de dezembro de 2001, que tiveram seu primeiro atendimento antes de completar 2 meses de idade; 67 crianças foram submetidas ao programa tradicional e estudadas retrospectivamente, e 80 foram submetidas aos 17 passos e estudadas prospectivamente. O tempo de seguimento máximo foi de 10 meses. O impacto do programa no aleitamento foi avaliado por meio de técnicas de análise de sobrevida. As curvas de sobrevivência foram descritas pelo método de Kaplan-Meier e comparadas pelo teste log-rank. Utilizou-se o modelo de Cox para o ajuste por covariáveis. A comparação inicial dos grupos foi feita através dos testes t, Kruskal-Wallis e qui-quadrado. Considerou-se o nível de significância de 5%.
Resultados: Ajustando-se por covariáveis da mãe e da criança, observou-se diferença significativa entre o tempo de aleitamento dos dois grupos (p = 0,047). O risco relativo de interrupção do aleitamento materno para o grupo dos 17 passos foi de 0,54 (intervalo de confiança 95% = 0,30-0,99), indicando que o risco de as crianças submetidas à intervenção tradicional interromperem a amamentação antes de completar 1 ano é 85% superior ao das crianças submetidas aos 17 passos.
Conclusão: O programa teve impacto positivo na duração da manutenção do aleitamento materno dos 2 aos 12 meses de idade.
Intervenção, promoção, avaliação, programa, amamentação.
As propriedades nutricionais, imunológicas e fisiológicas do leite humano, os aspectos psicoafetivos que resultam da interação mãe-filho durante a amamentação e o aspecto econômico podem ser traduzidos em benefícios para a criança, a mãe, a família, a sociedade e o próprio Estado1,2.
Dados nacionais mostram que 96% das mulheres iniciam a amamentação, apenas 11% amamentam exclusivamente até 4 a 6 meses, 41% mantêm o aleitamento materno até 1 ano, e 14% até os 2 anos3, índices abaixo dos aconselhados pela Organização Mundial de Saúde, que são recomenda aleitamento exclusivo até 6 meses e aleitamento materno complementado até 2 anos, no mínimo4.
Outro aspecto é o despreparo do pessoal de saúde. As falsas crenças existentes em relação à prática da amamentação também são encontradas entre eles5,6.
Programas de promoção do aleitamento materno que incluem a capacitação da equipe de saúde têm grande impacto nas práticas desses profissionais, ocasionando maior duração da amamentação nas comunidades por eles assistidas7,8.
Este estudo avalia o impacto, na manutenção do aleitamento materno a partir dos 2 meses de idade, com censura aos 12 meses, da adoção de um programa consistindo de 17 passos para a promoção da amamentação, implementado em um centro de saúde.
Foram estudadas 147 crianças moradoras da área de abrangência e influência do Centro de Saúde São Francisco, unidade básica de saúde localizada no Distrito Sanitário Pampulha, região Norte de Belo Horizonte (caracterizada pela predominância de uma população de baixa renda), nascidas entre 1º de janeiro de 1999 e 31 de dezembro de 2001, cujas mães procuraram espontaneamente este centro de saúde antes de as crianças completarem 2 meses de idade e que ainda estavam sendo amamentadas aos 2 meses de idade.
Não houve perdas na amostra, pois não houve crianças cujas mães se recusassem a participar do estudo ou fossem portadoras de doenças e/ou condições que contra-indicassem o aleitamento materno.
Esta pesquisa constituiu-se em ensaio clínico não-aleatorizado, um estudo quase-experimento9. Todas as crianças que tiveram seu primeiro atendimento no centro de saúde antes de completar 2 meses e que ainda mamavam ao completar 2 meses foram submetidas a intervenções tradicionais (67 crianças nascidas de 1º de janeiro de 1999 a 31 de agosto de 2000); essas crianças foram estudadas retrospectivamente e constituíram o Grupo 1. Um segundo grupo, obedecendo ao mesmo critério acima, foi submetido ao programa "17 passos"; essas crianças foram estudadas prospectivamente (80 crianças nascidas de 1º de dezembro de 2000 a 31 de dezembro de 2001) e constituíram o Grupo 2. A implantação do programa ocorreu entre 1º de setembro de 2000 a 31 de novembro de 2000. As crianças do Grupo 1 que ainda estavam sendo amamentadas ao final da implantação do programa acabaram sendo beneficiadas pelo mesmo em parte de seu seguimento.
A intervenção tradicional consistia nas rotinas anteriormente realizadas no centro de saúde: aconselhamento do pediatra à mãe, individualmente, dentro do consultório, e reuniões semanais com gestantes, de duração aproximada de 1 hora, em que eram abordados temas do pré-natal e de aconselhamento familiar, sem nenhuma ênfase especial ao aleitamento materno.
Os profissionais foram capacitados por meio de palestras e observações críticas do aconselhamento em amamentação feito pelo pediatra, tanto no manejo clínico quanto nas habilidades de escuta e de reforço da autoconfiança materna. A palestra do pediatra também os colocou a par das 17 estratégias para promoção, apoio e proteção do aleitamento materno e das razões de cada uma delas (Tabela 1).
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