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A história no nível médio - Preparação para a cidadania ou para ingresso na universidade? (página 4)

Eronildes Manoel Dos Santos
Partes: 1, 2, 3, 4

ANEXO B

Prova de História Processo Seletivo/UFU – 1ª Fase PROVA TIPO 1

Dezembro de 2004

QUESTÃO 11

A Baixa Idade Média, período que vai do século X ao XV, foi marcada por processos históricos que desencadearam a crise do feudalismo, transformações de hábitos e costumes em relação ao tempo e ao trabalho. A esse respeito, assinale a alternativa INCORRETA.

A) As Cruzadas mesclaram interesses de cristianização de povos considerados infiéis e de expulsão de povos bárbaros de importantes regiões e rotas comerciais. A expulsão dos mouros da Península Ibérica fortaleceu as monarquias de Portugal e Espanha, criando condições para que estes países se tornassem pioneiros nas grandes navegações.

B) Nas cidades, a nascente burguesia aliou-se à Igreja contra o poderio da nobreza feudal, lutando pela centralização do poder e impondo novos valores, como o saber erudito das Universidades, a usura e o trabalho das corporações de ofício responsáveis pela produção em larga escala de artigos manufaturados.

C) Na Baixa Idade Média foram construídas grandes catedrais em estilo gótico, mostrando a imponência da Igreja Católica. Por outro lado, proliferaram obras que rompiam com dogmas católicos e apresentavam visões profanas e laicas sobre o homem.

D) Na crise do feudalismo o tempo passou do domínio sagrado para o laico. O tempo cíclico da Igreja, em que predominavam as mudanças naturais e climáticas, deu lugar ao tempo regido pelas necessidades de acumulação de capital pela nascente burguesia, promovendo a disciplina e a rotina semanal de trabalho nas manufaturas.

QUESTÃO 12

Interprete o trecho do "Manifesto Antropofágico", de Oswald de Andrade.

"(...) Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

(...) Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.

Catiti Catiti

Imara Notiá

Notiá Imara

Ipejú.

Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.

A alegria é a prova dos nove.

No matriarcado de Pindorama.

Oswald de Andrade

Em Piratininga

Ano 374 da deglutição do Bispo Sardinha."

Revista Antropofágica. São Paulo, n. 1, ano 1, maio de 1928.

O Manifesto, escrito por um dos participantes da Semana de Arte Moderna de 1922, elabora algumas imagens sobre o passado do Brasil. Sobre este Manifesto, os modernistas e o contexto histórico da década de 1920, podemos afirmar que

I - o Manifesto traz a marca da conciliação entre as raças negra, branca e índia, celebrada anualmente no carnaval, consolidando a imagem de descobrimento do Brasil como obra do acaso. Este manifesto mostrou a proximidade dos modernistas com os escritores românticos, numa tendência de volta ao passado e de valorização da cultura lusitana.

II - o movimento modernista sofreu influências do futurismo, expressionismo e surrealismo. Este recolheu inspiração num período marcado por grande agitação política e cultural e pela crescente urbanização do país, ressaltando nossas raízes históricas de uma forma crítica.

III - a metáfora da antropofagia reforça o principal elemento da cultura modernista – o nacionalismo – em detrimento do princípio da luta de classes. Apesar disso, o período foi marcado por embates entre o anarquismo, defensor de eleições livres, e o comunismo, defensor da luta direta contra os patrões.

IV - o ímpeto inicial que unia os modernistas era a renovação, a mudança, e o rompimento com as regras acadêmicas, porém alguns seguiram caminhos politicamente conservadores, como Cassiano Ricardo e Plínio Salgado, ligados ao verde-amarelismo e defensores do nacionalismo "tupi".

Assinale a alternativa correta.

A) I e III são corretas.

B) I e II são corretas.

C) III e IV são corretas.

D) II e IV são corretas.

QUESTÃO 13

A respeito do panorama político no Brasil na década de 1990, assinale a alternativa correta.

A) O segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, iniciado em 1998, foi obtido em função se sua grande aprovação popular, tendo em vista o sucesso do Plano Real que fez diminuir os índices de desemprego e aumentar a distribuição de renda. Ao defender o monopólio nacional do petróleo e das telecomunicações, o governo FHC conseguiu interromper o crescimento das esquerdas, derrotadas nas eleições de 2000.

B) A eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994 representou a vitória da social democracia no Brasil por meio do Plano Real, concebido pelo PSDB, Partido Social Democrático do Brasil, evitando assim uma aproximação do governo aos setores mais conservadores da política como o PFL, Partido da Frente Liberal.

C) Apesar de todo o discurso do presidente Collor em defesa dos "descamisados" e da promessa de "caça aos marajás" do serviço público, a decepção e a indignação da população, bem como o envolvimento do presidente em esquemas de corrupção, foram marcas do primeiro governo eleito após o fim da ditadura.

D) A construção de imagens carismáticas dos governantes pela mídia e pela propaganda governamental, na década de 1990, especialmente de Collor e de Itamar Franco, baseou-se na disseminação do culto à modernidade e à democracia. Com a revalorização do princípio da ética na política, os esquemas de corrupção, detectados no governo Collor, foram diminuindo nos governos seguintes.

QUESTÃO 14

Após o final da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha mergulhou numa profunda crise econômica e política, o que favoreceu o desenvolvimento da doutrina totalitária conhecida como nazismo. A esse respeito, assinale a alternativa INCORRETA.

A) No período da história alemã conhecido por República de Weimar, Adolf Hitler liderou uma tentativa golpista de extrema direita, colocando em cena o programa do Partido Nacional Socialista que denunciava os marxistas, os judeus e os estrangeiros. Este prometeu trabalho a todos os alemães, realizações sociais e a supressão das imposições do Tratado de Versalhes.

B) A Alemanha, derrotada na 1ª Guerra, foi forçada a assinar a "própria culpa da guerra", além de pagar pesadas indenizações e perder parte de seu território. A instabilidade política e social foi a tônica deste período, face ao aumento da inflação, estimulada pelo próprio governo via desvalorização do marco, facilitando as exportações e uma maior concentração do capital.

C) No contexto da República de Weimar, a ascensão do governo social democrata, em aliança com socialistas e anarquistas, embora tenha diminuído os índices de inflação e desemprego, não conseguiu barrar o crescimento da doutrina nazista de Hitler, a qual pregava o ódio aos judeus e estrangeiros e tinha como princípio a defesa do racionalismo, em detrimento do romantismo.

D) A partir de 1929, a situação socioeconômica do país foi agravada pela crise mundial do sistema capitalista. A crise e a depressão trouxeram na sua esteira as falências, o desemprego, o declínio da produção agrícola e industrial, refletindo-se no agravamento dos antagonismos sociais e na ascensão dos partidos extremistas, fragilizando a coalizão social-democrata que governava o país.

ANEXO C

Entrevista

PROFESSOR 1: Luis Gabriel de Paula Nascimento Moge, 23 anos, 3 anos e meio lecionando

Colégio Ápice (privado)

Entrevista realizada em 06 de abril de 2005

Qual sua formação?

Terceiro grau incompleto. Acabo neste ano.

Leciona há quanto tempo?

Há aproximadamente três anos e meio.

Por que você resolveu cursar História?

Comecei a querer a fazer o curso de fato a partir do primeiro colegial. Acho que teve relação direta com as aulas de história que tive durante o colegial como um todo, por causa da visão diferenciada que o professor dava em relação ao primeiro grau, ao ensino fundamental.

Um professor especificamente?

Não. Tive três professores que foram muito bons no colegial. Exatamente pela visão que davam para a aula de história. O andamento da aula era bem diferenciado, não se preocupavam tanto com a questão de terminar o módulo todo bimestre, em cumprir a matéria. Eram bem criticados por causa do estilo deles, sem se preocuparem tanto com o conteúdo. A escola não "batia muito" com essa filosofia de aula mas os alunos acabavam gostando muito. A visão da escola era o vestibular, por isso havia essa crítica, o professor que não se preocupava com o conteúdo era "enrolão", enrolava a aula. E querendo ou não, as questões de História eu fechei.

Isso despertou o interesse pela História ou em ser professor de História?

Acho que foi junto. Comecei a pensar o curso que ia fazer, pois desde o primeiro colegial eu já queria ser professor. Eu gostava muito de história, de matemática, de física, de biologia, geografia... No primeiro colegial você acaba gostando de muita coisa.

Ou odiando muita coisa...

Pois é. Interessante foi que no primeiro colegial eu já queria ser professor, mas fui excluindo as outras disciplinas até chegar na História.

Quando você falou para os seus pais que queria ser professor, qual a reação?

Foi tudo bem... Meu pai é professor de matemática e física.

O que é História para você? O que passa para seus alunos?

Infelizmente, por eu ser muito novo, muitas vezes o próprio aluno tem um certo preconceito em relação a mim. Então, inovar é muito difícil.

A escola onde você leciona permite inovações?

Permite. Ela dá a liberdade para o professor dirigir a aula como quiser, mas ainda assim uma liberdade restrita. Há a liberdade para fazer do jeito que quiser, desde que o conteúdo seja cumprido. Acredito que cumprirei o conteúdo este ano, mas não estou seguindo a organização de capítulos que eles colocaram. Na explicação, por exemplo, do feudalismo, aquela concepção que pedem para a gente "jogar dentro da cabeça do aluno", impor. Eu me preocupo muito em não passar aquilo daquela forma, expositiva, escrever no quadro e falar: "decorem isso!" Por exemplo, quando tem que falar sobre a Igreja Católica dentro do feudalismo, eu falo o básico, porque acho que esse tema será mais bem aproveitado quando o assunto for a Reforma Protestante. Eu prefiro deixar um pouco mais pra frente, aprofundar mais na Igreja Católica quando for falar da contestação que houve contra ela. Eu procuro organizar o conteúdo da aula de acordo com a facilidade que eu tenho de expor aquilo. Ao invés de jogar tudo de uma vez, procuro explicar a política, dar uma visão mais crítica pra eles. Fazer com que o aluno fale mais sobre o que ele pensa ao invés de jogar tudo, impor. Mas ainda assim é muito difícil pra ele porque ele já vem com aquela formação desde o pré-primário: tem que entrar na sala, assistir a aula e aceitar o que o professor diz. É muito complicado mudar isso na cabeça dele. Por isso que prefiro dar aula no primeiro colegial e não nos demais.

Você acha que os demais (segundo e terceiro anos do ensino médio) estão mais preocupados com o vestibular ou não existe essa preocupação entre eles?

Muitos deles não estão preocupados nem com o vestibular. Percebe-se que tem uns que estão ali porque o pai mandou. No entanto, muitos professores dizem em sala de aula: "E aí? E o vestibular no final do ano?" Se querem que os alunos fiquem quietos, dizem: "Oh, vamos ver no vestibular, hein!"

Mas, de um modo geral, há a preocupação com o vestibular? Se você tentar inovar eles não te cobram conteúdo mais direcionado a esse fim?

Um pouco. Por isso que eu disse a respeito da liberdade restrita. Você tem a liberdade, mas deve sempre deixar o aluno ciente que se você não falou sobre determinado assunto naquele instante, vai falar mais na frente. Tem a cobrança do aluno, tem a cobrança da coordenação, tem a cobrança até dos pais mesmos. Todos querem saber se você vai terminar o conteúdo.

Já aconteceu de você não terminar?

Uma coisa que eu acho muito complicada é que tem os capítulos que devem ser fechados a cada bimestre e dentro desses capítulos tem uma série de exercícios que não abrangem toda as discussões ocorridas na sala de aula. Muitas vezes não discutem assuntos recentes. Isso prejudica, pois os exercícios que gosto de fazer são exercícios mais reflexivos, onde o aluno tenta ao menos dar a visão dele e não impostos pela apostila. Achei interessante, na apostila desse ano, o fato de colocarem alguns textos de aprofundamento, até pra discutir um pouco o que é história (não aquela decorada, linear). O primeiro texto que li era sobre a questão da mulher no período feudal, como mãe, como serva. E a primeira pergunta não era fechada, era uma pergunta de reflexão, para o aluno discutir sobre o tema. Achei interessante. É muito melhor quando o aluno reflete, faz esse trabalho de aprofundamento, quando pega e lê o texto ou algo relacionado e faz a reflexão, mesmo que ele não discuta. Acho muito mais válido do que pegar o exercício e marcar verdadeiro ou falso.

Nas apostilas têm aquelas questões ITA(1996), PUC(2000)?

Tem. Para mostrar que há uma interação com o vestibular, sempre lembrar ao aluno que ele está ali em função do vestibular. São questões presas à outra época, a outro período. Se não forem colocadas, o próprio pai reclama, pois quer isso, uma aproximação com o vestibular.

Você acredita que o aluno reflexivo está mais apto a passar no vestibular do que aquele que só decora?

Acho que sim. O aluno que tem a consciência de refletir sobre o assunto e chegar a uma conclusão vai ter uma facilidade de compreensão maior do que aquele que só decora. O aluno que decora não vai conseguir decorar todas as matérias durante o ano todo. A reflexão, o senso crítico, gera uma aproximação, um interesse, e o aluno tendo interesse estuda melhor.

Aqueles que estão preocupados com o vestibular são os que decoram ou os que têm senso crítico?

Por isso eu me preocupo, quando faço esse trabalho de reflexão, em não fugir muito. Então, quando falo do feudalismo, por exemplo, sei que grande parte dos alunos aqui em Uberlândia só vêem feudalismo para ver a queda do feudalismo, até porque o vestibular da UFU pede isso. Pede a transição do feudalismo para o capitalismo. O feudalismo muitas vezes é só ilustrativo aqui em Uberlândia, no colegial. Quando o tema é o feudalismo, me preocupo mais em mostrar sua importância para a transformação do hoje: a sociedade hoje, o que se guarda daquilo. Então quando se puxa para o hoje, o aluno acaba tendo uma maior ligação com aquela matéria, acaba entendendo um pouco mais. Se só se falar do passado e guardar aquilo no passado, acabou, o aluno não vai ver sentido naquilo. Citando, por exemplo, a morte do Papa João Paulo II, recentemente: o mundo inteiro está falando da morte do Papa e então o aluno entra numa aula de história, sobre o feudalismo, sobre o monopólio da Igreja Católica sobre a cultura, a fé, sobre o senso comum da época. Se o professor tiver o mínimo de capacidade de fazer uma ligação, a aula torna-se interessante. Então, o que se pode fazer? Quando fui falar da Guerra dos Cem Anos, da noção de nação, vi que dava para fazer uma ligação entre a Joana D’Arc, uma personalidade carismática capaz de mobilizar multidões e com quem a nobreza de identificava, e o Papa. Falar das jogadas políticas da Igreja Católica, do modo como Joana D’Arc foi condenada e depois canonizada pela mesma Igreja, porque o Papa foi tão importante até mesmo pela nacionalidade dele (mais uma jogada política...). Então acho muito válido, quando se está dando uma aula de história, procurar sempre colocar a realidade do aluno dentro da realidade da escola e ao mesmo tempo a preocupação: qual a realidade do aluno? É a mesma para todos? O professor tem que saber ao menos um pouco da realidade de cada um deles.

Você procura dialogar com outras disciplinas?

Olha, não sei se porque ainda estamos no começo do ano, mas isso é um pouco complicado. Porque se está falando de Igreja Católica, de feudalismo, e a própria sociedade daquela época não tinha tanto conhecimento em relação à biologia, em relação medicina, à física... Eu gosto muito, no colegial, quando se entra no Renascimento, porque dá pra relacionar com a física, com a biologia. Eu sinto que a escola só precisa se adaptar a isso. Tem um professor de química que se preocupa muito com a interdisciplinaridade, às vezes me consulta para saber o que estava acontecendo em determinado período para montar a aula de química. Mas na maioria das escolas ainda não tem isso. Mesmo onde leciono ainda está fraco.

A formação do professor deve ser contínua?

Quando eu estava no primeiro colegial, achava que meu professor sabia tudo. Eu pensava que quando terminasse a universidade sairia sabendo tudo também. Aí percebo que não sei nada. Tem muito professor que acha que descobriu a "fórmula de ensinar". Ele explica do mesmo jeito, ele conta as mesmas piadas, faz os mesmos comentários e todos os alunos gostam dele. Ele fica no mesmo conteúdo tanto tempo que "bitola". Por mais que eu tenha que cumprir a matéria, que cumprir o conteúdo, se eu não mudar ao menos um pouquinho por ano, fica difícil.

Seus alunos são a maioria classe média?

Média. Percebe-se alguns de classe média um pouco mais baixa, mas desconheço se tem algum da periferia, que vive em uma casa com problemas profundos.

Você pretende lecionar sempre na rede privada?

Pra falar a verdade, não sei. Eu não gosto de fazer planos para muito tempo. Esse ano achei até que não ia trabalhar. Um professor que já conhecia meu trabalho me convidou e eu fui. Vou continuar trabalhando lá, no entanto não pretendo trabalhar em outra escola aqui em Uberlândia. Aqui, apesar de ser uma realidade no país todo, o respeito ao professor é menor do que em outras cidades.

Você acha que os professores formam uma categoria unida, mesmo estando na rede privada?

No ano passado, quando a coisa apertou mesmo, aconteceu uma coisa que nunca achei que aconteceria numa escola privada: os professores se uniram, discutiram a realidade, o que estavam passando ali e resolveram fazer alguma coisa (a cooperativa). Foi uma experiência muito proveitosa. Nas escolas de Uberlândia, em primeiro lugar vem a estrutura da escola, em segundo lugar vem a secretaria, depois o departamento pessoal, e por aí. O último ponto é o professor e o aluno. Por ser uma instituição aonde o professor e o aluno vem em primeiro lugar, sou muito grato à cooperativa. Isso pra mim é uma escola. Depois vou te mostrar uma carta sobre o que tava acontecendo naquele período na visão do empresário, falando sobre o que tava acontecendo, acalmando os alunos. A realidade foi que fiquei não sei quantos meses sem receber. Passei por um stress tão grande não queria nem ouvir falar em escola, para você ver como é o sistema educacional aqui. Me ofereceram aula lá em Araguari e eu não quis,porque não agüentava dar aula. Pretendia só terminar o semestre na UFU. Pensei: vou me formar e depois corro atrás de aula, pois felizmente eu tenho essa possibilidade. Mas você percebe que o sistema educacional aqui de Uberlândia não agrada ninguém. A maioria dos professores que já trabalharam fora só tem a falar mal.

Os professores da rede pública trazem muito trabalho para casa. Isso acontece com você?

Sim. Existe o diário mas está tendo uma inovação: o professor pode passar a nota pela Internet e já vai direto para o diário, para o departamento de notas. Inclusive parece que vai ser passada uma senha aos pais para que acompanhem o boletim do filho. Existem as provas e isso não vai mudar: é o canetão vermelho, bem tradicional. Eu não chamo, em sala de aula, aluno por aluno e vou falando a nota. Isso eu acho desnecessário. Entrego a prova e anoto a nota, mas ficar criticando o aluno pela nota, não. O que faço é chamar a atenção para os erros de ortografia, chamo os alunos e o aconselho a ler: "Gente, tirando os quadrinhos do Cebolinha e do Chico Bento, que erram mesmo o português, o resto vocês podem ler". Eu falo: "Moçada, eu não vou tirar nota de vocês (porque a preocupação deles é nota) por causa do português. Ainda. Porque se continuar desse jeito, eu vou ter que tirar, até para o bem de vocês". Os alunos, hoje em dia, não lêem. Há uns tempos atrás, o aluno estava na 3ª série, a professora dava o texto e ele tinha que ler e ao menos falar o que entendeu do texto. Quando não era aquela aula chata de ler lá na frente para a classe. Errando, mas com a professora te ajudando. Ela mandava grifar as palavras difíceis e procurar no dicionário. É conservador, mas...

Paulo Freire afirma que o professor tem que se assumir como pesquisador. Levando isso em conta, você procura acrescentar algo mais às apostilas?

Se ficar só na apostila não compensa. É como eu disse: tem o conteúdo e por enquanto não dá para sair muito disso, mas tem que se ter a preocupação de acrescentar alguma coisa. Eu tento pegar o que está mais próximo do aluno, como citei a morte do Papa ou se estou falando da formação da classe burguesa falar sobre o que é essa burguesia hoje. Percebe-se que esse aprofundamento é o que mais agrada o aluno, faz ele se interessar do que aquele negócio batido.

Você leciona à noite ou só de manhã?

Este ano estou só de manhã.

Mas já lecionou à noite?

Já. Já dei aula pra compacto, aula de dependência, colegial... Até hoje só não peguei ensino fundamental, porque acho que tenho uma grande dificuldade de dar aula para o fundamental. Porque acho muito mais complicado lidar com pré-adolescentes do que com adolescentes. Eu gosto do conflito, gosto quando o aluno é mais questionador do que quando é "muito menino". Acho que é estrutura mesmo.O diálogo com o adolescente pode ser mais aberto e não sou nem um pouco formal quando estou dando aula, a não ser quando vou escrever alguma coisa no quadro, ou fazer uma explicação mais detalhada. Durante as aulas, procuro ter o diálogo que o aluno tem. Tem muito professor, lá da escola mesmo, que critica muito o aluno ficar em frente à televisão. Mas eu mesmo procuro, pelo menos uma horinha, dar uma olhada na TV, porque você pega a Malhação, por exemplo, é idiota mas reflete o jovem. As expressões que usam, o modo de se cumprimentarem, são reflexos disso. O trabalho de conhecer o aluno é uma pesquisa também.

Há uma diferença entre alunos do diurno e noturno? Os alunos do noturno são mais responsáveis?

O engraçado, engraçado não, interessante... Quando eu dava aula para o compacto, à noite, nos primeiros meses, pra mim foi uma experiência muito positiva pelo seguinte: trabalhei com pessoas mais velhas do que eu e com algumas mais novas. Os alunos mais novos, que muitas vezes não trabalhavam, eram na maioria das vezes os responsáveis pela indisciplina, pelas piores notas. Eram os que davam menor valor à educação. Os alunos que tinham maior dificuldade, que trabalhavam, chegavam às vezes atrasados, eram esses que chegavam com interesse em assistir a aula. Entendiam aquilo como uma nova oportunidade.

Você acha que num eventual vestibular esse aluno do noturno teria a mesma chance que um aluno do diurno?

Infelizmente, não. O nivelamento no noturno é mais por baixo, pois muitos deles estão há muito tempo fora da escola. No entanto, alguns se destacam, por mérito próprio, por perseverança mesmo. O aluno estuda, se destaca e consegue um lugar na universidade. Por isso eu acho que isso de dizer que o indivíduo se forma pela influência dos pais, da televisão, dos amigos, às vezes é comodismo demais. Usam desse argumento pra falar que a culpa não é do indivíduo. Atualmente, quando o indivíduo faz uma coisa boa, o mérito é dele, quando erra, a culpa é da sociedade. Há a influência sim, pois o indivíduo se forma naquele meio, mas não é cem por cento, não é tudo.

Na sua opinião, os alunos da licenciatura deveriam ter um contato maior com a realidade da escola, já que as universidades ensinam o ideal e o real é bem diferente?

Com certeza, com certeza... Acho que essa experiência das oitocentas horas vai ser difícil de implantar, pois acho que tentarão colocá-las em novas matérias, o que será um erro. Mas acho que é válida, que o aluno deve conhecer a realidade desde o primeiro período. Primeiro não, que seria muita responsabilidade, mas a partir do terceiro, certamente. E não só o contato com os alunos, mas também o contato com os professores, observar como são as aulas. Ver o comportamento e a relação professor-aluno não só do ensino em história, mas do ensino em geral. E várias realidades, não só a escola municipal, ou só a escola estadual ou a particular, mas todas.

Alguns teóricos definem a escola como um local de doutrinação por parte do Estado (Aparelho Ideológico do Estado, segundo Althusser). O que pensa a respeito?

Se fosse realmente dessa forma, se desse certo isso, a reforma do ensino não estaria sendo discutida. A televisão, a mídia, hoje em dia doutrina mais, na criação do senso comum. Quando aconteceu aquele movimento dos estudantes do Objetivo no ano passado, a televisão esteve lá, gravou, mas não saiu. O jornal esteve lá, mas não saiu. Saiu uma notinha num jornal que eu nem sei qual é.

Paulo Freire, novamente, afirma que a vontade do aluno deve ser respeitada. O professor não deve ocultar sua posição, mas também não deve impô-la ao aluno. O você acha disso?

Há algum tempo eu estava na sala de aula discutindo sobre... não estou lembrado agora. Aí eu fiz aquele discurso tradicional, formal, que todo mundo já ouviu: "A sociedade hoje é assim, o futuro são vocês, tal, tal tal..." Falei tudo isso e os alunos ficaram com aquela cara de "que professor doido". Então falei pra eles: "Pessoal, da mesma forma que estou falando isso pra vocês, me falaram também. E o que eu fiz pra mudar isso? Então é o seguinte, se vocês quiserem mudar, vocês mudam. Mas têm que saber que não será fácil, muitas vezes vocês acabarão não querendo isso. Mudança eu quero, principalmente na área educacional, que é com o que trabalho, principalmente em Uberlândia que é onde eu comecei a trabalhar, mas tenho convicção que não será fácil".

Você acha que o aluno que tem acesso a computador, Internet, tem maior conhecimento do que aquele que não tem acesso?

Acho que qualquer meio de comunicação que um tem e outro não tem dá mais uma área de pesquisa. Mas aí vai depender se vai ser usado como meio de pesquisa ou se apenas como entretenimento.

Você acha que há alguma alternativa ao vestibular?

Uma coisa que é muito criticada em Uberlândia é o PAIES. Mas eu acho que é uma experiência válida. Só que é o seguinte: é um processo muito difícil de se instalar em nível nacional.

Mas já tem toda uma indústria do PAIES, como cursinhos pré-PAIES...

Pois é... Além disso é um processo muito regional. Quem está em outra cidade tem um esquema de aula totalmente diferente, e não tem pré-PAIES. As escolas de Uberlândia, as privadas, se adaptam ao que "cai" no PAIES.

Mas aí não caberia a UFU mudar esse sistema?

Pois é... é um sistema interessante, mas foi instalado de forma errada.

As questões são do tipo "verdadeiro ou falso"?

Verdadeiro ou falso. Só tem uma questão na prova inteira que é aberta... e a redação. Se não fizer a redação, já está zerada a prova.

Tem aquele esquema de errar tantas questões e anular uma?

Se errar duas, anula uma. Antes era uma por uma. Aí você pode sair com a nota negativa na prova.

Rubem Alves defende que o sorteio seria a forma mais justa de acesso à universidade. O que você acha?

Acho o seguinte: hoje já se valoriza demais o indivíduo que tem o mérito de entrar na UFU por ter tido uma educação melhor. Infelizmente, esse mérito muitas vezes é de quem tem mais dinheiro para pagar. O indivíduo acaba comprando o mérito. Mas o sorteio vai estar dando a vaga sem considerar mérito nenhum. Vai estar justificando a incapacidade total do governo de fazer um reforma educacional decente. Será o fim da meritocracia.

ANEXO D

Entrevista

ALUNO 1: Bruno José Jareno, 16 anos, 3º ano do Ensino Médio

Colégio Kepler (privado)

Entrevista realizada em 05 de maio de 2005

Na Universidade é dito que a disciplina de História ajuda o aluno a compreender melhor o que acontece ao seu redor, a ser um sujeito mais crítico. O que você acha?

Nem tanto a História, mais a Geografia.

A Geografia ajuda a ter mais senso crítico do que a História? Por quê?

Bem mais. Porque a Geografia aborda mais os séculos XVI ao XX . [Na disciplina de História] você volta lá no tempo, aprende aquele negócio de feudalismo. Hoje, na maioria das vezes, isso não serve pra nada.

Há quem diga que se você compreende o passado, é capaz de analisar o presente e imaginar o futuro...

Na minha opinião, não.

Como são as aulas de História na escola onde você estuda? O professor fala, lê a apostila e os alunos apenas escutam e copiam ou ele vai além do conteúdo das apostilas?

O professor passa texto no quadro, todos copiam e depois ele explica o texto.

Em nenhum momento ele faz um paralelo entre o que está na apostila e a atualidade?

Não.

Nem mesmo com a recente morte do João Paulo II ele abordou a questão da Igreja Católica e a política que envolve a eleição de um Papa?

Quem abordou isso foi o professor de Geografia.

O professor de Geografia?! O de História nem comentou?

Não.

Mesmo com o professor somente passando o texto que está na apostila, há espaço para você expor seu ponto de vista sobre o assunto, argumentar ou questionar?

Dá para fazer perguntas, falar alguma coisa.

Mas sempre é sobre o conteúdo que está sendo dado?

É.

Você já prestou dois PAIES, certo?

Já.

Você acha que o conteúdo dado onde você estuda é o mesmo cobrado no PAIES? Está direcionado para o PAIES/Vestibular?

Eu acho que está.

Nas apostilas nas quais você estuda têm aquelas questões ITA(1996), PUC(2000)?

Tem. A maioria das questões são muito bobas. É só copiar a resposta do texto.

E os professores deixam claro que a intenção é fazer com que os alunos passem no vestibular?

Deixam. Na verdade eles preparam a gente mais para passar no vestibular do que para ser um cidadão.

Em todas as disciplinas, desde o primeiro ano, você sente isso? Que a escola te prepara mais para o vestibular do que para ser um cidadão?

É.

Vai prestar vestibular neste ano?

Vou. UFU e FUVEST.

O que você acha da escola onde estuda? Ela valoriza o aluno ou cada um é só mais um?

Ela é como se fosse uma máquina: a função é pôr conhecimento na sua cabeça, você tem que aprender de qualquer jeito para poder passar no vestibular e a escola ganhar nome e ter mais lucro.

O referencial seria então o número de alunos aprovados no PAIES/Vestibular?

É. Para a escola ter mais alunos, mais dinheiro para o dono.

Na sua opinião, quem tem mais chance de entrar em uma universidade pública? O aluno de escola privada ou de escola pública?

Com certeza o aluno de escola privada. No ensino público, tenho colegas que estudam no Messias que não têm aula de Filosofia nem de Sociologia.

Matérias do vestibular...

É. Então já é uma diferença muito grande de pontos que estarão perdendo.

E o material didático? É interessante? Incentiva a pesquisar? Aguça a curiosidade?

Aguça. Tem muita coisa lá que aguça. Na apostila tem tópicos para você pesquisar sobre certos autores, tem boxes para você procurar...

E você chega a pesquisar?

Não.

A atual Reforma Universitária prevê uma cota de 50% das vagas nas universidades públicas para alunos que cursaram integralmente o Ensino Médio em escolas públicas. Você acha que o sistema de cotas resolve o problema de acesso à Universidade?

Acho que não. Não adianta colocar um aluno sem base nenhuma na Universidade. Não é porque é pobre que tem de entrar na Universidade. Ele tem que ter uma base ao menos para poder entrar.

A solução seria melhorar o Ensino Médio?

Com certeza.

Você acha que o PAIES é uma boa alternativa ao vestibular?

Acho que é bem mais fácil. São questões fechadas. Têm pessoas com dificuldade de dissertar, então fica bem mais fácil.

No PAIES se você errar duas questões anula uma certa?

É. Essas provas do PAIES também são bem bobas. Elas não abordam todo o conhecimento. Você vê um monte de coisas o ano inteiro para chegar lá e ter uma questão de um assunto, uma de outro. Fica pequeno.

Então, se você errar muito, corre o risco de tirar nota negativa?

É.

Cada matéria tem uma questão aberta?

Não. São quarenta e oito questões, quatro de cada matéria, e entre essas questões uma será aberta. O resto é V ou F.

O você pretende fazer após concluir o Ensino Médio? Já pensou em uma profissão?

Pensei em cursar Direito.

Alguns educadores questionam se um jovem de 16, 17 anos é capaz de decidir qual profissão seguir. Você se sente preparado para tomar essa decisão?

Não sei.

E se no meio do caminho você sentir que não era que você queria? Você larga o curso ou vai até o final?

Tenho que ir até o final, porque aí acho que já perdi todo o conhecimento adquirido no Ensino Médio e não tem como voltar.

Não tem receio de acabar se tornando um profissional insatisfeito?

Vou correr o risco.

ANEXO E

Entrevista

ALUNO 2: Nathayne Cristina Santos, 15 anos, 2º ano do Ensino Médio

Escola Estadual Segismundo Pereira

Entrevista realizada em 12/05/2005

O que você acha da disciplina de História?

Pra mim, não serve pra nada. Aprender o que passou não me importa, não.

Mas o professor só fala do que passou? Em nenhum momento ele busca traçar um paralelo entre o passado e o que está acontecendo hoje?

Tenta. Mesmo assim, pra mim não tem utilidade.

Há quem diga que se você compreende o passado, é capaz de analisar o presente e imaginar o futuro...

Pra mim não faz sentido.

E o professor consegue criar um senso crítico nos alunos?

Acho que não.

Como são as aulas de História na escola onde você estuda? O professor debate, dá espaço para vocês exporem suas idéias, falarem sobre o assunto ou só passa a matéria na lousa e vocês copiam?

Às vezes ele nos dá espaço, faz algum debate, prova oral...

Mas sobre o conteúdo do livro ou temas atuais?

Sobre o que está no livro e coisas atuais também.

Mesmo debatendo coisas atuais você ainda acha que História é coisa do passado?

É.

Você já prestou um PAIES. Pretende continuar e prestar vestibular no final do 3° ano?

Pretendo.

Você só estuda História com o propósito de prestar o PAIES e o vestibular?

É. Porque História é mais decorar, não é saber para o resto da vida. Não faço questão de guardar.

Nem temas em voga, como as Cruzadas atualmente, lhe despertam interesse?

Algumas coisas eu acho importantes.

O que, por exemplo?

Ah... algumas coisas.

O conteúdo estudado durante o ano passado foi o mesmo que caiu no PAIES?

A maioria. Teve alguns conteúdos que não tive tempo de estudar, mas de todos que estudei caiu um pouco.

E o professor faz questão de dizer que a matéria dada é matéria do PAIES?

Faz.

Você acha que a função do professor é mais preparar para o PAIES/vestibular?

É. Está mais desse jeito. Dá mais as matérias que vão cair no PAIES.

Na sua opinião, qual a função da escola? Por que estudar?

Para ter mais conhecimento de mundo, de tudo...

E depois de concluir o Ensino Médio, o que pretende fazer?

Medicina.

Você fez teste de aptidão?

Não. Mas eu acho que dá certo, eu gosto dessas coisas.

E se acontecer de chegar no meio do curso e você descobrir que não era aquilo que você queria? Você largaria o curso?

Não acho que é assim, não. Não sei, pode até ser. Só se eu tiver muito descrente.

Tem médicos na família, alguém que te influenciou?

Um tanto de gente... Médico, enfermeira...

É mais influência da família ou opção sua mesmo?

Eu que gosto mesmo, acho interessante. Só se eu não conseguir mesmo passar, mas acho que isso não vai ser obstáculo, não.

E no PAIES, foi bem?

Ainda não sei a nota, acho que até julho deve sair. Mas acho que não fui muito bem não... Primeiro ano, a gente fica meio desligada, achando que não é muito importante.

Quem você acha que tem mais chance no vestibular para medicina, por exemplo, o aluno que cursou o ensino público ou o aluno que cursou o ensino privado?

Depende do esforço.

Você acha que o conteúdo que os dois viram é basicamente o mesmo?

Quase o mesmo. Eu nunca fui de escola privada, acho que é mais puxada, mas o conteúdo deve ser o mesmo.

Na sua opinião, tanto a escola pública quanto a escola privada direcionam o aluno para o vestibular?

É.

A função da escola seria então prepará-lo para a universidade, não formar o cidadão?

É. Está desviando muito da formação do cidadão.

A atual Reforma Universitária prevê uma cota de 50% das vagas nas universidades públicas para alunos que cursaram integralmente o Ensino Médio em escolas públicas. Você acha que o sistema de cotas resolve o problema de acesso à Universidade?

Eu acho que é certo.

Por quê?

Ah... acho que dá mais chance pra todos.

E o livro didático adotado? Qual a sua opinião sobre ele?

Nem sei o nome, pois não tenho o livro. O professor não gosta de usar livro. O outro professor adotou um livro diferente do que ele usava, aí ele não se adaptou bem e prefere não usar.

ANEXO F

Trechos de entrevistas realizadas com ex-alunos do curso de graduação em História

Trabalho apresentado ao Programa Institucional de Bolsas do Ensino de Graduação – PIBEG- intitulado: "Atuação do professor de história, da academia ao exercício cotidiano"

Universidade Federal de Uberlândia, 12 de janeiro de 2005.

Cristiane Rodrigues Soares

Juliana Rossi

Entrevistada: Elaine Aparecida Santoro, formada na UFU em 2002.

Entrevistadora: Juliana Rossi em 7 de abril de 2004.

Quais foram as dificuldades encontradas por você para aliar a teoria aprendida na universidade com a prática da profissão?

Na área de licenciatura foi muito difícil. Está sendo muito difícil porque a universidade não prepara o graduando para ser um profissional em sala de aula. O curso é mais direcionado para a pesquisa, para o mestrado, doutorado... Essa é uma dificuldade que sinto, porque as disciplinas não preparam os alunos para a realidade em sala de aula.[...] Isso eu achei muito carente no curso de História, uma carência muito grande. (p. 2)

O que você acha que poderia estar melhorando?

Mais disciplinas direcionadas para essa área. Eu acho que poderíamos ter uma coisa mais prática. É claro que a parte de bacharelado, a parte de pesquisa científica, é muito importante, mas eu acho que deveria haver um equilíbrio aí, na parte de pesquisa e na parte da prática de estar dentro de uma sala de aula vendo a realidade, participando junto com os alunos. Eu acho que a parte de estágio, que é somente um ano, uma parte observação e outra parte de aula, é muito pouco. É muito pouco porque a gente não está presente todos os dias. O que eu acho que deveria acontecer, o que seria mais interessante, é que houvesse uma reformulação na grade curricular do curso e que fosse inserido mais disciplinas com práticas. Práticas na didática pra se dar na aula. (p. 2)

Entrevistado: Edmilson

Entrevistadoras: Cristiane Rodrigues e Juliana Rossi em 03 de setembro de 2004.

Quais foram suas dificuldades quando você começou a dar aula?

[...] Eu acho que a grande dificuldade é essa: a gente enxerga na graduação uma realidade que não acontece na prática. Eu acho que quando o pessoal vai fazer Prática de Ensino começa a perceber isso. (p. 60)

Entrevistado: Paulo Henrique

Entrevistadoras: Cristiane Rodrigues e Juliana Rossi em 18 de outubro de 2004.

Quais foram suas dificuldades quando você começou a dar aula?

Eu acho que o problema maior é você perceber que na universidade você já tem dificuldades [...] Faltam recursos dentro da universidade, mas na escola pública a situação é bem pior do que a gente imagina. Acho que os alunos deveriam partir para as escolas para ver como é a situação dela, porque senão ele pensa uma coisa, chega cheio de idéias...[...] Então vai ser difícil trabalhar. (p. 67)

Entrevistada: Ana Paula Cantelli 27/10/2004

Você poderia contar a sua opinião sobre o distanciamento da universidade com a realidade do Ensino Fundamental e Médio?

[...] Qual o programa que eles (o Ensino Fundamental e Médio) seguem quando falam: "Oh! Vai preparar sua aula... você vai dar aula no 1° ano". Você sabe qual é o programa que eles te obrigam a seguir? É o programa do PAIES. Então, não está tão longe não. É o PAIES que dita o que vai ser dado no 1°, é o PAIES que dita o que vai ser dado no 2° e é o PAIES que dita o que vai ser dado no 3°. Então, não existe essa separação ilusória. (p. 79)

Quando você se preparou para dar aula para o segundo grau, você viu alguma dificuldade, algum empecilho?

A dificuldade fica, mas é do pânico. Mas para dar aula, na estruturação da aula, foi ótimo. Aí é que eu fui descobrindo que me espelhava nos meus professores daqui. O quanto a minha experiência com meus professores, a forma de lidarem conosco, o respeito e o desrespeito que eles tinham em relação a gente, o quanto isso influencia na nossa postura como professor. Os modelos que a gente tem, os professores que a gente admira, você acaba buscando imitá-los. E é fantástico isso. Às vezes, até aquele professor que você odeia, quando você vê, você fala: "Meu Deus, estou igualzinha a ele! Então eu já sei como vou me vingar desse aluno." É por aí. (p. 83)

Entrevistado: Aguinaldo

Você poderia nos relatar um pouco sobre seu período de graduação?

[...] Um dos maiores problemas que eu observo, quando fui aluno observava e ainda persiste, é uma separação clara entre historiografia e o conteúdo a ser ensinado em sala de aula. [...] Então, essa é uma grande dificuldade que o profissional enfrenta: quando ele vai para a sala de aula, não consegue interagir com os alunos porque ele não sabe o que vai ensinar. E aí quem fornece isso para ele é o livro didático. (p. 85)

[...] Todo mundo negligencia (as disciplinas de Prática e Oficina) e sobretudo estão nas mãos de substitutos que estão sobrecarregados, que muitas vezes acabaram de sair do curso de História. São ex-alunos que entram e não têm prática de sala de aula de 2º grau. Então tudo isso dificulta. E isso, na verdade, está ligado a um modelo de conhecimento: ao modelo de que o professor-pesquisador universitário é mais importante do que o professor licenciado, que vai para o Estado. O curso é organizado para formar esse pesquisador, mesmo sabendo que ele não tem mercado de trabalho. (p. 89)

Entrevistado: Henrique

Quando eu terminei o curso, eu já estava dando aula. O que pude perceber é que havia uma grande diferença entre aquilo que se ministrava, ou melhor, que cobrava e que se exige da gente nas escolas de Ensino Médio e Fundamental com aquilo que estava sendo ministrado na universidade. Saíamos aptos a enfrentar uma pesquisa e não tão preparados para uma sala de aula. (p. 92)

Nós, por exemplo, do Ensino Médio, deveríamos estar formando também o aluno que saiba fazer pesquisa e, no entanto, não fazemos. Fazemos alunos para passar no PAIES, para passar na UFU. (p. 95)

O aluno da UFU está sendo formado para pesquisa, para fazer um mestrado, para fazer um doutorado e não para entrar numa sala de aula de Ensino Médio. Ou se muda a cobrança do vestibular, do PAIES, para que possamos ter uma outra forma de trabalhar em sala de aula, ou se muda a formação do aluno da universidade. Uma coisa ou outra tem que ser feita. (p. 96)

À minha esposa Maribeth e às minhas filhas Gabriela e Juliana. Sempre amadas.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora, Profª Drª Maria de Fátima Ramos de Almeida, aos membros da banca examinadora, ao João Batista pelo material fornecido, aos entrevistados, por me concederem um pouco do seu tempo, e, principalmente, agradeço à minha esposa, por suportar meus momentos de reclusão durante a elaboração.

 

Eronildes Manoel Dos Santos

eron.ms[arroba]terra.com.br

Monografia apresentada no Curso de Graduação em História, do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em História, sob a orientação da Profª Drª Maria de Fátima Ramos de Almeida.

Uberlândia, Junho de 2005.

Santos, Eronildes Manoel dos, 1970

A História no nível médio. Preparação para a cidadania ou para ingresso na universidade?

Eronildes Manoel dos Santos – Uberlândia, 2005

80 fl

Orientadora: Maria de Fátima Ramos de Almeida

Monografia (Bacharelado) – Universidade Federal de Uberlândia, Curso de Graduação em História.

Inclui Bibliografia

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE HISTÓRIA

Partes: 1, 2, 3, 4


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