Com a intensa utilização da artéria torácica interna (ATI) na operação de revascularização do miocárdio, estudamos sua anatomia com a finalidade de esclarecer aspectos morfológicos que possibilitem extender sua utilização e prevenir complicações pós-operatórias. Em 100 cadáveres foram retirados os plastrões esternocostais e injetadas as ATIs com Látex Neoprene. A ATI originou-se diretamente da artéria subclávica em 82,5% e de um tronco comum com outras artérias em 17,5%. O comprimento médio foi de 20,4 ± 2,1 cm e o ponto de terminação mais freqüente foi ao nível do 6º espaço intercostal (e.i.) (52,5%). A forma de terminação se fez como bifurcação em 93% e como trifurcação em 7%. A relação da ATI com a margem esternal foi de 10,3 ± 3,2 mm ao nível do 1º e.i. e 19,2 ± 6,0 mm ao nível do 6º e.i. A ATI está recoberta pelo músculo transverso do tórax numa extensão média de 7,5 ± 2,7 cm e apresenta o ramo costal lateral em 15%. O nervo frênico é anterior à ATI em 70% e posterior em 30%. O estudo forneceu subsídios que podem contribuir para minimizar as complicações pós-operatórias.
Descritores: Artérias torácicas, anatomia e histologia.
A artéria torácica interna (ATI) ganhou importância devido à intensa utilização nas operações de revascularização do miocardio, por apresentar-se patente a longo prazo, quando comparada aos enxertos venosos e, também, pela maior sobrevida dos pacientes (1-3).
Vários estudos anatômicos foram feitos anteriormente, mas sem a preocupação de sua utilização nas operações de revascularização do miocárdio. Portanto, faz-se necessária uma revisão de suas características anatômicas, objetivando possibilitar a extensão de sua utilização e evitar complicações intra e pós-operatórias.
Foram estudados 100 cadáveres de indivíduos adultos, de ambos os sexos, sendo 56 masculinos e 44 femininos, com idades variáveis entre 20 e 84 anos, provenientes do Serviço de Verificação de Óbitos da Escola Paulista de Medicina (Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP). Quanto à distribuição racial, 59 indivíduos eram brancos e 41 negros e mestiços. Foram retirados os plastrões esternocostais com parte da aorta ascendente e arco aórtico, artérias subclávias (ASC) e axilares, canulados ambos os óstios das artérias torácicas internas e injetado látex neoprene com corante, amarelo para o lado esquerdo e vermelho para o lado direito. As peças foram fixadas em solução de formaldeído a 10%.
Foram submetidas a dissecção macroscópica e mesoscópica e estudados: 1) origem das artérias torácicas internas; 2) relações com o nervo frênico; 3) presença do ramo costal lateral; 4) origem das artérias pericárdico-frênicas; 5) comprimento; 6) nível e 7) modo de terminação; 8) relação com o músculo transverso do tórax; 9) ramos colaterais parietais (intercostais anteriores, esternais e perfurantes) e 10) distância entre a ATI e a margem esternal.
O estudo estatístico para comparação entre sexos, entre indivíduos brancos e não-brancos e entre as ATIs esquerda e direita, foi feito com o teste T de student para comparação de médias e o teste de Wilcoxon para comparação de medianas, usando software Epi-Info versão 5.01 e Stratgraphics versão 4.0.
Origem da Artéria Torácica Interna
A ATI esquerda originou-se diretamente da ASC em 70% e de um tronco comum com outras artérias em 30%. A ATI direita originou-se diretamente da ASC em 95% e de um tronco comum com outras artérias em 5%. A distribuição pode ser vista na Tabela 1.
A ATI esquerda originou-se da 1ª porção da ASC em 92%, da 2ª porção em 7% e da 3ª porção em 1%. A ATI direita originou-se da 1ª porção da ASC em 96%, da 2ª porção em 4% e da 3ª porção não se observaram casos.
Relações Com o Nervo Frênico
Em relação à ATI direita e esquerda, ambos os nervos frênicos foram anteriores às ATIs em 54%, ambos foram posteriores em 14%, o esquerdo era anterior e o direito posterior à artéria em 12% e o esquerdo era posterior e o direito anterior em 20%.
A ATI esquerda é cruzada anteriormente pelo nervo frênico esquerdo em 65% e, posteriormente, em 35%. A ATI direita é cruzada anteriormente pelo nervo frênico esquerdo em 74% e, posteriormente, em 26%.
A distância entre a origem da ATI esquerda ao cruzamento com o nervo frênico esquerdo foi de 0,5 a 4,4 cm (média 1,9 ± 0,7 cm). A análise estatística não mostrou diferença significativa entre homens e mulheres e entre brancos e não-brancos (p<0,05).
A distância entre a origem da ATI direita ao cruzamento com o nervo frênico direito foi de 0,3 a 4,5 cm (média 1,5 ± 0,7 cm). A análise estatística mostrou diferença significativa entre brancos e não-brancos (p<0,05).
Ao comparar a distância de origem da ATI e o cruzamento do nervo frênico, do lado esquerdo com o direito, houve diferença estatisticamente significativa (p<0,0001).
Presença do Ramo Costal Lateral (RCL)
Esteve presente em 15% dos casos estudados e, nesse caso, originou-se sempre da ATI. Ocorreu bilateralmente em 5% e unilateralmente em 10%.
A distância entre a origem da ATI e a origem do RCL variou de 1,3 a 3,8 cm (média de 2,5 ± 0,7 cm). À direita variou de 1,3 a 3,5 cm (média = 2,3 ± 0,6 cm). E a esquerda de 2,0 a 3,8 cm (média = 2,9 ± 0,6 cm)
Origem das Artérias Pericárdico-Frênicas (APF)
Originam-se diretamente da ATI em 89%, dos ramos tímicos em 10,5% e da artéria subclávia em 0,5%.
A distância entre a origem da ATI e a origem da APF variou de 1,9 a 7,6 cm (média = 4,3 ± 0,9 cm). À direita, a distância variou de 1,9 e 7,2 cm (média = 4,2 ± 0,8 cm) e à esquerda, de 2,5 e 7,6 cm (média = 4,3 ± 0,9 cm).
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