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Estudo da variabilidade genética e escurecimento epidérmico em caqui 'Fuyu' (Diospyrus kaki) (página 2)

Valdecir Carlos Ferri; Maria Madalena Rinaldi; Jorge Adolfo Silva; Luciano

 

De maneira geral, observa-se que os caquis 'Fuyu' não têm boa conservabilidade em AR, mesmo por curtos períodos de estocagem (de 30 a 40 dias). Embora na retirada da câmara frigorífica as frutas se apresentem aparentemente em boas condições, há uma significativa perda de firmeza de polpa a partir desse momento, resultando em frutas completamente amolecidas dois a três dias após (Brackmann, 1997). Em AM, o período seguro de estocagem prolonga-se para 45 a 60 dias, com vida de prateleira acima de sete dias (Brackmann & Saquet, 1995). Em AC, os resultados apontam para um período de estocagem ainda maior, em torno de 60 a 80 dias (Brackmann & Donazzolo, 2000).

O escurecimento epidérmico está entre os fatores limitantes durante e após o armazenamento de caquis 'Fuyu', podendo atingir a totalidade da superfície das frutas, depreciando-as do ponto de vista comercial (Ferri et al., 2002). As causas desse problema não foram elucidadas, embora tenham sido estabelecidas correlações positivas entre sua ocorrência e o vigor do pomar, as baixas temperaturas e o excesso de umidade no período de maturação, o retardo na colheita e o armazenamento prolongado (Ferri, 2000). Afora esses aspectos, tem-se observado que há comportamento diferenciado entre frutas de plantas distintas de um mesmo pomar com características edafoclimáticas e de cultivo homogêno, sugerindo que o fator genótipo possa estar envolvido na suscetibilidade ao escurecimento epidérmico (Marks & Andrews, 1990). A priori, é de se esperar que, pela propagação vegetativa, não haja variabilidade genética nos pomares de caquizeiro. Porém, como a maioria das áreas cultivadas com caqui 'Fuyu' no Sul do Brasil não tem identificação exata da origem do material genético, essa hipótese pode ser falsa. Nesse contexto, buscou-se verificar se há variabilidade genética em plantas de caquizeiro 'Fuyu' e relacioná-las com uma possível ocorrência de escurecimento epidérmico.

O estudo foi conduzido em cinco pomares de caquizeiro 'Fuyu', cujo histórico de ocorrência de escurecimento epidérmico das frutas já era conhecido, a partir de trabalhos anteriormente realizados (Rinaldi, 1998; Ferri, 2000; Danieli, 2000; Neves, 2002). Em cada pomar, selecionaram-se dez plantas. Dos cinco pomares, quatro localizavam-se na região da Serra Gaúcha e um em Pelotas, na região Sul do Rio Grande do Sul.

Em todos os pomares avaliados, para o estudo da variabilidade genética e observação da ocorrência do escurecimento epidérmico, coletaram-se, de cada planta, folhas jovens (brotações de aproximadamente 150 mm) e frutas sadias com coloração amarelo-alaranjada, respectivamente.

A variabilidade genética foi estudada empregando-se a técnica de RAPD, e a extração do DNA das folhas de caquizeiro foi realizada de acordo com a metodologia descrita por Ferreira e Grattapaglia (1996), efetuando-se duas extrações por planta. Anteriormente à amplificação, determinou-se a concentração e estimou-se a pureza do DNA por espectrofotometria, de maneira que cada reação fosse conduzida com 10 ng.µl-1. Os oligonucleotídeos empregados foram selecionados a partir dos kits OPF, OPA, OPAN, OPB e OPC (Operon Technologies®), por teste preliminares de amplificação detectando-se bandas definidas (Figura 1). Testaram-se 200 oligonucleotídeos e selecionaram-se 22, das seguintes series: OPF (1; 2; 4; 7; 9; 12; 15; 19 e 20); OPAN (03; 11 e 16); OPB 20; OPC (03; 04; 05; 06; 07; 09; 10; 11 e 20).

Para avaliar o grau de escurecimento da epiderme, as frutas foram analisadas visualmente, sempre pela mesma pessoa, adotando-se escala de zero a cinco, com o seguinte critério: a) 0 (zero), sem escurecimento; b) 1, de 1 a 5% de escurecimento; c) 2, de 5 a 10% de escurecimento; d) 3, com 10 a 20% de escurecimento; e) 4, com 20 a 30% de escurecimento epidérmico; f) 5, acima de 30% de escurecimento. O delineamento experimental adotado na câmara fria foi o de blocos ao acaso, com três repetições, sendo cada unidade experimental constituída de uma bandeja com quatro frutas. O delineamento de tratamento foi o fatorial 5 x 10, consistindo dos fatores: Pomar, em cinco níveis: (Pomar 1) município de Ana Rech; (Pomar 2) município de Farroupilha; (Pomares 3 e 4) Caxias do Sul, e(Pomar 5) Pelotas; e Planta, em dez níveis, sendo o fator planta aninhado dentro do fator pomar. A variável analisada foi o grau de escurecimento.Em cada pomar, as plantas foram identificadas pela numeração de 1 a 50, sendo que cada pomar corrrespondia a dez plantas.

A análise estatística utilizada neste estudo consistiu de análise da variação, testando a significância do efeito (fixo) do fator pomar e do efeito (aleatório) do fator planta dentro de pomar sobre a variável resposta grau de escurecimento. Esta análise foi processada pelo WinStat (Sistema de Análise Estatística para Windows — Versão 1.2).

Embora o marcador RAPD não tenha sido capaz de relacionar o escurecimento epidérmico observado na epiderme das frutas com a variabilidade encontrada entre as plantas, ele foi capaz de demonstrar que existe variabilidade genética entre plantas de caquizeiro 'Fuyu'. Isso está demonstrado no dendrograma (Figura 2), onde as plantas: 24 do pomar de Farroupilha, 33 do pomar de Caxias do Sul e 40 do pomar de Pelotas diferem do grande grupo monomórfico. As plantas 24 do pomar de Farroupilha e 40 do pomar de Pelotas apresentam 70% de similaridade com as plantas do grupo majoritário, e a planta 33 do pomar de Caxias do Sul apenas 55% de similaridade. Para muitas espécies propagadas por sementes, uma variabilidade de três plantas em 50 pode ser considerada baixa, mas, para cultivares propagadas vegetativamente, essa proporção é relativamente alta, indicando que, provavelmente, há heterogeneidade no material de origem para a enxertia (Barden & Marini,1992).

A discriminação de materiais homogêneos talvez possa ser obtida pelo aumento no número de primers usados (Ferreira & Grattapaglia, 1996) ou pelo emprego de outros tipos de marcadores moleculares, tais como SSR e AFLP (Bastianel et al., 2001). A variação apresentada por uma pequena parcela das plantas estudadas entre diferentes pomares pode ser creditada à mistura varietal, pois, provavelmente, esta diferença se deve ao fato de as plantas serem adquiridas de viveiristas diferentes.

Os resultados da análise da variação mostraram que o efeito do fator pomar foi significativo, ou seja, houve diferença entre os pomares quanto ao grau médio de escurecimento da epiderme das frutas (Tabela 1).

De acordo com a escala adotada, o grau médio geral (1,73) correspondeu ao intervalo de 5 a 10% de escurecimento da superfície da fruta, embora algumas frutas tenham apresentado grau cinco, correspondendo a mais de 30% de escurecimento na saída da câmara e após cinco dias de vida de prateleira à temperatura de 20°C. George et al. (1997) consideram esse nível de escurecimento como sendo o maior defeito de qualidade de caquis 'Fuyu'. Esses autores classificam as manchas em grupos distintos, sendo que quatro destes apresentam alta correlação com variáveis ambientais, e os outros estão relacionados ao manejo da cultura, localização do pomar, vento, drenagem do terreno, orientação solar e umidade relativa do ar. Os resultados encontrados no presente trabalho são semelhantes aos relatados por George et al. (1997).

Embora não tenha sido observada diferença estatística entre os pomares da região serrana, observou-se que não há consenso entre os produtores quanto às práticas culturais adotadas, visto que cada produtor conduz diferentemente as plantas quanto à poda, ao manejo fitossanitário e às adubações.

O pomar localizado na região de Pelotas apresentou índice de escurecimento da epiderme dos frutos menor que os pomares da serra. A causa de este pomar ter apresentado frutos no final do armazenamento com índices tão baixos de escurecimento, deve-se, provavelmente, a fatores edafoclimáticos, os quais, apesar de não terem sido avaliados neste trabalho, observou-se, porém, que estes fatores foram evidentes e que, de acordo com Arpaia (1994), podem influenciar na qualidade das frutas.

A incidência do escurecimento dos frutos de caquizeiro da cv. Fuyu não está ligada ao fator variabilidade genética;

A técnica RAPD foi eficiente quanto à variabilidade genética, porém não sendo quanto à variável escurecimento.

3. Referências

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BASTIANEL, M; DORNELLES, A.L.C.; MACHADO,M.A.; WICKERT E.; MARASCHIN, S.de F.; FILHO, H. D. C.; SCHAFER G. Caracterização de genótipos de Citrus spp através de marcadores RAPD. Ciência Rural, Santa Maria, v. 31, n.5,p.763-768, 2001.        [ SciELO ]

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Emerson Dias GonçalvesI; Renato TrevisanI; Jorge Adolfo SilvaII; Cesar Valmor RombaldiII - ctajorge[arroba]brturbo.com.br

IEng° Agr°, Dr. Bolsista RD/CNPq. Embrapa Clima Temperado. C.P. 403 CEP: 96001-970, Pelotas-RS

IIEng° Agr°, Dr. Professor Adjunto DCTA/FAEM/UFPel. C.P. 354, CEP: 96010-900, Pelotas-RS



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